Conte-me um segredo escrita por Course


Capítulo 2
II


Notas iniciais do capítulo

Hello, it's me!
Perdão pela demora!! Juro que não fiz por mal.
Fiquei algum tempo sem meu notebook e, assim que o consegui de volta, acabei me enrolando para dar conta de algumas coisas que ficaram em pendência.
Mas cá estou com mais um capítulo desta história ♥
Espero que aproveitem!


Dedico este capítulo à Ravena (/u/384945/) e seu comentário maravilhoso!



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II - O que a falta de um botão é capaz de fazer

 

Minha cabeça martelava mil e uma vezes cada palavra dita nos últimos cinco minutos e ainda não conseguia compreender o que ocorrera direito. Parte de mim gostaria que concretizar que ele estava apenas brincando e que não havia interesse algum em realmente receber ou, de fato, pagar pela sentença da aposta.

Caramba, que merda! Eram apenas essas palavras que ecoavam enquanto eu refletia na enrascada que havia me colocado.

Batendo na porta principal da boate, encontrei o mesmo segurança que abria a porta para que eu passasse, sem questionar nada ou fazer nenhum comentário sobre a minha mudança de roupas.

Ah, merda! O meu casaco! Deixei para trás enquanto tentava sair desfilando e de cabeça erguida da presença do Zeny.

Não tive muito tempo para refletir sobre a possibilidade de voltar e buscar, pois logo fui imprensada contra a parede lateral da entrada por uma garota loira muito irritada.

─ Sua vadia, desgraçada! Onde é que se enfiou? Procuramos você por toda a parte! ─ Beatriz estava me segurando pelos ombros enquanto me olhava de forma furiosa.

─ Eu disse pra ela que a multidão nos separou, Liv, sinto muito! ─ uma versão mais bêbada da minha amiga surgiu logo atrás da minha irmã e me olhava suplicante, pedindo por apoio em sua história.

─ Relaxa, Tris! A Emmy tem razão. Eu acabei indo lá fora pegar seu casaco emprestado, porque... algum bêbado maluco deixou cair vodca no meu moletom. ─ expliquei, tentando soar o mais verdadeiramente possível.

Ela pareceu considerar as palavras antes de me soltar totalmente, mas não o demorou a o fazer.

─ Dane-se. ─ ela resmungou ─ Vamos embora, eu não devia ter trazido vocês duas pra cá essa noite.

Por uma fração de segundo considerei o que significaria ir embora antes da luta de Don e Zeny e, sinceramente, a curiosidade falou muito mais alto do que a preservação, porque eu gritei:

─ Não, nem pensar!

 Meu grito assustou tanto minha irmã quanto minha amiga. Ambas me olhavam desacreditadas, como se eu fosse uma espécie de extraterrestre.

─ É que... bom... daqui a pouco, devem anunciar a luta final e eu sei o quanto você lutou para conseguir vir esta noite assistir a vitória do Don. Não quero estragar tudo te obrigando a me levar pra casa só porque eu sumi por uns minutos. ─ argumentei, usando as melhores palavras que conseguia proferir naquele momento de tensão.

Beatriz realmente estava com um brilho no olhar e aquilo me assustou um pouquinho.

─ Pode falar, Liv. Na verdade você gostou da experiência. Se não tivesse realmente gostado, não teria voltado. ─ minha irmã cruzou os braços e sorriu debochada.

─ Ah, claro! Eu amo vir aqui, ver esse monte de homens-macacos lutando, sangrando, um monte de garotas oferecidas e, claro, minha amiga bêbada. ─ revirei os olhos longamente no final da frase enquanto apontava para a Emily.

─ Que seja, Liv. Sei que você está escondendo algo e não vou demorar a descobrir.

Tris afastou-se apenas alguns passos, para aproximar-se de suas amigas e comentarem sobre suas expectativas das lutas que viriam a seguir, enquanto Emmy encarava o nosso entorno, ainda exasperada com toda aquela energia produzida no lugar.

Às vezes, eu simplesmente me deixava levar e esquecia que a Tris era quase que um detector de mentiras ambulante.

─ Acho que nunca vou me cansar disso, sabe? ─ Emmy comentou aproximando-se e apoiando suas costas ao lado das minhas que ainda repousavam na parede de concreto escura.

─ Do que exatamente?

─ Dessa vida, entende? Essa coisa de sair à noite, beber alguma coisa com gosto de xixi, mas que dá uma sensação boa, ver uns caras gatos sem camisa e outros com camisa. Além, claro, da música boa que rola antes e, bom, o after-fight que sempre tem na casa do Don.

Olhei para minha amiga com uma certa pena e até considerei manter minha boca fechada, contudo, o que restante de ousadia foi gasto nas palavras que saíram a seguir:

─ Nós só viemos pra cá quatro vezes, Emmy. E essa é a primeira vez que você bebe e não perde o total controle das coisas. Pelo menos, não ainda.

Ela soltou uma risada que soou mais como se estivesse engasgando e revirou os olhos ao deixar-me sozinha encostada na parede.

─ Você também precisa de uma bebida, Liv. Acho que o que a sua irmã te deu antes já perdeu o efeito e você está voltando a ser a chatinha certinha de sempre.

─ Ei! ─ tentei protestar ─ Nós duas somos as chatinhas certinhas aqui, ok? ─ franzi o cenho, tentando parecer irritada, mas não podia culpar minha amiga por dizer a verdade.

Emily bufou alto, assustando dois homens altos que passavam ao seu lado.

─ É. Isso vai mudar no início do próximo semestre. ─ ela contra-atacou ─ Eu decidi como quero passar a minha vida no primeiro semestre da faculdade, Liv, e não será estudando livros de anatomia II ou III adiantado, pode ter certeza.

E com essa afirmativa tão decidida, minha amiga me deixou de lado para desfilar desordenada rumo ao grupo que voltava a se aglomerar entorno da gaiola, esperando por mais uma das brigas que viria a seguir.

Eu estava com medo de me aproximar para assistir a próxima luta, pois eu já sabia quem estaria no ringue, porém, se pelo menos eu pudesse torcer o suficiente e com todas as minhas energias para o Ramonez, quem sabe o Zeny simplesmente perdesse e essa ideia idiota de aposta se dissipasse? É. É uma boa ideia, mas eu acabei seguindo uma melhor.

Parei em frente ao bar e com o meu melhor sorriso, dei algumas piscadelas ao bar tender enquanto apresentava a minha identidade e pedia uma piña colada. A vantagem de ser extremamente parecida com a Tris era essa: minha irmã era uma gata e conseguia arrancar qualquer coisa de qualquer cara, sempre que quisesse. Então, quando comecei a sair com ela no início do verão, assim que me formei no Ensino Médio e já havia completado 18 anos, aprendi alguns truques como o que eu acabara de usar para ser servida antes de muitos outros marmanjos que pediam loucamente suas cervejas baratas antes da primeira luta começar.

Quando o copo decorado pousou na minha frente, tive certeza de que havia algo de errado com a minha roupa, porque o garçom que me serviu não parou um instante de olhar para abaixo do meu pescoço. No momento em que abaixei meus olhos rumo a direção dos olhares do garoto, eu compreendi. Faltava um botão na jaqueta, exatamente entre meus seios, e como estava apertado demais, o espaço sem botão foi repuxado para as laterais, deixando o centro do meu tórax exposto, ou melhor dizendo, um belo de um decote extremamente extravagante.

Agradeci rapidamente, deixando sob a bancada a nota em pagamento e, sem aguardar por um troco, comecei a procurar pela minha irmã em volta, porque, definitivamente, esta não era minha noite. Havia determinado que depois de beber todo o drink que eu gastara o único dinheiro que trouxera, iria pedir um dinheiro emprestado para a Tris e iria embora.

Antes que eu pudesse dar mais alguns passos, alguém cruzou o meu caminho, esbarrando em meus braços. Por pouco, em um gesto surreal de equilíbrio, duas mãos seguraram as minhas que tentavam equilibrar o copo ao mesmo tempo que torcia para o guarda-chuva decorativo não cair.

Eu estava muito agradecida, então tirei os olhos das mãos largas que me salvaram e no momento em que ia sorrir para o meu salvador, deparei-me com aquele maldito sorriso de novo.

─ Cuidado, miss, ou vai acabar tomando outro banho. ─ ele observou enquanto deixava minhas mãos livres de seu aperto firme.

─ Você é um imbecil. ─ resmunguei ─ Eu faria você pagar outra bebida pra mim, se tivesse entornado uma gota.

─ Ah, Deus! Tem como parar de dar em cima de mim? ─ ele sorriu travesso ─ No estacionamento, você praticamente se jogou em cima do meu short e agora já está sugerindo um encontro? Você é mesmo bem atirada, não é?

Pensei seriamente em jogar toda a minha piña em cima dele, mas a imagem do preço no cardápio cortou aquela ideia, então decidi fazer o melhor que eu conseguiria.

─ Se eu bem me lembro, foi você que quase caiu matando em cima dos meus peitos. ─ rebati.

─ O que foi que você disse, Olivia? ─ um berro soou exatamente ao meu lado e eu senti que todas as minhas forças se esvaiam do meu ser ─ Meu Deus! Não acredito que você... Olivia! Justo ele? Porra, garota! Você é doida! ─ Tris estava me encarando aterrorizada enquanto intercalava seu foco de visão assassino entre eu e Zeny.

─ Não, Tris, eu juro que-

─ Ah, meu Deus! Não acredito nisso! ─ ela ergueu as mãos e começou a se afastar, procurando por um pouco de fôlego.

Desviei minha atenção para Zeny, que olhava para minha irmã sem compreender muito bem o que havia acontecido.

─ Então, Olivia, te vejo babando pelo meu short na grade? ─ e piscou, antes de se afastar e me deixar sozinha, paralisada, sem saber o que dizer ou atrás de quem eu deveria ir.

Precisei de uns segundos para restaurar os pedacinhos do caráter e, com isso, foi necessário virar de uma vez só toda a piña colada e desejar ter mais algum dinheiro para pagar por algo mais forte.

Tudo o que eu conseguia pensar naquele momento era em como eu gostaria de matar Zeny Barnes. Ou, pelo menos, algo muito próximo disso.

Olhei em direção a onde Tris havia seguido e rezei para que ela me perdoasse pela loucura que eu estava prestes a fazer, mas era necessária uma vingança em grande escala. Uma que fizesse Zeny perder a luta com grande estilo e ser humilhado na frente de todo mundo, exatamente como ele fizera comigo nesse instante.

Eu não sabia se o álcool do drink já havia se misturado aos pequenos goles de cerveja que eu tomara um pouco antes de toda essa confusão, mas eu sabia que a ideia crescendo no meu interior não poderia ser proveniente justamente da Olivia sensata que eu costumava ser.

Passei por toda a multidão com toda a classe possível, empurrando delicadamente os largos corpos dos homens e sorrindo para as garotas, pedindo licença, enquanto informava que a próxima luta seria do meu namorado. Enquanto isso, eu abri os primeiros botões da jaqueta, deixando exposta uma parte ainda maior da minha pele do que estava absolutamente acostumada a mostrar em locais tão públicos e cheios de caras de mente sujas. Por falar em sujeira, eu estava contando totalmente com a mente podre de Zeny e que a minha ideia absurda fizesse algum sentido ou surtisse o efeito que eu desejava.

Eu já estava bem perto da grade quando o locutor anunciou a entrada do Ramonez no ringue de concreto e a torcida começou a vaiar loucamente, pois o oponente era realmente o favorito.

Segurei uma das mãos na grade e fui me puxando para mais perto, com o objetivo de conseguir lugar entre dois caras que estavam ali agarrados. Um deles me encarou furioso, mas usei a técnica da piscada de olhos que usara minutos antes com o bar tender e pareceu funcionar, pois ele abriu espaço para que eu tivesse a visão privilegiada que eu merecia.

E agora, com vocês, aquele que todos vieram assistir levar a coroa pra casa: Zeny Barnes!

Com o anúncio do locutor, a torcida vibrou e gritou o nome dele diversas vezes, exatamente como fizeram com Don. Era óbvio que, mesmo em poucas lutas no nosso distrito, ele conquistou consideravelmente a torcida do MMA clandestino. Diferente do Ramonez que entrou dando pequenos pulinhos, dedo do meio para a torcida e risadas assustadoras com o protetor bucal, Zeny entrou calmo, sem muito alarde, segurando sua camisa branca em uma das mãos protegida pela luva azul que permitia que apenas expusesse a ponta dos seus dedos.

Vê-lo sem camisa, tão próximo, foi algo inesperado. E isso agradou a torcida, que gritou loucamente para que ele jogasse a própria camisa, assim como fizera em sua última luta que assisti. Ao invés de me importar com a camisa, preferi focar na enorme tatuagem tribal que estava ocupando boa parte do seu peitoral esquerdo. As nuances, as ondas, as idas e voltas dos desenhos seguiam pelo mesmo lado no abdome e desapareciam quando a borda do short começava. Diferente de antes, agora ele usava um short de lutador, exatamente como o que eu estava acostumava a ver os lutadores de UFC usarem na televisão.

Nossa, eu queria muito desviar os olhos, mas era praticamente impossível... praticamente, não: era impossível deixar de olhar para o volume entre suas pernas. Possivelmente eu teria olhado mais, porém ele deu uma volta no ringue, procurando por algo pela grade. Quando ele se voltou novamente para mim, eu já estava comportada demais e preferi limitar-me a buscar por seus olhos. Fui retribuída por seu par de olhos azulados, não tão longe, que me encaravam curiosos.

Decidi que era hora de atacar. Deixei os lábios entreabertos, passei a mão pela lateral do cabelo, colocando uma mecha atrás da orelha e dei longas piscadas, enquanto deixava minha mão descer lentamente, passando exatamente na parte nua do meu colo, deixando-o seguir com os olhos os movimentos da minha mão, até que ele parou no centro, exatamente onde eu queria. Por um instante, achei que ele daria algum passo em minha direção, mas ele pareceu ter algum insight de realidade e limitou-se apenas a balançar a cabeça e passar a mão pelos cabelos castanhos enquanto procurava voltar-se para qualquer outra coisa na plateia que gritava por ele enfurecidamente.

Bingo! Tenho certeza que eu consegui fazer alguma coisa com ele. Eu fiz exatamente o que assisti Tris fazer diversas vezes, em diversos momentos da nossa vida. Ela disse que foi exatamente esse truque que usara para chamar a atenção de Don quando eles ainda eram apenas colegas de turma no Ensino Médio. Claro que meu objetivo ali não era chamar atenção do Zeny, mas causar algum tipo de distração, boa o bastante, para fazê-lo deixar de lado alguns momentos da luta, levar alguns socos e perder antes que entrasse no ringue com meu cunhado e tivesse a chance de ganhar a aposta ridícula que ele me obrigou a participar.

Talvez, no fundo, houvesse uma vozinha me xingando de coisas bem pecaminosas, mas eu não era uma boa perdedora. Na verdade, eu nunca me envolvia em apostas, pois nunca soube perder, então, aquele momento, para mim, era um grande sacrifício que eu ansiava por surtir efeito.

Ele não me olhou diretamente de novo, após nossa última troca de olhares, o que me deixou frustrada por dentro. Talvez meu plano não funcionasse, eu estivesse fazendo um papel de ridícula e ele estivesse pensando o pior de mim. Ou então, ele estivesse tentando se concentrar novamente na luta, após a minha investida ousada. Independente das alternativas que rondavam a minha cabeça, eu só saberia a resposta quando a luta começasse.

O locutor apresentou-se novamente, pela 3ª vez na noite desde que eu chegara, como Max e informou as regras tão tradicionalmente ditas neste tipo de combate.

O homem no centro do palco, que considerei ser o juiz, falou algo baixo para ambos os homens e quando passou a mão de forma firme entre os dois corpos que ansiavam em posição de combate, eu senti toda a energia fluir novamente. Lá estava a sensação, o frenesi. Um calor descompensado subia pelo meu peito a cada desvio, soco atingido, desvio, soco. Todos os movimentos eram majoritariamente pertencentes ao Zeny, o que não me surpreendia, pois pelos comentários de Emmy, ele era bom, muito bom mesmo. Quando ele estava prestes a ser atingido por um gancho de direita, conseguiu desviar a tempo e acertar com um chute a base do tórax do Ramonez forma tão forte, que pensei que houvesse quebrado.

Senti um empurrão na minha lateral e eu quase resolvi xingar o cara, erguendo minha cabeça, quando o pego me encarando sorrindo, piscando e depois fazendo uma menção com a cabeça em direção ao meu decote.

Olhei surpreendida para ele ─ e não de uma maneira boba ─ e pensei seriamente em lhe apresentar meu dedo médio, inspirada pela atitude do Ramonez, mas considerei toda a estatura do cara ao meu lado e entendi que eu estava em uma posição de inferioridade ali. Com um simples sopro dele, possivelmente eu cairia no chão rapidamente.

Decidi voltar minha atenção à luta, e peguei Ramonez acertando em cheio Zeny com um chute na lateral. Ele teria pegado fácil aquele chute, mas, para minha surpresa, ele estava ocupado, me olhando, e acabou recebendo o golpe. Acabou que ele não demorou a se recuperar, pois logo investiu em segurar a perna do oponente ainda no ar e lançar lhe um soco extremamente potente do abdome que Ramonez não teve tempo de evitar. O grito de dor pôde ser ouvido por todos ali presentes, o que pareceu instigar Zeny a atacar cada vez mais, aproveitando-se do momento de fragilidade do outro.

Uma mão passou brincando na minha bunda, bem lentamente, o que fez meu sangue ferver e eu olhar diretamente para o homem ao meu lado.

─ Ei! ─ berrei ─ Pode tirar a mão, ok? ─ grunhi e o olhei, dessa vez, aborrecida.

─ Ah, gostosa, cala essa boca e me chupa. ─ sua voz embriagada junto de seu hálito de cerveja barata foram quase que tóxicos para minha respiração e eu tive que me afastar um pouco para me recompor.

─ Você é nojento! ─ era só o que eu conseguia pensar em minha defesa naquele instante, porque, sinceramente, eu estava mesmo era com medo dele me agarrar, tirar dali, fazer algo pior, e ninguém se importar porque todos estavam bêbados demais e super empolgados com a luta. Uma menina sendo assediada não era nada comparado a um cara possivelmente sendo destroçado no ringue.

Ele começou a avançar em minha direção e eu só era capaz de recuar até um certo ponto, porque um outro cara também já estava logo atrás aguardando por esse meu contato. Quando senti minhas costas encostarem em seu abdome, tive certeza de sentir algo a mais bem duro atrás de mim. Merda!

Meus olhos começaram a arder, pois eu sabia que todo esse momento estressante iria me fazer chorar. Uma gritaria soou a minha volta e eu não sabia o motivo e nem de onde vinha exatamente, porque eu estava mais preocupada com a mão do homem atrás de mim me puxando para perto novamente quando tentei me afastar. Então, aquele era um momento de optar por um outro caminho.

 ─ Olha só, por favor, eu não quero problemas. Eu juro que se me deixarem ir, eu não conto nada pra ninguém, ok? Eu nem estou vendo o rosto de vocês direito...

─ Que isso, docinho, nós só queremos brincar um pouquinho com uma putinha que nem você.

Antes que eu pudesse formular qualquer ação, senti uma movimentação muito rápida em minha direção, vindo do ringue, e tudo o que eu tive tempo para fazer foi colocar um dos braços para proteger a lateral da minha cabeça enquanto eu ouvia o som alto de algo ou alguém subindo pela jaula e pulando em direção ao primeiro cara a minha frente, instantaneamente o derrubando no chão.

Com as movimentações rápidas, tive tempo para me soltar do algoz que pretendia fazer cativeiro por trás e me encolhi na jaula, tentando entender o que estava acontecendo.

Uma infinidade de cabelos castanho voava pelos ares enquanto quem quer que estivesse ali, sem camisa, socava a cara do homem no chão, parecendo querer mata-lo. Em seguida, o homem que antes me prendia, partiu para cima do que sem camisa que estava por cima, afim de ganhar um espaço naquela luta totalmente injusta. Quando o agressor do meu assediador ergueu a face para interceptar o segundo soco nas costas que estava prestes a receber, eu vi um par de olhos azuis escuros tomados pela raiva e seu dono puxar o braço magricela do homem e lança-lo no chão.

─ Eu cuido de você depois. ─ falou para o que já estava estirado no chão, graças ao seu belíssimo trabalho em sua face que agora estava repleta de sangue.

Olhei em volta, procurando buscar por alguém que separasse a briga, mas ninguém parecia se importar realmente com o que estava acontecendo à eles. Na verdade, o foco ali era uma briga externa à jaula e todos os loucos a nossa volta estavam amando o jeito como Zeny lidava com a situação. Ele pegou o segundo de jeito, que havia conseguido se colocar de pé. Segurando-o pelo colarinho da camisa polo, transferiu uma sequência se socos impressionante, até que eu percebi que o cara já estava fraco o suficiente, ou pior, inconsciente, mas Zeny não pareceu se importar, porque continuou socando.

Algo precisava ser feito ou ele acabaria matando-o ali mesmo.

Num gesto instintivo, soltei-me da jaula e decidi puxar o braço que já estava armado para socar novamente. De forma surpreendente, senti uma corrente elétrica percorrer toda a extensão dos meus dedos que entraram em contato com sua pele molhada de suor. Acho que ele sentiu o mesmo, pois no momento que absorveu meu toque, apesar de sua primeira reação ter sido olhar com raiva para quem quer que estivesse o impedindo de sentenciar a morte do homem, sua expressão logo suavizou ao perceber de quem se tratava. Assim, milésimos de segundos após nossos olhos se encontrarem, pude sentir o músculo de seu braço relaxar e ele acabou deixando o corpo do meu assediador cair no chão, desacordado.

Eu não fazia ideia de como deveria agir naquele instante, mas eu não era estúpida para duvidar de um fato tão concreto como o de que Zeny havia feito aquilo para me defender. Mesmo sem me conhecer, mesmo com a provocação ridícula, com minhas ofensas, ele foi o único ali, dentre todos, que realmente parou para prestar atenção no que acabaria acontecendo se ele não tivesse intercedido por mim.

Estava prestes a esboçar um obrigada, quando senti sua mão agarrar meu pulso, lançando uma forte carga elétrica por todo o meu corpo, enquanto me puxava para fora do círculo formado ao nosso entorno e não reduzir o ritmo até ultrapassar uma saída com portas duplas escuras que possivelmente davam para os bastidores da Zoom. Ele continuou me puxando, agora mais lentamente, quando passamos por um corredor estreito, até que pareceu alcançar o seu objetivo, ao entrar em uma bifurcação à esquerda e empurrar uma porta cinza, gasta e com diversos nomes colados na porta.

A sala que entramos não era muito grande. Uma parede era preenchida por uma fileira inteira de armários de academia em tom azul metalizado, também era possível encontrar duas pias de banheiro com um longo espelho disposto na parede à esquerda e, à direita, uma mesa com o que parecia ser, garrafas de água que dariam para encher uma piscina de 3 metros de profundidade.

Zeny largou meu pulso só quando entramos na sala. Seguiu em direção à mesa com as garrafas, pegando duas e as abrindo o mais rápido que conseguia. A primeira, jogou por todo o seu rosto e testa, deixando seu cabelo completamente encharcado; já a segunda garrafa, ele utilizou para efetivamente o que ela servia: ser bebida.

Fiquei um pouco incomodada com a situação, então resolvi cruzar meus braços entre meu decote e encarar o meu entorno, buscando algo para desviar minha atenção. Olhando para a parede de espelhos à esquerda, peguei-me encarando um projeto bem ousado de uma menina loira, com o short curto e uma jaqueta preta extremamente extravagante. Seu cabelo estava desgrenhado e as bochechas coradas por conta do álcool ingerido. Aquela lá sou eu?

Zeny se movimentou, caminhando até um dos bancos dispostos no centro da sala, sentando-se ali e colocando os cotovelos sob os joelhos e apoiando sua cabeça nas mãos que ainda estavam com as luvas.

─ Você... aqueles... eles... ─ Zeny balbuciou sentado onde estava, de costas para mim, e eu não compreendia muito bem seu raciocínio para tentar ajudar a falar, mas entendi que, naquele instante, talvez, falar alguma coisa só piore a situação.

 Depois de longas respiradas que ele deu, percebi que já havia alguns segundos que parecia que eu estava com o ar agarrado na garganta. Decidi, por fim, sentar-me no banco, ao seu lado e encarar o vazio da outra parece, à minha frente, buscando por alguma coisa para pensar ou fazer.

─ Minha irmã costumava frequentar as minhas lutas. ─ ele começou a falar um assunto aleatório, por fim. ─ Um dia, um cara se aproximou o suficiente para tentar e... fazer alguma coisa com ela. E eu não estava lá para ajuda-la, porque estava preocupado demais zombando do cara que eu havia acabado de derrubar no chão. Foram só... eu sei lá... quinze ou talvez vinte segundos que desviei minha atenção dela e puff. Ele a levou para trás do celeiro em que aconteceu a minha luta e quase... ─ balançou a cabeça, deixando seus cachos castanhos dançarem em torno de si, como aureolas de anjo ─ Puta que pariu. ─  grunhiu antes de prosseguir ─ Se não fossem as drogas dos seguranças, eu nem sei o que seria da minha irmã. E aí eu vi o que estavam fazendo com você, mas ninguém do lado parecia se importar...

 Era visível que, para ele, a narrativa havia acabado, então decidi continuar por ele.

 ─ Então, quando você viu o que aqueles caras estavam tentando, você ajudou. ─ complementei por ele a história.

─ É. ─ ele concordou e, por fim, ergueu a cabeça para me olhar. ─ Eles... sabe... fizeram alguma coisa além de te tocar?

─ Você não deu chances a ele. ─ Eu nem sabia como, mas consegui reunir forças para sorrir de forma mais amistosa possível, me sentindo uma imbecil por estar ajudando aquele cara a controlar os nervos quando, na verdade, eu havia acabado de sofrer um ataque.

─ É... ok. ─ ele suspirou e ergueu-se num impulso rápido do banco.

Parecia haver alguma coisa que ele gostaria de dizer, mas quando finalmente me encarou de cima a baixo, seu corpo se retesou por completo e uma névoa escura se apossou de seus olhos azuis novamente.

  ─ Você também não ajudou muito, sabia? ─ ele aumentou seu tom de voz enquanto falava: ─ Foi pra droga da beira da jaula, com essa merda de jaqueta toda aberta. O que estava esperando, afinal? Que poderia sair por aí mostrando seus peitos e ficaria tudo certo? Você definitivamente não sabe onde está se metendo, garota.

  Toda sua explosão repentina me surpreendeu. Eu não sabia o que, diante de toda aquela situação, me parecia mais errada e, por conta disso, indo contra todos meus princípios, resolvi rebater da melhor forma que eu conseguia articular no momento.

  ─ Quem é você para me dizer o que fazer ou onde eu preciso ficar? Você não me conhece, Zeny Barnes. ─ igualei meu tom de voz, permitindo que todo o constrangimento e fúria inundassem minha voz.

─ Há! ─ ele riu, desdenhoso ─ Eu sou só o filho da puta que acabou de salvar a sua virgindade há poucos minutos, lá atrás, está lembrada?

De alguma forma, o simples fato de ele ter insinuado sobre minha vida sexual me abalou mais ainda, mas não tive tempo de me recompor, já que ele logo prosseguiu com seu contra-ataque:

─ E nem ouse formular nenhuma frase do tipo ─ afinando sua voz, ele procurou me imitar enquanto dizia: ─ Ah, eu estava muito bem sem sua ajuda, Zeny! Porque nós dois sabemos muito bem que você e esse seu corpinho magricela não seriam capazes de nada para se protegerem.

─ Você é tão doente, sabia? E possivelmente tem problemas temperamentais, porque há alguns segundos estava me contando uma história pessoal e agora está me atacando e dizendo coisas bem grosseiras! ─ ergui meus braços em protestos e tentei caminhar para longe dele enquanto falava.

Ele ficou uns segundos fazer ou dizer nada, como se absorvesse minhas palavras. Depois de um breve tempo, eu resolvi o encarar novamente e percebi alguma confusão em seu olhar enquanto ele ─ ainda ─ me encarava.

─ Ah, foda-se!

E essa foi a última coisa que o ouvi dizer antes de se retirar da sala, deixando-me plantada ali feito uma árvore, o encarando atordoada e sem entender absolutamente nada.


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Notas finais do capítulo

Ai, ai... Não sei vocês, mas hoje eu percebi que a falta de um botão pode se tornar um grande problema na vida de alguém.


O que têm achado da história até agora? Espero que estejam gostando.
Prometo não sumir por muito tempo, principalmente agora que possuo meu notebook de volta.
Aguardo vocês nos comentários.



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