Miranda: Starve escrita por wickedfroot, mandyziens, HappyCookies


Capítulo 19
And I Liked It




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Minkis Mackenzie

Entramos na floresta, começando a seguir a trilha de migalhas e folhas de tomate. Depois de ter resolvido esquecer um pouco a situação atual da ilha, consegui me animar, estávamos perto do culpado. E caso não encontrássemos ele no local, pelo menos teríamos uma grande chance de encontrar pistas, e além disso, uma grande possiblidade de encontrar os alimentos.  

Não sabia se pensava que poderia realmente ser o caminho para os alimentos ou apenas uma brincadeira de algum pinguim. Preferia acreditar que era a nossa chance, e não pensava que alguém teria a coragem de brincar com algo que está tomando conta da ilha inteira, é uma situação que está afetando todos, tanto os ricos, como os pobres.

Pensando em um lado “positivo” da situação, é que os pinguins estão mais unidos, claro que seria melhor ter essa união sem mortes e sem a fome no meio. Era o meio de todos se manterem vivos, se unirem. Compartilhando o pouco de comida que tem com os outros. Aish, Minkinha! De novo com esses pensamentos!

Balancei minha cabeça, eu não poderia pensar sobre isso, não poderia! Foco, Minkinha, foco! A atenção era algo que eu precisava ter naquele momento, mesmo com tudo isso acontecendo, se eu não focasse, poderia atrasar a investigação e fazer mais pinguins morrerem.

Coloquei uma das minhas nadadeiras em uma das alças da mochila, segurando-a. Respirei fundo, tinha que ficar calma. O processo de respirar estava indo bem, até que consegui me acalmar totalmente.

Os outros pinguins estavam sérios. Eles não estavam felizes? Estávamos perto do culpado, ou pelo menos, dos alimentos. Não, talvez eles estavam focados em busca de pistas e não tem tempo para colocarem um sorriso no bico, e eu deveria fazer o mesmo.

Comecei a olhar para o chão, e além de ver a trilha de alimentos, as únicas coisas que conseguia ver era a grama, arbustos e árvores, afinal, estávamos na Floresta. Ao pensar no local que estávamos, acabei me lembrando que era o local em que Thay morava. Será que se eu pedisse ela nos ajudaria? Bem, ela era minha amiga, mas não sabia se ela me escutaria. Nem sabia se realmente existia uma vida depois da morte. Pensando bem, essa frase ficou um pouco estranha. “Uma vida depois da morte”.

Ninguém arriscava falar nada, todos estavam sérios, focados e atentos a qualquer movimento. Qualquer barulho que fosse feito em um arbusto, movíamos nossas cabeças na esperança de ser o ladrão, mesmo que no fim eram apenas pássaros.

Por conta da proximidade do solstício, já estava escuro mesmo não sendo de noite, por isso, foi necessário ligar nossas lanternas. Facilitando a visão do caminho.

Em certo momento, conseguimos avistar uma segunda trilha, dessa vez, apenas com migalhas. Entreolhemo-nos, confusos. O que iríamos fazer? A sugestão de nos separarmos foi descartada, sem chance! Juan olhava para o novo caminho e para nós, repetidamente, até que fixou seu olhar em nós, falando:

— Não sei se isso será bom ou não, mas acho melhor seguir o novo caminho...

Olhei para os outros dois pinguins, que não expressavam nada. Estava esperando uma resposta dos mesmos, nem que se fosse um “certo!”, mas nada disso aconteceu. Eu teria que determinar o caminho que iríamos seguir, comecei a me sentir pressionada. O que eu iria responder? “Sim, vamos por esse caminho?” ou “Não! Vamos pelo que tem os dois alimentos”. Não conseguia pensar em algo lógico, mas também não deixava o meu emocional tomar decisões por mim mesma. Estava com medo da minha própria resposta, uma simples palavra poderia determinar o rumo da investigação, poderia acabar mais rápido com a fome que todos os pinguins sentiam, poderia paralisar as mortes, a muralha de gelo poderia ser quebrada mais rapidamente, e a vida dos pinguins poderia voltar ao normal. Eram muitas questões se passando na minha cabeça, estava prestes a chorar de nervoso. Fechei meus olhos, fazendo força, na tentativa de segurar as lágrimas. Não me importava o que os outros três investigadores estavam pensando de mim naquele momento, eu estava lutando contra mim mesma, eu precisava decidir o que respondia, não queria me sentir culpada no futuro.

Respirei fundo, não deixando nenhuma lágrima cair. Abri meus olhos, e encontrei os três investigadores olhando para mim, esperando uma resposta. Acabei ficando um pouco sem graça pela atenção e pelo tempo que estava roubando, por isso, dei de ombros, não sabia o que fazer, mesmo depois de todos os meus questionamentos, fiz um uni-duni-tê na minha cabeça, teria que escolher de uma forma ou outra.

— Tudo bem. Vamos pelo novo caminho.

Quando vi os pinguins concordando, tive que suspirar aliviada. Mas o medo de estar cada vez mais longe do culpado ainda estava presente. Eu esperava estar certa.

Começamos a seguir a nova trilha. Todos continuavam atentos, porém, eu não conseguia. O sentimento de medo estava tomando conta de mim, não conseguia me concentrar em nada, apenas nos meus pensamentos me culpando. A cada passo nós ficávamos cada vez mais distantes do caminho original, eu tentava pegar alguma característica do local que estávamos andando, mas não era possível, parecia que a paisagem se repetia. Tudo era idêntico: o tamanho dos arbustos, dos troncos, até mesmo os das folhas. A paleta de cores não mudava, nenhuma árvore se atrevia a ter uma folha mais clara do que as outras.

As migalhas começavam a diminuir, se antes, cinco migalhas estavam juntas, agora no máximo duas estavam próximas, e isso começou a me preocupar, e ao mesmo tempo, me dando esperança. E se aquilo fosse um sinal, mostrando que estávamos próximos dos alimentos? Não sabia no que acreditar, preferia ficar neutra diante a situação.

Minhas esperanças foram para o ralo quando as migalhas sumiram. Não haviam nenhum resquício delas em diante, e parecia que aos poucos, as anteriores desapareciam. Estávamos perdidos. Eu não sabia o que falar, o sentimento de culpa, que durante a caminhada estava com medo de senti-lo, apareceu. A vontade de chorar retornou, faltava pouco para uma delas saírem dos meus olhos, molhando minhas penas. Antes de conseguir fazer isso, Marcus respirou fundo, dizendo calmamente:

— Como podemos perceber, estamos perdidos. Por favor, não se desesperem. Vamos arrumar nossos sacos de dormir e esperar até amanhecer.

Juan concordou, juntamente com Bella. Estava tão afetada que não consegui concordar, apenas tirei a mochila de minhas costas, colocando-a no chão. Tirei meu saco de dormir da mesma, me deitando no nele. De acordo com o meu relógio, já estava de noite, era bem tarde.

Minha noite de sono não foi nada tranquila, o sentimento de culpa continuava ali, e não desapareceria tão facilmente. Retornei aos meus pensamentos sobre a fome? Não conseguia ter nenhum tipo de comunicação, e estava com medo do que poderia estar acontecendo. Esperava que nada de tão grave teria acontecido, se não, iria me sentir péssima.

Mesmo ao meio desses pensamentos, uma hora o sono chegou. Fechei meus olhos, tentando deixar minha mente livre, com nenhum tipo de informação negativa, até que adormeci, esperando estar sem nada negativo em meus sonhos.

***

Quando acordei, estranhei não sentir nenhum raio de sol esquentar meu rosto, até que me lembrei, era quase 21 de dezembro, o solstício de inverno e o sol já estava se pondo, era que horas? Três horas da tarde? Os próximos dias seriam cada vez mais escuros, nenhum raio de sol iria esquentar a ilha. Se a fome não tivesse atingido o Club Penguin, estaria pintando meu corpo com figuras relacionadas à estação. Os tons de azul e roxo estariam presentes nas minhas penas amarelas.

Resolvi me sentar, estava cansada de estar deitada. Quando me ajeitei, comecei a olhar para os outros sacos de dormir estavam cheios, isso significava que Marcus e Juan estavam dormindo. Levei meu olhar para a direita, encontrando Bella. A garota estava sentada na sua “cama”, com as nadadeiras no rosto, ela estava chorando?

Levantei-me, andando até a pinguim, me sentando na frente da mesma. Como ainda estava cedo, falei baixo, para não acordar os outros investigadores:

— Por que está chorando?

A garota não conseguia responder, quando ela abria o bico, imediatamente fechava, como se desistisse de falar. Tentava consolar a garota, mas como não conseguia falar, apenas fez seu choro aumentar, mas não no nível de acordar um dos outros dois pinguins. Bella tirou as nadadeiras do seu rosto, me fazendo ver seu rosto coberto de lágrimas. A água que saiu dos seus olhos descia pelas suas bochechas, fazendo algumas delas cair em suas roupas. Aquela visão acabou comigo, parecia que as lágrimas batiam contra meu coração, e de tanto que se chocavam, acabavam fazendo furos e mais furos, quebrando-o aos poucos.

Não conseguia ver as cores perfeitamente, por conta da escuridão, mas era possível. Seus cabelos estavam tão lindos, o loiro se misturava com o azul meio preto do escuro, e ao mesmo tempo combinava com o marrom dos troncos das árvores que estavam ao fundo, poderia dizer que parecia uma pintura de tão lindo, uma obra prima.

O bico laranja se destacava com as suas penas brancas, chamando a atenção para o mesmo. Olhava todos os detalhes da pinguim, com o maior cuidado. Ela era tão linda, queria ficar ali, olhando para ela para sempre. A cena era linda, mas se ela não estivesse chorando, seria mais ainda. O silêncio não era algo perturbador, ele não me incomodava como antes, a falta de barulho parecia ser confortável naquele momento, como se fosse perfeito para a situação.

Meus olhos se focaram no bico da pinguim, e acabei não percebendo que havia me arrastado para ficar mais próxima da garota. A menina levou sua nadadeira direita para a minha cintura, e a aproximação não parava por nenhum momento. Bella fechou seus olhos, e essa foi minha última visão antes de acompanhar a mesma, fechando meus olhos. Estávamos tão próximas que era possível escutar a respiração uma da outra, levei minha nadadeira para seu ombro e acabei com a mínima distância que afastava nossos corpos, fazendo nossos bicos se chocarem. Eu havia beijado aquela garota. Eu havia beijado Bella. Eu havia beijado uma garota, e eu gostei.


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