Wintershock escrita por ariiuu


Capítulo 74
Uma amizade para lá das galáxias




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771169/chapter/74

Algumas horas se passaram, e todos ainda esperavam pelo enterro de Tony Stark

Pepper, Happy e o coronel Rhodes cuidavam de tudo...

Os demais, aguardavam no laboratório de Hank Pym, que ainda trabalhava com Bruce Banner na criação de um novo dispositivo quântico.

Em poucas horas, tudo estaria pronto...

Nesse tempo, Darcy e Peter discutiam sobre coisas relacionadas ao universo cósmico que a cientista não conhecia.

O senhor das estrelas contava suas aventuras ao lado dos saqueadores e dos Guardiões da Galáxia logo em seguida.

A doutora ficava impressionada com as histórias extraordinárias do rapaz. Não tinha ideia do quanto aquele universo era tão expandido a ponto de existir concepções absurdas e tão fora dos padrões terráqueos.

A dupla se encontrava numa sala ao lado de onde Hank, Janet, Hope e Bruce estavam.

Todos os outros permaneceram dispersos pelos andares de baixo e de cima...

Depois do funeral, cada um seguiria seu rumo...

Mas enquanto aguardavam, a dupla Darcy e Peter se entretinha, discutindo sobre diversas coisas...

O senhor das estrelas compartilhava com a garota vários fatos importantes sobre o universo a fora, e ela sobre as coisas que o mesmo perdeu no tempo em que estava longe da terra.

— Cara, eu não aguento esse planeta... eu acho que já zerei a minha cota por aqui. – A cientista confessava, um tanto frustrada, até porque, depois do tal estalo e agora o blip, tudo estava fora de órbita.

— Acredite, no espaço você não estará livre da idiotice. – Já Peter, embora soubesse no que a terra se resumia, estava bem ciente de que estupidez não era exclusividade apenas dos humanos.

— Se estivesse livre da idiotice humana já estava ótimo... mas o que eu teria que fazer pra ser recrutada? Como viro uma guardiã da galáxia? – Darcy brincava sobre o fato de querer entrar para a equipe, ainda mais depois da catástrofe que tinha acontecido com o universo.

— Já zeramos as vagas. O asgardiano preencheu a última, embora ele não vá se juntar à nós oficialmente. – Peter não parecia muito feliz com a ideia de que Thor pegaria carona com eles para o espaço, mas não podia negar, afinal, o deus do trovão foi alguém primordial na luta contra Thanos, e sem a ajuda do mesmo, ele e seus companheiros não estariam ali...

— Bem... se abrir uma vaga, por favor, lembre-se de mim. – A cientista piscou, sorrindo amplamente.

— Pode deixar.... mas preciso saber sobre algo... será que pode me ajudar?

— Claro. Sobre o quê...?

— Tem alguma dica pra lidar com o deus do trovão? Sinto que eu e ele teremos problemas ao longo da viagem... – O senhor das estrelas revirava os olhos. A rivalidade entre eles já era bem notória...

— Ele é uma boa pessoa, mas às vezes é um tanto folgado, então apenas o ignore.

— Seria ótimo se conseguisse ignorar alguém do porte dele...

.

.

Não muito longe dali, Bucky e Shuri conversavam sobre o fato de Darcy tê-lo derrubado no chão com um taser...

Algo estava muito errado.

— Olha, eu conversei com a Darcy, uma semana antes do estalo e... as coisas que ela me disse não foram muito boas... – A princesa de Wakanda confessava para o sargento, que estava totalmente abatido depois daquele reencontro desastroso com a agora doutora Darcy Lewis.

— Por que você foi atrás dela? – O soldado mostrava descontentamento com o fato de Shuri ter procurado por Darcy em 2018 e saber sobre isso só agora.

— Porque isso seria ótimo para a sua reabilitação mental, mas... ela não parece disposta a cooperar.

— Você não podia ter feito isso sem me avisar. – Bucky estava frustrado... e cansado... Sua vida em Wakanda durante aquele tempo tinha sido ótima... trabalhar nos campos era um serviço árduo, e passar a maior parte do dia em movimento e se exercitando parecia apenas aquietar sua mente, como nunca havia conseguido em Bucareste...

No entanto...

Depois de reencontrar com Darcy, as coisas não pareciam mais tão tranquilas em sua cabeça...

Shuri observava a melancolia do soldado... ela tinha pena dele e queria fazer o que pudesse para ajudá-lo...

— Bucky, eu tenho uma boa notícia pra você...

— Que boa notícia? – Depois de tudo o que aconteceu com o universo, o que poderia ter de bom no meio de uma pós-tragédia? Ainda mais para ele?

— Eu estive conversando com meu irmão e também com o Capitão, e eles me disseram que há uma forma de limpar o seu registro e reintegrá-lo à sociedade, ainda mais depois da sua cooperação na guerra contra Thanos.

— Limpar o meu registro? Do que você está falando? – Havia certa aspereza na voz do sargento. Shuri era sempre tão travessa, que na maior parte das vezes, a princesa parecia estar brincando com ele.

— Você agora é uma pessoa com a mente limpa e ajudou a trazer metade da população mundial e universal de volta. Nada mais merecido do que ter sua liberdade e vida de volta, não acha?

— Como...?

— Temos como apresentar um atestado de sanidade mental para o governo americano, além do que, sua cooperação nessa guerra foi de grande ajuda. – A princesa revelava tudo com um sorriso nos lábios. Depois de todo inferno que James passou nas mãos da HYDRA, ele merecia ser feliz.

— E com quem exatamente você vai falar pra conseguir isso? Da última vez, o secretário de estado quis trancafiar a todos que estiveram ao lado de Steve no aeroporto na Alemanha, numa prisão de segurança máxima no meio do pacífico. – James relembrava o incidente onde Steve Rogers e Tony Stark se enfrentaram, em 2016.

— Ora, sargento. Isso é passado... por que não falamos do futuro? – Shuri sorria ternamente. Ela era uma garota que transbordava felicidade... sua personalidade afoita e um tanto aventureira, lhe lembrava a Darcy de 2014...

— As coisas não são tão simples assim... – James virou de costas para ela e manteve uma postura negativa sobre o que a garota lhe revelava.

— Você não quer a sua vida de volta!? – A princesa o questionava, incomodada com as palavras pessimistas do soldado.

— Minha vida acabou... – Replicou, num tom de voz sombrio e letárgico.

— Mas você não pode desistir! As coisas são diferentes agora!

Bucky fechou os olhos quando ouviu a voz de Shuri atrás dele. Ele a considerava como uma irmã mais nova nos anos em que esteve em Wakanda.

A princesa sabia exatamente que parte daquele desânimo era pelo fato de Darcy ter feito o que fez com ele naquela manhã...

Mas ela não desistiria, e então...

Ela entrou na frente dele e lhe direcionou um sorriso sugestivo...

— Em vez de ficar aí todo deprimido, porque não vai atrás dela de novo e tenta se explicar?

— Eu tentei... e ela não me deu chance...

— Mas você não pode desistir assim tão fácil!

— Não quero incomodá-la com algo que somente eu sinto. – Bucky se encontrava com o coração dilacerado...

Não conhecia a Darcy de 2023... não tinha ideia quem era aquela pessoa...

— Eu não acredito que estou ouvindo isso! Vai deixar a sua garota se enroscar com o tal senhor das estrelas!? – Shuri parecia bem indignada e revoltada, pois ouviu o histórico de Peter Quill por Stephen Strange Wong e os magos.

Sim, O Doutor Estranho sabia sobre o passado dos Guardiões da Galáxia, graças a joia do tempo.

E a ficha do Senhor das Estrelas não era das melhores...

— Então é assim que o chamam...? Senhor das Estrelas? Interessante... – Bucky não sabia nada sobre o rapaz ao qual Darcy fazia companhia naquele exato momento.

— Ela só foi atrás dele, porque na verdade ele é o tal cara do Missouri que foi abduzido quando era criança! Ela me contou essa história lá na Califórnia!

— O cara do Missouri!? – Dessa vez, o sargento mostrava certo interesse e espanto em sua voz.

Darcy sempre falava de uma criança que foi abduzida no Missouri, e que estava pesquisando sobre sua vida e sua suposta abdução alienígena.

Então... aquele rapaz era a criança que foi abduzida?

Era uma coincidência assustadora...

— Parece que ele é o capitão dos Guardiões da Galáxia. – Shuri revelava, causando mais espanto no soldado.

— Ele o quê...?

— Você não sabe de nada, né? Vou te explicar...

.

.

Darcy ria desvairadamente ao lado de Peter Quill.

Os dois perceberam que tinham muito em comum...

O senhor das estrelas também aproveitava a companhia da cientista, embora tentasse disfarçar que estava arrasado por descobrir que aquela Gamora que apareceu diante dele durante a batalha contra Thanos, fosse na verdade a Gamora de outra linha temporal...

Era assustador... mas ao mesmo tempo, não conseguia ignorar o que estava sentindo...

A sua Gamora havia morrido... Thanos a matou para conseguir a joia da alma e o rapaz se encontrava perdido no que devia fazer...

Mas naquele momento, Darcy estava lhe distraindo... e era melhor do que ficar chorando pela morte de sua namorada, ou pensar sobre sua versão de 2014, que agora estava por aí, provavelmente fugindo até mesmo dele...

A cientista e o guardião da galáxia se entretinham com algumas coisas que Darcy mostrava sobre o mundo, dos últimos 30 anos.

Filmes de sucesso, músicas, shows, descobertas... e Peter estava impressionado em como a humanidade havia evoluído tanto.

Os dois estavam numa sala que possuía um telão e vários equipamentos do Doutor Hank Pym.

— Não dá pra acreditar que você está todos esses anos procurando por mim... Sabe, se fosse antes, eu ficaria gamado em você... – Peter tinha certa postura galanteadora.

Antes de conhecer Gamora, sua fama com as mulheres não era das melhores, mas de certa forma, sempre conseguia as conquistar com suas incríveis habilidades de fala...

Sua lábia com as mulheres era extremamente requintada... todas caiam tão fácil...

Exceto Gamora...

— Eu nunca pensei que fosse te conhecer pessoalmente... muita gente da comunidade de ufologia em que participo, tinha o sonho de encontrar apenas algumas pistas sobre você, mas agora que está aqui, isso vai fazê-los surtar, então posso me gabar! – Darcy estava eufórica. Sua feição iluminada mostrava tanto contentamento, que o senhor das estrelas se sentia acolhido...

Ainda mais porque mesmo sendo o capitão dos Guardiões, seus próprios companheiros faziam piadas dele o tempo todo, apenas para se divertirem, então era revigorante ao menos uma pessoa se alegrar de sua companhia.

— Pra mim é um prazer... – Ele sorriu para ela, de modo radiante, jovial e gracejador.

— Pra mim também... – Darcy correspondia o sorriso, divertidamente exultante... a garota sequer se lembrava que há um dia atrás, era apenas poeira...

Os dois continuaram conversando de modo animado, até que finalmente a cientista resolveu oferecer uma bebida que se encontrava no frigobar da sala.

Hope lhe disse para ficar à vontade. Todos ali eram muito bem-vindos, então ela apenas se aproveitaria da hospitalidade dela, de Hank e Janet.

— Você quer uma cerveja?

— Cerveja...? Será que as daqui são melhores que as dos planetas onde estive?

— Só vai saber se experimentar. – E então, Darcy jogou uma lata na direção dele.

Peter agarrou a lata e ambos começaram a beber, discutindo sobre vários temas.

— O mundo virou literalmente de ponta cabeça... eu jamais imaginaria que o famoso Capitão América reapareceria, que um tal Homem de Ferro ia estar no espaço com um mago e um garoto com poderes causados por uma aranha radioativa... – Peter confessava, dando um gole em sua bebida.

— Aposto que você deve ter visto coisas bem piores que essas... – Darcy ria, porque achava que ele era um sortudo por conhecer tão bem a galáxia.

— Sim, tem razão... eu vi... e acho que você ia amar...

— Com certeza ia... - Eles bateram as latinhas, rindo.

Os dois continuaram conversando por um longo tempo, trocando afinidades e compartilhando experiências sobre coisas estranhas que viveram...

Principalmente Peter...

— Mas será que podemos passar para a parte da cultura pop que você perdeu!?

— Claro! Me mostre o que eu perdi!

Peter Quill era um amante de músicas... e a doutora fazia questão de mostrar as que mais fizeram sucesso ao longo das décadas.

O senhor das estrelas amou tudo o que a garota lhe mostrava, e ambos debatiam até mesmo sobre as letras das canções, sobre seus significados e mensagens ocultas por trás, de acordo com os letristas.

— Essas músicas são demais... – Confessava, deslumbrado com os riffs das guitarras nas músicas de Heavy Metal que ela lhe mostrara através da TV conectada à internet.

Eles agora se encontravam sentados no chão, apreciando vários clipes musicais, enquanto bebiam.

— Eu estou atrasada cinco anos... não tenho ideia do que está na moda... – Darcy relembrava o triste fato de ter perdido cinco anos por ter virado poeira.

— Você é só cinco. Eu estou atrasado mais de trinta anos...

— Bem... podemos dar um jeito nisso? – Ela sugeriu, com um sorriso matreiro nos lábios.

— Como...? – Peter estava curioso.

— Olha pra cá! – A garota mostrava dois pequenos aparelhos, que ao ver dele,  pareciam algum dispositivo.

— O que é isso...? – Contestou-a, não entendendo.

— O nome disso se chama pen drive! É um armazenador de arquivos. Eu pedi dois pra Hope e coloquei as discografias de todos artistas que gosto aqui!

— Uau... isso é demais...! Eu tenho um aparelho que ganhei do Yondu um tempo atrás, há muitas músicas lá... – O senhor das estrelas relembrava de uma das últimas coisas que o ligava ao seu pai adotivo.

— Nesses que estou te dando, tem muito mais! – Darcy pegou a mão do rapaz, e colocou os dispositivos ali.

— Você está mesmo me dando isso!? – Peter arregalou os olhos, um tanto surpreso.

— Sim. Você precisa de músicas do seu planeta natal. Tem centenas de discografias aí que você vai amar...!

O capitão dos guardiões estava lisonjeado...

Aquela garota não parecia ser como as demais... tudo nela era genuíno e sem falsas pretensões... ele sentia que a mesma possuía certo carinho por ele, talvez por causa do tempo em que se dedicou pesquisando sobre sua abdução...

Era gratificante ser agraciado com tanta gentileza, num momento tão complicado e caótico para a maioria das pessoas naquele prédio...

Ele de fato estava grato por tê-la conhecido...

— Obrigado pelo presente. – Peter sorriu de forma sincera, digna e terna.

— De nada, senhor das estrelas... – Darcy esboçava um sorriso carinhosamente meigo... amplo e iluminado...

Mas não tão longe dali...

A porta da frente aberta... Uma música tocando em uma sala no fim do corredor... e...

Shuri e Bucky passavam pelo local, ainda debatendo sobre um suposto acordo com o governo americano, ao qual o sargento pudesse ter sua liberdade e vida de volta, mas...

Ambos se depararam com a cena onde Darcy e Peter conversavam animadamente, aos risos...

James sentia uma forte compressão no estômago...

A mulher que amava, agora lhe desprezava e estava naquele exato momento com outro homem... rindo alegremente...

Mas e quanto a ele? Depois de nove anos sem se verem, Darcy realmente lhe trataria como uma pessoa qualquer? Como um ninguém que não tinha importância alguma?

Shuri observava os ciúmes estampados nos olhos azuis do soldado...

A feição dele era de assombro... de perplexidade...

Ela sabia que James não aceitava a resposta da cientista... que depois de tudo o que viveram, não podia simplesmente alegar que não se importava...

Uma música começava a ecoar pelo salão onde Darcy e Peter estavam...

Metallica - Nothing Else Matters.

Eles estavam sentados e a princesa e o sargento permaneceram ali, observando-os pelo vão da porta.

.

♪ So close no matter how far, (Tão perto, não importa quão longe)

Couldn't be much more from the heart, (Não poderia ser muito mais vindo do coração)

Forever trusting who we are, (Sempre confiando em quem nós somos)

And nothing else matters... (E nada mais importa)

.

— Uau... essa música é muito boa! Qual o ano? – Peter questionava, encantado com a letra da banda de Heavy Metal.

— 1991. Você já não estava aqui...

— Eu perdi muita coisa boa e... uau...! Você colocou essa música nesse dispositivo!? – Peter a indagava se aquela canção estava no presente que Darcy lhe dera.

— Claro que sim! Toda a discografia do Metallica está aí...

— Acho que vou ouvir essa música um milhão de vezes!

— Ouça dois milhões... – A cientista sugeriu e os dois riram.

Porém, ainda ao lado da porta, James observava os dois... eles pareciam tão bem juntos...

Peter e Darcy nem perceberam que Shuri e Bucky estavam ali. O som alto os impedia de ouvir qualquer ruído do lado de fora.

A dupla se encontrava imersa nos lindos e dedilhados acordes de guitarra da música...

Ambos se entreolhavam, com um sorriso em seus rostos...

O sargento sentia a química entre os dois... e aquilo era terrível...

Não era como das vezes em que o ex-namorado da garota lhe perseguia, ou quando a mesma se estarrecia por conta das provocações do seu colega de trabalho – vulgo satã - ao qual sempre se queixava...

Havia algo real acontecendo ali, naquele momento, entre o tal senhor das estrelas e a doutora Darcy Lewis.

Na concepção de James, quando um homem e uma mulher estavam juntos, compartilhando músicas com significados profundos, onde os mesmos pareciam ter tanto em comum com a letra por causa do que viveram, era um sinal de alerta...

Quando se recordou do que vivera ao lado dela, lembrava do que partilharam juntos... era algo muito íntimo...

Eles tinham uma conexão... e agora, o sargento percebia que Darcy parecia estar se conectando à outra pessoa...

Aquilo estava lhe deixando desconfortável, incomodado e...

.

Totalmente enciumado...

.

A sua garota não deveria estar ali, ao lado daquele homem...

Ela tinha de estar ao seu lado, celebrando por ambos se reencontrarem depois de tanto tempo separados...

Shuri notava o desconforto de Bucky ao vê-la com Peter...

— Você não vai chegar nela? – A princesa indagou-o, com precisão.

— Não...

— Vai mesmo deixar a sua amada correr o risco de ser levada para o espaço!?

— Ela sempre quis estar lá.

— Mas vocês se amam!!! – A garota teimava, reprovando a reação pacífica do soldado, diante de tudo aquilo. O que mais queria era ver o seu casal “Darcky” juntos.

— Como você pode ver, alguém seguiu em frente, então talvez, eu tenha que fazer o mesmo... – Bucky deixava Shuri para trás, saindo dali, caminhando para o final do corredor extenso daquele andar.

O soldado sentia-se deslocado pelo simples fato de que Darcy parecia ter muito mais em comum com o capitão dos Guardiões da Galáxia, do que com ele...

O senhor das estrelas era alguém muito mais atualizado do que ele e mais conectado a modernidade tecnológica, ainda que fora da terra... algo que James não havia concretizado, mesmo depois de ter saído da criogenia em 2014...

Peter Quill era um forte candidato para um relacionamento com a cientista... e Darcy merecia alguém melhor...

.

Não os cacos que ele era... e que foram remontados nos últimos anos em Wakanda...

.

A princesa seguiu o soldado, e ambos saíram dali...

Darcy e Peter continuaram entretidos, falando sobre coisas antigas.

— Você já viu um filme chamado O clube dos cinco? – A cientista perguntava, já que aquele filme era de 1985.

— Sim, eu amo! Uau! Você conhece!? Era proibido para menores, mas meu avô me deixou ver!

— Foi uma verdadeira revolução do ensino médio na época, não foi!? – Os olhos da garota brilhavam. Poucas pessoas que conhecia, assistiram aquele clássico.

— Sim e nem preciso dizer que eu gostava mais do John Bender! – Ele piscou, fazendo-a rir.

— E eu da Allison Reynolds!

— Você tem cara de ser mais parecida com a Claire... – Ele sorriu, analisando-a completamente de cima a baixo.

— Não! Mil vezes não! Eu amo a insanidade da Allison!

— Mas ela é bizarra e... meu, porque estamos falando sobre eles!? Vamos assistir esse filme agora mesmo! É possível!? – Peter estava eufórico. Ainda que toda a situação ali fosse tensa e ele não tivesse fortes conexões com Tony Stark, que havia morrido na batalha, não negava que estar ao lado daquela garota, lhe tranquilizava...

Ele desejava espairecer... ainda estava em choque por conta de Gamora.

— Boa ideia! Tem no catálogo do serviço de streaming da Hope! – Darcy acessava o aplicativo pela TV, procurando pelo filme.

— Então já é!

Ambos concordaram e começaram a procurar pelo filme.

Darcy comentava sobre outros clássicos, como ‘a garota de rosa shocking’, ‘curtindo a vida adoidado’ e ‘minha vida é um desastre’. Clássicos adolescentes dos anos 80.

Mas em meio à diversão dos dois, Rocket Raccoon e Groot entravam no local, sabendo que o seu capitão estava ali...

— Quill, preciso que você dê uma olhada na Benatar antes de irmos e...

O guaxinim parou de falar no mesmo instante, quando percebeu que o senhor das estrelas assistia a um filme com a ‘garota taser’.

— Uau... vocês estão num encontro? Eu estou interrompendo!? – O guardião proferia tais palavras, fazendo Peter e Darcy virarem o rosto imediatamente em sua direção.

— Nós não estamos num encontro... você tá louco!? – No mesmo instante, Peter jogou a latinha de cerveja que segurava na direção do guaxinim, que riu por causa do acanhamento dele.

— Calma, não precisa ficar nervoso! Todo mundo conhece a sua fama com as mulheres!

— Sério, Rocky, cala a boca!

— Você não devia estar de luto pela sua falecida namorada, seu pastel!?

— Falecida namorada...? – Darcy o indagou, sem entender o que o guaxinim dizia.

— É uma longa história e...-

— Você tá a horas com ela e sequer falou sobre a Gamora, seu insensível!?

Rocket ridicularizava Peter na frente de Darcy. Era um dos passatempos favoritos dele, ou melhor, era o seu objetivo na vida.

— Para de falar besteira!

— Eu sou o Groot! – A árvore basicamente assinava em baixo no Rocket dizia.

— Ai, tá bom, tá bom... pode ficar com a bonitinha aí no seu jantar à luz de velas, que eu e o Groot estamos vazando!

— Hey, você ainda vai querer o meu taser!? – Darcy perguntava pro guaxinim, que a respondeu de costas.

— Claro que eu vou! Já estou providenciando esses... ‘dólares’... – E então, ele e Groot saíram da sala, deixando-os sós.

O guaxinim chacoalhava a cabeça, achando que Peter era um babaca por estar ali, aproveitando o momento com aquela garota, enquanto todos os outros estavam de luto.

— Esses dois aí estão se dando muito bem... tô achando que a Gamora vai ser substituída... – Rocket dizia o que achava da situação para a árvore adolescente.

— Eu sou o Groot!

— Também acho que ela é bonita, mas a Gamora era muito melhor, não acha!?

— Eu sou o Groot! – A árvore dizia que a mulher mais temível da galáxia era incomparável com qualquer outra.

Todos eles tinham laços profundos com a filha de Thanos, mas... aquela Gamora não existia mais... a que estava ali, era a mesma de 2014, a de meses antes de conhecer Rocket, Groot e Drax, ou seja, Peter voltaria para a estaca zero, caso quisesse reconquistá-la.

.

— Olha, me desculpe pelo que o idiota do Rocky disse. Ele costuma fazer piadas nas piores horas. – O senhor das estrelas se desculpava com a doutora pelas brincadeiras de mau gosto do guaxinim, mas ela parecia não ligar.

— Relaxa, Peter. Eu não me importo, e sabe...? Eu gostei desse guaxinim! Nunca tinha visto uma criatura do porte dele antes.

— Bem, acho que a inconveniência dele é de extrapolar.

— Tudo bem... como eu disse, não me importo, mas... ele falou que sua namorada morreu... isso é verdade?

— Sim... bem... se eu começar a te contar, vai levar horas...

— Eu tenho todo o tempo do mundo. – A garota sorriu pela centésima vez para ele e assim Peter o fez...

Ele contou como conheceu Gamora, como eles se entenderam e como o tempo em que viveram juntos foi feliz... A maior assassina da galáxia abriu seu coração para um reles saqueador e ambos tiveram um relacionamento maravilhoso naqueles anos...

Até Thanos chegar e estragar tudo, levando-a embora e sacrificando-a para pegar a joia da alma...

E lá estava o universo conspirando contra ele, lhe pregando peças ao esbarrar na Gamora de outra linha temporal.

Darcy ouviu a história de Peter sobre a filha de Thanos e sentiu que devia contar suas experiências também...

Sobre um certo sargento que hoje era chamado de...

Lobo Branco...

A garota contou tudo, desde as circunstâncias onde se conheceram até o inevitável adeus inesperado.

Ambos perceberam que estavam feridos... Claro que a dor do senhor das estrelas era muito pior, mas a cientista tinha sérios transtornos emocionais por conta do sofrimento causado pela partida de James Buchanan Barnes, quando ela apenas esperou que os dois tivessem se entendido naquela época...

A garota ainda contou sobre como se sentiu quando o reencontrou a algumas horas atrás, e de como uma fúria descontrolada tomou conta de seus sentidos, a ponto de atirar contra ele...

Darcy e Peter conversaram sobre o assunto por um tempo e até resolveram se ausentar da sala, caminhando para o térreo, no ímpeto de tomarem um café.

Já estava de tarde, por volta das cinco horas.

Em breve anoiteceria...

— Acho que temos muitas coisas em comum, inclusive nossas vidas amorosas trágicas... – Ela sorriu, um pouco melancólica. Não gostava se se recordar da época em que sofreu pela ausência de Bucky Barnes em sua vida.

— Sim... e sabe de uma coisa? Depois de todos esses anos fora da terra, eu nem imaginava que ia encontrar alguém que tivesse passado por experiências parecidas. Nós temos mesmo muito em comum.

— Sim... e eu estou super feliz de ter te conhecido... ainda que as circunstâncias hoje não sejam as melhores, por causa das pessoas que morreram para nos trazer de volta... – A doutora confessava, com uma expressão terna em seu rosto.

— Concordo... fiz uma amiga na terra depois de tanto tempo sem pisar aqui. – Peter sorriu para Darcy, e ela correspondeu.

— Somos amigos agora!?

— Claro que sim!

— Então acho que você deveria considerar a opção de levar a sua mais nova amiga aqui para dentro da sua nave, não acha!? – Ela dava um soco no ombro dele, num gesto brincalhão.

Peter ria da zombaria da cientista, mas sentiu que devia ajuda-la de alguma forma, antes de partir com seus companheiros para o espaço...

— Olha, se fosse em outros tempos, seria o maior prazer te carregar na minha nave, mas... aquele cara ali na frente está prestes a entrar em erupção de tanto ciúmes e acho melhor você considerar ouvi-lo depois de tudo o que aconteceu entre vocês...

O senhor das estrelas apontou para frente com a cabeça e Darcy virou para trás...

.

Percebendo que Bucky estava ali, olhando para os dois...

.

Ela revirou os olhos e suspirou impaciente...

Por que aquele soldado de meia pataca estava ali, os encarando?

Um choque não foi o suficiente para bagunçar os miolos dele e fazê-lo desistir dela?

Darcy sacudiu a cabeça, em protesto.

— Peter... eu não estou disposta a ouvi-lo. Eu e o James não nos falamos há anos... lá atrás, encerrei esse assunto dentro de mim e não estou me segurando para ir atrás dele como uma idiota apaixonada, eu simplesmente... não tenho mais interesse...

— Eu te invejo... porque é isso que estou prestes a fazer... estou me segurando como um louco pra não ir atrás da Gamora...

— Você devia ir...

— Ela não é a minha Gamora...

— Ora, senhor das estrelas, se você a conquistou uma vez, por que acha que não conseguiria de novo!? Ela ainda continua sendo ela, mesmo que seja a de outra linha temporal... – Darcy piscou, esbanjando um lindo sorriso motivador.

— Acho que você está certa... mas só vou seguir seu conselho se seguir o meu. Vá falar com o sargento. – Peter a motivava, porque sabia que era o melhor para ela.

— Minha situação é tão complicada quanto a sua... – Darcy suspirou, impaciente.

— Não há nada que impeça vocês dois de ficarem juntos agora... você devia tentar... dê uma chance pra ele... – O capitão dos guardiões a encarava com determinação.

— Eu não quero dar uma chance a ele... quero dar uma chance a mim. Eu mereço ser feliz...

— Você só vai ser feliz se estiver com ele. Tá na cara que são almas gêmeas!

— Hey, você está falando o oposto do que os meus amigos me dizem! – Darcy deu outro soco nele, mas dessa vez, em seu braço.

— Então sinto dizer, mas esses seus amigos não estão enxergando a sua felicidade de verdade... porém, eu estou...

— Peter... eu não sou a mesma de nove anos atrás... – Replicava, desanimada.

— E como você era nesse tempo...?

— Mais jovem, mais feliz, cheia de planos e sonhos... hoje sou quase uma trintona, frustrada, desempregada, despejada, mil vezes mais desconfiada, chata e extremamente negativa...

— Você disse que é de 1991, não é!? Pelos meus cálculos você só tem 27 anos, então você não é uma trintona. Pare de dar desculpas!

— É só uma força de expressão, e além do mais, eu o eletrocutei com meu taser... mas não me arrependo... – Darcy sorriu de canto, obstinada e cínica.

Peter arregalou os olhos... as mulheres quando queriam ser vingativas, conseguiam ser mais perigosas do que os piores vilões espalhados pelo universo.

— Seja como for, vá falar com ele! Se depois disso, você não sentir nada e achar que não vale a pena, então coloque um fim nisso de uma vez por todas.

— Mas-

— Sem mas, Darcy! Vai agora! – Peter agarrou os ombros da garota e girou o corpo dela, empurrando-a para frente, no intuito de que a mesma fosse ter uma conversa decente com Bucky Barnes.

Ela suspirou com raiva, sabendo que Peter tinha razão, mas ao mesmo tempo, não querendo ceder...

A doutora caminhava relutantemente, olhando para trás diversas vezes, com Peter Quill parado, de pé, com os braços cruzados e um olhar firme, incentivando-a a prosseguir.

Ela virou o rosto para frente, soprando uma mecha de cabelo para cima de seus olhos, um tanto impaciente.

O soldado notava que Darcy parecia andar em sua direção e estranhava aquele movimento...

Será que ela pretendia falar com ele, mesmo depois de afastá-lo com seu taser e ordenar que se mantivesse longe dela?

James olhou para frente e percebeu que Peter continuava ali, vigiando Darcy...

Será que ele tinha pedido para a cientista falar com ele? Mas não fazia sentido algum...

E finalmente, a doutora parou em frente ao soldado.

Ela ficou imóvel, o encarando com um olhar apaticamente frio e sombrio...

O sargento a mirou... de modo indiferente...

Depois do choque que levara e de vê-la tão íntima de um homem que acabara de conhecer, a reação impassível era natural.

Ele ficou em silêncio, defrontando-a... até que finalmente, Darcy resolveu quebrar o silêncio...

— Precisamos conversar... – Exigiu, de modo aferrado e áspero, totalmente contra sua vontade.

Mas seguiria o conselho de seu mais novo amigo, Peter Quill, porque de certa forma, ignorar Bucky Barnes não era a melhor saída.

Resolveria tudo e seguiria sua vida sem arrependimentos. Era o mais sensato a se fazer.

Esperando uma resposta positiva do sargento, ele apenas desviou o olhar, forçando não mirá-la novamente, como se estivesse esnobando o que a mesma lhe dissera.

— Você me disse para ficar longe e é o que farei... – Bucky redarguiu, sem olhar diretamente para ela... estava um tanto decepcionado por ter sido hostilizado pela garota de uma forma tão agressiva e desrespeitosa, ainda mais na frente de outras pessoas.

Darcy quis rir de raiva... quem aquele idiota pensava que era para a menosprezar daquele jeito?

— Olha aqui, é melhor você me acompanhar agora ou-

— Ou o quê!? Vai atirar com o seu taser de novo!? – Dessa vez era James quem mostrava uma postura severa e ofensiva.

Estava totalmente desapontado com ela e não pretendia ceder.

— Bem... se for preciso, eu vou... – Darcy replicou, obstinada.

E então, Bucky finalmente virou o rosto em sua direção...

Ambos se encararam impetuosamente coléricos através dos olhares azuis...

Colidindo...

E então, o soldado resolveu se levantar...

Ele caminhou alguns passos na direção da cientista, que não cedeu um milímetro sequer...

Darcy permaneceu da mesma forma... não sucumbindo a figura estonteante do sargento, com seu esplêndido braço de vibranium reluzindo em tons acobreados e os suaves raios solares que adentravam pelas frestas da janela do prédio.

Os dois ficaram frente a frente...

Era notório que naquele momento...

.

Ambos teriam uma discussão violenta... apenas pelo furor dos olhares gelidamente azuis...

.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Wintershock" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.