Venha Comigo. vol 3: Vida Morta escrita por Cassiano Souza


Capítulo 2
O mesmo destino


Notas iniciais do capítulo

Gostei do capítulo, e traz um tom diferente do outro capítulo, e com muito mais de elementos Sci-Fi e emocionais, perceberá tudo se ler todo.



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Seguindo viagem, continuavam as muitas e cheias naves rumo ao tão admirado planeta de Paradisum-2.0, seguindo enfrente no seu pequeno sistema de solar, recém saídas dos dois planetas de Perob-1 e 2, e carregadas de sonhos e determinação. Mas, não apenas sonhos eram carregados pelas naves, o tédio do Doutor também era, ali, entre Grace olhando pela janela e Aduen do lado do corredor de poltronas:

— Haa... Quanto tempo duram essas viagens?

— Doutor, faz apenas cinco minutos desde que saímos da orbita do planeta. - Avisa Grace.

— E quem disso isso? Um relógio da Terra? Não confio neles, muitos fusos-horários.

— Não pode reclamar de atraso, você é o homem mais atrasado que existe!

— Já pedi, esqueça aquele dia.

— É, e acabei atolando o meu carro na lua.

— Não precisam se preocupar com a distância. - Diz Aduen. – Perob e Paradisum estão há apenas 55 milhões de quilômetros um do outro, os dois Perob estão.

— E isso não é longe?! - Pergunta Grace, assustada.

— Claro que não, estamos em uma velocidade de 128.000.000.00 quilômetros por hora. Demorará apenas um dia e meio, talvez.

Grace respirava aliviada. O Doutor completa: 

— Ele está certo, Grace, pode ser rápido. Perob e Paradisum possuem a mesma distancia que a Terra teria de Marte. Mas, existem duas coisas que estão erradas para mim.

— Viu? Você é o primeiro a dizer, e depois ainda reclama dos humanos. - Incriminou a ruiva. 

— O que estaria errado, senhor? - Pergunta Aduen.

— Primeiro, há 500 anos atrás... Eu estive aqui, e não existia nenhum planeta chamado Paradisum.

E olhando pela janela, Grace observava a totalidade daquele sistema solar, enquanto ouvia ao Doutor. Dizia ele:

— Acho que falam do Gametianet, lar dos Ploresxadore. Um povo comerciante, porém com uma economia muito instável, e concorrentes dos humanos.

— Mas esse nome que você disse... É exatamente o nome que Paradisum tinha no passado. - Revela Aduen.

Grace e o Doutor ouviam curiosos. Aduen prossegue:

— Aprendi nas aulas de matemática, a senhora Guine sempre nos contava histórias nos recreios. Dizia que foi nessa época da qual você fala que o império humano se enfraqueceu.

— O seu avô disse que houveram conflitos cósmicos. - Aponta Grace. – Que conflitos foram esses?

— Não sei, acho que esse conhecimento se perdeu pelo tempo... Tudo o que sabemos é que eles foram muito grandes, e envolviam muitos povos em um mundo distante, mas ninguém mais sabe o porquê.

— E é esse o outro erro que você percebeu, Doutor?

— Não, é algo muito mais simples. - Negou o Senhor do Tempo. - O segundo erro é... Para aonde estas naves levam todos? Afinal... Se estas viagens transportassem pessoas há anos para Paradisum já haveria um excesso população, e não seriam mais aceitos nenhum cidadão Perobenho.

— Claro que não, as propagandas para vir ao Paradisum estão o tempo todo na televisão! Na verdade... É só isso que passa na maior parte do tempo. - Lembra Aduen. – Nos querem lá.

— Mas há quanto tempo essas viagens acontecem? - Questiona Grace.

— Há 50 anos, senhorita, e uma a cada 10 anos. Mas eu não entendo... Como podem ser humanos e não saberem de nada?! De onde vieram?

— Ah... De São Francisco.

— A Nova Nova São Francisco? É longe, não é?

Entretanto, Grace não conseguia responder. 

— Não importa. - Intercede o Doutor. – Estamos apenas de passagem, somos de todos os lugares. O que importa é... Todos vocês tem um motivo para irem embora, mas todos vocês tem família, e mesmo assim... Ninguém manda notícias depois de partirem?

— Não. - Confirma Aduen, cheio de peso.

— O seu avô disse que você tem uma irmã. - Lembra Grace. – Vocês nunca mais souberam dela?

E com isso, Aduen tomava alguns segundos e tristeza pensando nela:

— É, é assim que acontece, com todo mundo. Mas não dizem que a vida é uma viagem? Talvez ir à Paradisum seja a última parada.

— Não pode ser, vocês não podem simplesmente acabar assim! - Repudiou Grace.

— Mas é assim.

— Mas está errado.

Aduen apenas encarou Grace, tentando entende-la, nunca havia conhecido alguém que ao mesmo tempo que desconhecia o Paradisum abominasse ele. Aquela não devia ser uma pessoa da sua base cotidiana. Diz Aduen em seguida:

— Eu não sei como são as coisas em Nova Nova São Francisco, senhorita... Mas é assim que é em meu mundo.

— No meu mundo... Tudo é bem diferente. Lá as pessoas também somem, também morrem, e também não são perfeitas... Mas ninguém se cala e se conforma com o desaparecimento de alguém, seja ele quem for. As pessoas importam, e mesmo com os cães sendo animais amáveis... Ninguém nos compara com eles. É assim de onde eu venho.

E que mundo era aquele de onde Grace havia vindo? Era isso que martelava nos pensamentos de Aduen, pois nunca havia testemunhado ou pisado em nenhum lugar onde o ser humano fosse algo de importante, ou no mínimo considerável:

— Bem... A vida nem sempre nos deixa um caminho descente, mas ela sempre nos força a seguir algum, seja ele qual for. Eu também não queria estar aqui.

— Quer ajudar o seu avô, não é? - Pergunta o Doutor.

— Sim, senhor. Ele já é velho, já está cansado, quero lhe dar alguma estabilidade, as aposentadorias de Perob não são das melhores. Mas por sorte ainda temos uma!

— Eu te admiro. - Grace olhava sincera para o jovem viajante. – Temo totalmente o resultado dessa viagem, mas... A sua atitude de se aventurar na vida pelos que ama... Isso é lindo. Mas quando já estiver bem de vida... Não se esqueça de mandar uns e-mails para o vovô!

E assim Aduen gargalhava, e o Doutor permanecia sério encarando as pessoas da poltrona ao lado, e Grace, percebia isso:

— O que foi, Doutor?

— Nada. - Respondeu ele.

— “Nada”, é o que sempre diz quando temos algo terrível em nossa frente!

— Eu entendo o que é. - Diz Aduen, sorrindo, e o Doutor desviava o seu olhar distante. – O Doutor só está presenciando o que acontece todos os dias. Mas não liguem, já estou acostumado.

— Do que está falando? - Grace olhava envolta.

— Não adianta olhar envolta, não é assim que se enxerga isso.

E assim, Grace percebia o olhar das pessoas ao lado, encarando Aduen, que tentava terminar de encobrir por completo o seu pescoço, com o seu cachecol, devido a grandes machas acinzentadas que seriam alguns dos sintomas da sua trágica doença.

— E no seu mundo, também é assim? - Indagou o rapaz à ruiva.

E Grace apenas permaneceu em um silêncio sufocante, pois percebia que mesmo estando há anos na frente do seu tempo... Coisas como quaisquer preconceitos que fossem pareciam que nunca iriam deixar de existir. No mundo dela também havia isso, mas alguém do ano 2000 nunca esperaria esta atitude das pessoas de um futuro tão distante. Afinal, no imaginário contemporâneo imagina-se que tudo dará certo lá na frente, e problemas e desigualdades deixarão de existir.

— Eu queria xingar aquelas duas agora... - Avisou Grace, olhando para duas senhoras na poltrona ao lado de Aduen.

— Grace... Não. - Pede o Doutor.

— Sim, Doutor, não é com uma ofensa que se acaba com outra.

— Não se alterem por minha causa. - Pede Aduen. – A Seblmaproerio tem esse efeito mesmo, e manchas dizendo... “Estou aqui”. Mas não irá demorar, um dia vai acabar.

— Como assim?

— E que tal se mudássemos de assunto? - Propõe o Doutor, interrompendo. – Olhe para as estrelas na janela, Grace.

— É.

Grace dedicava então a sua atenção para escura e movimentada vista que a janela possuía. E frente às muitas das naves da viagem passando e o frio e silencioso vácuo do espaço, mais alguém parecia estar presente, um enorme e imponente asteroide. Porém, não simplesmente um asteroide ordinário, aquele era gigantesco, e com também enormes e intrigantes instalações metálicas sobre ele, lembrando alguma espécie de grande base de pesquisa ou militar.

— Doutor... O que é aquilo? - Questionou a humana.

E assim, o Doutor também encarava a aquela  vista. Grace indaga:

— É esse o Paradisum?

— Não, mas de certa forma... Talvez sim. Vendo isto... Acho que o Paradisum é apenas uma fachada. - Respondeu, desolado.

— O que quer dizer exatamente? Não é coisa boa, é?

— Por que resume tanto?

Grace apenas intensifica a sua apreensão. Aduen comenta: 

— Vocês parecem o meu avô! Vemos na TV, existe um mundo nos esperado. Aquilo não é Paradisum, é só a lua Lamet-29.

— Os programas de TV que você anda vendo te enganaram, Aduen... Não existe esse mundo perfeito que você vê por aí... É uma ilusão, uma armadilha, mel para as moscas. - Diz o Doutor, fitando a vista da janela.

— E como você poderia ter certeza? Aquilo estar em nossa frente não significa nada demais!

— E quanto às muitas dessas naves estarem entrando ali dentro?

E assim, a face de discórdia que Aduen carregava se dissolvia por completo, enquanto ele se levantava e podia ter uma visão mais detalhada do exterior, a de que muitas das naves realmente estavam entrando na grande e fria lua solitária de Lamet-29, o satélite natural de Perob-1.

— Mas as pessoas...? - Pergunta Grace já preocupada. – O que fazem com as elas?

O Doutor tentava disfarçar a sua angustia, mas Grace conhecia cada olhar do amigo, cada expressão, e já imaginava muito bem o que ele poderia estar pensando. Ela insiste:

— Doutor... O que fazem com as pessoas?

— Eu não sei. - Respondeu sorrindo, mas com um sorriso totalmente iludido por si mesmo.

E conforme as naves iam se aproximando do grande asteroide, mais as pessoas iam entendendo o final dos seus destinos, e logo questionamentos e desespero estavam sendo lançados pelos milhares de miseráveis encarando as janelas.

— Mas isto está errado... Não pode ser isso. Se tudo tiver sido apenas uma grande mentira, então... - Lamentava Aduen. 

— Fique calmo, Aduen, sei que tudo pode parecer horrível... Mas sempre é assim, eu e o Doutor passamos por isso o tempo todo, e conseguiremos sair dessa situação. - Pede Grace. 

— Vocês não podem prometer isso.

E Grace não conseguia rebater aquele ponto, eles poderiam mesmo escapar de um possível mal acontecimento?

E de reprende, uma enorme turbulência acontecia a aquela nave em que estava o trio. Assustados e surpresos, todos lá dentro tentavam se segurar no que podiam, mesmo estando de cintos, e gritos inundavam o ambiente. Mas, por sorte, a nave parecia estar curiosamente se distanciando da grande lua. E assim, a turbulência atordoante se cessava.

— Doutor, o que foi isso?! - Indagou Grace.

— Não sei, mas é o que irei descobrir. - Respondeu, começando a tirar o cinto de segurança. – Grace, fique e tente acalmar os outros.

— Ok, fui quase formada em psicologia. - Mas antes mesmo de Grace ter terminada a frase, já estava o Doutor correndo pelo corredor, rumo à sala de comando.

— Acho que precisaremos de uma psicóloga mesmo! - Aduen arregalava os olhos para a janela.

— É? - E virando o rosto, Grace entendia de onde vinha o espanto do garoto, vinha das várias, porém, pequenas naves passando entre as outras, e disparando contra os bagageiros, e contra o grande asteroide. – Ohu... Guerra nas estrelas!

E imediatamente o pânico tomava conta do ambiente, ninguém manteria a postura vendo tanta violência e perigo ao seu redor.

— É melhor você começar a acalmar a todos. - Sugeriu Aduen a Grace. 

— Pois é... Mas isso se eu me acalmar primeiro!

***

Correndo apressado, logo chega o Doutor na sala de comando da nave, onde se encontrava ali o piloto estirado no chão, e uma estranha mulher nos controles. Esta, de traços asiáticos, trajes vermelho e pretos, exibindo um penteado exótico e dona de um olhar farpante.

— Ele está morto?! - O Doutor checava o pulso do homem desacordado.

— Não, ainda não matei ele. - Responde a mulher, nos comandos.  

— E nem irá. - O Doutor se levantava, fitando a sujeita. – Quem é você? São vocês que enganam o povo de Perob?

— Não viemos enganar vocês, viemos salvar vocês. E cale a boca, está me desconcentrando! - Acelerava a velocidade. – Segure-se! 

Doutor se esforçava em ficar em pé:

— Saia desses controles! Não irei confiar em você.

— Então pegue o meu teletransporte e vá para o asteroide ter um encontro à luz de velas com os Cybermans. Imbecil.

— Não é uma pirata espacial?

— Sou a vice-líder dos Nipraa. Gaaiu. Mas não diria ser um prazer conhece-lo.

— Mas você disse Cybermans, acha que tem chances de detê-los?

— “Chance”, é um palavra difícil. Mas tentar é proibido?

O Doutor não sabia responder. A mulher se comunica por um aparelho:

— Kral, Lermin, Gharn, Tyam? Estão na escuta?

— Afirmativo. O que quer? Está difícil capturar as outras naves. - Responde um dos questionados. – E os Cybermans estão enviando mais drones para o confronto!

— Então distraiam eles! Criem obstáculos, atirem nas naves bagageiras.

— Sim, senhora.

— Não! - Berra o Doutor. – Não atirem nas naves bagageiras, a minha nave está em uma nave bagageira!

— Eles não estão mais na escuta. - Avisa Gaaiu. – E como a sua nave pode estar em uma nave bagageira?!

— Porque humanos confundem tudo. Caixas tem a mesma serventia que malas?! E atirando nas bagagens... A TARDIS ficará à deriva.

— Sinto muito, mas é só o que podemos fazer se quisermos salvar as pessoas.

E com o avanço e a intensificação do número dos cyber-droes, então os comparsas de Gaaiu começavam a atacar as naves bagageiras, e assim, inúmeros destroços e os pertences das pessoas serviam de obstáculo para eles. E todo este esforço, apenas para salvar 5 das mais de 70 naves de viagem.

— Por que está com essa cara? - Pergunta Gaaiu, olhando confusa para o Doutor. – Era apenas uma nave.

— Não era apenas uma nave... Era mais do que isso. Além de ser o meu taxi e casa... Era uma amiga. 

A pilota apenas encarava estranho, aquele homem parecia possuir algum problema

***

— Por favor... - Pedia Grace entre as fileiras de poltronas. – Tudo ficará bem, sei que uma guerra parece estar acontecendo lá fora, mas... Tenham calma! OK?

— Não nos diga para ter calma! - Dizia o outro Aduen, o Aduen chato. – Isso aqui está errado, devíamos estar indo para Paradisum, e ao invés disso estamos indo para o lado errado!

— Lado errado? E aquele asteroide enorme era o Paradisum para você? Vocês forma enganados, e o Doutor está lá dentro daquela sala agora, e ele resolverá isso.

— E quem disse que esse Doutor sabe de alguma coisa? E você, quem pensa que é? Ninguém aqui tem a obrigação de te escutar.

— É, ninguém tem de me escutar, mas e o que eu estou fazendo? Tentando acalmar vocês, tentando aliviar a tensão, então se pessoas como você estão tão bem assim que não precisam de ajuda... Pense nos outros.

Então, Grace abraça uma jovem chorando, já muito amedrontada pelo o que viram lá fora, e o curso desconhecido da viagem.

— Não chore, querida, tudo dará certo. - Grace acariciava os cabelos da jovem. - E é o pânico quem nos tira a racionalidade, precisamos estar com as mentes livres agora.

— Não me peça para não chorar.

— É... Certo, é só o que nos sobra mesmo quando sabemos que não temos mais nada.

— Tem coisas como drones vindo! - Avisa o Aduen amigo, olhando assustado pela janela, e todos os outros passageiros repetem a ação.

— Drones?! - Pergunta a jovem que chorava. – São perigosos?

— E por que seriam perigosos? - Responde Grace, tentando não parecer assustada. – Vieram nos salvar.

— Está mentindo para tentar me acalmar?

— Funcionou?

Porém, antes que a garota respondesse, alguns disparos a laser por parte dos drones acabavam acertando algumas das janelas da nave, e consequentemente o oxigênio acabava sendo sugado grosseiramente para o vácuo. E Grace, como estando sem sinto, acabava tendo que se segurar nas poltronas para não ser carregada.

— Doutor?! - Gritava, no maior tom que poderia alcançar.

***

— Tem alguém me chamando? - Questionou o Doutor à pilota. 

— Não sei, nem sei o seu nome!  

— Bom, nunca saberão.

E partiu o Senhor do Tempo para o corredor, onde Grace se esforçava ao máximo em segurar nas cabeceiras de duas poltronas entre o corredor, com as suas mãos já escorregadias e prestes a se desgarrarem. Mas, chegando ao corredor, o Doutor se segurava nas ferragens, e então apontava a sua chave de fenda sônica em direção ao sistema de proteção extra das janelas, e assim, cada janela tinham as suas fissuras encobertas por uma camada de aço. E encerrando a escapatória do oxigênio, Grace então caía com a cara no chão.

— Grace! - O Doutor corre para ela. – Você está bem? - Ajudava a se levantar. – Mas e o seu nariz? Estou com pena dele!

— Esqueça o meu nariz, você viu o que tem lá fora?! Tem robôs assassinos, robôs assassinos atirando, robôs assassinos atirando atrás da gente!

Com isso, a turbulência logo continuava, pois apesar das janelas estarem agora protegidas, o resto da lataria da nave permanecia vulnerável, e assim, os Cyberdrones prolongavam os seus disparos.

— Gaaiu!? - Grita o Doutor correndo para a sala de comando, junto a Grace. – Os Cyberdrones! Precisamos para-los.

— Estou tentando me distanciar e esquivar, mas não está adiantando muito. - Operava Gaaiu aos controles.

— A nave não irá aguentar por muito tempo, é primitiva, é velha, e é Barata. Coisa de humanos!

— Então o que eu faço?!

E Grace, arregala os olhos imaginando alguma coisa:

— Como nos filmes...

— Grace, não se pode vencer a realidade usando a ficção! - Desincentiva o Doutor.

— Ah, pode sim... E só terá que dar um daqueles rodopios que fazem com os carros nos filmes de ação! E rebater os robôs com o traseiro da nave.

— Um movimento como este na velocidade em que estamos e sendo feito sem nenhum planejamento pode partir essa nave ao meio, sabia? - Colocou Gaaiu. – Porém... Não temos outra escolha. Cruzem os dedos.

O Doutor e Grace, apertam forte as mãos. E Gaaiu, fazia como Grace havia sugestionado, e dava um rodopio rebatente contra os Cyberdrones, mas, isto, custava muito equilíbrio, e a nave então continuava girando violenta. Porém, com essa turbulência cessando, a nave continuava agora a sua fuga, mais aliviada.

— Capitã Gaaiu? - Chamavam as vozes dos seus comparsas. – Você está aí?

— Sim. - Respondeu ela. 

— Estamos logo atrás de você. 

A capitã Sorri ao saber. Entretanto, avisam outra coisa: 

— Mas temos uma má noticia... A sua irmã, senhora... A Tyam foi pega.

— Não pode ser!

— Mas foi, senhora... Eu sinto muito.

E então, Gaaiu perde completamente o seu ar de independência, perder a sua irmã já era algo horrível por si só, mas, sabendo que havia perdido ela isto significava muitas mais perdas, a de todas as pessoas que ela tentou salvar em alguma das outras naves. E sentindo o peso de Gaaiu, o Doutor e Grace apenas se mantiveram em silêncio. 

— Gaaiu? Você está aí? - Perguntavam os comparsas.

— Sim. - Respondia abatida. – Mas agora vamos, vamos para casa.

— Afirmativo, capitã. - Aceleravam as naves.

— "Casa"? - Pergunta o Doutor. – Onde é “casa”?

— No sistema solar vizinho, planeta Refugio.

— Isso me lembra alguma coisa.

— Segurem-se. - Gaaiu colocava em potência máxima os motores.

***

Dentro de alguns minutos após todo o tumulto de frente da lua, logo chegavam Gaaiu e os seus amigos ao planeta Refugio, e cada um pilotando uma nave, quatro ao todo. E após estacionarem as naves em uma nada pequena vila composta por casebres velhos de taboa, e algumas construções de pedra, e mais ao longe grandes formações rochosas com formatos muito incomuns, o Doutor, Grace, Aduen, e todos ou outros das naves e da vila, se encontravam agora de frente de uma das naves da viagem, em uma praça de chão de pedra, esperando por uma decisão que Gaaiu tomaria.

E em uma clareira entre a multidão de indivíduos, os quatro pilotos se encontravam ali, amarrados e ajoelhados no chão.

— Quantas pessoas... - Diz Aduen, olhando envolta. – Então essa é a nossa salvação, estávamos sendo enganados? Me sinto arrependido.

— Não precisa ficar assim, Aduen. - Conforta Grace. – Alguém sempre nos engana, e podemos até nos sentir como idiotas, mas... Idiotas são quem precisam de um motivo para não falar a verdade. Só o que eu não entendo é... De quem exatamente estávamos mesmo sendo salvos?

— Cybermans, Grace. - Responde o Doutor.

— Você ainda não me apresentou a eles.

— E nem gostaria. - O Doutor volta o seu olhar para Aduen. – E você, já ouviu falar?

— O nome sim. - Confirma Aduen. - Mas nunca ouvi falar nenhum caso sobre eles, as lendas contam que desapareceram há milênios atrás.

— As lendas... Há algo de muito errado com a raça humana, e é fruto das antigas guerras cósmicas, e de uma que nunca ouvi falar. Isso me irrita.

— Mas para que esses Cybermans precisariam das pessoas? Escravizá-las? Vende-las? - Questiona Grace.

— Grace... O que os-torna humanos? 

Grace estranhava a pergunta, mas responde:

— Ora... Nossos... Nossos sentimentos, nossas opiniões... Emoções, e... Ah, você sabe!

— Sei, mas não existe mais nada disto para um Cyberman.

E Grace não conseguia comentar a respeito, pensar que alguém poderia se tornar um ser tão seco de vigor emocional era algo que ela nunca teria imaginado, e lhe assombraria em todos os seus momentos de deleite enquanto pensasse nas aventuras com o Doutor.

— Então é isso que fizeram com a minha irmã? - Questiona Aduen, chocado.

E agora, o que responder para Aduen? Olhando com os seus olhos verdes e pidões de saudades, o que dizer? Se tornar um Cyberman talvez tenha sido mesmo o destino de sua irmã, Naarhsoodd, mas o Doutor nunca ousaria responder aquela pergunta, ou pelo menos não aquela regeneração. Porém, para a sorte dele... Gaaiu subia agora até uma das naves, e usaria aquilo de palco, para que todos pudessem a-ver e a-escutar:

— Uadasaoc a todos!

— Uadasaoc! - Diziam muitos.

— Todos nós sabemos, somos uma democracia.

O Doutor e Grace observavam os pilotos ajoelhados. Gaaiu dizia:

— E sabemos o-quanto este lugar importa para nós, é aqui o nosso esconderijo e é aqui a nossa casa. É assim que escapamos e salvamos milhares de vidas dos Cybermans. Mas, há algo aqui que a cada dez anos deve ser repetido, se quisermos sobreviver. - Apontava para os pilotos.

— Doutor, o que ela quer com aqueles homens? - Pergunta Grace ao Doutor, em meio a multidão.

— Não espere coisas boas. - Respondeu o Senhor do Tempo. 

— Estes homens... - Continuava Gaaiu. – Todos eles possuem nano chips  simbióticos em suas cabeças, mas, sendo eles de rastreamento. Uma estratégia baixa dos Cybermans para sempre saberem para aonde as ovelhas desgarradas fugiram, ou amedrontar ao pastor.

E a multidão apenas ouvia atenta. Gaaiu prossegue:

— Se os pilotos não cumprissem o seu dever... Teriam o cérebro eletrocutado, mas o-comprido... Ganham o direito de viver, enquanto acabam levando milhares para a morte.

Muitos rostos na multidão se contrastavam unanimemente, seja com expressões de ódio ou piedade. Gaaiu continua:

— Agora é a hora de votar, a hora de decidirmos se iremos viver ou morrer, mas para isso... Preciso da colaboração de vocês.

— Conte conosco, senhora! - Gritavam muitos. – Conte conosco!

— Obrigado, mas eu também não queria ter que fazer isso. Porém, é a escolha que temos, e escolhas nem sempre são fáceis.

O Doutor e Grace trocavam olhares aflitos, as palavras de Gaaiu já estavam com a sua índole mais do que obvia. E terminando o discurso, finalizou Gaaiu: 

— Dentro de vinte minutos, se não decidirmos logo um resultado... Os Cybermans receberão o sinal de triangulação dos chips, e virão até nós, querem um exercito. - Sorria para a plateia. – E é aí que iremos acabar. Mas como eu disse... Somos uma democracia, e iremos votar. Levantem as mãos quem é a favor da morte destes quatro Paradisianos!

E era simplesmente isso, matar para sobreviver. O Doutor e Grace nunca aprovariam isto, e era exatamente este tipo de “democracia” que os cercava agora, uma política que era cercada pela vontade insana da esmagadora maioria, e sem qualquer ressalva conforme quaisquer minorias que fossem. E olhando envolta, tudo o que se poderia ver eram centenas de mãos para cima.

— Mas isto é errado! - Diz Aduen, com o Doutor e Grace. – Ela mesmo justificou o caso deles... Os pilotos não tiveram escolhas. Eu não vou votar!

— Nenhum de nós vai. - Avisa Grace. – Mas sempre é assim... Fazemos as coisas certas, ajudamos os outros, e... No final... Nada mudou, o mundo parece nunca mudar.

— Mas já está decidido, a maioria vence... Eles irão morrer.

— Não, você não conhece o meu amigo, o Doutor fará alguma coisa.

— Mas ele nem está mais aqui!

— E onde está?! - Grace olhava envolta, e nada de Doutor realmente.

— Ninguém matará ninguém! - Avisou uma voz masculina, por entre a multidão.

Gaaiu com o seu queixo erguido, fitava o Doutor se aproximando feroz, cortando pela multidão.

— O cabeludo da nave. - Disse indisposta. – Como pode ver... Está em minoria. E isto não é uma ditadura, aqui o povo escolheu o que quer e terá o que quer.

— Não, não terá.

Todos encaravam o cabeludo. Ele comenta:

— Podem me olhar, faço mesmo barulho por onde passo.

— Então se declara uma ameaça ao governo?! - Questionou Gaaiu em desdenho. 

— Sou uma ameaça a qualquer governo. Não te contei o meu nome?

— Não. Quem é você?

— Eu sou o Doutor, e é só Doutor.

— Isto não significa nada para mim.

— Sim, para mim também não. Mas mesmo não lhe significando nada... Isto ainda irá lhe querer dizer um monte de coisas.

E assim, estava feita a declaração opositora ao governo, e assim, o Doutor e a vice-líder dos Nipraa se embatiam em um confronto de olhares.

 

 


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Notas finais do capítulo

Para eu poder ter dito que para chegar em um dia e meio em Paradisum deveriam estar correndo em um velocidade de 128,000,000 quilômetros por hora, precisei fazer um calculo meio difícil, não irei mostrar como foi, mas na verdade não chegariam em um dia e meio, seria aproximadamente dois dias, três horas, e 39 minutos.
Algo que nos traz uma semelhança com a realidade é isso desse tema sobre viagens que prometem grandes coisas mas no final tudo é apenas uma mentira, como é o caso de várias pessoas que sonham em ir trabalhar fora e acabam sendo engadadas e exploradas.
O Nova Nova São Francisco foi uma referência do Nova Nova York, daquele primeiro episódio da segunda temporada.
E sobre alguns dos nomes, Nipraa é um anagrama de rapina, e Gaaiu de águia, e Ploresxadore é de exploradores, Uadasaoc é de saudação, Lamet é de metal, e o 29 que desde o capítulo anterior venho pondo nos nomes é uma referência ao episódio The Tenth Planet, arco 29 da série clássica, que é onde os Cybermans aparecem pela primeira vez.
E explicando aquela cena onde o Aduen acaba sendo encarado por duas senhoras, não significou que a doença dele se resume apenas em manchas no pescoço, é mais do que isso, aquilo é só um sintoma mais perceptível, e elas não encaravam por ele ter manchas, encaravam por isto significar ele ter aquela doença com o nome maluco.