O Incidente Delthara escrita por Valdir Júnior


Capítulo 12
Xeque




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Spock colocou o seu comunicador sobre a mesa, logo após falar com o capitão Kirk, e olhou mais uma vez para o terminal do computar, sentindo-se cada vez mais frustrado. “O que é ilógico” pensou para consigo mesmo. Porém por mais que ele soubesse que perder a calma não iria ajudar em nada, não conseguia deixar de se sentir assim. “Ainda bem que o Dr. McCoy não está aqui. Ele iria adorar ver o meu sofrimento”, concluiu.

O vulcano já havia feito de tudo para acessar os arquivos que o tenente Dax encriptara, depois de o sistema não aceitar qualquer comando vocal. Sua primeira opção foi tentar fazer uma interface do computador com o seu tricorder (1), mas os sistemas não se conectaram. Depois tentara manipular fisicamente os chips isolineares do equipamento. Também não adiantou.

O oficial não dormira desde que chegaram ao planeta e sua única alimentação havia sido duas tigelas de sopa Plomeek (2) e algumas porções de uma saborosa salada centauriana, que a Dra. Juelin, diretora do Instituto Cochrane, mandara preparar especialmente para ele. Mas como comumente ocorria quando estava muito concentrado em alguma coisa, ele se esquecia de comer. Por isso sua última refeição fora feita há quase onze horas. E estas longas horas de vigília e jejum já estavam começando a pesar, mesmo para sua resistente fisiologia vulcana.

Ele decidiu levantar-se para esticar os músculos já doloridos. Sair da frente do terminal e caminhar um pouco pelas instalações do Instituto poderia ajudá-lo a arejar a mente e pensar em uma alternativa para solucionar o seu problema. E talvez fosse produtivo conversar com algum dos cientistas e técnicos do complexo.  A própria Dra. Juelin poderia auxiliá-lo de alguma maneira.

Foi até o intercom que estava na parede ao lado dos sintetizadores e ligou para sala da diretora.

— Diretoria. Assistente Renisenb falando – respondeu uma voz feminina – posso ajudá-lo em algo comandante?

— Gostaria de conversar com a Dra. Juelin.– disse o vulcano.

— Ela não está no escritório no momento – respondeu a assistente – mas sei que não demora a voltar. Não gostaria de esperá-la aqui?

— Será muito oportuno – disse Spock – você poderia me orientar como eu chego aí?

— Não estamos muito longe de onde o Sr. está - foi a resposta - Basta sair do laboratório, seguir à direita até os turbo elevadores (3) e...

A comunicação foi cortada de forma repentina. Intrigado, Spock tentou restabelecer o contato, mas o intercom permaneceu mudo. Conectou outros canais, com o mesmo resultado. Resolveu voltar ao terminal de computador, para usar seu comunicador portátil. Já estava a meio caminho quando ouviu o ruído típico de um teletransporte em andamento e em seguida três homens encapuzados se materializaram ao seu redor. Estavam armados com disruptores e os apontavam diretamente para ele.

— Não se mexa comandante – ordenou aquele que estava mais à frente – e fique com as mãos onde possamos ver.

Spock avaliou os três de forma objetiva. Estavam bem focados nele e era bastante improvável que pudesse fazer alguma coisa antes de ser alvejado. Decidiu que deveria conhecer melhor a situação antes de tomar qualquer atitude. Levantou as mãos devagar.

O líder do grupo caminhou até o terminal onde o vulcano estivera sentado e olhou para o monitor. Vendo ele que ainda estava travado, recolheu o comunicador de Spock e o jogou no chão, esmagando-o com o salto da sua bota.

O homem virou-se novamente para Spock, dizendo de forma firme:

— Agora você vai nos acompanhar.

Neste momento o comunicador dele apitou. Ainda mantendo os olhos no vulcano, ele o acionou para responder.

— Informe – ordenou ele.

— Senhor – foi a resposta – perdemos o sinal deles na área do parque e não conseguimos localizar mais.

— Muito bem, aguardem – continuou o líder – vamos subir em seguida.

Assim que desligou, ele voltou-se para os outros dois homens e determinou:

— Vasculhem este lugar para ver se acham alguma coisa de útil antes de levarmos nosso prisioneiro.

Quando os homens começaram a se movimentar pelo laboratório, relaxando um pouco a atenção sobre ele, Spock decidiu que esta seria a sua melhor e talvez única oportunidade para agir.

Dando dois passos largos o vulcano alcançou o encapuzado que estava mais próximo a ele, que até tentou reagir, mas já era tarde. O comandante o atingiu com um golpe com a palma da mão no queixo, de baixo para cima, tirando-o do chão alguns centímetros. Ele caiu desacordado. Outro atacante, que estava à sua direita, foi na sua direção, começando a levantar a arma para atirar, porém o oficial da Frota foi mais rápido e virou o corpo, aproveitando o impulso para sair da área de tiro, ao mesmo tempo em que girava sua perna, acertando o nariz do sujeito com o calcanhar e jogando-o de costas de encontro ao terminal holográfico, de onde escorregou para o chão, fora de combate, deixando seu disruptor cair. Quando viu seu companheiro ser derrubado, o último atacante atirou na direção do vulcano, mas Spock já havia se movido e saltado em direção à arma que estava no chão, rolando sobre si mesmo em uma cambalhota. E assim que alcançou o disruptor, completou o giro e se colocou de joelhos e atirando, atingindo o homem no peito.

Toda a ação havia durado menos de trinta segundos. Seus longos anos de treinamento em técnicas de Suus Mahna (4) com o mestre Sobek, em seu planeta natal, mais uma vez o ajudaram.  

O vulcano olhou os três atacantes caídos, preocupado. A situação estava tomando rumos inesperados e graves. Alguém estava se esforçando para que eles não cumprissem a missão. Sabia que precisava entrar em contato com o capitão Kirk, para informar o ocorrido e colocá-lo em alerta. Mas primeiramente iria descobrir quem eram as pessoas que o atacaram.

Aproximou-se do homem que ele atingira no peito, abaixou-se e puxou para baixo o capuz que estava escondendo as feições. E a surpresa o deixou momentaneamente paralisado.

Diante dele esta um rosto que, para um observador desavisado, poderia parecer pertencer a um vulcano. Apesar de terem as mesmas orelhas pontudas, os traços duros e os vincos suaves na testa, além das armas que usavam, deixavam poucas dúvidas da sua origem.

— Romulanos! – disse Spock, preocupado.

Ele sabia que se o Império havia decidido fazer uma incursão tão dentro do território da Federação, então a missão da sua equipe se tornara muito mais delicada. Tinham que descobrir porque Romulus estava se arriscando a iniciar uma nova guerra, enviando agentes a Alpha Centauri. Provavelmente eles tinham algo a ver com o sumiço do tenente Dax, já que vieram diretamente ao laboratório onde ele trabalhava. E certamente aqueles que atacaram Kirk, Sulu e M’Ress também eram  romulanos ou estavam a serviço deles.

Contatar o capitão agora se tornara urgente. Spock revistou o romulado e pegou seu comunicador. Tinha que ter cuidado e tentar sintonizar a frequência da Frota. Sabia agora que os romulanos certamente tinham uma nave em órbita do planeta e qualquer erro poderia alertá-los.

Spock ainda estava agachado examinando o aparelho quando ouviu as portas do laboratório se abriram às suas costas. E antes que ele pudesse se levantar e virar-se foi atingido por um tiro de disruptor. Tentou se manter acordado, mas foi impossível. Sentindo dores por todo o corpo, desabou de bruços no chão. Depois tudo escureceu.

 

 

Referências do Capítulo:

(1) O Tricorder é um aparelho portátil de várias funções, combinando computador, sensor e gravador, que inclui uma pequena tela. Mede, analisa e grava uma infinidade de informações, podendo inclusive interagir com outros sistemas computacionais. Encontrado em várias versões, de acordo com as diversas especialidades: o tricorder médico analisa órgãos internos de seres vivos, o de engenharia analisa materiais etc.

(2) A Sopa Plomeek é um prato tradicional nas refeições matinais em Vulcano. É feita com especiarias locais e seu principal ingrediente é o plomeek, um vegetal muito comum no planeta.

(3) Os Turbo Elevadores são equipamentos utilizados para se deslocar dentro das instalações da Federação e entre os decks das naves da Frota Estelar. Obedecem a comandos vocais de quem os utiliza e comumente são capazes de se deslocar tanto na vertical quanto na horizontal.

(4) O Suus Mahna é a mais mortal e detalhada arte de combate vulcana e tradicionalmente somente pode aprendida por Vulcanos. Seu golpe mais mortal é o Tal-shaya, o toque vulcano morta, que quebra instantaneamente o pescoço do oponente e só pode ser usado em situações extremas. A primeira a ensinar noções do Suus Mahna a não vulcanos foi a comandante T´Pol (na serie “Enterprise”).


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