Entre Páginas escrita por Raíssa Duarte


Capítulo 23
Capítulo 23


Notas iniciais do capítulo

Sumi muito, não é?
Peço desculpas *_*
Se ainda tenho crédito com vocês (Se vocês ainda estão por aqui) peço que comentem, favoritem e etc para que eu fique sabendo...
Cara de pau, eu sei... rs
Bem, aos pouquinhos estou continuando a escrita de "Entre Páginas" e voltei com o capítulo mais atrasado dessa história, ha.
Espero que possam me desculpar e aproveitem o capítulo.
Beijinhos



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771172/chapter/23

 

Luísa não conseguiu não sentir-se um pouco tola quando bateu o batente da enorme porta da residência dos Ferraz. Não achava que Bianca a rechaçaria como a um cão, mas tampouco acreditava que ela a receberia alegremente. Esperou nervosamente por uma eternidade que a atendessem, enquanto cogitava desistir e ir embora.

   Um empregado abriu a porta, olhando-a calmamente.

   -A senhorita Ferraz está? – Foi ridículo de sua parte pensar que uma noiva de casamento marcado teria algum tempo livre em sua agenda, para dispor á uma ex-amiga.

   O homem a olhou, analisando-a e então respondeu calmamente;

   -Sim, só um momento, madame. Por favor, queira entrar. – Ele pomposamente abriu-lhe espaço.

   Incerta, Lu adentrou a mansão dos Ferraz, enquanto o homem ia até um cômodo chamar por sua patroa.

   Luísa permaneceu em pé, observando o recinto e apertando as mãos umas nas outras. Um hábito que sua tia detestava.

   Era estranho pensar que já fazia quase um ano que estava no Rio de Janeiro. Agora que Melissa estava casada, não fazia mais sentido ficar na cidade. Seus tios eram amáveis, mas sentia falta de seus pais. Eles provavelmente a levariam de volta para São Paulo, já que sua primeira temporada não rendera resultados.

      Distraída, os passos de Bianca descendo a escadaria chamaram sua atenção.

      Luísa ficou em silêncio esperando enquanto ela se aproximava, com expressão facial neutra, indecifrável.

   -Bom dia, Luísa. – Ela saudou.

   Bem, ela não usara o ‘Srta. Albuquerque’.

   -Bom dia... – Luísa devolveu insegura de como chamá-la. - Espero não estar atrapalhando.

   -De forma alguma, tirei uma pequena pausa de todos os preparativos.

   Lu olhou para as pontas dos pés nervosamente.

   -Algum problema, Luísa? – Indagou.

   Luísa mordeu o lábio inferior, inquietamente.

   Depois do que fizera, será que Bianca poderia perdoá-la?

   Mesmo tendo feito tão pouco como apenas encobrir a irmã, sentia-se tão culpada quanto.

   Talvez nunca devesse ter perguntado o que estava acontecendo naquele dia. Talvez nunca devesse ter se envolvido. Não saber de nada teria sido infinitamente melhor.

   -Por que nos convidou para seu casamento?

   Bianca ergueu de leve as sobrancelhas finas e vermelhas.

   Lu esperou sinceramente que fosse sincera em sua resposta.

   Mas talvez sua irmã estivesse correta e ela fosse, de fato, muito ingênua.

   Talvez, talvez...

   -Porque não quero nenhuma mágoa no dia do meu casamento. – Respondeu simplesmente. – E nem no resto da minha vida.

   Luísa abriu a boca e respirou surpresa.

   -Não posso mentir e dizer que não fiquei com raiva no início. – Cruzou os braços delgados. – E que deliberadamente evitei você porque achei que estivesse envolvida. No entanto, pensei que não sou esse tipo de pessoa. Nunca fui. Convidando vocês, sinto que posso colocar uma pedra no assunto de vez, ao invés de deixá-lo me incomodar.

   Luísa esfregou as mãos suadas na saia do vestido cor salmão.

   -Mas... – Molhou os lábios, forçando-se a continuar. – Eu estava envolvida. – Os olhos castanhos de Bianca estavam atentos. – Acobertei Melissa e deixei que ela a enganasse, porque não podia abandoná-la.

   -Então isso explica porquê você estava tão particularmente preocupada com relação á minha felicidade. – Concluiu.

   -Sim. – Sussurrou timidamente.

   Bianca franziu o cenho, pensando;

   -Eu nunca suspeitei de nada. Foi um choque para mim Melissa ficar noiva do Sr. Castro...

   -Ela o conheceu há mais de meio ano, e depositou todas as esperanças em um casamento com ele... Estava desesperada, e viu você como ameaça.

   -Desesperada? Por quê?

   Luísa mordeu o lábio novamente, constrangida em revelar algo tão íntimo sobre a irmã. Melissa provavelmente ficaria furiosa se soubesse que estavam falando a respeito dela. Principalmente á respeito de um momento tão difícil para ela.

   -Melissa namorava um rapaz em São Paulo. – Começou. – Todos pensamos que eles se casariam. Até mesmo ela e toda a sociedade paulista. Entretanto, ele a dispensou por outra garota. – A Srta. Ferraz escutou com cuidado. – A reputação de Melissa foi manchada. Nem sequer ficamos na cidade para averiguar o resultado. Viemos para cá para que ela encontrasse um pretendente a altura e recuperasse sua dignidade. Porem, conforme o tempo foi passando, Melissa abandonou qualquer expectativa de encontrar um rapaz de nossa... classe social. Então o Sr. Castro apareceu. Ele parecia interessado nela, e Melissa investiu nele... para em seguida descobrir que ele e o seu pai eram próximos, e por conseqüência, vocês dois...

   -Nós nunca fomos próximos. – Admitiu Bianca. – Eu achei que poderíamos ser eventualmente, mas a verdade é que o Sr.Castro sempre me viu com um olhar quase... paternal. Como se eu fosse uma criança encantadora. Fui uma boba, sem dúvida, como ela disse.

   Luísa apertou a saia nas mãos, sentindo o tafetá entre seus dedos enluvados.

   -O resto você já sabe. Melissa receou que perderia sua única chance de consertar a própria vida e fez algo muito errado. – Suspirou. – E eu a ajudei porque não poderia piorar sua situação e deixá-la mais infeliz e humilhada. – Sentiu o nariz formigando. – Eu sinto muito, Bianca. Nunca quis que nada disso acontecesse... Por favor, me perdoe... Nunca quis magoá-la... Este tempo todo eu achei que se nós a ajudássemos a encontrar outro alguém, remediaríamos a situação, mas a verdade é que ainda me culpo, por tê-la enganado. Saiba que todos os momentos que passamos juntas foram genuínos, e realmente senti sua falta.

   Bianca descruzou os braços, olhando ao seu redor, aparentando estar desorientada.

   -Sei que as coisas nunca mais serão como antes, todavia, eu não podia deixar de vir aqui para dizer como me sinto, e tentar me desculpar.

   Bianca inspirou profundamente, e então a olhou.

   -Eu também senti falta de ter amigas. Bem... Uma amiga... – Corrigiu-se.

   Bianca estendeu as mãos para Luísa, que as agarrou, comovida.

   -Sem ressentimentos, Lu. – Sorriu docemente. – Quero que vá ao meu casamento, e que nos encontremos continuamente.

   O aperto manteve-se firme enquanto Luísa permitiu a si mesma um sorriso aliviado e feliz.

   -É tão bom poder ouvir isso... Não sabe o quanto...

 

   Pelo resto da tarde, as meninas conversaram e colocaram os assuntos em dia, enquanto a estranheza inicial aos poucos desaparecia, sendo substituída por um sentimento familiar.

   Na hora de ir embora, Luísa não resistiu a dizer;

   -E quanto a Melissa... Eu acredito que ela também anda se sentindo culpada. Ela fica estranha toda vez que falo sobre você... E... provavelmente não virá para o casamento. Acho que tem vergonha de encará-la.

      Bianca baixou os olhos, pensativa;

   -Se Melissa for honesta comigo como você foi, posso me entender com ela. Ao me contar a verdade, ela fez parecer como se tivesse me feito um grande favor. Quero ouvir dela o que pensa sobre tudo isso. Gostaria que conversássemos para resolver isto, embora eu ache que será triplamente mais difícil do que a conversa com você foi.

   -Você já deve ter percebido que Mel é orgulhosa... Vou tentar conversar com ela.

   -Ela não é responsabilidade sua, Luísa. Ela toma as próprias decisões.

   Lu acenou com a cabeça e partiu.

 

                                                 ***

   Pouco antes do aniversário da mais nova Albuquerque, Amélia, Conrado e Leonardo novamente se hospedaram na casa dos Tavares. Decidiram realizar um jantar em família, para também comemorar de modo relativamente modesto, o casamento de Melissa e Henrique. Uma reunião mais íntima.

   Após uma refeição impecável de pratos deliciosos e sobremesas suntuosas, habituais ás famílias, todos se retiraram para a sala de estar para conversar.

   -Encontrou alguma agulha no assento? – Cochichou Luísa, divertida.

   Leonardo aconchegou-se melhor na poltrona cara.

   -Parece que você quer sair correndo daqui...

   -Estou tendo dificuldades para me habituar a cama. Saí da Inglaterra para São Paulo, de São Paulo para cá...

   Luísa riu baixinho;

   -Detesta tanto assim vir nos ver?

   -Nada disso. Mas confesso que as carruagens poderiam ser mais confortáveis...

   -Bem... atualmente estão trabalhando em... automóveis, não estão? Talvez sejam mais confortáveis... e rápidos.

   -Fora do Brasil, Lu... – Terminou ele.

   Ambos atentaram-se ao diálogo sendo travado entre os casais.

   -Talvez possamos nos retirar para fumar um pouco, não? – Perguntou Conrado para Henrique, ajeitando o paletó. Abelardo concordou com a idéia.

   -Homens e seus charutos... – Ironizou Amália para a irmã, sorriu familiarmente.

   -Eu não fumo. – Afirmou Henrique com naturalidade. Melissa estava sentada ao seu lado, de braços dados. Carolina não viera. Mel simplesmente detestava sua mania de excluir-se de tudo que lhe era proposto. Agora eram todos parte da mesma família.

   Melissa aproximou-se ainda mais do marido e sussurrou em seu ouvido;

   -É um convite para uma conversa privada.

   Ele acenou calmamente, desvencilhando-se dela, saindo do aposento com os homens, seguido por Leonardo, constantemente entediado, mas sempre com um ar irreverente.

   -Como você tem sorte por ter um marido que não fuma, meu amor. – Comentou sua mãe. – Seu pai só parava de fumar quando eu estava grávida. Ainda não perdeu o costume, mesmo com a idade.

   A menção á palavra grávida fez com que os olhos das mais velhas voltassem para Melissa, questionadores.

   Melissa, no entanto recostou-se no sofá e procurou por outro assunto.

                                               ***

   No dia do casamento de Bianca Ferraz, Melissa permaneceu deitada na cama, alegando indisposição. Lamentou atrapalhar. Ficou encolhida e aparentou cansaço.

   Seu marido sentara-se na cama, preocupado, perguntando o que ela tinha.

   Melissa rapidamente o acalmou, dizendo que não era nada demais... Tentou convencê-lo a comparecer sem ela.

   -Melissa, se está mal, não vou deixá-la aqui. Do que você precisa?

   Ela alisou os lençóis sobre o próprio corpo;

   -Por favor, vá com sua mãe... Efigência ficará de olho em mim.

   Ele não se moveu do lugar.

   -O Sr. Ferraz é seu amigo... Eles não puderam ir ao nosso casamento, seria pior se você não for ao da filha dele... Eu ficarei bem... – Alongou-se e o beijou nos lábios.

   Henrique levantou-se e após um olhar demorado para a esposa, retirou-se do quarto.

   Melissa bufou e desleixadamente aconchegou-se sobre o colchão macio.

   Seria de uma deselegância sem tamanho Henrique ir sem a esposa. Ainda mais estando recém-casado. Contudo, Melissa não poderia arriscar um encontro direto com Bianca, e uma desculpa rápida teria de calar os convidados. Pior seria se nenhum integrante da Família Castro fosse.

   Luísa sentiu o coração leve ao rir e dançar no casamento de Bianca. Ainda mais ao vê-la feliz com seu Frederico. O casamento seria vantajoso para a família dele, ao adquirir um imenso dote, e para o pai da moça, que entrara em uma família ex-nobre. Felizmente, os noivos não pareciam levar aquilo muito em consideração, entretidos um com o outro.

   Conversou com Sofia, dançou com alguns rapazes, mas não com Roberto, com quem não falara nos últimos dias. Chegou a cogitar a possibilidade de ele ter apanhado um resfriado ou algo do tipo, no entanto, ele estava sadio como sempre, o que a levara a um pequeno nível de irritação...

   Por que ele deixara de visitar a biblioteca de uma hora para outra?

   Perdera o interesse em conversar sobre livros?

   Achara a animação de Luísa com as obras literárias uma verdadeira chatice?

   Ora... Bem feito para ela, que aprendera a confiar nele. Considerá-lo um amigo.

   Sua mãe compartilhava do mesmo sentimento de irritabilidade.

   -O que ele está esperando para chamá-la para uma dança? – Abanou-se delicadamente com o leque de tons claros. A presença de seus pais era uma mera formalidade, já que mal conheciam os Ferraz. Contudo, sendo parentes dos Tavares, vieram juntos.

   Melissa não comparecera, naturalmente.

   O Sr. Castro, sim.

   Ele cumprimentou Luísa no início da recepção e explicou que Mel não se sentira bem. Com certeza devia ser cansativo ter de explicar o mesmo para todos os conhecidos. Lu esperava que aquela tolice acabasse de uma vez, e Melissa caísse em si.

   -Ele pode não estar interessado. – Bebericou um pouco de ponche. Estava descansando após uma dança.

   -Fala como se nossa filha não tivesse passado a última hora valsando com rapazes. – Disse Conrado, bebendo champanhe.

   -Qual deles a têm cortejado? – Murmurou Amélia para o marido.

   Luísa respirou fundo. Sua mãe não poderia pensar em outra coisa?

   Conrado continuou relaxado;

   -Esta é a primeira temporada dela. Quanto á Leonardo, é bom que encontremos uma esposa para ele. Já está com vinte e quatro anos.

   Amélia concordou com a cabeça, um pouco mais tranqüila pela mudança de assunto. Ou melhor, pela mudança de alvo.

   -Já elaborei algumas listas de candidatas. Quando voltarmos, vamos apresentá-lo á elas.

   Enquanto eles discutiam a respeito de seus intentos, Luísa concentrou o olhar em seu irmão, que conversava com os primos. Seus tios dançavam, cada um com um par diferente.

   Seu olhar capturou Roberto, que levantava-se de sua mesa, caminhava em uma determinada direção...

   Em direção á uma moça, que aceitou seu convite para bailar.

   Luísa piscou confusa.

   Resfriado coisa nenhuma.

   Havia algo errado. Por que não falava com ela?

 

                                                ***

   Melissa ficou deitada e entediada sobre a cama.

   Ficou por horas lendo romances, tendo dado ordens aos empregados para que não a atrapalhassem e viessem apenas quando chamados pelo ruído estridente do sininho em seu criado mudo.

   Por fim, acabou por cochilar e despertou quando Henrique voltou. Ela não tinha a menor idéia de que horas eram. Sonolenta, indagou;

   -Como foi?

   Ouviu um farfalhar de roupas.

   -Como deveria. Bianca estava radiante. – Uma pausa. – Você melhorou?

   Melissa retirou as mechas de cabelo escuro que estavam sobre seu rosto;

   -Estou bem. – Respondeu.

   Agora que ele estava em casa e Bianca feliz.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

;)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Páginas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.