Miríade escrita por Melry Oliver


Capítulo 9
9. Holofote




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771245/chapter/9

Nunca tinha visto tanta gente no mesmo lugar ao mesmo tempo, como aconteceu assim que cheguei ao Rod Laver Arena uma parte do complexo Melbourne Park, parecia que alguém tinha mexido em uma casa de formiga e elas assustadas começaram a sair de dentro da toca, segurei com firmeza a mão da Megan com medo de perdê-la.

— Puxa que legal! Murmurou admirada, enquanto olhava ao redor.

O grande público marcava presença,  a maior parte das adolescente seguravam cartazes com palavras de afeto, pôsteres com o rosto do cantor, como se isso fosse pouco havia outras garotas com faixas na testa com o "Eu te amo Michael Campion", além é claro do desenho de coração na bochecha, havia as menos radicais que usavam pulseiras brilhantes com o nome dele escrito.

As garotas demonstravam estado febril, talvez por estarem ansiosas demais.

—Vem vamos nos aproximar.

Ela concordou empolgada, eu me preocupava em ter que passar por meio de uma multidão de pessoas estranhas, tendo que segurar uma criança e uma bolsa comigo, não ajudava em nada as pessoas ficarem me olhando como se eu fosse uma alma penada, mas não me irritaria, eu ainda teria que lidar com uma criança por algum tempo.

As luzes da arena se apagaram ficando um único holofote ligado, um iluminado e colorido holofote que se mesclava em cores quentes e se movia como se fosse uma nuvem de cores. Havia muitos seguranças ao redor do palco  que já estava limitado por resistentes grades de segurança.

Arqueei as sobrancelhas.

Um som instrumental começou a preencher o lugar, houve uma onda de gritos e aplausos compulsivos explodiram quase instantaneamente, Meg que estava estrategicamente a minha frente começou a gritar junto com o coro de vozes.

É o cara era pontual.

As luzes coloridas começaram a girar loucamente, até que o clarão de luzes se acendeu, e no centro do palco o tão esperado cantor começava a ser transportado para cima através de uma plataforma que emergia do solo, o barulho da plateia era ensurdecedor.

O rosto simétrico de Michael Campion revelava contornos marcantes, se tornou destaque em todas as telas espalhadas na área. O cabelo loiro estava maior do que a sua última aparição na TV, seguiam desalinhados como se ele não se preocupasse em aparecer desgrenhado, nos olhos a intensidade de um olhar determinado, ele usava retorno de ouvido, a mão direita ocupada em segurar o microfone moderno ao estilo de um astro pop. – Percebi a força do magnetismo desenfreado que emanava dele, quando todo mundo inclusive eu não conseguia parar de olhá-lo.

De onde eu estava eu via o seu excelente porte físico, a camisa branca em V destacava os músculos torneados, o jeans escolhido era a calça "detonada".

Michael Campion permanecia parado como se estivesse esperando alguma coisa, olhou ao redor, como se pudesse ver cada rosto que o estava assistindo, olhos observadores de humor tranquilo, lábios que brincavam um sorriso nas curvas, no segundo instante ele balançou a cabeça sorrindo amplamente.

Observei a caminhada cadenciada até está próximo aos limites do palco, no minuto seguinte ele levou o microfone para próximo da boca e falou.

— Boa noite Melbourne! Uma voz bonita e aveludada.

O som ensurdecedor das gritadeiras voltou à tona, a garota ao meu lado não se controlava estava em ebulição, até Meg por um momento parou de tirar seu milhão de fotos para olhá-la de cara feia.

Desconfortável eu movimentei os pés e puxei a bolsa pra frente.

O Campion se moveu pelo palco.

— Estou muito feliz de estar aqui com vocês. Ele sorriu. — Sinto que hoje será uma noite inesquecível. – A mão desocupada voou para o cabelo os levando para trás.

Mais gritos, e mais barulho.

Então aconteceu, ele começou a se mover como um imã envolvido pela energia das pessoas, as primeiras letras da canção dançante começaram a serem pronunciadas, os dançarinos entraram em cena, sincronizados com o protagonista.

Não tinha como não acompanhar seus movimentos rítmicos com os olhos, seus passos bem trabalhados, deveria ser o resultado de muitas horas de ensaio em favor da arte.

Não tinha como não notar o timbre inconfundível que ele possuía.

Era impressionante.

Conforme ele cantava suas músicas, nos telões apareciam os videoclipes compatíveis, a essência da letra era um convite a ir a uma festa na piscina, com half-pipe, música e muita diversão mais uma das qualidades do verão.

A multidão explodiu em gritos, as garotas perto da grade de proteção se espremiam diante do palco em estado febril, ele levava a plateia à loucura, Megan se balançava em minha frente como um canguru saltitante.

Ela estava tão feliz.

Tentei por muitas vezes me desconectar da figura que se apresentava com magnitude diante dos meus olhos, o sorriso que ele lançava para a multidão incentivava o público, tinha que ter o sorriso bonito também?

Nas duas músicas que vieram, ele continuou com seu magnetismo desenfreado em envolver a plateia, o que funcionou automaticamente.

Na subsequente um convite para dança, ele convidava as garotas que remexiam as mãos como se respondesse a pergunta, o espaço para ser notado ocorreu na divertida melodia sorriso.

A menininha que não parava de apontar sua câmera para o palco olhou para trás e sorriu.

— Ei Destinee, vamos tirar uma foto?

— Claro. – Sorri abertamente, e me inclinei na medida em que o espaço permitia para ficar perto da sua altura e assim tirei a minha primeira foto naquele dia.

Megan me mostrou a  fotografia, ela ficou linda com aqueles olhos brilhantes e sorriso fácil de menina alegre, minha fisionomia não estava do meu agrado, eu já estava suada e corada como se tivesse acabado de fazer uma caminhada.

Através do telão vi os primeiros acordes de violão  juntamente com a voz rouca se envolver numa canção que falava sobre as escolhas de alguém tão jovem e suas consequências, o vi cantando com os olhos fechados, em seu momento de entrega, o rosto sereno, o suor já despontava os cabelos em um tom mais escuro que o normal.

— Ele é tão bonito. – Comentou Meg.

Sim. Ele era.

Eu estava impressionada, naquele momento eu via a sensibilidade que ele mantinha nas suas músicas, o jeito que ele abaixava a guarda e deixava parte do seu lado oculto transparecer, talvez fosse um vislumbre de um livro fechado.

No decorrer do show Michael percorreu os instrumentos de cordas como Violão e Guitarra, até se posicionar atrás de uma bateria toda dourada.

O Campion era multi-instrumentalista.

Homens que tocam possuem certo charme, algo no gesto de tocar um instrumento lhe davam um traço de casualidade e romantismo.

A agitação retornou aos embalos de uma música convidativa de incentivo a curti  aquele momento, eu estava gostando mais do que achei que gostaria, o garoto sabia como agitar uma multidão que não esperava menos do que isso.

— Eu nunca, nunca vou me esquecer esse show. – Megan falava nos intervalos das letras.

O jogo de luz central se apagou e se acendeu sobre o piano em que estava posicionado o Campion sentado na banqueta se pronunciou mais uma vez.

— Esse show eu irei encerrá-lo de uma forma diferente, a música que cantarei neste momento é muito especial pra mim, é expirada numa situação que me aconteceu há alguns meses. – Uma pausa. — Vocês conhecem, inesquecível garota?

Ele esperou e sorriu.

A multidão gritou a plenos pulmões.

— Vamos cantar juntos?

O retorno foi uma afirmação uníssono.

Os holofotes diminuíram até restar apenas uma luz tênue que o iluminava.

Michael começou a tocar as primeiras notas do piano, e um harmonioso som de ritmos que se completam em sua composição lenta foram lançadas como dardos ao público. A bela voz de veludo e timbre rouco preencheu os espaços musicais, os largos ombros subiam e desciam enquanto tocava o piano de cauda. A conexão estava lá  ao chegar ao nível maior de união com a canção.

Michael me descreveu fisicamente, não que eu seja a única garota com os cabelos e traços que ele citou, mas era uma das quais possuía tais características.

A base da melodia era feita através do piano com notas complexas, no entanto os outros instrumentos o acompanhavam trazendo um toque de agitação a música, Megan virou o rosto para me olhar e disse.

— A garota da música se parece com você.

Fisicamente seria eu, mas ele não me conhecia, então não tinha como ele falar coisas doces sobre mim, eu estava com a cabeça inclinada olhando para a Megan quando a vi arregalar os olhos.

— Olha lá você Destinee na tela do Michael!

E era eu mesma!

Meu rosto aparecia em duas telas próximas a ele que continuava a cantar sua melodia romântica de uma garota loira, a minha imagem estava péssima, fios de cabelos escapavam do meu rabo de cavalo e colaram nas laterais do meu rosto que estava corado.

Sua voz alcançou uma nota alta o que trouxe uma rouquidão atrativa para a canção.

Era incrível de se ouvir.

Depois de demorados minutos tiraram o meu rosto da tela, eu suspirei aliviada, na parte instrumental da música, Michael foi em direção a um homem moreno quase escondido na lateral do palco, ele falou algo rapidamente ao homem que assentiu.

 Mais uma vez ganhei projeção e a adolescente ao meu lado me olhou de cara feia.

Eu tenho culpa do meu rosto ficar aparecendo nessa droga de tela!

Michael se levantou do banquinho e parou no meio do palco agradeceu a vinda de todos e terminou dizendo que esse show o marcou para sempre. – Ele estava bem feliz mostrando seus dentes bonitos, antes de dizer um até breve e sair de cena sendo contemplado por gritos eufóricos e aplausos entusiasmados.

Lentamente o ambiente começou a ficar vazio, notei que demorou mais tempo do que deveria, nós ainda estávamos na fila, quando Megan me disse que precisava ir ao banheiro, e assim que entramos pela porta ouvirmos vozes femininas.

— Isso que é show, não é mesmo Hannah? Perguntou a garota alheia a nossa presença, enquanto lavava as mãos.

A tal de Hannah estava dentro de uma das cabines.

— Sem dúvida alguma, mas só eu achei que o rosto daquela garota apareceu mais tempo do que o necessário? Eu sei que o Michael gosta de interagir com o seu público, no entanto precisava de todo aquele destaque? Ela deu descarga no vaso. — Além do mais não foi à primeira vez que alguém da plateia aparecia, enquanto ele cantava aquela linda canção... Você não se lembra do show na Holanda?

Escutar aquela tagarela me fazia querer rir do seu ciúme bobo.

Por sua vez Megan andou até uma cabine aberta já a garota da pia virou o rosto e por fim percebeu que ambas não eram as únicas ali, o reconhecimento atravessou o rosto dela, em questão de segundos era visível uma enxurrada de constrangimento.

— Lyla você já terminou? Perguntou insegura e muito tímida, já nem me olhava mais.

A tagarela saiu da cabine de nariz empinado foi lavar as mãos, aparentemente fazia o perfil que não olhava nos olhos das pessoas.

Quase arrastada pela garota da pia a tagarela a seguiu expressando confusão.

Megan era inteligente e percebeu que aquela conversa era sobre mim, disse-lhe à verdade que eu não me importava.

De volta às portas que nos levaria até a saída  um cara alto com porte de segurança veio falar comigo. — Você não é a garota que apareceu na tela principal?

Sem pestanejar o respondi.

— Não. Tentei soar convincente.

O segurança sorriu esperto e me segurou pelo braço.

— Ah, mas eu acho que é você sim. – Rapidamente fui rebocada para dentro do local, ele me segurava com firmeza sem me machucar, eu arrastava Megan com medo de perdê-la.

— O senhor está prendendo a gente?  Ela o perguntou entre as passadas desajeitadas.

O segurança olhou para baixo.

— Quem é você menina? Devolveu confuso.

Ela apontou para si mesma e disse com firmeza.

— Eu sou a Megan e estou com ela. – Apontou em minha direção.

O homem que nos arrastava deu de ombros sem se importar  com ela pendurada em mim, foi em direção ao acesso aos bastidores havia ali uma aglomeração de pessoas que parecia ter emergido da terra.

O lugar estava lotado!

            O Homem transpareceu confusão ao perceber que não seria fácil abrir caminho no meio daquelas pessoas, prático tirou do bolso um intercomunicador e tentou se comunicar, no entanto não obteve resposta, sem opções ele me disse.

— Fica aqui. – O segurança me olhava sério, os olhos negros buscavam uma confirmação silenciosa que eu não estava disposta a cumprir.

Quem em si consciência ficaria ali?

Assim que ele foi engolido pela multidão eu segurei a mão da Megan e fui o mais rápido que eu pude em direção a saída mais próxima.

Mas o que deu naquele cara?

Se ele queria me assustar, ele conseguiu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Miríade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.