Logo que o capitão James Kirk acionou o terminal de vídeo da sua mesa notou os sinais de tensão estampados no rosto do vice-almirante Vael, um centauriando de pele escura e olhos claros. Eles já se conheciam há muito tempo, desde que Kirk fora seu aluno na Academia da Frota, no curso de Tática Aplicada.

— Olá Jim – disse o oficial, cumprimentando-o.

— Almirante – respondeu Kirk.

—  Há oito horas o Chanceler do Alto Conselho Klingon contatou o Conselho da Federação informando que uma nave renegada deles havia deixado seu  território e cruzado a zona neutra invadido o nosso espaço, em  violação do Tratado de Orgânia (1). Ele solicitou que nós ajudássemos a capturá-la. – disse Vael sem rodeios – Esta é a nave que vocês abordaram.  Quais são as condições dela e do seu piloto?

— A espaçonave está inoperante – respondeu Kirk – ela foi atingida por disparos pesados de disrruptores e seu motor entrou em colapso. O piloto está muito ferido e, segundo o oficial médico da nave, em estado crítico.

O almirante Vael olhou para o capitão, demonstrando certa irritação.

— Recebemos ordens do Conselho para colaborarmos com os klingons nesta questão – disse o oficial – eles estão enviando um cruzador de batalha, sob salvo conduto, para se encontrar com a Enterprise.

O capitão olhou preocupado para Vael.

— Vamos escoltar uma nave de guerra klingon em nosso quintal? – perguntou Kirk – com que propósito?

— O comandante da nave vai lhe informar sobre toda a situação quando vocês se encontrarem – respondeu o almirante – resolva isso o mais rápido possível para podermos ver logo estes sujeitos pelas costas.

— Sim senhor – respondeu Jim Kirk.

Depois que Vael fechou o canal, o capitão ainda fitou a tela escura por alguns segundos, preocupado. Não tinha bons pressentimentos sobre essa missão.

*  *  *

— Capitão! Um cruzador klingon classe D7 (2) acabou de se descamuflar bem à frente da Enterprise, a menos de quinhentos metros da nossa proa. – disse o alferes Checov – Nossos escudos estão levantados e  armas em prontidão.

Enquanto o alerta vermelho soava, os oficiais da ponte olhavam apreensivos para a grande ave de guerra que preenchia boa parte da tela.

Após alguns momentos tensos, o russo verificou seu painel tático e disse a Kirk:

— Senhor, eles estão com as armas desativadas.

— Capitão – disse Uhura – estamos sendo saudados.

James Kirk olhou para seu imediato. Ele já havia colocado os oficiais da ponte a par da conversa com o almirante Vael e sobre as ordens que eles receberam.

— Cancelar alerta vermelho e as armas, mas mantenham os escudos – disse o capitão por fim – Uhura, ponha na tela.

A imagem da nave klingon sumiu, sendo substituída por um rosto agressivo que já era conhecido do Capitão Kirk.

— Kang! (3) O que significa isso? – disse o capitão, sorrindo irônico – eu não esperava vê-lo novamente.

O olhar do comandante Klingon ficou sombrio e ele mostrou os dentes, com raiva.

— Estou ciente disso – respondeu o klingon – e não estaríamos aqui se o motivo não fosse justo e urgente. Precisamos nos reunir com urgência.

O capitão Kirk encarou a tela por alguns instantes. Finalmente disse a Kang:

— Transporte-se para minha nave e conversaremos.

O oficial klingon assentiu.

— Pode me transportar em cinco minutos – respondeu ele – estou enviando as nossas coordenadas.

E fechou o canal.

— Será que isso é prudente capitão? – perguntou Spock.

— Vamos descobrir em alguns minutos – respondeu Kirk, já se encaminhando para o turbo-elevador.

Referências do Capítulo:

(1) O Tratado de Paz de Orgânia é um acordo assinado pela Federação Unida dos Planetas e pelo Império Klingon, que colocou um fim a um longo período de agressões mútuas entre os dois governos. Neste tratado foi fixada a fronteira entre o Sistema Klingon e o espaço da Federação, com a criação de uma Zona Neutra entre eles.

(2) Os Cruzadores klingon Classe D7 são as naves de retaguarda da Força de Defesa Klingon, com amplo arsenal de armas para longas batalhas. Possuem dispositivo de invisibilidade, disruptores potentes, torpedos fotônicos, como também velocidade de Dobra. Estas naves são amplamente usadas para defender o Império contra ataques. Seu design inspirou as naves de guerra romulanas.

(3) O Comandante Kang foi atacado por um poderoso ser chamado Beta XII-UMA, que destruiu sua nave. A U.S.S Enterprise resgatou os klingons sobreviventes, que tentaram tomar a nave. A entidade controlou ambas as tripulações, fazendo com que lutassem, até que ambos os lados descobriram que a cooperação e o fim das hostilidades eram os únicos modos de sobreviverem (Star Trek, Série Clássica, 3ª Temporada, Episódio 7 – “O Dias da Paz”).