I M P E R I U S escrita por T in Neverland


Capítulo 1
Salamander


Notas iniciais do capítulo

Capítulo revisado e atualizado em 05/07/2021



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           Salamander - Capítulo I

Ilka alternou as pernas cruzadas, impaciente. A poltrona grande e cinzenta agora lhe parecia extremamente desconfortável, e os quadros ao seu redor conversavam entre si, deixando-a ainda mais incomodada. Ouviu o barulho da estátua se mexendo e suspirou aliviada.

— Perdão, senhorita Bagshot. Tive alguns imprevistos e não pude comparecer antes – disse o senhor que surgiu de trás da gárgula de pedra.

Não era dos mais altos e a barba grisalha lhe alcançava o colo, ainda que em sua cabeça não houvesse um mísero fio de cabelo. Os sapatos faziam barulho quando em contato com o chão e usava calças combinando com o paletó, ambos xadrezes com um fundo cinzento. Cafona, pensou Ilka. Um diretor sem o menor senso de estilo não lhe impunha respeito.

— Os empregados de Durmstrang costumavam ser mais pontuais, Diretor Dippet. Apesar disso, eu lhe perdoo, sou uma garota paciente – respondeu, com um sorriso que irritou ao senhor ali presente.

As habilidades de ler as pessoas do diretor não chegavam nem perto das de seu vice, mas dessa vez não precisou de ajuda para concluir que a moça era irritantemente prepotente. Parou por um segundo e analisou-a.

Usava uma meia calça fina de cor escura e sapatos fechados de cor negra, com uma delicada fivela dourada em cima. Estes, possuíam saltos grossos e não muito altos. Eram casuais, mas não deixavam de ser elegantes. A roupa que usava estava inteiramente coberta por um longo e pesado casaco vermelho-sangue de botões também dourados. A cor vibrante do casaco contrastava com a pele clara da garota.

Seus olhos possuíam um tom castanho esverdeado e o diretor pôde jurar que viu um brilho dourado neles, as sobrancelhas escuras e grossas estavam arqueadas, passando um ar de desafio. O nariz arrebitado em combinação com os lábios levemente erguidos do lado esquerdo dava-lhe uma pose arrogante. Os cabelos eram dourados e levemente ondulados, não chegando a alcançar-lhe os ombros, diferentemente da maior parte da população feminina daquela escola, que preferiam os cabelos compridos. Um diadema de veludo preto se destacava no topo da cabeça, dentre os fios loiros.

O diretor Armando Dippet caminhou até o outro lado da sala, onde alcançou em uma prateleira um velho chapéu pontudo, desbotado e bastante remendado.

— Não sei como funcionava em Durmstrang, mas aqui em Hogwarts nós dividimos os alunos em casas, nas quais ocorrem uma competição amigável. São quatro casas: Grifinória para os destemidos, Corvinal para os estudiosos, Lufa-lufa para os altruístas e Sonserina para os ambiciosos. O chapéu é quem a direciona para uma das quatro – explicou resumida e impacientemente, depositando o chapéu rapidamente sobre a cabeça da jovem logo em seguida.

Ilka tentou disfarçar sua cara de desgosto ao sentir o item antigo sobre sua cabeça, mas logo a voz dele tomando espaço em seus pensamentos desviou sua atenção.

“Ilka Bagshot? Esse não é mesmo seu nome, mas não é como se importasse neste momento.

Tens uma mente no mínimo interessante, menina.

Possui a coragem da Grifinória, mas não sua lealdade.

Está longe de ser amigável e bondosa como os lufa-lufanos.

Isso é triste, são traços maravilhosos da personalidade de uma pessoa. E você não os possui. A senhorita se mostra nada mais que uma criança egoísta.

Mas apesar disso, tem um gênio inegável.

É inteligente, curiosa e criativa. Bastante estudiosa e tem um interesse inegável pelo oculto. Se encaixaria perfeitamente na Corvinal.

Porém sua sede pelo sucesso não nega o seu destino. Tem muito de seu pai em você. Não tive a chance de conhecê-lo, mas ainda assim já ouvi o suficiente. A senhorita não nega o sangue tem, portanto, seu destino não seria outro se não...”

SONSERINA!— anunciou o chapéu e, assim que o resultado foi dito, o diretor retirou o chapéu da cabeça de Ilka e o guardou no mesmo lugar.

— Vou mandar uma coruja para que o monitor de sua casa lhe encontre nas masmorras para lhe mostrar o seu quarto. Creio que a senhorita não seja estúpida e consiga achar as masmorras sozinha. Tenha uma boa noite – disse Dippet, expulsando a garota de sua sala.

Como resposta, Ilka deu um sorriso irônico e saiu da sala, pela mesma estátua de gárgula que havia usado para entrar.

Era notável que a garota não havia gostado do diretor, e a recíproca era verdadeira. Era provável que Armando Dippet houvesse a enxotado de sua sala com a intenção de vê-la perdida do castelo, porém Bagshot não era burra. Como uma boa sobrinha, ela havia lido diversas vezes o livro que sua tia Batilda escrevera, portanto sabia muito bem como se mover pela escola sem se perder.

Não demorou muito para chegar às masmorras. Sentiu-se estranha ali, como se houvesse uma energia repulsiva no local. Era frio e escuro, poucas velas iluminavam o local. Caminhou pelo longo corredor de pedras, identificando algumas portas. A sala de aula de poções e o escritório do zelador ficavam ali. Observava atentamente o lugar enquanto caminhava, queria gravar cada detalhe em sua mente.

Estava silencioso e escuro, por isso Ilka assustou-se quando sentiu uma mão gelada em seu ombro. Ao virar-se encontrou um garoto trajando o uniforme da escola, o brasão de sua futura casa em seu peito e logo abaixo um distintivo de monitor. Parecia ter a mesma idade que a loira. Era deveras mais alto e seus olhos negros como a noite pareciam enxergar-lhe a alma, os cabelos igualmente negros e ondulados estavam perfeitamente alinhados para o lado. A jovem Bagshot não pode deixar de notar que também cheirava bem. Diferentemente do diretor, aquele garoto parecia-lhe interessante. Pela qualidade dos sapatos, que pareciam antigos e ao mesmo tempo bem cuidados, e de seu perfume, ele possuía bom gosto e isso era o suficiente para causar uma boa impressão na moça.

— A senhorita deve ser a novata. Sou o monitor da Sonserina e sua companhia para essa caminhada – pronunciou ele com um sorriso galante e estendeu-lhe a mão. Ilka não pode evitar que o canto esquerdo de seu lábio subisse em um sorriso presunçoso enquanto lhe entregava a mão – Tom Marvolo Riddle, é sempre um prazer conhecer damas tão cordiais quanto a senhorita – apresentou-se e plantou um beijo na mão da jovem.

— Ilka Orsolya Bagshot, é sempre um prazer conhecer rapazes tão cavalheiros quanto o senhor. – imitou-o.

Riddle não pode deixar de sorrir com a audácia da garota. Posicionou-se ao seu lado e ofereceu-lhe o braço. Ilka aceitou de bom grado e logo puseram-se a caminhar juntos pelo corredor.

— Se me permite perguntar, Bagshot me soa familiar, mas não é um dos sagrados 28, certo? E seu nome também não me soa tão comum – questionou Riddle.

— Sou da Hungria, por isso meu nome não te soa comum. Meus pais são de lá e quiseram me dar um nome igualmente regional. Estudava em Durmstrang exatamente por ter nascido e crescido por lá. Vim morar com minha tia recentemente, inclusive o senhor deve reconhecer o nome Bagshot por causa dela. Não faz parte dos sagrados 28, mas ela é uma autora famosa. Foi quem escreveu Hogwarts: Uma História, e História da Magia. Provavelmente tem alguns livros dela na biblioteca de Hogwarts – explicou-lhe Ilka.

Riddle se pegou analisando as vestimentas da garota. Era elegante e sua família provavelmente tinha muito dinheiro, mas o fato de estar usando apenas uma fina meia calça para cobrir-lhe os joelhos era estranho.

— Não está muito coberta, essa época do ano é fria. Não sente frio? – indagou ele. 

— Estou acostumada. A Noruega tem um clima bem parecido com o daqui.

O casal somente parou de caminhar quando se viram em frente a uma alta parede de pedras, no fim do corredor.

— Aqui é a entrada de nosso dormitório, a senha é Salamandra – explicou Tom e assim que pronunciou a palavra as pedras a sua frente começaram a mover-se, dando espaço para passarem.

O cômodo era enorme e não possuía muita iluminação. Largos tapetes caros de tom verde ocupavam o chão. Uma lareira escura chamava atenção no canto do lugar e iluminava a maior parte da sala. Alguns sofás de couro de alta qualidade se encontravam espalhados pela sala. Sobre os sofás algumas mantas de tecido grosso os enfeitavam, exibindo brasões da casa das cobras. Estantes de madeira escura, altas e cheias de livros também ocupavam parte do ambiente. As mesas de xadrez bruxo e outras de estudo pareciam ser do mesmo material das estantes, como se fosse um jogo combinado. Os castiçais e lustres espalhados pela sala eram todos feitos de prata. Ilka não pode evitar suspirar, tudo era extremamente luxuoso e ela não poderia pedir por mais.

— Então... O que achou?

— Fantástico. Devo admitir que minhas esperanças não estavam altas, mas estou impressionada – respondeu a Bagshot.

— Ótimo. Para chegar aos quartos é só subir a escada, os femininos são do lado direito. Tem placas de identificação na porta, para ficar mais fácil de localizar – explicou gentilmente.

— Ok, tive um longo dia de viagem, então acho que vou atrás do meu quarto para recuperar minhas energias. Muito obrigada pela companhia e foi um prazer conhecê-lo, Riddle – Ilka agradeceu, educadamente.

— O prazer foi meu, senhorita Bagshot. A propósito, tem um vilarejo bruxo aqui perto ao qual os estudantes visitam nos fins de semana. Deve estar vazio, uma vez que a maior parte da população de Hogwarts foi visitar a família para o natal. Seria uma honra levar-lhe para conhecer o lugar.

— Parece-me uma ótima ideia, e pode me chamar de Ilka. Bagshot meio que me lembra a minha tia.

— Então, pode me chamar de Tom, Ilka.

— Tudo bem. Boa noite, lhe vejo amanhã, Tom — despediu-se, pronunciando o nome do rapaz lentamente.

Ilka se virou e seguiu pelas escadas, ouvindo Tom lhe sussurrar uma boa noite logo em seguida. Não foi difícil achar seu quarto, era o quinto do corredor e possuia uma placa de prata pendurada na porta de madeira escura.

Lucretia Black

Walburga Black

Emma Macmillan

Druella Rosier

Ilka Bagshot

Eram os nomes escritos na prata. Ao entrar no quarto, Ilka notou cinco camas de dossel, com cortinas negras e roupas de cama de tons verde e prata. Havia um grande baú em frente a cada cama, onde quatro pareciam ter dona. Encontrou sua mala em frente a única cama que parecia intocada. O quarto estaria vazio se não fosse por uma garota ruiva em cima de uma das camas. Ela parecia distraída, deitada escrevendo em um pergaminho, e já estava com suas roupas de dormir.

Com o barulho da porta se fechando, a garota levantou o olhar do que antes tomava sua atenção. Pareceu envergonhar-se por não ter notado a novata antes. Levantou-se de maneira rápida e caminhou em sua direção.

— Deve ser Ilka Bagshot. Percebi que tinha um nome novo na placa alguns minutos atrás, quando voltava do banho. Sou Emma Macmillan, uma das suas companheiras de quarto e ano – apresentou-se lhe estendendo a mão.

Emma era uns bons centímetros mais alta que Ilka, e era bem magra também, como uma modelo. Seus cabelos ruivos eram extremamente lisos e lhe alcançavam o quadril. Não possuía muitas sardas no rosto e seus olhos castanhos dependendo da luminosidade pareciam adquirir o mesmo tom de seu cabelo. Os lábios eram finos, assim como o nariz. Era uma garota bonita apesar de ligeiramente descuidada.

— É, sou eu mesma – respondeu Ilka, apertando-lhe a mão e seguindo em direção à sua mala. Tirou de lá sua camisola e pôs-se a trocar de roupa. Emma pareceu sem graça em presenciar a cena, mas Ilka não se importou, ela teria de se acostumar com aquilo, pois geralmente a loira não tinha paciência para procurar o banheiro somente para trocar suas vestes.

— Você veio de onde? Aposto que irá gostar de Hogwarts. As meninas com quem nós dividimos o quarto não são das mais amigáveis, mas você se acostuma.

— Eu estudava em Durmstrang, mas alguns imprevistos aconteceram e eu vim parar aqui. Apesar de rústico, aqui parece ser uma boa escola. Não concordo com algumas coisas, mas não tinha muita escolha. Era aqui ou Ilvermorny.

— Ilvermorny? Nunca ouvi falar – exclamou Macmillan.

— Fica nos Estados Unidos. É onde meu pai está morando. Foi fundada por uma bruxa e seu marido trouxa. Eu nunca iria estudar em uma escola que foi fundada por um trouxa – Ilka pronunciou com tanto desprezo que surpreendeu Emma – Mas enfim, por quê você diz que nossas companheiras de quarto não são tão agradáveis?

— Elas são todas relacionadas. Lucretia é prima de Walburga e Druella está prometida desde o berço a Cygnus, que é irmão de Walburga. E, sinceramente, eu nunca vi uma família tão chata com esse negócio de casamento e tradição quanto os Black. É repugnante. Eles casam os primos entre si, isso é incesto! Não me estranha que todos eles nasçam com distúrbios mentais – explicou Emma e Ilka riu de sua frustração.

— Mas os Macmillan também não fazem parte dos sagrados 28? Pensei que todas as famílias de lá fossem ligadas de alguma forma – perguntou a loira, acomodando-se em sua cama.

— E são. Minha tia Melania só virou Black depois do casamento, ela é mãe da Lucretia. E é exatamente por eu ser meio que parte da família delas que eu posso julgar e afirmo: são todos loucos.

— É, faz sentido. De qualquer jeito, foi um longo dia para mim. Vou dormir um pouco e falo com você amanhã, Macmillan. Boa noite – despediu-se da ruiva e virou para o lado, com o intuito de dormir.

— Boa noite, até amanhã Bagshot.

 


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