A Senhora do Lago escrita por Enypnium


Capítulo 5
Capítulo 4: BRANDON STARK.


Notas iniciais do capítulo

Queridos leitores, eu não tenho palavras para expressar a gratidão pela compreensão e incentivo que recebi de vocês com a reedição dessa estória. Obrigada a todos.

Dedico toda a reedição aos meus leitores: Mille Portinari, Lady Morgana, Anna, MaduBlackfyre, Cerejinha negra, Gabi Felix, Frozen e Niinha.... e para você também, que leu mas não comentou... eu te espero pacientemente.

Espero que gostem...



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Capítulo 4: BRANDON STARK. 

Ela fora convocada a comparecer diante de Lady Catelyn Stark, e assim, seguia de perto os passos apresados da Criada que a conduzia através de várias câmaras e incontáveis degraus, enquanto lembrava a si mesma, que era apenas sua culpa se ultimamente estava em evidência mais do que seria sensato.

Finalmente, chegaram no topo da Grande Torre onde ficavam os aposentos pessoais do Senhor e da Sra. Stark. A Criada bateu na pesada porta de madeira, e do outro lado, a permissão foi dada por uma voz feminina, a moça abriu a porta e se afastou para dar passagem a Hermione.

Desde que Hermione chegara ali, a Senhora havia permanecido na cabeceira da cama do filho adoentado se recusando a deixa-lo, até mesmo para se despedir do marido e dos outros filhos, que partiram ao Sul.

Na noite do ataque à Bran, cinco dias atrás, Lady Stark fora conduzida em completo estado histérico para seus próprios aposentos, e estivera dormindo desde então, mas acordara e agora queria conhecer a Lady que estava hospedando.

Hermione supôs que a Sra. Stark estivesse sozinha, mas se enganara, no quarto estava o mestre de armas Sor Rodrik Cassel, Hallis Mollen o capitão da guarda, Theon Greyjoy o protegido dos Stark e Robb, que lhe sorriu timidamente quando ela surgiu emoldurada pelo batente da porta.

Lady Stark estava na cama, sentada em meio a muitos cobertores de peles com uma bandeja cheia de comida ainda intocada equilibrada em seu colo. 

Mesmo através de sua palidez a Senhora, na cada dos quarenta anos, resplandecia em beleza, com lindos cabelos em um tom forte de vermelho que rivalizavam com qualquer Weasley, e olhos azuis decidido. Ali estava a aparência que Robb, Sansa, Bran e Rickon ostentavam. 

Diferentemente da noite do ataque, ela estava calma e centrada muito segura de si.

— Entre Milady, e feche a porta – Ela pediu a Hermione.

A Bruxa fechou a passagem as suas costas e deu alguns passos para dentro do quarto se aproximando da cama. Suas mãos tremiam e ela as cruzou em frente ao corpo para tentar mantê-las firma. Hermione não pode evitar sentir-se apreensiva.

Winterfell para ela estava sendo como ir de olhos fechados a uma montanha russa. Era impossível prever quando seria a próxima queda.

Toda a vez que ela precisava responder perguntas, toda a vez que era obrigada a agir, colocava sobre si um refletor que poderia indicar facilmente suas falhas, sua origem, sua magia.  Isso era viver em suspenso.

— Contaram-me que meu marido a encontrou desmaiada as margens de um dos lagos de nossas terras? – Lady Stark lançou um olhar avaliativo a Hermione.

— Sim, Milady – Ela respondeu modestamente.

— E quanto a seus pais? Não estavam a com a Senhora? – Lady Stark entrelaçou as mãos no colo atrás da bandeja.

Possivelmente, a Senhora já tinha ouvido aquela estória mais de uma vez, mesmo assim, interrogava Hermione novamente.

— Eles estão mortos – Mentiu Hermione. A mesma mentira que contara ao Sr. Stark, ao Meistre Luwin e a Robb, e não pode deixar de se perguntar, quantas vezes mais seria preciso mentir. – Fui enviada de Pentos para receber a educação de Westeros pelo meu Tutor. Lorde Stark me recebeu com muita gentileza, pelo que sou grata, e amavelmente seu filho estendeu a hospitalidade de Winterfell.

Lady Stark não era pessoa que sabia esconder seus pensamentos, ela relanceou um olhar interrogativo ao filho, mas Hermione pode ler estampado em cada linha de seu rosto, que a desconfiança era toda para ela.

Felizmente, Robb interveio na hora certa com outra pergunta que mudou o foco da conversa.

— Porque Milady decidiu subir aos aposentos de Bran na noite do ataque? – Perguntou, com os olhos correndo de Hermione para a mãe, em busca de aprovação.

 - Tive uma intuição de que Bran poderia precisar de ajuda – Hermione escolheu a honestidade dessa vez. Não que ela tivesse uma mentira que fosse plausível, de qualquer forma.

— Tem bons instinto, Milady – Theon elogio sedosamente, com um sorriso preguiçoso nos lábios.

Hermione não tinha nada a responder para isso. Só lhe restava pedir a Merlin para que aceitassem sua desculpa.

— Sou grata a seus instintos. Salvou minha vida naquela noite, e a vida de Bran – Lady Stark agradeceu com sinceridade, embora a suspeita ainda brilhasse em seus olhos.

— Não há o que agradecer, Senhora. A minha vida foi salva por Lorde Eddard primeiro.

— Foi muito corajosa. Nunca em minha vida vi uma Lady agir como agiu naquele quarto. Colocando-se diante do assassino com tal abandono de si mesma, e com tamanho sangue frio. Quantos anos tem? – Lady Catelyn perguntou.

— Quinze, Milady.

— Não teve medo? – Ela pressionou.

— Sim Senhora.   

— Coragem só é possível diante do medo – Robb falou baixinho. Em seu rosto havia uma expressão de compreensão de algo cuja significado antes lhe escapava.

A admiração que brilhou nos olhos de Robb passou desapercebida por todos, exceto por Lady Catelyn, que observava o filho atentamente.

— A Senhora Stark nos contou como agiu. Nem todos fariam o que fez, especialmente uma Lady. – Disse Sor Rodrik.

A moça apenas deu um sorriso tímido para o Senhor.

Um breve silêncio se fez na sala, durante o qual, Hermione sentiu-se muito desconfortável, mas novamente o assunto foi mudado com outra pergunta, dessa vez, feita pela Sra. Stark.

— Quem ele era?

Ela não precisava esclarecer mais do que isso para que todos entendem que ela falava do assassino.

— Ninguém sabe seu nome - informou Hallis Mollen. - Não era homem de Winterfell, Senhora, mas há quem diga que foi visto aqui e nas imediações do castelo ao longo destas últimas semanas.

— Então é um dos homens do rei - disse ela - ou dos Lannister. Pode ter ficado para trás, à espreita, quando os outros partiram.

— Pode ser - disse Hal. - Com todos aqueles estranhos a encher Winterfell nos últimos tempos, não há maneira de dizer a quem pertencia.

— Ele esteve escondido nas cavalariças - disse Greyjoy. - Podia-se sentir o cheiro nele.

— E como pôde passar despercebido? – Questionou Lady Stark em tom penetrante. Hallis Mollen pareceu atrapalhado.

— Com os cavalos que o Sr. Eddard levou para o Sul e os que enviamos para o Norte para a Patrulha da Noite, as cavalariças ficaram meio vazias. Não seria grande truque se esconder dos moços da cavalariça. - Hal abanou a cabeça.

— Encontramos o lugar onde ele dormia - interveio Robb. - Tinha noventa veados de prata num saco de couro escondido debaixo da palha.

— É bom saber que a vida do meu filho não foi vendida barato - disse Lady Catelyn amargamente.

Hallis Mollen a olhou, confuso.

— As minhas desculpas, Senhora, mas está dizendo que ele foi mandado para matar o seu rapaz?

Greyjoy mostrou dúvida.

— Isso é uma loucura – Ele disse.

— Ele veio por Bran – Lady Stark afirmou categoricamente - Ficou o tempo todo resmungando que eu não devia estar ali. Provocou o incêndio da biblioteca pensando que eu correria para tentar apagá-lo, levando os guardas comigo. Se não estivesse meio louca de desgosto, teria funcionado.

 - Também acredito nisso - Hermione exteriorizou os pensamentos que a assombravam nos últimos dias, com convicção, esquecendo-se por um momento, de que não estava com seus amigos em Hogwarts.

Todos olharam para ela surpresos.

— Desculpe – Hermione disse, irritada consigo mesma por esquecer de manter a boca fechada.

— Não se desculpe. Fale livremente, por favor – pediu Lady Catelyn.

Hermione ficou em silêncio por um momento, arrependida de sua imprudência, contudo já tinha ido longe demais para recuar.

— Bem – Hermione começou, cautelosa – Quais motivos ele teria para invadir o Castelo? Roubar seria uma razão eu suponho... entretanto, me parece, que teria sido mais esperto fazer isso enquanto os homens do Rei estivessem no Castelo... quero dizer... um Castelo abarrotado de pessoas estranhas, ninguém questionaria se alguém estivesse movendo objetos valiosos de um lado para o outro. Mas em Castelo vazio chamaria mais a atenção, certo?

 - Acho que sim, chamaria. – Disse Hallis Mollen.

— Além disso, enquanto eu percorria pelos corredores para chegar ao quarto de Bran, vi que todos os guardas e a maioria dos criados tinham corrido para a biblioteca em chamas, deixando muitas das câmaras sem qualquer vigilância. Há ouro e prata no Grande Salão, mas ele escolheu o aposento mais afastado da saída, justamente o único aposento que não estava vazio? Não faz sentido escolher o quarto de um menino para roubar, quando os aposentos do próprio Lorde de Winterfell estavam vazios.

— Certamente que ele devia saber que o Solar de Lorde Stark estava vazio, afinal ele colocou fogo na Biblioteca para atrair não só os guardas, mas a Família para fora do Castelo – Completou Sor Rodrik com espanto.

Hermione balançou a cabeça em concordância.

— Mas e se o motivo fosse outro? – Questionou Theon. – Talvez fazer mal a alguma moça.

 - Neste caso, as cozinhas teriam sido uma escolha mais sensata. Ele poderia ter facilmente atraído uma das Criadas para fora, e logo estaria livre para fazer o que quisesse – Disse Robb conjecturou, ficando vermelho com sugestão de ato tão monstruoso.

— E por isso que eu acredito que ele veio... não para roubar, não para violentar, mas para matar a Bran – Hermione falou, sentindo a temperatura da sala diminuir alguns graus enquanto os outros também pareciam chegar a mesma conclusão.

— Além de incrivelmente corajosa é muito perspicaz, Milady – Disse Sor Rodrik, com ar de assombro.

Até mesmo a Sra. Catelyn olhava para Hermione com aprovação.

— Mas, por que haveria alguém de querer matar Bran? – Robb perguntou atordoado - Deuses, não passa de um rapazinho, indefeso, dormindo...

Lady Catelyn lançou ao seu primogênito um olhar de desafio.

— Se quiser governar o Norte, Robb, precisa analisar estas coisas até o fim. Responda à sua pergunta. Por que haveria alguém de querer matar uma criança adormecida?

— Alguém tem medo de que Bran acorde - disse Robb - Medo do que ele possa dizer ou fazer, medo de qualquer coisa que ele sabe.

— Muito bem. – Disse a Sra. Catelyn orgulhosa.

— Isso explicaria a qualidade da adaga que ele usou. - Sor Rodrik chamou a atenção de todos para um novo ponto. – Passei noite e dia analisando a arma do assassino. Pareceu-me uma arma boa demais para um homem daqueles, e olhei-a longa e atentamente. A lâmina é de aço valiriano e o punho, de osso de dragão. Uma arma assim não tem nada a ver com um homem como ele. Alguém lhe deu.

A Sra. Catelyn fez um aceno, pensativa.

— O que vou dizer não deve sair deste quarto - ela avisou. - Quero que jurem. Se até mesmo parte daquilo de que suspeito for verdade, Eddard e as minhas meninas correm perigo mortal na Capital, e uma palavra aos ouvidos errados poderá custar-lhes a vida.

— Lorde Eddard é como um segundo pai para mim – disse Theon Greyjoy. - Presto esse juramento.

— A Senhora tem o meu juramento - disse Sor Rodrik.

Lady Stark olhou para Hermione por um longo momento como se deliberasse o que fazer com ela.

— E quanto a Milady? Jura? – Ela perguntou com seriedade tomando uma decisão.

— Sim Senhora. Juro – Hermione respondeu. 

Lady Catelyn olhou para o filho.

— E você, Robb?

Ele consentiu com um aceno de cabeça.

— Minha irmã, Lysa Arryn, acredita que os Lannister assassinaram seu marido, Lorde Arryn, a antiga Mão do Rei. Foi em parte por isso que Eddard decidiu aceitar o cargo de Conselheiro, para investigar a morte de Jon Arryn. – Contou Lady Catelyn em tom de voz ligeiramente mais baixo que o normal. – Mas isso não é tudo. Os Lannister também podem estar envolvidos com o acidente de Bran. Ocorreu-me que Sor Jaime Lannister, não se juntou à caçada no dia em que Bran caiu. Permaneceu aqui no castelo, junto de sua irmã a Rainha Cersei. Não me parece que Bran tenha caído daquela torre. Penso que foi atirado.

O aposento estava silencioso e todos pareciam chocados.  

Hermione manteve-se calada, entretanto, não pode evitar sentir dúvida.

Jaime e Cersei Lannister, tio e mãe respectivamente do Príncipe Joffrey Baratheon, eram gêmeos e por isso, perturbadoramente parecidos, tão belos e resplandecentes com seus cabelos louros e olhos verdes, que lembravam veelas.

Eram tão diferentes fisicamente do irmão Tyrion Lannister quanto eram diferentes seus caráteres. Enquanto Tyrion o Anãos era gentil e amável com todos, Joffrey, Jamie e Cersei, mantinham expressões idênticas de desprezo e desdém pelos Nortenhos. Contudo, a despeito do desentendimento entre Hermione e Joffrey na floreste, que ao que tudo indicava, era de conhecimento apenas dos presentes na ocasião, e das constantes discussões entre Robb e Joffrey, nenhum outro gesto ou fala depunha contra a família Lannister.

Ela se sentia traindo a boa vontade de Lorde Tyrion para com ela, ao duvidar de sua família.

— Essa sugestão é monstruosa - disse Sor Rodrik Cassei - Até mesmo um homem como Jaime Lannister um Regicida perjuro, hesitaria em assassinar uma criança inocente.

— Ah, hesitaria? - Perguntou Theon Greyjoy. - Tenho dúvidas.

— Não há limites para o orgulho ou a ambição dos Lannister - disse Lady Catelyn.

— A verdade é que Bran sempre escalou as Muralhas de Winterfell, e sempre teve mãos seguras - disse Sor Rodrik pensativo - Conhece todas as pedras da Fortaleza.

— Tudo o que temos são conjecturas. Quem queremos acusar é o irmão querido da rainha. Ela não o aceitará de bom grado. Temos de encontrar provas, ou ficar em silêncio para sempre – falou Theon.

— Sua prova está no punhal - disse Sor Rodrik - Uma bela lâmina como aquela não pode passar despercebida.

— Alguém tem de ir a Capital Porto Real, para avisar a seu pai sobre o ataque a Bran e contar-lhe nossa desconfiança. Precisamos reunir provas. Ele está em posição melhor para investigar mais esse crime, além da morte suspeita de Jon Arryn. – Disse a Sra. Stark.

— Eu vou – ofereceu-se Robb.

— Não - ela disse imediatamente. - Seu lugar é aqui. Deve haver sempre um Stark em Winterfell. Devo ir eu mesma.

Neste instante a porta foi escancarada com um estrondo, batendo na parede com um barulho tão alto que fez todos se sobressaltarem.

Do outro lado da porta estava Meistre Luwin, branco como giz e de olhos arregalados.

— O que significa isso, Meistre? – Questionou Robb, com a voz ligeiramente sobressaltado.

— Milady – O Meistre parecia incapaz de encontrar as palavras, ofegava tanto que respirava pesadamente pela boca.

A Sra. Catelyn pulou da cama alarmada.

— Uma dadiva dos deuses... um verdadeiro presente dos céus – Disse Luwin, puxando para longe do pescoço as muitas correntes que ele usava. Cada corrente era formada por outros tantos elos, todos de metais diferentes, e cada um deles significando os conhecimentos adquiridos com o estudo. Era o símbolo da Ordem dos Meistre, e representava seus status de Curandeiro, Sábio, Professor e Conselheiro.

 - Meistre, o que ouve? Está deixando a todos preocupados – questionou Sor Rodrik.

— É Bran – finalmente o Meistre conseguiu dizer.

 - O que há com Bran? – Perguntou Lady Catelyn sem folego, já se encaminhando para a porta.

— A coluna dele... está curada. Os ossos quebrados, estão sarados. – Luwin parecia não ser capaz de acreditar no que ele mesmo dizia.

Hermione gelou. Estivera esperando por esse momento ansiosamente, ela sabia que ele chegaria muito em breve, supôs que quando acontecesse estaria mais preparada, não estava...  

Ela se esforçou para aparentar calma, mas por dentro, estava uma verdadeira bagunça.

— Mas como isso... você tem certeza? – Perguntou Lady Catelyn aflita.

— Sim Senhora, eu tenho certeza. Fui fazer minha visita diária a ele, e a coluna está intacta. Nem parece que o rapaz caiu de toda aquela altura.

— Mas ele acordou? – Perguntou Robb.

— Ainda está desacordado, infelizmente – o Meistre admitiu.

— Mas como isso é possível? – A Sra. Stark estava chocada.

 - Eu não saberia dizer Senhora. Não há explicação lógica para isso.

 - Mas ele poderá andar agora? – Robb perguntou animado.

 - Isso não posso garantir, apenas quando ele acordar saberemos com certeza.

 - Preciso vê-lo – pediu Lady Stark.

 - Vou acompanhá-la – Luwin saiu da porta para dar espaço a Lady Catelyn.

 - Vou junto – anunciou Robb, seguindo os passos apresados da mãe, logo em seguida. 

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Lentamente, a sensação de viver dentro de um sonho ia se dissipando, e Hermione sentia que sua vida em Winterfell começava a ganhar contornos de normalidade. Talvez fosse porque, ela refletiu, agora estava finalmente rodeada pela única coisa que sempre fora capaz de lhe transmitir calma e segurança... livros!

O trabalho que Hermione realizara na biblioteca, estava apenas começando. Marceneiros entravam e saiam do Castelo, do amanhecer ao anoitecer, serrando, medindo e montando as prateleiras para a nova biblioteca, que ficaria no maior salão que o Castelo podia disponibilizar.

E por algum motivo desconhecido para Hermione, Meistre Luwin, gostava de pedir a ajuda dela para organizar os livros que seriam realocados no novo espaço e preparar aqueles que seriam copiados. Hermione suspeitava que era porque, ela parecia ser a única que respeitava os livros tanto quanto ele.

Antes, quando chegara em Winterfelll, Hermione nada mais queria do que invadir a biblioteca que não era modesta e procurar respostas que a levassem para casa, mas então tivera receio em faze-lo, temendo que tal comportamento por parte de uma mulher fosse visto com maus olhos.

Agora, porém, se havia qualquer aspecto de Hermione que fosse considerado excêntrico pelos moradores de Winterfell, eles pareciam disposto a ignora-lo e ela conquistara a liberdade de transitar pelo palácio com braçadas de livros, sem que isso levantasse qualquer suspeita, de tal modo, que todos os dias, depois de passar horas nesta atividade, Hermione se recolhia para seus aposentos com o livro - ou livros—  que mais tivesse lhe chamado a atenção.

As vezes sua leitura do dia não era mais do que alguns pergaminhos que ela consumia em poucas horas, mas em outros tantos momentos, ela carregava grossos volumes que inspiravam o oferecimento de ajuda de Robb.

Nestas ocasiões os dois trocavam algumas palavras. Apenas pequenos instantes roubados dos dias atarefas que ele tinha.

Como era de se imaginar, Hermione estava aprendendo muito sobre Westeros e concluíra que era um lugar muito diferente de qualquer sociedade trouxa ou bruxa que ela já estudara, e ao mesmo tempo, guardava certas semelhanças.

Havia coisas inusitadas como exércitos compostos por Dragões, que a princípio ela interpretara no sentido figurado, até descobrir que eram Dragões no sentido literal... mesmo.

Isso a animou, porque se haviam dragões, e dragões eram, com certeza, animais mágicos, então isso significava que exista magia e talvez algum jeito de ela voltar para casa.

Entretanto, a coisa mais inusitada que ela aprendera até agora era a respeito das estações do ano, que não possuíam qualquer previsibilidade. As quatro estações duravam períodos indeterminados, embora ela tenha notado nos registros que os outonos e primaveras costumam ser mais curtos que os verões que podiam durar anos e os invernos que passados na completa escuridão sob um frio quase impossível de conceber, podiam durar gerações inteiras!

Quanto mais lia sobre Westeros, mais ela se convencia de que não tinha voltado no tempo, pois aquela sociedade jamais chegou a existir em seu próprio mundo.

Porém, ela se recusava a se deixar abalar por isso. Afinal, agora ela ainda tinha uma biblioteca inteira a sua disposição, e não perderia a esperança de encontrar uma forma de voltar para casa, ela devia a tentativa a seus pais, seus amigos e a si mesma.

Hermione não era a única, porém, a ficar frustrada com a insuficiência de repostas literários. Meistre Luwin dividia com Hermione sua própria frustração.

Ele passava, assim como ela, muito tempo livre lendo, completamente obcecado em encontrar uma resposta para o mistério que era a cura de Bran. No entanto, os porquês desse enigma, só interessavam a ele e a nenhum Stark a mais. A família estava apenas feliz em aceitar como uma dádiva dos deuses a cura repentina de um de seus membros, e não faziam questionamentos quanto a isso, algo pelo que, Hermione agradecia imensamente.

Já o Senhor meio careca, perdia muito mais cabelo à procura de respostas. Meistre Luwin, estava absolutamente inconformado por não saber como Brando Stark que ficara aleijado pelo acidente, agora teria boas possibilidades de voltar a andar.

Hermione compreendia a angustia do Meistre, pois ela mesma, era uma compulsiva por explicações logicas, e uma amante das coisas que faziam sentido, mas por mais que ela fosse a única que pudesse trazer sossego ao Meistre, Hermione estava absolutamente convencida em manter seu segredo bem guardado.

— Novamente perdida em meio a páginas empoeiradas? – Perguntou, uma voz pairando em algum lugar acima dela.

Hermione levantou os olhos do livro que tinha aberto nas pernas, para encontrar Theon Greyjoy de pé na frente dela.

Ela se levantou do chão, seu lugar favorito em frente ao pequeno lago do Bosque Sagrado. 

— Está frio aqui fora. Porque não lê dentro do Castelo? – Theon perguntou.

— Eu gosto de ficar aqui, é quieto – Ela respondeu simplesmente.

Theon Greyjoy passava bastante tempo na companhia de Robb Stark, seguindo-o onde quer que o outro estivesse, e por isso Hermione e ele tinham trocado poucas palavras até ali.

Hermione ainda não sabia o que pensar do rapaz. Quando Theon e ela se encontravam ocasionalmente, o tratamento dele oscilava entre a afabilidade e a indiferença, não tinha explicação alguma para as mudanças de humor dele. Isso a confundia.

Às vezes, porém, ele simplesmente a olhava sem nada dizer, um olhar que a deixava desconfortável. Ele nunca se atrevera a fazer mais do que isso, mas Hermione suspeitava que era, apenas porque, Lorde Stark tratara Hermione com uma Lady e assim, estabelecera que todos os demais deveriam trata-la. A intuição lhe dizia, que se sua situação em Winterfell fosse diferente, as coisas mudariam entre Theon e ela, e talvez para a pior... para ela.

— Nunca conheci uma Lady que gostasse tanto de ler quanto você – Ele falou sorrindo.

Hermione recolheu os livros abertos sob a manta e empilhou-os, em seguida sacudiu o cobertor para tirar resquícios de grama e gravetos e o dobrou cuidadosamente, pegando em seguida a pilha de livros do chão.

— Não sou como a maioria das Ladys – Ela respondeu dado de ombros.

— Eu vejo. O que a faz gostar tanto dos pergaminhos amarelados?

— O Senhor não gosta de livros? – Hermione perguntou ao invés de responder. Suas respostas para aquela pergunta eram pessoais de mais para Theon Greyjoy.

— Deuses, não! Eles me entendiam. São para Meistres, eunucos e aleijados, talvez. Não é atividade para homens de verdade. – Ele zombou, sem se importar se estava ofendendo alguém. 

Theon era bonito, com sua beleza morena e olhos azuis, mas sua expressão sempre desdenhosa, acabava com qualquer boa impressão que sua aparência causava, e nunca tinha parecido mais feio a Hermione do que neste momento.

— Penso que os livros nos salvam da mediocridade – Ela respondeu, sentindo prazer quando o sorriso dele escorreu de seu rosto.

— É apenas natural que as mulheres pensem assim. A verdadeira gloria está em um campo de batalha, mas é claro que eu não espero que Milady entenda dessas coisas.

 - Já esteve em muitas batalhas, meu Senhor? – Ela perguntou, sabendo que a resposta era provavelmente nenhuma.

Pelo que Hermione lera em seus “livros entediantes”, a última disputa que ocorrera em Westeros fora a nove anos atrás, quando o pai desde mesmo Theon, se rebelara contra a Coroa e pedira a independência de seu território. Na ocasião, Balon Greyjoy, Senhor das Ilhas de Ferro, conseguira algumas vitórias antes de ser totalmente massacrado pelo Rei Robert Baratheon e seus Senhores. Para manter a boa conduta e cooperação dos Greyjoy, o Rei determinara que o filho mais novo de Balon, Theon, fosse criado como um “protegido” dos Stark.

Em verdade, era uma história trágica, a de Theon. Não era justo que ele fosse afastado da família desse modo, e por melhor que ele fosse tratado pelos Stark, deveria ter sido traumatizante para um garotinho. Mas era difícil sentir solidariedade por ele agora.

— Bem... não, mas... apenas porque nenhuma guerra tem acontecido – Theon respondeu gaguejado e olhando a toda a volta, sem querer encara-la.

A garota não conseguiu evitar que um pequeno sorriso escapasse do canto de seus lábios, mas isso foi um erro, pois despertou uma fúria até então desconhecida no rapaz a sua frente. A face dele se transformou em uma careta, e o sorriso sempre constante, o deixou completamente.

— Isso não vem ao caso – Ele continuou, ríspido.

— Suponho que não – Hermione devolveu.

O pescoço dele ficou vermelho, o ódio desprendia dele em ondas. Uma reação muito desproporcional ao comentário. “Talvez”, Hermione pensou, “eu tenha ido longe demais”.

Com um movimento rápido ele pegou o braço de Hermione acima do cotovelo, a mão pesada pelo uso da espada aperto com força.

Hermione não se abalou, não tinha medo dele. Ela o encarou com voracidade.

Ele pairava sobre ela, mais baixo que Robb, mas suficientemente alto para obriga-la a levantar a cabeça para olha-lo. Quando seus olhos se encontraram ele pareceu vacilar, e até mesmo afrouxou o aperto, mas não a soltou.

 - O que acontece aqui?  - Robb Stark chegara no Bosque Sagrado, seguido de perto por Vento Cinzento.

O lobo tinha os olhos amarelos presos em Theon, um barulho baixo saia de sua garganta, e um arrepio percorreu a espinha de Hermione diante daquilo.

— Solte-a Theon, agora – Exigiu Robb com a voz firme. Não era Robb o amigo quem falava era Robb o Lorde de Winterfell.

Theon piscou como alguém voltando a realidade. Ele soltou o braço dela, e deu alguns passos para trás, olhou dela para Robb e abriu a boca para dizer algo, mas desistiu, se afastou com passos duros em direção ao Castelo.

O Lobo Gigante acompanhou com olhos apertados a partida de Theon ainda rosnando baixinho. Mas assim que o Moreno se afastou o suficiente, Vento Cinzento relaxou e parou de fazer o barulho tão ameaçador.

Robb se aproximou dela, perto o suficiente para Hermione ver as pequenas sardas que se espalhavam na face dele, do mesmo jeito que se espalhavam na dela.

Robb tocou sua bochecha com os nós dos dedos, um toque tão suave que ela quase não o sentiu, mas apreciou o calor.

— Está bem? – Ele perguntou com a voz num sussurro rouco.

— Estou – Hermione respondeu, se arrependendo de ter provocado Theon.

— O que aconteceu? – Robb questionou, sua voz ainda era um sussurro.

Novamente Hermione temeu pelo que poderia acontecer. Ela não sabia o que Robb pensaria sobre o que ocorrera ali. Ele podia ficar do lado do amigo; podia pensar que ela fora insolente e desrespeitosa; poderia querer manda-la para “casa”.

— Não foi nada – Hermione respondeu, tentando dissuadi-lo a deixar o assunto para lá.

— Quero uma resposta e quero a verdade – Robb exigia inflexivelmente. Ele não deixaria o assunto sem uma resposta convincente.

— Estávamos conversando sobre livros e guerra, e ele se sentiu ofendido, eu acho. Eu apenas perguntei se ele já tinha participado de alguma batalha antes.

Robb franziu a testa. Parecia duvidoso.

— Apenas isso, Milady? Ele ficou furioso daquele modo, por causa de um comentário tão inocente? – Robb pressionou, não parecia querer acreditar que o amigo reagiria assim por tão pouca coisa.

 - Talvez eu tenha sido um pouco desdenhosa com ela – Hermione admitiu envergonhada.

 - Mesmo assim. Não é motivo para tratar uma Senhora com essa grosseria. Não há motivo que justifique na verdade. - Robb suspirou desgostoso.  – Ele a machucou?

— Não. Ele apenas me segurou com força.

— Vou conversar com ele e obriga-lo a se desculpar. – Robb disse bravo. – Se isso acontecer novamente, com ele ou qualquer outro, quero que me conte – ordenou ele.

Hermione estava prestes a dizer para que não se preocupar com isso quando Meistre Luwin veio correndo até eles.

— Senhor – Meistre Luwin chamou, sem folego. Parecia ter corrido o caminho todo, do castelo até ali – É Bran. Ele acordou.

Robb demorou um segundo para assimilar o significado da informação, então voltou-se para Hermione com um sorriso que iluminava seus olhos.

Sem realmente se dar conta do que fazia, ele pegou a mão de Hermione e a puxou consigo em direção da Torre de Bran.

Hermione teve que se esforçar para caminhar ao lado dele. Robb não corria mas andava muito rápido e as pernas de Hermione, muito mais curtas do que as dele, sofriam para acompanhar seu ritmo. Meistre Luwin vinha alguns passos atrás, respirando pesadamente.

Quando chegaram no quarto, três criadas estavam rodeando Bran com uma troca das roupas de cama, banhando-o e alimentando-o.

O menino estava fraco e pálido, mas definitivamente acordado.

Seu lobo de Bran que ainda não tinha um nome, andava em frente a lareira parecendo agitado.

Robb soltou sua mão quase correndo até a cama do irmão, Hermione se deixou ficar nos fundos da sala, sabendo que este momento era para a família.

As Criadas se afastaram e Robb pegou o irmão nos braços.

 - Bran. Finalmente está acordado. Como se sente? – Robb perguntou. O menino parecia uma coisinha pequenina nos braços fortes do Robb.

— Esmagado – Respondeu Bran, de bom humor.

Robb soltou uma gargalhada e o depositou na cama com cuidado, sentando ao lado dele.

— O que aconteceu comigo? – Perguntou Bran, confuso.

— Você não se lembra? – Robb indagou baixinho, como se tivesse medo da resposta. Bran balançou a cabeça em negativa. – Você estava escalando a torre quebrada e caiu. Esta desacordado a semanas.

Bran piscou os olhos várias vezes diante das explicações, claramente tentando lembrar qualquer coisa que corroborasse com as palavras de Robb. Mas ele começou a tremer e empalideceu ainda mais, um pequeno soluço escapou de seus lábios, parecia traumatizado.

— Não lembra? – Pressionou Robb, sem parecer notar a mudança de Bran.

O menino chacoalhou a cabeça de um lado parta o outro, cheio de pavor. Robb passou a mão delicadamente no rosto de irmão.

 – Tudo bem se você não lembrar agora. Uma hora ira. O que importa é que está bem.

— Como você está se sentindo? – Robb perguntou novamente.

 - Estou tonto e enjoado. Me sinto cansado também.

 - Vai se sentir assim por alguns dias. - Meistre Luwin se pronunciou pela primeira vez – Isso acontece, porque durante muito tempo, foi alimentado apenas com agua e mel. Precisara comer bem nos próximos dias, até recuperar as forças. – Sente as pernas, Bran? E os dedos dos pés?

O Meistre fez a pergunta pelo qual Hermione ansiava.

Havia no ar uma expectativa mal contida, como se todos estivesses prendendo a respiração para finalmente descobrir o enigma que os atormentava.

Bran olhou confuso para o Meistre, mas balançou a cabeça afirmativamente.

Robb riu alto, e até as criadas deram vivas e bateram palmas.

O Meistre afastou os cobertores de Bran, e tocou os pés dele, apertando calcanhares e dedos e depois as panturrilhas das pernas.

— Você sente minha mão? – Ele perguntou ao menino.

Bran lentamente moveu a cabeça em concordância.

— Por que vocês estão agindo desse modo? É claro que eu posso me mexer – O menino perguntou olhando em volta atordoado.

— Porque você tinha se machucado. Sua coluna se quebrou. Mas de algum jeito, os deuses decidiram dar uma segunda chance a você.

 - Eu sonhei que não podia andar – Disse o menino num sussurro mais para si do que para os outros. Seus olhos se fixaram desfocados em um canto da sala, enquanto ele parecia pensar no sonho.

 - Tente levantar, vamos – Pediu Robb animado.

 - Acho que não é prudente ele esforçar assim – Alertou o Meistre.

 - Eu posso fazer isso. – Bran insistiu. Ele tinha uma expressão estranha no rosto, como se quisesse se certificar de que realmente conseguia andar.

Robb passou um braço musculoso pelas costas do irmão e o ajudou a sentar na cama, e depois a passar as pernas para fora do colchão. Robb insistiu para que Bran ficasse sentado por um momento, antes de tentar descer da cama.

 - Está pronto? – Perguntou Robb recebendo de Bran apenas um aceno de cabeça em confirmação. - Bem devagar. Tente ficar de pé. Não vou te soltar.

Bran tentou e conseguiu. Suas penas obedeceram perfeitamente ao seu comando, ele deu alguns pequenos passos, mas logo, começou a tremer pelo esforço ficando cada vez mais pálido.

 Robb exultado, pegou Bran no colo e o devolveu na cama aos risos.

 - Tudo bem? – Questionou Luwin.

 - Elas estão queimando e doem – o menino respondendo com uma careta.

 - É bom sinal. Você ficara bem novamente Bran. Em breve – O Meistre olhava para ele com carinho.

 - Onde está a mãe e o pai? – Finamente Bran pareceu se dar conta de que faltava algo.

 - Eles partiram para a capital. O pai não teve escolha senão obedecer às ordens do Rei.

 - Mas e a mãe?

 - A mãe precisou ir ao encontro do pai. Mas estará em casa em breve. Eu prometo.

 - Estou com...

 Foi nesse instante que os olhos de Bran finalmente pousaram em Hermione, que estava ainda parada nos fundos a sala observando a tudo aliviada por sua magia ter ajudado ao menino.

Ele olhou para ela de olhos franzidos e ficou ainda mais pálido, se é que isso era possível. Um silêncio modorrento invadiu a sala, e tanto Robb quando Luwin olharam por sobre o ombro para ver o que tinha roubado as palavras de Bran.

Aos poucos os olhos de menino foram se abrindo e ficaram redondos e grandes como pires.

— Essa é Lady Hermione Granger, Bran – Robb a apresentou ao garoto.

— Eu sei – Ele disse. Seus olhos tão azuis quantos os de Robb, brilhando intensamente para ela – Sonhei com você.


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