Living With The Death - O Começo escrita por Hellica Miranda


Capítulo 8
Controle não pode controlar




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Já era muito tarde quando as coisas ficaram sob controle.
Carl ainda estava inconsciente, mas já estava respirando bem, e em algum tempo estaria bem melhor.
Eu estava me sentindo um pouco tonta e enjoada, mas fora avisada que seria normal.
Por isso não me levantei da cama por um bom tempo.
Não demorou muito para que eu caísse no sono.
Acordei com Hershel e Carl conversando.
— Ally é incrível. Ela salvou... ela salvou a minha vida. – Carl pronunciou com dificuldade.
— Acho que a gente vai ter um casal melhor que Maggie e Glenn por aqui logo logo. – Hershel brincou.
Carl riu baixinho.
— Hershel. – chamei. 
— Ally? Você acordou, querida.
— Eu estou bem. – disse. – Carl?
— Estou bem também. – ele disse. – Obrigado, Ally.
— Eu estarei lá fora. – Hershel disse, antes de sair.
— Obrigado. – Carl repetiu. – Hershel me contou o que fez por mim. Como agiu.
Eu desci de minha cama e me sentei ao seu lado.
— Foi minha culpa. Eu sinto muito.
— Ele é... Ele é seu pai de verdade?
— Eu me lembrei da foto. É ele. Eu não queria que fosse. Eu esperava... Eu não me lembro o que eu esperava dele. 
Carl riu.
— Eu sinto muito sobre isso.



***





— Ally. – Carl chamou, na cama embaixo da minha.
— Hum?
— Eu estou muito cansado de ficar aqui.
— Eu sei. Porque também estou.
— Vamos dar o fora?
— Eles iriam brigar conosco.
O lance era o seguinte: Carl e eu tínhamos que ficar de repouso naquela cela por tempo ilimitado.
Ordens de Hershel – e de Rick.
— Eles não nos veriam, necessariamente. A gente sai, mas depois... Voltamos.
— Que rebeldia, Carl Grimes. Que rebeldia... – fingi estar indignada. – Estou dentro.
Saímos ajudando um ao outro a caminhar.
Meu braço estava sobre o ombro de Carl, e o mesmo a respeito dele.
Não era uma coisa muito racional de se fazer, porque a qualquer momento cairíamos um em cima do outro e esmagaríamos nossos ossos.
— Fico me perguntando – Rick disse, atrás de nós. – Quem está ajudando quem a caminhar...
Carl e eu rimos e nos viramos para ele.
— Eu tinha certeza que não ficariam mais uma hora lá dentro. Se tivesse apostado com alguém...
— Com certeza teria ganhado, Rick.
— Garotos... eu acho melhor descansarem.
— Argh. Por que não param de me dizer isso?
— Porque você nunca obedece. – Rick respondeu.
— Eu não preciso descansar tanto. Não sou um tipo de donzela vitoriana ou algo assim. 
— Mas vive se esforçando de mais, ajudando de mais. Desde que chegou aqui, você não parou para nada.
— Fiquei um tempão presa dentro daquele bloco com pessoas doentes. Fiquei em repouso naquela cela com Carl, por... Dois dias?
— Vocês precisam de pelo menos mais dois. Não estão totalmente bem. Para começar, olhem pra vocês andando. É pedir de mais que fiquem só um pouco quietos?
— Sim. – respondemos em uníssono.
— Vocês são inacreditáveis.
— Vamos levar isso como um elogio, Carl. – sugeri.
Ele assentiu.
— Agora voltem para descansar.
— Como está Judith? – mais uma vez falamos em uníssono.
— Estão me assustando com essa coisa de falar juntos. A transfusão fez uma conexão sobrenatural com vocês? Algo como isso?
Nós rimos.
— Não. – respondi. – Acho que não.



***





Eu já estava dormindo quando Carl me chamou novamente.
— Ally
— Sim?
— Você não... Não se parece com ele.
Eu sabia do que ele estava falando.
Do meu pai.
O homem que matara pessoas do próprio acampamento, que brincara com suas vidas como se fossem marionetes. 
A maior ameaça para o nosso grupo.
— Eu me pareço com a minha mãe. Um pouco. Pelo menos pelas lembranças que tive
— Estou dizendo... É que ele é mau. Ele fez coisas ruins para as pessoas.
Ele mantinha uma filha walker e ele cuidava dela.
— Uma... Uma o quê? Uma filha walker ?
— Sim. Michonne a matou e depois... Depois ela furou o olho dele.
— Michonne matou a garota? A... a minha irmã?
— Não. Ela já era uma walker 
— Que tipo de louco deixa um... Um walker em cativeiro? – falei.
Era uma pergunta que não precisava de respostas. 
Era óbvio de mais.
Ele a amava. Por isso a deixara ali, na esperança de que, de alguma forma, ainda fosse ela. Ainda fosse a sua filha.
— Ally. Você está me ouvindo?
— O quê? Desculpa, eu estava... distraída. 
— Você acha que ele vai vir atrás de você?
— Não... Não sei. Você acha que ele viria?
— Ele parecia determinado a ficar com você.
Ainda que Carl não estivesse me vendo, eu assenti.
— E se ele vier... Se ele destruir esse lugar por minha causa?
— Vamos defender você. A menos que... Que queira ir com ele.
Uma nova pressão na cabeça me fez fechar os olhos.


"— Ally, seu pai não fazia o tipo certinho. Ele tinha uma namorada quando nos conhecemos. Eu estava na universidade e ele estava noivo. Um certo dia... Ele me convidou para jantar. Era minha ultima semana por lá, eu ia voltar para o Brasil e viver com os meus pais. E ele me disse que estava se separando da namorada. Eu estava apaixonada, por isso acreditei.
— Você foi a amante dele?
— Ally, não fale assim. Foi apenas uma noite. No dia seguinte eu descobri que ele havia mentido. Voltei para casa no mesmo dia. Mas pouco depois eu descobri que estava grávida. Foi um choque. Eu mandei uma carta para ele, contei que estava grávida. E disse que não queria que ele se metesse nisso.
— Ele pelo menos... Pelo menos quis assumir o que fez? Cuidar de mim?
— Ele me ligou. Perguntou se tinha certeza do que estava pedindo. Eu disse que tinha, que queria que ele vivesse a vida dele, porque eu iria cuidar de você. Ele não protestou. Disse que se essa era a minha vontade, ia ser desse jeito.
— Você não estava falando sério quando pediu isso a ele, não é?
Ela riu.
— Estava. Nunca falei tão sério em toda a minha vida, Ally. Era sobre você.
Eu já te amava no momento em que descobri. Entende? Consegue entender? Talvez ele tivesse sido um bom pai. Mas eu imaginei que um homem que trai a própria noiva, e mente para outra mulher, nunca seria um bom exemplo para uma criança. Para o meu filho, ou filha. 
— Por que não me falava dele antes? Por que nunca falou? Nunca respondeu minhas perguntas?
— Eu não achava que estivesse pronta. Eu não acho que esteja pronta ainda.
— Como ele se chama?
— Ally, olhe para mim. – ela segurou meu rosto nas mãos. – Não precisa saber disso. Não agora. Não será algo bom pra você.
— Eu tenho direito, não tenho? Talvez ele... Talvez um dia ele tenha desejado me conhecer. Ele não sabia onde te encontrar, sabia? Por isso ele não veio, talvez ele tenha tentado me encontrar, mãe.
— Está sendo muito, muito dura, Ally. Ele não quis. Se quisesse... Teria buscado contato comigo antes. Algum dia. Ele nunca tentou.
"


— Não quero ficar com ele. – respondi.
— Então... Se ele tentar alguma coisa, tenho certeza que todos aqui irão te defender.



***




Houve um abalo dentro da prisão.
— O que diabos? – Carl perguntou.
Carl, Maggie, Beth e eu saímos correndo para o lado de fora.
Ao mesmo tempo, Tyreese, Daryl e Rick surgiram correndo conosco.
— O que é isso? – perguntei.
— Para trás! – Rick gritou.
Nos escondemos atrás da mureta para observar nossa nova ameaça.
— Rick! Venha até aqui! Nós precisamos conversar! – era a voz daquele homem. Do meu pai.
E ele estava em cima de, nada mais nada menos, do que um tanque de guerra.
— Carl... – eu disse.
Ele olhou para mim.
— Fique atrás de mim.
— O que ele quer?
— Não cabe a mim! – Rick gritou de volta. – Há um conselho aqui agora. Eles comandam esse lugar.
— Hershel é do conselho? – ele gritou e fez um gesto para uma mulher ao seu lado. Ela tirou Hershel de dentro de um carro vermelho. – E a Michonne também? – Michonne foi tirada de dentro do carro. – Ela também é do conselho?
— Eu não tomo mais decisões! 
— Você tomará as decisões por hoje, Rick. Venha até aqui e... Vamos ter uma conversa.
Michonne e Hershel estavam amarrados, de joelhos do outro lado.
— Ele vai mata-los? – perguntei.
— Ally, fique calma, tudo bem? Tudo ficará bem. – Carl disse, pousando sua mão em meu ombro.
Rick olhou para Daryl, que assentiu, encorajando-o.
Rick caminhou até Carl.
— Passaremos por isso, tudo bem?
Carl assentiu.
Eu sabia que não iriamos.
— Ally, tudo ficará bem. – Rick disse, olhando pra mim. 
— Não vai acontecer de novo, querida. – Maggie disse, quando percebeu que eu chorava. – Nós estamos aqui agora, Ally. E vamos cuidar de você.
Carl segurou minha mão.
Rick abriu o portão e caminhou até aquele homem. Que talvez se chamasse Philip.
— Não podemos contra todos eles. Vamos pela saída principal e saímos pela mata, como planejado. Estamos em um número menor. Quando checaram o que temos no ônibus? – Daryl perguntou. 
— Antes de irmos ao Big Spot. Tínhamos pouca comida. Como agora. – Sasha respondeu.
— Vamos arrumar algum jeito. – Daryl disse. – Se a coisa piorar, vamos todos para o ônibus. Avisem a todos. 
— E se não souberem quando ir? – Tyreese questionou. – Por quanto tempo vamos esperar?
— O quanto nós pudermos. – Daryl respondeu.
A nossa frente, Rick já estava frente a frente àquele homem.
Não era possível ouvir muito.
Mas entendi quando ele disse "Vocês têm até o pôr-do-sol para sair daqui. Ou eles morrerão.", "Nós temos mais pessoas, mais poder de fogo. Nós precisamos dessa prisão."
— Carl... Eu posso tentar mudar isso. Talvez... Talvez se eu for com ele... Se eu ao menos falar com ele, eu posso tentar. 
— Não. – ele protestou.
— O que está dizendo, Ally? – Maggie perguntou.
— O Governador é meu pai. – respondi.
Maggie arregalou os olhos e ficou boquiaberta.
— Ah, meu Deus.
— Abra o portão para mim. Por favor. 
Maggie hesitou, mas assentiu.
— Ally! Ally, não! – Carl gritou, enquanto eu corria pelo gramado em direção a Rick. E ao meu pai.
— Ally. – ele disse, esboçando um sorriso.
— Não precisa fazer isso. – eu disse. – Não precisa.
— Nada vai acontecer a você. Eu prometo, filha. Eu só preciso do lugar.
— Temos crianças aqui. – Rick disse. – Algumas estão doentes. Elas não vão... Elas não vão sobreviver.
— Eu tenho um tanque. E estou permitindo que vá embora. Você tem uma escolha. O que mais nós temos pra conversar? Eu poderia atirar em vocês. Vocês revidariam, eu sei disso. Mas nós venceremos e vocês morrerão. Todos vocês. Exceto uma. Exceto Ally. Mas não precisa ser desse jeito.
— Ninguém precisa morrer! – protestei. – Nenhum deles! Nenhum deles precisa morrer... pai.
— Como eu disse, Rick vai escolher isso. Ele decide.
Dois walkers vinham se aproximando.
Aquele homem atirou neles.
— O barulho só atrairá mais deles para cá. Quanto mais esperar, mais difícil será para saírem daqui. Talvez só tenhamos uma hora de luz restante. Sugiro que comecem a empacotar.
Hershel assentiu, encorajando Rick.
— Quanto mais você demora... Mais difícil será para sair daqui. 
— Podemos todos... Podemos todos viver juntos. Temos lugar suficiente para todos nós. 
— Mais que o suficiente. Eu sei disso. Mas creio que a minha família não se acomodaria sabendo que você está sob o mesmo teto. 
— Viveríamos em blocos diferentes. Nunca teríamos que nos ver até que estivéssemos prontos.
— Pode funcionar. – Hershel disse. – Você sabe que pode.
— Poderia, mas não pode. Não depois de Woodbury. Não depois de Andrea.
— Olhe, não estou dizendo que será fácil. Na verdade será... Será até mais fácil do que ficarmos aqui atirando uns nos outros. Mas não acho que temos escolha. 
— Nós não. Você tem. 
— Nós podíamos formar uma família. – eu disse. – Eu poderia conhecer você melhor. E você me conheceria também. Você não gostaria?
— Nós vamos. Vamos nos conhecer, Ally. Basta que fique ao meu lado.
— Basta que você aceite ficar com todos nós.
— Você não pertence a eles, Ally. Não faz parte do grupo.
— Sim. Eu faço. Eu não pertenço a isso. – apontei para eles. – Eu não faço parte desse grupo. Estamos sugerindo a paz. Enquanto vocês querem que todos nós estejamos mortos, para terem esse lugar. Mesmo sabendo que amanhã mesmo pode deixar de seguro.
— Não queremos todos vocês mortos, filha do Brian. – um outro homem armado no tanque disse. 
— Brian?
— Esse é meu nome, Ally. É só uma das coisas que pode descobrir sobre mim agora. Há muito que precisamos saber um sobre o outro. 
— É o que estou pedindo. Que abaixem as armas. Que desistam de lutar. Que fiquemos todos juntos. Podemos nos unir, ficar mais fortes. Podemos ser sobreviventes ainda melhores, encarar situações mais difíceis. Juntos. Unir nossas armas. Poderíamos funcionar como uma grande família. Um ajudando o outro. O passado precisa ficar no passado. Consegue ver isso? Não vamos poder ir para a frente pensando no que aconteceu no passado. Eu não tenho mais o meu computador. Nem o meu quarto. Eu não sei onde está a minha mãe. Não tenho mais a minha casa para voltar. Isso, esse lugar é a minha casa agora. Eu não tenho mais uma família para reunir aos fins de semana. Porque não temos mais fins de semana. Mas essa é minha família agora. Estamos vivendo assim, nós nos protegemos, gostamos uns dos outros. Essas pessoas que está tentando matar... Essas pessoas que está ameaçando. Hershel, Michonne, eles são parte da minha família agora. E se você ameaça toda a minha família, está me ameaçando também.
— Esse lugar pode continuar sendo a sua casa, Ally. Mas essas pessoas, não são sua família. 
— Eles são minha família. 
— Eles precisam sair. – Brian disse.
— Não vamos sair. – Rick disse. 
Eu me juntei a ele, parando ao seu lado.
— Não vamos. – reforcei.
— Você pode tentar. Seremos obrigados a revidar. Como você mesmo disse. Os tiros atrairão mais deles. Eles irão derrubar as cercas. Sem elas esse lugar é inútil. Entretanto... Podemos todos morar na prisão. Ou então nenhum de nós morará.
Brian pulou do tanque e pegou algo com um homem nos carros.
A espada de Michonne.
— Podemos consertar a maldita cerca.
Ele segurou a espada abaixo do pescoço de Hershel.
— BRIAN! BRIAN, por favor! Não precisa fazer isso. Eu faço o que quiser, o que me pedir. Mas não o mate. Não mate o Hershel!
Ele me ignorou.
Senti as lágrimas rolarem pelos meus olhos.
— Hershel. – lamentei.
Ele esforçou um sorriso para mim.
— Obrigado, Ally. 
Eu comecei a chorar de verdade, soltando pequenos soluços.
— Não. – protestei. – Brian, não. Não faça isso. Por favor, não faça, não faça isso, pai.
— Você! Você de rabo de cavalo! – Rick chamou. – É isso que você quer? É isso que vocês querem?
— O que nós queremos é o que você tem. – o cara careca no tanque respondeu. – Ponto final. Hora de sair, idiota.
— Já lutei com ele antes. E depois acolhemos seus antigos amigos. Eles se tornaram lideres no que temos aqui. Agora abaixem suas armas, atravessem os portões. E seja um de nós. 
Todos no grupo se entreolharam.
Como se aquilo parecesse justo para eles.
— Esqueceremos tudo isso. E ninguém precisa morrer. Todos que estão vivos agora. Todos que chegaram até aqui. Todos fizemos os piores tipos de coisas. Só para nos mantermos vivos. Mas ainda podemos nos redimir. Não fomos longe de mais. Não para que não pudéssemos mais voltar. Precisamos nos redimir. – Rick disse. Hershel sorria, visivelmente orgulhoso de tudo que ele dizia. – Eu sei. Todos nós... Todos nós podemos mudar. 
Brian olhou para Hershel e segurou a espada na frente do corpo. 
— Mentiroso. – ele disse, e brandiu a espada em direção a Hershel.
— NÃO! – eu gritei.
Foi a cena mais dolorosa que já presenciei.
A cabeça de Hershel pendeu em seu pescoço, e atrás de nós, Maggie e Beth gritavam.
O corpo de Hershel, já todo ensanguentado, caiu de lado.
— VOCÊ É UM MONSTRO! – gritei.
— NÃO! – Rick gritou, atirando contra Brian.
Atrás de nós, já estavam atirando também. 
E no grupo de Brian, tanto quanto.
— ALLY! VOLTE! VOLTE PARA DENTRO! TOME CUIDADO! – Rick gritou.
Eu não conseguia fazer nada além de chorar.
— Não. Não. 
— VÁ!
Rick e eu corremos, mas ele foi atingido por uma bala na coxa.
— CORRA, ALLY!
Eu entrei correndo. Todos já estavam atirando.
Daryl jogou uma arma enorme para mim, e eu quase caí com seu peso.
Maggie e Beth choravam ainda mais do que eu.
— ALLY, VOCÊ ESTÁ BEM? VOCÊ PRECISA ATIRAR! – Carl disse.
Eu não conseguia fazer algo além de chorar.
Brian pegou a espada novamente, e com mais força, atirou-a inúmeras vezes contra o pescoço de Hershel, que ainda estava vivo.
Sua cabeça separou-se do corpo, e eu gritei novamente.
— VOCÊ É UM MONSTRO! MONSTRO!
Do outro lado, uma mulher apareceu, segurando uma criança ensanguentada no colo.
Ele se levantou e foi até ela.
Os tiros ainda soavam, Carl estava a minha frente, e eu não conseguia mover nenhum musculo do meu corpo.
Brian se aproximou da mulher e tomou a criança no colo.
Ele a olhou por um segundo, e depois atirou em sua cabeça.
— ATRAVESSEM A CERCA COM O TANQUE! ARMAS EM PUNHO! VAMOS ENTRAR! MATEM TODOS ELES! – ele ordenou.
— ENTENDIDO! MEXAM-SE! – o rapaz no tanque gritou.
Carl virou-se rapidamente para mim.
— Você precisa atirar. Ally, faça alguma coisa, por favor. – ele segurou meu rosto entre as mãos. 
— Eu não queria... – solucei, abraçando-o.
— Nenhum de nós. Mas agora é necessário. Você precisa lutar, certo? Vamos lutar. 
— Eu não quero morrer. Eu não quero que você morra. Não quero... Não quero que ninguém morra.
— Fique comigo. Certo? Não vá a lugar algum, não se afaste. Eu vou cuidar de você. Como eu prometi. 


"Estava só recuperando algumas lembranças. Por isso ficou mal. Temos que ter atenção com ela, certo?
— Sim. Eu vou cuidar dela.
"


O tanque começou a atravessar a cerca, e junto com ele, as pessoas do grupo de Brian invadiam a prisão.
Levantei a arma que Daryl jogara para mim, e comecei a atirar.
Eu iria lutar. Não importava se eu fosse morrer. Se aquele homem, o meu pai, fosse morrer.
Eu morreria lutando.
Por aquele lugar. 
Por aquelas pessoas.
Quando o tanque atravessou a segunda cerca, me senti mais insegura.
Não podia atirar por nada.
Teria que ter um alvo.
Teria que ter alguém. 
E esse alguém teria que ser Brian.
— Vamos, Ally, pra trás, vamos um pouco para trás. – Carl me puxou.
Várias pessoas do grupo de Brian já caiam sem vida no chão.
— Estou sem munição! – Beth gritou.
— Corra para o ônibus! Eu vou cobrir você!
O tanque bombardeou uma das janelas da prisão.
— Vão! Saiam daqui! – Tyreese gritou em meio aos tiros.
Eu pude ver Rick se jogando contra Brian e socando-o no rosto.
O tanque já estava dentro.
Mas Brian parecia estar mais forte.
Ele revidou, empurrando Rick, e o atingiu inúmeras vezes, fazendo com que seu rosto sangrasse.
— RICK!
A briga continuava, bem como o tanque, que permanecia avançando.
Os tiros também prosseguiam.
Duas pessoas já haviam caído no chão com tiros que saíram da minha arma. 
Eu queria acertar Brian.
Queria vê-lo caindo com um tiro da minha arma.
Parece frio. Mas era a minha vontade.
Aquele homem não era meu pai.
Aquele homem era meu inimigo.
Várias pessoas já corriam para dentro do ônibus.
A prisão estava começando a ser invadida também pelos walkers .
Era o fim.
Eu algum momento eu seria baleada, ou mordida.
Iria morrer e a maneira como isso aconteceria era o de menos.
Não haviam muitos restantes do grupo de Brian.
Uma mulher e um senhor se aproximavam atirando.
Atirando contra Tyreese.
Ele se jogou em meio às plantas, mas os dois ainda atiravam.
E então o homem foi atingido na cabeça.
Eu me virei para ver quem o tinha acertado.
Lizzie?
Lizzie e Mika seguravam armas enquanto as outras crianças corriam.
A mulher então cometeu o maior erro de sua vida.
Ficou surpresa.
Lizzie a atingiu na cabeça também, e ela caiu no chão. 
Tyreese se levantou.
— Carl! – gritei. – Precisamos ir! Eu acho que já saíram com o ônibus!
Ele se virou para olhar.
A briga entre Rick e Brian prosseguia.
Eu queria ajudar.
Mas se saísse de onde estava, seria pega por um walker , ou uma infinidade de outros perigos.
Brian estava a ponto de matar Rick quando eu notei Michonne se aproximando.
Sua Katana atravessou o peito de Brian e eu fechei os olhos.
Não por pena, compadecimento, nada do tipo.
Satisfação.
Alívio.
Eram essas as palavras.
Eu estava satisfeita e aliviada.
— Ally, vamos. – Carl disse, me puxando.
— Carl, onde está Judith?
Ele não me ouviu.
— Carl, o seu pai!
— CARL! ALLY! CARL! CARL! ALLY! CARL! – podíamos ouvir os gritos atrás de nós.
Carl e eu corremos em direção aos gritos.
Dois walkers estavam na nossa frente.
Um deles usava uma camisa com a frase "Eu sou um bom papai" desbotada e toda cheia de sangue.
Pensei no quão bom ele podia ter sido por seus filhos.
Carl atirou nos dois e vimos Rick a nossa frente.
Carl correu até ele e os dois se abraçaram.
Rick pingava sangue.
Pela boca, pela testa, das orelhas, das mãos, do nariz...
— Judith. – ele disse.
— Ah meu Deus. – sussurrei.
— Cadê ela? – Rick perguntou.
— Eu não sei. – Carl respondeu.
Os dois se abraçaram novamente e começaram a caminhar.
Eu precisava achar Judith.
— Vamos. Ally, vamos! – Carl gritou.
— Eu vou encontra-la. Não se preocupem. Caso eu não os encontre depois. Eu vou cuidar de Judith.
— Não, Ally! Você vem conosco.
— Eu preciso. – disse e saí correndo.
Parei segundos depois, quando vi a cadeirinha de Judith.
Eu me abaixei para olha-la.
Não havia nada ali.
Nada além de muito sangue.
Carl e Rick se aproximaram.
E os dois começaram a chorar.
Não pude deixar de chorar com eles.
Carl atirou contra um walker que se aproximava.
walker caiu, mas ele permaneceu atirando.
Enquanto sua arma tinha balas, ele atirou.
— Carl! Carl! – Rick gritou, e correu até ele, o abraçando por trás.
Carl chorava, cada vez mais alto.
— Temos que sair daqui. Nós temos que ir. Acabou. Acabou.
Eram cada vez mais.
Cada vez mais walkers .
Invadindo nosso lar.
Nunca mais estaríamos juntos.
— Não olhem para trás. Carl, Ally, não olhem para trás. Só continuem andando. – Rick disse.
Eu parei, o que fez com que eles parassem também.
— Carl, consegue ajudar seu pai sozinho?
— Acho que sim, o que foi?
— Eu vou pegar a Judith.
— Ally... – ele tentou protestar.
— Olhe para mim. – pedi, segurando seu queixo. – Eu vou encontra-la. Eu prometo. Ela está viva. Eu vou protegê-la. E nós vamos nos encontrar de novo, Carl. Eu prometo. Certo? Eu prometo.
— Ally, não...
Tarde de mais.
Eu voltei correndo em direção à prisão.  

 


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