A Senhora do Lago escrita por Enypnium


Capítulo 4
Capítulo 3: HERMIONE GRANGER ABANDONANDO A LÓGICA?


Notas iniciais do capítulo

Queridos leitores, eu não tenho palavras para expressar a gratidão pela compreensão e incentivo que recebi de vocês com a reedição dessa estória. Obrigada a todos.

Dedico toda a reedição aos meus leitores: Mille Portinari, Lady Morgana, Anna, MaduBlackfyre, Cerejinha negra, Gabi Felix, Frozen e Niinha.... e para você também, que leu mas não comentou... eu te espero pacientemente.

Espero que gostem...



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Capítulo 3: HERMIONE GRANGER ABANDONANDO A LÓGICA?

 Hermione Granger vivia um dilema. Não muito distante do quarto que ela ocupava, um garotinho estava deitado em sua cama, paraplégico e inconsciente. O menininho de sete anos era filho de seu anfitrião, Eddard Stark, Lorde de Winterfell, Protetor do Norte e agora Mão do Rei de Westeros, o que significava que ele era o segundo homem mais importante do país.

Hermione sabia dessas coisas, porque já estava em Winterfell há mais de uma quinzena, e ela aprendia rápido.

Sua primeira semana no Norte foi a mais angustiante de sua vida. Ela lutava para entender como havia ido parar neste lugar, e especialmente, teorizava maneiras de voltar para casa. No início, ela supôs ter voltado no tempo, mas quanto mais pensava sobre isso, quanto mais aprendia sobre Westeros, menos convencida dessa possibilidade, ela ficava e suas teorias estavam acabando.

Seu anfitrião não fora nada menos do que gentil. Ele lhe ofereceu sua hospitalidade junto com a promessa de uma conversa futura, a qual, ela aguardava ansiosamente, mas então, horas haviam se passado, e depois dias, e ela conjecturou que o trágico acidente do filho devia ter varrido Hermione da mente dele, porque somente muito tempo depois, Lorde Stark a chamou para conversar. Quando isso aconteceu, Hermione estava preparada... “maios ou menos”!

O Lorde Eddard Stark de Winterfell era um homem feito para impressionar. Seu ar severo e ligeiramente frio não deixava dúvidas de que se tratava de um homem a ser respeitado. Na casa dos quarenta anos, ostentava cabelos escuros que batiam em seu pescoço e uma barba que começava a acinzentar. Suas feições eram marcadas por algumas rugas aqui e ali e seus olhos cinzentos-escuros eram duros.

Hermione poderia ter se sentindo intimidada em sua presença se já não tivesse certa experiência com McGonagall e Snape.

Ele estava distraído, estressado sob o peso de suas responsabilidades e preocupado com o filho adoentado. Tratou Hermione como uma garota inofensiva e dispensou a ela uma atenção parcial. Queria apenas saber de onde ela era e como havia ido parar em suas terras, e isso era tudo.

Com uma pitada de audácia, um tico de inteligência e muitos bocados de sorte, Hermione foi capaz de compor uma estória para contar ao Lorde: ela era de Pentos, uma das Cidades Livres de Essos. Órfã de pai e mãe, havia sido mandada ao Continente de Westeros, pelo seu tutor para estudar, mas seu navio havia se perdido e acabaram por ancorar em Atalaia da Viúva, depois disso, sua comitiva decidiu fazer o caminho pela Estrada do Rei, mas infelizmente tinham sido atacados, e ela de dentro de sua liteira, nada tinha visto realmente, e não lembrava como havia ido parar à beira de um lago, nas terras de Winterfell.

Hermione tinha consciência das inconsistências de sua estória, mas era tudo o que tinha a oferecer tendo apenas um mapa para consultar e um tanto de conhecimento sobre história medieval.

Fosse porque Lorde Eddard Stark julgava que Hermione não passava de uma garotinha, fosse porque ele não encontrara motivos que justificassem uma mentira, porque estava sobrecarregado com outros problemas, ou porque não se importava com uma estranha encontrada desacordada em um lago, ele decidiu acreditar nela, e Hermione percebeu, que havia se preocupado desnecessariamente, pois sua recente vivência neste mundo, não parecia interessar a ninguém.  

Ele se ofereceu para mandá-la para casa, mas a oferta foi vaga, feita por alguém com o pensamento em outro lugar, ela supunha que ele até mesmo tivesse se esquecido disso, porque os dias passaram e ela não foi comunicada de nenhum arranjo.

Depois disso, não fora difícil decidiu-se definitivamente em não usar magia em Westeros, mesmo assim, ela mantinha a varinha sempre consigo somente para o caso de uma verdadeira ameaça a sua vida.

Contudo, era em outra vida que Hermione pensava, pois, um garotinho poderia ser beneficiado por sua magia.

E esse era o dilema que ela enfrentava: ajudar um menino inocente ou esconder quem realmente era?

Em verdade, Hermione mal sabia como sua magia reagiria neste lugar, porém, mesmo que ela se decidisse por se arriscar e ajudar o menino, isso ainda seria difícil de executar, porque Brandon Stark não ficava nem por um minuto sozinho. Quando não estava na companhia do Senhor de meia idade o Curandeiro Luwin – também intitulado de “Meistre” - estava rodeado pela família, e a Sra. Stark, a quem Hermione sequer havia conhecido assim como a Bran, não saia da cabeceira da cama do filho, desde a sua queda.

Os pensamentos de Hermione, presos em Bran, foram interrompidos por uma batida a porta, ela puxou o ferrolho para encontrar do outro lado da passagem, outra garotinha.

Era fácil se apaixonar para Arya Stark, especialmente sendo uma Hermione Granger.  Dos Stark que a Bruxa conhecia, Arya fora a primeira a gostar de Hermione. A menina de nova anos, era obstinação, aventura e entusiasmo puro.

— Já estão prontos para partir – Arya contou a ela à porta, com um sorriso que era um misto de tristeza e excitação pelas aventuras que a estrada prometia – Vim me despedir.

Hermione sabia, ela acompanhou os preparativos desde o amanhecer, viu do alto de sua janela, Robb Stark no meio do pátio com neve nos cabelos, gritando instruções na esperança de colocar um pouco de ordem no caos que era as carroças, cavalos e homens que se preparavam para partir ao Sul, com metade da família Stark para servir ao Rei. 

Hermione admitia que estava muito aliviada por ver a Família Real partir, ainda que, genuinamente estivesse triste pelos Stark que seriam obrigados a se separar.

Sua situação em Winterfell já era precária o suficiente, com a ameaça sempre constante de ser descoberta como uma mentirosa impostora ou bruxa mentirosa impostora. Acrescentar a isso a possibilidade de ser considerada uma bruxa mentirosa impostora que ousara chatear um Príncipe, tornava a vida de Hermione em Winterfell, ainda mais angustiante.

Não fora tarefa fácil ou agradável, passar os últimos quinze dias longe do caminho de Joffrey Baratheon - que parecia gostar mais de ser reconhecido como um Lannister -, porque, fosse como fosse, ela sabia que entre os dois quem sairia pendendo seria ela.

E era apenas com gratidão que ela podia retribuir ao Lorde Tyrion Lannister, que tratava Hermione com a mesma delicadeza de quando a defendera do sobrinho, mas nunca chegara a mencionar o incidente em si, ignorando-o como se jamais tivesse ocorrido. Atitude que Hermione decidiu imitar.

— Sentirei sua falta Lady Stark – Hermione falou para a menininha a sua frente, sabendo que o título a irritaria.

— E eu a sua Lady Hermione – Arya devolveu com uma careta zombeteira no rosto.

Hermione abriu os braços e Arya pulou para dentro deles, dando-lhe um abraço apertado.

— Você foi à única menina que já foi minha amiga – Arya disse com a voz embargada.

— E você também – Hermione respondeu com sinceridade. As duas tinham isso em comum. – Vamos, eu te acompanho até o pátio.

Juntas, elas atravessaram o Castelo em direção aos portões da propriedade.

O pátio se esvaziava aos poucos em uma relativa ordem, conforme a comitiva do Rei e os saldados e servos de Winterfell que acompanhariam seu Senhor ao Sul, saiam dos portões como um rio desaguando pela comporta de uma barragem.

Lorde Eddard, as filhas Arya e Sansa e o filho Jon Snow - que estava de partida para o Norte de Winterfell, para servir a Patrulha da Noite, uma antiga Ordem que protegia as terras do Sul de invasões Selvagens, ou algo assim - ficaram para trás para se despedir. Foi triste assistir, do lugar que Hermione ocupava ao lado de Meistre Luwin e Theon Greyjoy, Robb ter que consolar sozinho o irmão de três anos, Rickon, enquanto o pai e os irmãos cavalgavam pela estrada de terra até se afastarem de vista, deixando-os para trás.

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Depois de viver praticamente um mês em um Castelo abarrotado de pessoas, o vazio e o silêncio do palácio, estavam se tornando opressores.

Fazia apenas oito dias que Lorde Stark partira levando consigo muitos nortenhos, mas já havia se tornado solitário viver ali, especialmente para Hermione, que embora fosse tratada com cordialidade e respeito, passava a maior parte do tempo sem ver quase ninguém, exceto os poucos criados que ficaram em Winterfell, e o pequeno Rickon Stark, que se afeiçoara muito a ela, ainda que Hermione achasse que isso se devia ao fato de que ele, assim como ela, passava muito tempo sozinho.

Talvez fosse por solidão, mas Hermione acordara hoje sentindo uma apreensão inexplicável.

Porém, além do óbvio problema, de ela estar presa em uma sociedade medieval, que suspeitava, sequer devia estar conectada ao seu próprio mundo, não havia realmente qualquer motivo para que ela se sentisse dessa maneira.

Mesmo assim, logo após o meio dia, o sentimento havia se tornado tão insuportável, que ela chegou a subir nas Muralhas do Castelo, para olhar além do descampado que se estendia ao redor da Fortaleza, para garantir que nada de ruim estivesse realmente se aproximando. Entretanto, o dia a dia de Winterfell ocorria dentro da normalidade rotineira habitual.

Mas isso não impediu Hermione de passar o dia todo, tocando seu braço direito, para se certificar de que a varinha estava presa em seu antebraço, embaixo da manga cumprida do vestido.

Achando que talvez uma caminhada lhe ajudasse a se livrar da esquisita sensação, Hermione estendeu sua caminhada das Muralhas para Bosque Sagrado.

Em toda a Winterfell, não havia qualquer vestígio de existência de magia, pelo menos não o tipo de magia que Hermione conhecia e praticava, mas o Bosque Sagrado fazia o corpo da garota formigar de um jeito muito familiar, do mesmo jeito que acontecia, quando ela ultrapassava a barreira de proteção mágica que circundava os terrenos de Hogwarts.

Ali, em meio a três hectares de floresta antiga, densa e escura, rodeada de árvores sentinelas, carvalhos, paus-ferro, espinheiros e faias, Hermione quase podia sentir seu sangue pulsar diferente, como se seu corpo reconhecesse vestígios de uma magia secular, esse sentimento ficava ainda mais forte quando ela se aproximava do represeiro, que os Nortenhos chamavam de Árvore Coração.

O represeiro tinha uma casca branca como ossos, e folhas vermelhas escuras, era talvez, a árvore mais antiga de todo o bosque, e tinha um tronco tão grosso que era preciso mais de uma pessoa para abraçá-lo. O curioso sobre a árvore era que em seu tronco, havia um rosto esculpido, o rosto tinha uma expressão melancólica com olhos vermelhos de seiva seca e uma boca retorcida e triste. As Árvores Corações eram sagradas para a religião dos Antigos Deuses, os quais, os Stark reverenciavam.

Era um lugar em que Hermione gostava de ficar, mas às vezes o rosto na árvore a assustava. Contudo, hoje parecia reconfortá-la.

Ela se sentou em um tronco de arvore caído em frente a um pequeno laguinho escuro e frio, o céu acima dela ganhava aos poucos toques alaranjados do anoitecer. Hermione estava aliviada pelo dia que chegava ao fim, tinha esperanças de que uma noite de sono varresse esse anseio para longe.

De repente, sons de passos se aproximavam e ela instintivamente tocou a varinha por cima das roupas, olhando em volta para identificar quem se aproximava.

Era Robb Stark, que caminhava pelo Bosque, com seu fiel lobo trotando ao seu lado. Hermione havia trocado poucas palavras com Robb desde que chegara, e praticamente nenhuma, desde a partida de Lorde Stark.

O rapaz estava sempre cuidado dos assuntos que cabiam ao Protetor de Território e Lorde de Winterfell, mesmo que ele ainda não o fosse (não, enquanto o pai vivesse), na prática, as obrigações do título haviam recaído sobre ele de qualquer modo.

Já seu lobo, Vento Cinzento, era outra história. Assim como aquele Bosque, os lobos que os Stark criavam como bichos de estimação, tinham qualquer coisa de sobrenatural. Hermione podia sentir isso sempre que um deles se aproximava, e eles tinham um estranho comportamento perto dela.

Não era incomum que Vento Cinzento a procurasse pelo Castelo para receber carinho, esses eram os únicos momentos em que o lobo era visto sem Robb. Cão Felpudo, o lobo de Rickon, era sempre arisco com todos os outros, menos com ela, apenas o lobo de Bran, que ainda não tinha nome, não havia se aproximado de Hermione, mas sempre a acompanhava com seus olhos amarelos do pátio, onde ficava noite e dia embaixo da janela de Bran.

Vento Cinzento, se apresou à frente de Robb, ela se abaixou para afagar seu pelo.

— Milady está estragando meu lobo – Disse Robb sorrindo, quando chegou perto o suficiente dos dois – Meus inimigos jamais me temerão, se minha fera balançar o rabo desse jeito quando lhe acariciarem. 

— Então, vamos tomar providencias para que nunca tenha inimigos, meu Senhor – Hermione respondeu, levantando do chão.

— Estive a sua procura essa tarde – Disse Robb.

— Caminhei durante muito tempo pela muralha. Posso lhe ajudar com algo? – Hermione perguntou apreensiva com o motivo pelo qual ele poderia querer procurá-la. 

— Queria apenas agradecer.  – Disse Robb, olhando Hermione nos olhos com seriedade – Sei que tem ajudado Yve a cuidar de Rickon. Ela me disse que ele só se comporta na sua presença.

— Ele é um bom garoto, apenas sente-se sozinho. – Hermione respondeu. Ela gostava de cuidar de Rickon porque assim se distraia de seus próprios problemas.

— Preciso pedir desculpas também – Ele falou meio envergonhado.  

— Pelo que? – Hermione não imaginava pelo que.

— Porque é nossa convidada, mas não tenho lhe dado a atenção que merece, Milady. – Ele disse aquilo com ar de culpa, como se não fosse capaz de cuidar de suas obrigações.

— Não me peça desculpas por isso – Hermione pediu, diante do olhar cansado que ela via em seu rosto – Eu bem sei, que o Senhor está sobrecarregado com tarefas e que mal tem tempo para si.

Diante das palavras dela, Robb ficou em silencio por um momento.

— Já me perguntei mais de uma vez, se sou capaz de dar conta de tudo o que esperam de mim – Ele confidenciou, e de repente parecia um menino crescido com uma espada muito grande para carregar na cintura.

— Pois eu acho que está fazendo um trabalho muito bom. – Hermione disse a verdade, ela ouvia os murmúrios dos empregados e sabia que eles estavam satisfeitos com Robb no comando.

— Eu não acho. Meu pai deixou-me uma ordem com relação a Milady, e eu ainda não a cumpri – Robb respondeu desviando o olhar dela para os sapatos. – Ele me pediu para providenciar seu retorno para casa.

Hermione tremeu internamente. Ela esperava que Lorde Eddard tivesse realmente esquecido disso, mas ele não tinha, pelo visto.

— Lorde Stark, eu realmente gostaria de permanecer em Winterfell se minha presença não estiver sobrecarregando demais ao Senhor.

Robb levantou o olhar do chão para o rosto de Hermione com uma ruga entre os olhos.

— Não esta com saudade de casa?

— Meu tutor não é muito gentil comigo, não me sinto em casa. Não tenho uma para voltar. Não de verdade.

Era apenas uma meia mentira que ela precisava contar. Não sabia o que seria de si, se Robb a mandasse embora. Ali tinha proteção e teto sobre a cabeça, mas como seria em outro lugar de Westeros? Além disso, ela sentia como se permanecer ali, fosse sua única chance de voltar para casa, sua casa de verdade, na Inglaterra.

— Não ouse pensar que nos sobrecarrega – Robb disse quase como uma reprimenda. Seus olhos estavam brilhantes de curiosidade – Se esse é seu desejo, eu estendo com prazer nossa hospitalidade pelo tempo que quiser ficar. 

— Eu sou muito grata por isso. – Hermione respondeu, pensando rápido em outro assunto para desviar a atenção dele de si. - Como tem estado sua mãe?

— Permanece ao lado de Bran, sem se deixar persuadir a sair do quarto. Come apenas se eu a obrigo e praticamente não dorme – Robb suspirou, parecendo ceder a mudança de assunto, embora Hermione notasse um “quê” de suspeita nos olhos dele.

— Senhor Stark, posso lhe dar uma sugestão sobre isso? – Perguntou Hermione, lembrando algo que estivera pensando alguns dias atrás.

— Apenas se parar de me chamar de Senhor. Só Robb, por favor – Ele implorou.

— Apenas se me chamar somente de Hermione – Ela disse, dando-lhe um sorriso que ele retribuiu. Ela continuou – Talvez você... pudesse abordar sua mãe dando-lhe outra perspectiva.

— Como assim?

— Talvez mostrar para ela que ela é necessária para outras pessoas além de Bran. Dê a ela outras atividades.

 - Acha que pode funcionar se ela tivesse outro propósito? – Ele perguntou animado pela primeira vez na noite.

— Acredito que sim.

Robb fixou um olhar em Hermione, ele olhou para ela verdadeiramente, olhou pelo que parecia ser a primeira vez desde que ela chegou a Westeros.

— De onde você vem Lady Hermione? Acho que nunca te perguntei isso – Robb a questionou com aquele brilho de desconfiança que nunca chegou realmente a sair de seus olhos.

Hermione temeu a pergunta dele mais do que havia temido a conversa que tivera com Lorde Eddard, porque dessa vez, havia um Stark que realmente estava prestando a atenção nela.

— De um lugar tão diferente desse que seu eu contasse você não acreditaria em mim – Hermione respondeu com um sorriso enigmático.

Um vento forte varreu a floresta, e o céu deixou para traz o alaranjado e se tornou escuro, Vento Cinzento uivou para a lua.

Hermione esfregou as mãos pelos braços, a ansiedade voltou ao seu âmago.

— Acho que devemos nos recolher, esta ficando frio aqui fora – Disse Robb, atento a Hermione. Ele se virou para sair do bosque oferecendo o braço para ela se apoiar, era antiquado, mas ela aceitou mesmo assim. O calor que desprendia dele aqueceu Hermione um pouco, espantando a sensação de mau agouro.

Robb a levou até a porta de seu quarto, e pegou a mão dela entre as suas. A mão dele estava quente ao toque, os calos feitos pela espada que ele usava todos os dias no pátio de treino, deixavam sua pele áspera, mas a sensação não era ruim.

— Obrigada Hermione. Sua presença em Winterfell me deixa muito contente - Ele levou a mão dela aos lábios e depositou um beijo casto, saindo em seguida pelo corredor ao encontro de Lady Stark.

Hermione fechou a porta atrás de si, e caminhou até a janela abrindo-a para se apoiar em seu peitoril. Ela deixou que o vento da noite fustigasse os fios de cabelo soltos de sua trança simples.

Hermione não conseguia deixar de pensar na estranheza da situação em que se encontrava. Aqui estava ela. Obrigando-se a agir como uma Lady, uma moça de poucas preocupações, quando não a menos de um ano, Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado retornara, ameaçando destruir o mundo que Hermione amava.

Não havia momento que ela não estivesse preocupada com Harry e seus amigos, e com o que poderia ter-lhes acontecido no Ministério da Magia. Eram pensamentos que jamais saiam da sua cabeça e só a idéia, da possibilidade de eles não terem escapado, a enchia de terror. Será que era por isso que hoje ela estava tão angustiada?

De repente, uma mudança na mesmice da paisagem distraiu Hermione de seus pensamentos. Ao longe, uma luz laranja escuro brilhava dentro de uma torre. Hermione demorou um momento para perceber que a luz era fogo, e que o fogo queimava na torre da biblioteca.

Ela correu porta afora, seu primeiro pensamento foi de ir diretamente para os livros, mas seus instintos gritavam outra coisa... algo lhe dizia para correr em direção a torre de Bran.

Hermione vivera tempo suficiente com Harry para respeitar os instintos, assim, ao invés de tomar o caminho da esquerda que a levaria para o pátio e depois para as construções adjacentes, ela tomou o caminho da direta que a levaria aos aposentos privados dos Stark.

A cada passo que dava, as saias do vestido emprestado, se agarravam aos seus tornozelos dificultando seus movimentos, ela fez uma pausa e ergueu a barra do vestido até os joelhos.

Por cada câmara que passava ela sentia a ausência dos guardas que deveriam estar fazendo sua ronda, supôs que eles tinham corrido para a biblioteca.

Quando finalmente ela chegou aos pés da torre de Bran, estava sem fôlego, e suas pernas queimavam pelo esforço, mesmo assim, se obrigou a subir as escadas o mais rápido que pode. Conforme se aproximava do topo da torre, o sentimento de urgência crescia, e aquela ansiedade que sentira o dia todo, fazia seu estomago se apertar.

De repente, se deu conta de que, de algum modo, ela sabia que algo iria acontecer. No fim, estivera esperando por isso o dia todo.

O quarto estava com a porta fechada e completamente silencioso, mas ela tinha absoluta certeza que encontraria algo errado lá dentro.

Sem cerimônia, Hermione empurrou a porta que se abriu para ela sem oferecer resistência.

Imediatamente ela pode ver uma cama encostada na parede dos fundos, onde Bran dormia pacificamente, com nada ao seu redor para perturba-lo.

Por um segundo inteiro, Hermione ficou parada à porta olhando para ele e pensando que seus instintos a tinham enganado.

Mas então ela viu... alguns metros afastados da cama próximo a uma janela... uma luta silenciosa acontecia.

Um homem estranho, pequeno e magro levava à garganta de uma mulher ruiva uma adaga. A faca estava a apenas centímetros da pele pálida e exposta do pescoço dela. A mulher levantou as mãos e agarrou a lâmina com força para afastá-la de si, mas a adaga afundou em sua carne, cobrindo tudo de sangue rapidamente, fazendo a lâmina afundar ainda mais no corte.

Nenhum dos dois registrou sua entrada no aposento e Hermione aproveitou a deixa. Ela correu até o homem e usou toda a sua força para puxar a mão que segurava a adaga para longe da Senhora.

O estranho, pego de surpresa, cedeu com facilidade a pressão. Hermione não esperava por isso e o impulso a desequilibrou fazendo-a cair de costas no chão de pedra. Ela acabou levando o homem consigo e ele caiu por cima dela. Hermione ficou sem ar com o peso dele a esmagando, e sua cabeça batera com tanta força que ela ficou momentaneamente cega.  

Com uma agilidade surpreendente, o estranho se desvirou e conseguiu prender Hermione no chão, mantendo uma perna de cada lado do corpo dela.

— Não devia tar aqui – Ele disse, estupidamente.

O assassino levantou a adaga e desferiu um golpe em direção de Hermione, mas ela conseguiu se desviar bem a tempo, a faca passou a apenas centímetros do seu rosto. A lamina acabou ficando presa no chão, milagrosamente enfiada na fenda de argamassa, que segurava as pedras juntas.

Ele tentou puxar o punhal ainda preso e Hermione aproveitou sua distração e atacou cada parte do corpo dele que conseguia alcançar, dando-lhe socos e tapas e tudo o mais que conseguisse. Ele foi obrigado a desistir de tentar libertar a faca; fechou a mão em punho e desferiu um soco no rosto de Hermione.

Ela sentiu que alguém havia apagado as luzes, quarto e assassino rodopiaram em um borrão a sua frente. Ela ficou imóvel, perdendo toda a força nos membros.

O homem voltou sua atenção para a adaga, ele precisou fazer uma força considerável para puxar a lamina para fora da fenda e com isso o corpo dele aliviou um pouco a pressão que fazia em cima de Hermione.

Finalmente, depois do que pareceram horas para ela, mas que não foram mais do que segundos, Hermione conseguiu focar novamente na luta.

Ela sentia que lagrimas escoriam de seus olhos e sua cabeça latejava barbaramente, mas a despeito da dor, uma onda de fúria se apoderou dela e de algum jeito Hermione conseguiu reunir forças para empurrar o sujeito para longe de si e finalmente se desvencilhou dele, engatinhando para longe.

Obrigando suas pernas bambas a obedece-la, ela se pôs de pé, se agarrando nos moveis que mal conseguia enxergar.

O infeliz ainda estava no chão e ela desferiu um chute no estomago dele, mas isso não o impediu de também se levantar.

Enquanto ela parecia ter corrido uma maratona, ele respirava quase que normalmente.

Atrás de Hermione a Sra. Stark, havia finalmente levantado do chão, onde passara os últimos minutos em completo choque. Com as mãos vertendo sangue preocupantemente, ela foi até a cama e atirou o corpo em cima de Bran, numa tentativa clara de impedir que o homem fizesse mal ao seu filho.

Agora que os dois estavam de pé, os olhos miúdos do assassino corriam de Bran para Hermione e depois para a porta, ele parecia indeciso.

Hermione se deslocou para se por entre Bran e ele, e suas alternativas diminuíram.

A garota estivera evitando isso desde o momento em que chegara. Revelar-se era a ultima coisa que ela queria, mas não havia escolha, ele ainda tinha a adaga na mão, e mesmo muitíssimo magro, ainda era mais forte do que ela, e infelizmente, não parecia convencido em parar o ataque. Talvez ela tivesse que “convencê-lo”.

Ela deixou a varinha escorregar do braço para a mão, e estava se preparando para enfeitiçá-lo quando uma sombra deslizou pela porta aberta.

Um ruído surdo e baixo, menos que um rosnado foi ouvido no quarto, e no exato momento em que os olhos dele fizeram a dança de Hermione para a porta, o lobo de Bran saltou sobre ele.

Homem e animal se reviraram no chão até que a besta ganhou a batalha ficando em cima do homem, na mesma posição que o assassino havia prendido a moça há poucos minutos atrás, só que agora quem estava por cima era uma fera de dentes enormes e olhos amarelos.

O lobo tinha os dentes expostos e rosnava assustadoramente, e antes que Hermione pudesse ter qualquer pensamento, o animal abaixou os dentes para a garganta do outro e arrancou um pedaço.

A cena era brutal, e ela sentiu o estomago revirar enquanto olhava a besta dilacerar a pequena criatura.  

O lobo finalmente soltou a garganta do assassino, e não sobrou muito para se ver, era apenas uma poça de sangue no chão com pés que ainda se debatiam, enquanto o sangue fazia um barulho horrível quando saia da garganta estraçalhada.  

O lobo se aproximou de Hermione, ele a farejou e em seguida com a língua úmida e áspera, lambeu a mão dela, a mão que ainda segurava a varinha ao lado do corpo. Hermione pensou que deveria sentir medo, mas o medo realmente não veio, porque ela nem se sentia presente na mesma sala que o animal, era como se os dois estivessem em mundo diferentes, como se Hermione visse o lobo através de um vidro leitoso, a única coisa que parecia real era o homem morrendo no chão, de quem ela se sentia incapaz de desviar o olhar.

O lobo se afastou de Hermione saltou para cama de Bran e deitou-se ao lado dele. A Sra. Stark desatou a rir histericamente.

— Você salvou meu filho, você o salvou, você o salvou, salvou – Lady Stark falava em meio ao riso histérico.

Hermione ouvia as palavras da mulher vindas de um lugar muito distante. Ela sentiu uma forte tontura, e alguém passou um braço por sua cintura, mas ela não viu quem, só conseguia olhar para o sangue, todo o sangue, que escorria do homem e fazia um caminho sinuoso da garganta exposta até chegar a seus tênis, e o mundo se apagou a sua volta.

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Hermione nunca tinha visto um homem morrer e esperava nunca mais ver novamente. Não importava que tipo de pessoa ele tivesse sido em vida, a morte dele tinha sido horrível, e ele morreu devagar, muito devagar.

Ela sabia disso, porque o corpo dele convulsionou, pelo que pareceram horas, embora ela soubesse racionalmente que não deveria ter sido mais do que segundos. Não importava realmente, segundos ou horas havia sido lento demais.

Ela sentia-se culpada, terrivelmente culpada, porque se tivesse usado magia, teria imobilizado o homem, e então, teriam prendido ele em alguma masmorra. Ela não sabia como era feita a justiça nesse lugar, mas supunha que até uma vida em uma prisão era melhor do que aquilo.

Os dias que se seguiram depois do ataque passaram em um borrão. Hermione não conseguia dormir a noite, a visão do homem se debatendo estava impressa em sua retina. O sono não vinha e a comida lhe dava náuseas.

Ela nunca tinha sentido um desejo tão forte de voltar para casa, como nos dias que se seguiram depois disso.

Contudo, a única mudança de cenário fora a mudança de quarto. Hermione fora removida da ala reservada aos visitantes e recebera aposentos nas dependências particulares dos Stark. O cômodo era uma variação maior e mais confortável do antigo.

Para se distrair, ela se ofereceu para ajudar na remoção dos livros que puderam ser salvos da antiga biblioteca, que fora incendiada no dia do ataque, para uma nova câmara dentro do próprio palácio e era exatamente isso que ela fazia agora.

A biblioteca tinha queimado consideravelmente, e a melancolia de Hermione só aumentou, quando ela viu a quantidade de livros que foram perdidos para sempre.

Em meio ao cheiro de fumaça e cinzas ela fizera três pilhas, uma para os livros irremediavelmente queimados, uma para aqueles que tinham sofrido danos, mas que ainda podiam ser copiados, e uma para os livros que não tinham sido comprometidos. Essa última pilha era muito, muito menor.

Enquanto fazia o trabalho mecânico que não exigia muita atenção, seus pensamentos vagaram para aquilo que rastejava pelo seu subconsciente desde o dia que chegara a Westeros, mas que não tinha prestado muita atenção, até então: Brandon Stark.

Ela não conseguia parar de pensar no quanto ela estava vivendo duas vidas, a vida na Inglaterra ao lado de seus pais e amigos, e a vida que tinha agora. As duas vidas eram distintas em muitos aspectos, mas ainda assim, havia uma coisa que era a mesma nas duas.

Ela conhecia dois meninos cuja mães se sacrificaram para protege-los.

Assim como Lílian Potter, que morreu em frente ao berço de Harry por não permitir que um sádico matasse seu bebe, a Sra. Stark havia lutado contra o mesmo destino para o seu Bran.

O resultado final era muito diferente, mas as semelhanças eram tantas que abalaram Hermione.

Era apenas curioso, que ela tivesse ido parar em Winterfell no mesmo dia que o menino caíra de uma torre, mas se havia uma possibilidade de isso ser apenas uma coincidência, havia outras coisas que não eram.

Se ela parasse para pensar, ela não tinha tirado Bran da cabeça nem por um segundo, mesmo com seus próprios problemas para se preocupar, mesmo quando ela sequer o conhecia.

Outra coisa incomum era aquele sentimento de algo errado que ela tivera no dia do ataque, a sensação de ansiedade nervosa que a perseguiu incessantemente e que desapareceu assim que ela abriu a porta daquela torre.

Se havia uma coisa da qual Hermione Granger se orgulhava, era de ser perfeitamente lógica, mas não tinha nada de lógico em tudo o que tinha acontecido com ela até então, e mesmo assim, ela sentia como se essas coisas fossem tão certas quanto todos os fatos que permeavam seus livros de estudo.

Se antes ela estivera em dúvida, agora tinha certeza. Ela ajudaria Bran com sua magia como pudesse.

Hermione passou o resto daquele dia organizando os livros e quando Meistre Luwin chegou no final do dia, ela já tinha praticamente a metade da biblioteca separada em pilhas. Ele, admirado com seu trabalho a dispensou para o jantar.

Hermione voltou para o Castelo e subiu até a torre de Bran para fazer o que já devia ter feito há muito tempo.

A Sra. Stark havia sido levada para seu próprio quarto na noite do ataque. Tinham cuidado dos cortes nas mãos dela que foram profundos o suficiente para, talvez, tirar a mobilidade de alguns dedos, depois disso, tinham-na colocado para dormir, e ela já dormia continuamente por quatro dias seguidos.

Agora Bran passava a maior parte do dia sozinho, exceto pelo Meistre que vinha verificá-lo uma vez ao dia e Robb, que sempre passava para lhe dar um beijo de boa noite.

O sol estava se ponto, o que dava a ela ainda algumas horas antes de Robb visitar o irmão, então ela marchou escada a cima até chegar ao topo da torre.

No quarto, Bran permanecia inconsciente junto com seu lobo de estimação. Quando Hermione entrou no aposento, o lobo se afastou indo se deitar próximo ao fogo que ardia na lareira, como se ele soubesse que ela iria precisar de espaço para o que estava prestes a fazer.

Ela se aproximou de Bran e tirou as cobertas de cima dele, depois afastou a camisa que ele usava um pouco para cima, para expor seu abdômen.

Ele estava muito magro, dava para ver suas costelas debaixo da pele pálida. Ela via os ossos quebrados de sua coluna, e as pernas que ficavam dobradas em um ângulo estranho.  Ele tinha duas lesões, uma na cabeça e outra na coluna.

Ela nada poderia fazer pela lesão na cabeça, e nem se atreveria, traumas desse tipo requereriam um conhecimento mais aprofundado em medibruxaria, que ela não tinha, mas a coluna ela podia concertar, com a mesma facilidade com que podia curar um nariz quebrado.

E foi nisso que concentrou sua magia. A varinha deslizou do braço para sua mão, e ela apontou o objeto para o menino, sentindo o poder familiar formigar seus dedos, era como voltar a respirar depois de quase morrer por falta de ar.

— Episkey – Disse Hermione, e da varinha o feitiço saiu exatamente do jeito que deveria e atingiu Bran. Por um segundo, ela pensou que não iria funcionar, mas em seguida, os ossos dele começaram a ondular debaixo da pele e ela viu as pernas dele se endireitarem e sua coluna se emendar, e soube então, que Brandon Stark voltaria a andar.


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