Miríade escrita por Melry Oliver


Capítulo 7
7. Jardim Botânico


Notas iniciais do capítulo

Eu seriamente pensei em parar de posta, mas no fim... Ainda estou por aqui.



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No segundo dia da semana eu já estava familiarizada com as dependências da casa, naquela manhã eu prendi os cabelos em um rabo de cavalo o comprimento dos fios às vezes me incomodava, porém eu não queria cortá-los, tantas coisas já haviam mudado em minha vida em tão pouco tempo, eu agora estava cautelosa.

Desci as escadas tranquilamente naquela manhã, minha mão deslizava sobre o corrimão de madeira lisa em mogno, subitamente o ângulo dos degraus se tornou esquisito como se os meus músculos se contraíssem involuntariamente para frente, tropecei nos últimos degraus e tombei para frente.

Em uma aproximação esperada um menininho de rosto angelical parou ao meu lado, fitando-me com certo descontentamento?

— Qual é o seu problema? Inquiri atenta. É eu estava irritada afinal das contas

Ele mantinha uma expressão confusa piscando os olhos.

Passos rítmicos se estendiam pelo hall de entrada, Sarah apareceu na sala dando-nos a visão de sua fisionomia serena seus cabelos loiros chegavam até os ombros, à pele rosada em sintonia com os olhos esmeraldas, fitava-nos com certa desconfiança. – Intercalou olhares entre Ethan e eu.

Às vezes era difícil vê-la como minha mãe, ela era jovem demais para tal barganha. – Sarah ainda era adolescente quando ficou grávida, e ao fim da High School, o casal de enamorados se casou antes do nascimento do bebê.

— Está tudo bem por aqui?

— Não, não está mamãe a Destinee iria brigar comigo.

Rolei os olhos sobre as órbitas, mas ela não viu concentrada no monstrinho a sua frente. – Sarah olhou-me por segundos voltando a sua atenção novamente ao menor.

Um pequeno sorriso habitou em sua face rosada. – Era impressionante como seu humor mudava da água para o vinho.

— Ela jamais faria isso com você meu bebê, ela é sua irmã. – Garantiu de maneira afável, tocando-lhe o rosto.

— Irei conversar com ela agora está bem?

Ele assentiu em concordância andando até as escadas. – Ela calmamente o esperou se afastar para em seguida me puxar até o sofá.

Mamãe me olhou nos olhos.

— Meu bem, tenha um pouco mais de paciência com o seu irmão... Ele ainda é muito jovem e você senhorita. – Ela tocou a ponta do meu nariz com o indicador. — Já é uma bela moça...

Sarah, sua estimável compreensão e tolerância são impressionantes.

Eu não queria ouvir o discurso que eu sou à filha mais velha, então eu simplesmente concordei.

Mamãe sorriu afetuosa e transpareceu lembrar-se de algo. – Ela se moveu. — Eu deveria ter feito isso antes, mas a mudança e o trabalho me atrasaram neste aspecto.

 — Eu contratei uma secretária não quero que os afazeres domésticos atrapalhem seu desempenho escolar, o nome dela é Nina Bonvier, ela começará hoje.

Quando morávamos em Dublin a Sra. Hamilton era a responsável pelos afazeres domésticos, as mãos talentosas no preparo das refeições, uma pena ela não ter vindo conosco, como uma tradicional Irlandesa ela alegou que jamais sairia do seu país natal para ir viver em terras estrangeiras, uma patriota.

Na maioria das vezes mamãe preparava o dejejum, Ethan preferia o típico café americano com toda aquela comida, já mamãe apreciava torradas, a diversificação.

Às vezes eu pegava alguns filetes de bacon do Ethan que me olhava de cara feia, em resposta eu lhe devolvia um sorriso divertido.

Como ação de praxe o som insistente do celular da minha mãe irrompeu na sala, eu tinha 99% de certeza que o telefonema se tratava de trabalho a maioria de suas ligações estava envolvida por esse aspecto, Sarah é corretora de imóveis e o uso de tecnologia era um meio prático de contato, ela se distanciou um pouco até ficar de frente para a janela.

A campainha tocou minutos antes de eu ir à escola, ao abrir a porta  me deparei com uma mulher de 20 e tantos anos, de pele pálida, cabelos negros que a deixavam mais branca, os olhos de um azul turquesa brilhavam animados, ela vestia uma roupa que não destacava o seu corpo magro e alongado. Ela me cumprimentou formalmente, antes de se apresentar como Nina Bonvier.

Encarei-a surpresa, ela sorriu educada, minha mãe se achegou até onde estávamos e a convidou a entrar.

— Nina essa é a minha filha mais velha a Destinee. – Apresentou-nos, ao lado de Ethan, mamãe apoiou o braço nos ombros dele. — E esse rapazinho aqui, é o meu filho Ethan. – O abraçou por trás.

Meu irmão lhe lançou um sorriso tímido, logo minha mãe se empenhava em mostrar as dependências da casa a Nina, e eu fui para a escola.

O clima estava gelado naquela manhã, tive que voltar pra pegar um casaco de reserva, caso o calor do uniforme não fosse o suficiente.

Nina estava próxima a mesa que continha as nossas fotografias familiares, ela encarava distraidamente a foto do meu pai que segurava um bebê nos braços, a juventude dele era nítida, ainda com traços adolescentes de um jovem que já era pai, o bebê em questão era eu, de rosto redondo e corpo robusto.

Stephen tinha aquele porte físico bonito, o rosto parecia pertencer a um cantor do rock, os cabelos mediam abaixo do queixo lhe davam o ar de rebeldia.

Era notável que Stephen desde cedo já fazia o estilo de cara que a maioria das garotas acharia interessante olhar mais de uma vez.

— Este é Stephen Haas.

Ela se assustou com a minha voz e se virou rapidamente.

— Seu pai, não é?

— Sim.

Ela voltou a encarar a imagem de Stephen por alguns instantes e me olhou novamente.

— Você se parece com ele.

— É o que dizem.

Antes de subi lhe expliquei o motivo de ter voltado, peguei um casaco de reserva e o levei dobrado no antebraço.

 Entrei no campus da escola sendo recepcionada por uma ventania que jogou os cabelos que escapavam do rabo de cavalo pra frente.

Lewis andava em minha direção com os cabelos armados pra cima.

— Hey miss Irlanda.

— Oi.

— Eu queria mesmo falar com você.

Esperei.

— Posso acompanhá-la senhorita? Brincou ao me oferecer o braço, no entanto não havia lógica, ele teria que voltar pelo mesmo caminho que eu iria trilhar, mas se era o que ele queria tudo bem.

— Claro. – Murmurei.

A passos lentos nós começávamos a caminhar lado a lado, a presença dele me trazia conforto e até certa familiaridade, entretanto eu não estava preparada para o que iria acontecer. 

— O que você acha de irmos hoje depois da aula ao jardim botânico? Perguntou confiante.

Pisquei confusa.

— Seria um encontro?  Perguntei direta.

Às vezes eu não conseguia filtrar o que eu pensava.

Ele riu.

— Wow você é bem direta, não é?

Não respondi, ele continuou.

— Se você quiser. Sim. É um encontro se não quiser é apenas um passeio entre amigos. – Deixou em aberto.

Lewis foi gentil comigo, desde o meu primeiro dia nesta escola, seria legal sair com ele, além de ser um garoto bonito, eu não era cega.

Parei de andar e virei para vê-lo, ele fez o mesmo.

— Okay.

— Okay?

Prendi um sorriso.

— Okay. – Eu disse novamente.

Naquele dia não vi Aprille na aula de inglês, no horário do intervalo Ian me disse que ela estava doente, percebi que a garota que estudava espanhol comigo, lançava olhares ferozes, como se eu tivesse feito alguma coisa que a atingiu.

Qual era o problema dela?

Quando entrei no ginásio, vestida com as calças de segunda opção, me deparei com cordas penduradas em lugares estratégicos no alto do ginásio.

Era só o que me faltava.

Como tínhamos aula de educação física juntos, eu vi Lewis no ginásio se alongando, e vi também alguns rostos conhecidos.

Definitivamente eu não queria subir em uma corda, onde estava o espírito esportivo dos desportos?

Com a sequência de nomes estabelecida, comecei a me preparar mentalmente na tentativa de não passar vergonha.

Foi confuso e dificultoso me sustentar com minhas mãos e pés, entretanto eu não cair, conclui que me sair bem dentro dos meus limites.

Assim que permitido eu corri para o vestuário e aproveitei para enviar uma mensagem para Sarah, comunicação era uma parte fundamental da nossa relação, eu tive que avisá-la a respeito do passeio e pedi a sua autorização.

Quando sair Lewis me esperava com um sorriso no rosto.

— Miss Irlanda

Lewis já era bonito mais quando sorria então.

— Oi. Remexi-me no lugar.

— Aonde vamos? Perguntei interessada ajustando a mochila.

O meu estado de empolgação me surpreendeu.

— Você vai gostar. – Falou misterioso.

— Certo...

Lewis tinha preparado tudo, constatei admirada ao ver as duas bicicletas no suporte da escola, e uma cesta de piquenique em uma delas.

Ele tinha planejado com antecedência e contou com a estimativa dos prós e contra da sua oferta

Olhei-o curiosa, ele apenas sorriu.

Ele nos guiou até chegarmos a um gigantesco jardim botânico, como ponto de localização Lewis me levou para perto do lago.

— Bem-vinda ao Royal Botanic Garden.

Havia muita vegetação espalhada por hectares de terras, em frente ao lago, ele tirou de dentro da cesta uma manta e a estendeu sobre o chão e me convidou a sentar ali também, nós deixamos as nossas mochilas de lado, observei os seus movimentos de retirar da cesta biscoitos, frutas, tortas, pães caseiros, sucos, bolo, geleia...

Arqueei uma sobrancelha inquisitiva, e pressionei os lábios ao prender um sorriso. — Você pretende alimentar um batalhão?

Lewis riu encabulado ainda ocupado em retirar os alimentos da cesta. — Eu sei que exagerei, mas eu não sabia o que você gosta.

Ele sorriu de modo galanteador, sem dúvidas eu diria que Lewis Temple possui características bonitas, os cabelos castanhos, rosto bronzeado e olhos azuis que me olhavam com ternura e me diziam silenciosamente que havia algum sentimento ali, tentei não ficar o encarando como uma doida não se deve entregar o ouro sem dificuldade.

Distante de nós as copas das árvores balançavam como se dançassem em ritmo próprio, me abracei involuntariamente, o tempo não estava nublado, mas o clima implicava contra nós o vento.

— Está com frio? Perguntou preocupado.

— Não. Está tudo bem. – Respondi sorrindo.

Ele retribuía o sorriso abertamente, juntei os calcanhares numa pose pensada, a manta xadrez de Lewis possuía uma maciez agradável.

— O que você achou da última aula?

Controlei a careta que ameaçava surgir em meu rosto, ele estava falando da educação Física.

— Achei uma aula difícil. – Optei pela verdade.

Com uma expressão distante Lewis mantinha os olhos fixos no lago.

— Eu gostei da aula, você já tinha participado de algo parecido?

Uma pergunta fácil.

— Não com tanta desenvoltura. – Brinquei.

— Miss Irlanda eu achei que você foi muito bem.

Eu ri.

Aham.

Acompanhei ele nos servir com suco de laranja.

— Eu espero que você goste.

Nem se eu não gostasse eu admitiria, mas no fim estava bom, a cesta que ele preparou para nós estava uma delícia, provei de tudo um pouco e bem mais do que eu esperava, se Lewis se surpreendeu com meu apetite ele escondeu muito bem a sua reação.

Passamos muito tempo conversando, falamos de filmes, séries, músicas, livros apesar de não ter muito que dizer sobre literatura, até chegarmos a assuntos mais pessoais, ele era solteiro tinha 17 anos praticante de esportes, ele também me contou que tinha um irmão mais velho que já estava na universidade, ambos curtiam praia e surf.

— Qualquer dia nós combinamos de irmos a Sidney surfar. – Piscou.

Eu ri e entrei na onda.

 — Vamos sim, aí eu te mostro como eu surfo bem.

Ele riu, eu tive a impressão que Lewis não havia acreditado nos meus talentos de equilíbrio, mas tocou na minha mão para realização de um high five.

Por precaução Lewis pegou um mapa, então, além do piquenique, de bicicleta nós pedalamos pelos jardins, tanta beleza e história envolvida em sua criação de arquitetura e monumentos em harmonia com a natureza.

O dia no Jardim foi incrível, eu amava a natureza talvez por influência nas escolhas dos meus pais em nossos passeios em família, o dia pareceu correr, e no fim nós assistimos a beleza do pôr do sol de mais um final de dia bonito.

Abri a porta de entrada sorrindo com as lembranças agradáveis, já era noite quando me juntei à mamãe e meu irmão na outra sala localizada no andar de cima, sentei-me no lado esquerdo de Sarah ela me ofereceu a tigela de pipoca, eu aceitei.

Não me atentei ao nome do filme que se tratava de ovis que eram metamorfose  e andavam entre os humanos inicialmente sem serem descobertos, e diferente do imaginado não se pareciam em nada com os extraterrestres relados em outras versões.

Já cansada o suficiente para deitar eu caminhava para o meu quarto.


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