Lolita escrita por desireebaker


Capítulo 5
Nypd




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771030/chapter/5

“A minha Lo tinha ainda mais medo da polícia do que eu -, e, quando os amáveis polícias nos perdoaram e nós partimos servilmente, as pálpebras da minha querida fecharam-se e palpitaram, enquanto ela fingia grande prostração”.

 

 

O capitão Cragen ordenou uma força tarefa para finalmente encontrarem o lugar exato onde Dolores Haze estaria. Como havia muito em jogo – afinal a condenação do nojento escritor de teatro dependia do depoimento de uma vitima – todos os agentes estavam focados no aparecimento da menina. De Tutola até Benson, todos compartilhavam a mesma língua: a da justiça. Fosse com nojo ou raiva, ódio ou impaciência, aqueles agentes estavam certos que da prisão, Clare nunca mais sairia.

 

 

O sol despertou de fininho na residência alugada dos Haze. Com o roxo claro pintado ao redor dos olhos, Dolores carregava-se com passos tímidos até o banheiro, afim de tomar um banho. Não havia pregado o olho um minuto sequer, nem em um daqueles leves embalos do começo da manhã, onde a brisa matinal adentrava pelas frestas e abraçava seu corpo nu, fazendo-a relaxar. Seu coração estava à mil por vários motivos, sendo eles: medo de Humbert, desejo de fuga e seu primeiro dia de aula.

Os alunos velhos começariam apenas depois, mas Haze e um punhado de meninas em calças praticas, teriam que ir mais cedo para conhecer o colégio e suas atividades. Humbert a deixaria em paz pelo menos, já que assumiria o posto de professor em uma universidade consideravelmente perto dali. Pelo menos, ela pensou, com as mãos em um sanduíche, Humbert não ficaria a perturbar seus pensamentos por algumas horas. Quando a escola começou a ser seu lugar favorito no mundo, Dolores Haze?

 

Na delegacia, Benson e Stabler puxavam da cadeira seus casacos pesados, com uma possível lista de endereços à seguir. Em Nova York havia mais ou menos quarenta escolas apenas para meninas. Na cidade, o numero caia para dezenove. Dessas, cinco realmente mostravam os requisitos necessários para uma aluna como Dolores: aceitavam alunas fora de época e com notas medianas. Enquanto os parceiros se concentravam em visitá-las, Fin e Munch se dedicavam a pesquisar casas recentemente alugadas nessas cinco distintas áreas e faculdades onde o ingresso de um novo professor de origem francesa se fizesse visível.

 

Com suas trancinhas ruivas, batom nos lábios e o casaco pesado, Dolores Haze revirara os olhos aos pedidos de abraço ao pai na porta da instituição. Não é que ela não era amável, vejam, ela apenas o odiava muito para querer tocá-lo como se fossem amigos. Aquilo, ela pensava, era o que ela havia visto em uma revista de adolescente: um relacionamento onde apenas uma parte gostava. Um “crush” bizarro, onde a definição terminava com as cores de um relacionamento abusivo. No fundo, Dolores sabia que estava sendo abusada. Havia lido sobre isso, visto nos noticiários, presenciado na sua escola palestras sobre. Mas, ela tinha tanto medo da policia – Humbert havia apavorado a sua pequena como um profissional que era – que sabia, não tinha para onde ir, não poderia ir de volta para sua família na California que ninguém a aceitaria por ser uma menina “ruim” e “suja” e terminaria em uma instituição para menores de idade, onde cortariam seu cabelo, acabariam com sua maquiagem e rasgariam suas saias delicadas. Em sua mente, ela estava melhor com Humbert do que com o Estado.

As duas primeiras escolas na qual foram, não haviam recebido carta alguma de Beardsley ou de Humbert pedindo para Dolores Haze ser aceita em sua instituição. Na terceira escola, perto do Queens, no entanto, a diretora sorriu ao ouvir o nome da pequena.

— O pai dela a deixou aqui hoje cedo – a senhora afirmou, sorridente – É uma menina formidável.

— Podemos vê-la?

— Mas é claro, detetives – ela se levantou, buscando o calendário de aulas das novatas – Sabe, ainda sou muito grata por vocês terem feito aquela palestra aqui, anos atrás. Quando vão voltar para outra? Nossas meninas precisam de atenção.

— Em breve, prometemos – Stabler disse, sorrindo pelos olhos como sempre fazia. Benson, que estava logo atrás, foi a primeira a se movimentar quando a diretora lhe disse onde a sala da pequena estaria localizada.

No fundo, eles não precisavam correr, sabiam. Pois, Dolores já estava na mão deles.

Com sua saia rodada e blusa branca, Dolores conversava com uma menina na qual já havia lhe cansado muito. Ela por si só estava muito pensativa e pouco carismática, porém tentava estabelecer laços para se mostrar simpática no novo território. Assim como ela, Penny também tinha o cabelo ruivo e uma ardente curiosidade pelo sexo oposto, que lhe era repremido incansavelmente pelos pais, religiosos. Quando viram, estavam discutindo sobre garotos e seus segredos enquanto pintavam com tinta guache, um desenho da época renascentista.

— Droga – Dolores suspirou alto, assistindo a tinta verde cair sobre sua saia – Putain, ça schlingue! Minha droga de saia nova!

Penny, assustada com as palavras em Frances que soavam muito mal em seus ouvidos, arqueou as pestanas, vendo Dolores a pular com a borda da saia toda pintada, pedindo a permissão da professora para ir ao banheiro.

— Só não demore – a moça disse, sem sorriso ou carisma. Assim como Dolly, ela havia tido uma noite muito ruim. Não por causa de um amante incansável ou suas duvidas cotidianas, mas porque ela não tinha ninguém.

Correndo pelos corredores do terceiro andar, Dolores quase trombou de frente com os dois agentes, que sorriram quando ela passou, sem pedir desculpas. No chão o rastro verde da tinta escorrida do tecido molhado, mostrava que ela estava com uma pequena emergência.

— Parece minha filha quando eu a deixava brincar com guache – Stabler pontuou, sorridente – Minha casa parecia uma zona de guerra. Nunca sabia se era tinta vermelha ou sangue.

— Se eu tivesse crianças, proibiria. Ando muito cansada, não sei se eu teria coragem de limpar um chão cheio de tinta depois de um dia de trabalho.

— Kathy disse a mesma coisa antes de tirar o guache da mão das crianças.

Batendo na porta da sala, a professora fingiu um sorriso cordial. No fundo, havia se afeiçoado a imagem do agente Stabler, que para uma moça carente, era tudo que necessitava.

— Dolores? – ela balançou a cabeça – Não sei o nome das meninas, mas ela deve estar aqui.

— Dolores era a que derrubou a tinta nela mesma – Penny respondeu após acompanhar com o olhar e ouvidos a conversa – Ela saiu agora mesmo.

 

 

Limpa, limpa, limpa, tira a mancha, tira a mancha, tira a mancha. Essa droga não quer sair, merde! C'était ma jupe. Ma nouvelle jupe! Saia estúpida, meu pai vai me matar. Droga, droga, droga!

— Problema com tintas? – Benson perguntou com o tom polido de agente treinada, parada perto do espelho do banheiro das meninas. Dolores mirou-a ainda sussurrando nos dois idiomas que tão bem conhecia, levemente presa ao problema recente. Não queria ficar com uma saia suja no primeiro dia de aula. Além disso, seu pai iria se enfurecer com aquilo – Quer ajuda?

— Não, merci – ela sacudiu a cabeça, sorrindo – Desculpas. Eu fico falando em francês comigo mesma e esqueço que estamos na América.

— Fala francês em casa? – vagarosamente, Benson se aproximava da pia onde a menina havia feito uma molhadeira. Havia água com resquícios de tinta verde por todo o mármore e a menina, debruçada, havia levantado a saia até onde podia-se enxergar por detrás da meia fina preta, a costura da calcinha com detalhes em florzinhas.

— Meu pai fala – pontuou, agora prestando atenção na moça de cabelos castanhos do seu lado. Por um minuto, achou que era alguém do colégio ou a diretora, que já nem lembrava mais a face. Mas, do nada, mirou sua arma presa na sua cintura e largou a saia instantaneamente. Benson percebeu – Eu tenho que ir.

— Para onde você vai?

— Para a sala de aula, claro. Para onde a senhora acha que eu vou?

Benson sorriu.

— Vamos conversar em uma sala de aula vazia, que tal?

Dolores sentiu o frio da espinha a possui-la. Os policiais iriam tirá-la de Humbert e ela não tinha mais Clare para fugir com. Ela iria para um lugar ruim onde as meninas e meninos iriam torturá-la e ela perderia tudo, tudinho, tudo que ela já não tinha. Ela iria desejar estar morta e quem sabe, se mataria. O desespero tomou conta de si, mas por saber muito bem se controlar, Dolores apenas balançou a cabeça, deixando o banheiro a correr. Sem perceber, esbarrou com Stabler que a segurou pelos ombros.

— Sua saia ainda está suja, Dolores!

Levando a mão a boca, dando passos para trás, Dolores encostou na parede afim de escapar daquela situação. Dentro de si, ela se sentia presa e tudo parecia desmoronar. Quando percebeu, estava a chorar lágrimas calmas que fugiam sem alarde, assim como ela um dia.

— Dolores, queremos apenas conversar – Benson se abaixou, mirando com carinho a adolescente à sua frente.  – Não queremos seu mal.

— Eu não quero conversar – falou com tons de agressividade – Eu não quero mais ficar aqui! Eu quero voltar para a sala de aula!

— Dolores...

— Meu pai vai vir atrás de vocês! E ele vai me matar se souber que eu falei com vocês!

— Dolores – Benson pegou na mão da menina, cuidadosamente – Eu prometo que ele não vai te matar ou nem mesmo te tocar, está certo?

Ela retirou a mão, apertando-a forte contra o peito.

— É mentira de vocês! Ele vai sim! Ele sempre vai – e ela desmoronou em lágrimas, caindo sobre os ombros da agente que já tinha visto aquela situação antes, com outras meninas. Dolores era apenas mais uma vitima de abuso, como tantas outras que conheceu, uma menina apavorada, com medo de alguém que um dia prometeu-lhe cuidar e não abusar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lolita" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.