POV Cebola:

            Os primeiros raios de luz apareceram pela brecha da cortina, junto com eles o sonoro toque do despertador. Abri os olhos e peguei o celular para conferir o horário, 06:30 da matina! Quem foi o esperto que escolheu sair tão cedo para aproveitar as férias?

— Acorda galera! – gritou Yugi respondendo minha pergunta – temos que sair daqui a uma hora.

— Cara ninguém acorda com essa disposição tão cedo – informei a ele levantando contra a vontade.

— Dá para vocês ficarem quietos? Ainda estou no meu décimo segundo sono, o mais gostoso! – disse Cascão puxando a coberta por cima da sua cabeça.

— De jeito nenhum! – falou Yugi retirando o cobertor do nosso amigo.

Derrotado, Cascão também se levantou balbuciando palavrões e olhando torto para Yugi. Morávamos juntos havia alguns anos desde que herdamos a empresa de nossos pais após o desaparecimento destes a seis anos. Hoje aos 30 anos tocamos nossas vidas em frente e fazendo com que o legado de nossos genitores seja o mais honroso possível.

Fui ao banheiro fazer minha higiene matinal e logo após aproveitei para observar da janela do quarto o imponente vulcão Vesúvio ao leste de Nápoles, a cidade que adotamos como lar a três anos. A Itália foi um ótimo local para tocarmos nossos negócio, belo, afetuoso e longe daquele vai e vem desenfreado dos grandes centros financeiros da Europa como Berlin e Londres. Enquanto divagava nos meus pensamentos, lembrei do Brasil, fazia alguns anos que não visitávamos nossa pátria mãe, quem sabe nas próximas férias...ou no carnaval.

Ri sozinho e fui me arrumar e organizar o restante das bagagens. Desci e Yugi já estava tomando seu dejejum me sentei ao seu lado e me servi, logo depois Cascão chegou e juntou-se a nós. Esses dois eram meus amigos desde os oito anos, quando ajudamos o Yugi a se enturmar no colégio assim que ele chegou do Japão. Fazíamos tudo junto, jogávamos futebol, videogame, até estudar (com menos frequência admito). Fizemos a mesma faculdade e agora trabalhamos e moramos juntos.

— Estamos atrasados – falou Yugi se levantando da mesa – vou levar as malas para o carro e espero vocês lá...Cinco minutos!!!

— Uau!! Sim vossa alteza! – falou Cascão fazendo uma pequena reverência.

Ri e me levantei da mesa para adiantar nossa viagem a Milão. Foi ideia do Yugi irmos de carro para aproveitarmos a vista e as belas estradas da Itália. Concordamos com uma certa relutância, pois o Cascão não queria sair tão cedo e queria fretar um jatinho para chegarmos logo ao nosso destino. Também gostaria de chegar logo em Milão, economizaria tempo e ficaríamos mais tranquilo para visitar os pontos turísticos da cidade. Porém o senso de aventura foi um fator decisivo para assentarmos com a ideia. Ia ser legal passar um tempo para nossas resenhas e nos gabarmos sobre garotas. Fazia algum tempo que não namorávamos, porém gostávamos de contar vantagem sobre certos acontecimentos, muitas vezes exagerados como uma história de pescador.

Cascão me acompanhou até a garagem onde já estava no carro preparado para dar a partida

— Chegamos majestade – brincou ele.

— Muito engraçado senhor Araújo – retrucou Yugi já apressado.

— Vamos galera, o tempo não para – falei entrando no clima da brincadeira.

— Não para mesmo. Estamos vinte minutos além do horário combinado – falou novamente. O seu jeito mandão era uma das características principais do meu amigo. Ele sempre fora responsável e prestava atenção nos principais detalhes que estavam a sua volta, era um administrador nato. Nossa empresa cresceu bastante com ele no comando. Mas não deixava de ser uma pessoa descontraída, pelo menos nas horas vagas.

— Se tivéssemos fretado o jatinho... – retrucou o Cascão para provocar. Seu lado brincalhão contrastava com o do Yugi. Ele sempre fora desleixado e despreocupado, sempre gostou de brincar e responsabilidades não eram o seu forte. Porém, era um atleta nato. Bom no futebol, no basquete, no Parkour. Ele até inaugurou um centro esportivo na nossa empresa e patrocinou atletas e entidades desportivas.

— Xi...essa discussão de novo – disse já sabendo no que ia dar. Por sua vez, eu sempre preferi jogar videogame, apesar de ser bom jogador de futebol. Procurei o máximo traçar estratégias para o desenvolvimento da empresa. Acho que consegui, pelo menos nunca houve reclamação por parte dos nossos parceiros. A verdade é que nos completávamos cada qual em suas funções e fazíamos um Power Trio de respeito.

— Não começa com esse papo de novo – disse Yugi me tirando dos pensamentos.

— Você poderia ter pelo menos marcado para mais tarde. Aí deva para descansar e não teríamos que aguentar seu mal humor. – retrucou Cascão.

— Eu mal-humorado? O senhor que está ranzinza porque foi contrariado.

— Gente, podemos sair logo? Daqui a pouco o engarrafamento começa e chegaremos à cidade da moda só de noite. – falei tentando apaziguar os ânimos.

Os dois continuaram a discutir, mas enfim conseguimos sair. Para nossa sorte não pegamos congestionamento e saímos de Nápoles tranquilamente, até porque meus dois amigos pararam de reclamar. Colocamos algumas músicas e fomos cantando juntos durante o caminho. Paramos em Florença para almoçar e seguimos para Milão, agora sem pausas programadas. Cerca de duas horas depois de sairmos do berço do Renascimento a Yugi começou a ficar tenso.

 – Pessoal! O carro tá meio descontrolado!

— Como assim descontrolado? – Perguntei tenso.

— Por que a velocidade tá aumentando, Muto? – perguntou Cascão, tenso.

— Não sei! O freio não funciona!

O desespero tomou conta da gente. O carro começou a aumentar de velocidade sem explicação. Yugi tentava manter o veículo na estrada, mas ele estava muito rápido.de repente o carro virou, saímos da estrada e começamos a capotar. De repente senti uma pancada na cabeça. Tudo ficou branco, foi a última coisa que pude perceber.