O sol batendo em suas costas o deixava, de certa forma, mais forte. Cada fibra do seu ser não apenas aproveitava aquele momento – mesmo que breve e com as roupas que o cobriam – como também absorvia os raios solares para não se sentir cansado ou fraco durante suas atividades durante o dia. Ficar de um lado para o outro pela cidade, muitas vezes atravessando o país por conta de alguma matéria ou “furo de reportagem” com relação ao que não era comum, seu chefe faltava joga-lo para longe quando algo do tipo surgia. 

Aquele momento em especifico não era para se estressar e sim, aproveitar. Sua família tinha enchido a sua paciência para aproveitar o final de semana na mansão Hale, uma reunião calorosa e que, de acordo com as palavras de sua mãe, Talia, deveria aproveitar e ver suas irmãs e prima, além de encarar seu pai novamente. 

E ali estava ele. Olhando para o enorme jardim no fundo da mansão e vendo sua irmã mais nova correndo até ele, se jogando em seus braços e rindo quando o quase derrubou no processo. 

Mas ela não conseguiria derrubá-lo. Cora era forte, mas Derek tinha um detalhe que o diferenciava de toda a família. 

— A mamãe está furiosa com você, não é? — Indagou e Derek apenas suspirou, rolando o olhar e vendo a ansiedade na face de Cora, essa que aguardava uma resposta — Vamos lá, sei o que aconteceu eu vi a notícia saindo no jornal da cidade — Comentou, se soltando dos braços de Derek e o mesmo apenas franziu o cenho. 

— Mamãe não pode falar muito quando você e a Laura saíram escondidas para caçar e saíram em uma festa de adolescentes mundanos, irmãzinha — Deu de ombros, soltando o fato da qual se lembrava ao ter chegado em Beacon Hill’s, mas pela feição assustada de Cora, a senhora Talia Hale não sabia de nada — Eu não vou contar, não se preocupe com isso — E dando uma piscadela, Cora fingiu acreditar nele. 

— E ela queria que você participasse da caçada, para proteger a gente de outra alcateia que passasse por perto da gente, não ter riscos e tudo mais — Argumentou, passando por Derek e o puxando para dentro. 

Estava fresco e o frio do cômodo o fez arrepiar levemente. Não gostava do clima que aquela mansão trazia, quase como se fosse amaldiçoada ou algo do tipo, mas viver com lobos era assim, o sobrenatural era palpável até mesmo no ar. Algumas estatuas antigas traziam ainda mais o clima de “Vampiro, a máscara” e os quadros de “Mansão Hill”.  

— Vocês sabem se proteger sozinhas, mas ninguém mexeria com vocês sabendo que ninguém adentrou nosso território à vinte dois anos — Falou, vendo sua irmã franzir o cenho para si — Não querendo soar arrogante e nem nada do tipo, mas vocês sãos as lobas mais forte que já vi por toda a América — Elogiou. 

Esse era um dos momentos que Derek conseguia ver sua irmãzinha ficar vermelha e seus olhos ficarem na cor amarelada brilhante, o lobo dela deveria estar de orelhas baixas e envergonhada. 

O sobrenatural o acompanhava desde pequeno e não era algo que ele negou e fugiu, não tinha o poder de licantropia como suas irmãs, seus pais ou prima. Para falar a verdade, ninguém tocava no assunto de Derek ser adotado e ter sido encontrado no meio da reserva de Beacon Hill’s, essa que ficava por parte sendo protegida pela família Hale. Vinte e dois anos atrás e nenhum lobo adentrou o território deles desde então. 

— Ser a loba mais poderosa do país não chega no tamanho do título “homem mais poderoso da Terra” — Comentou, sem graça. 

Nesses momentos que a autoestima da sua irmã caçula ir pro espaço. Se diminuir por ser a mais nova, por Laura ser a próxima a liderar a família no futuro e Derek sempre proteger as pessoas com sua habilidade não “comum”. 

— Todos falaram de você na escola, mostraram suas fotos com o garoto do último ano e as meninas só falavam de você... — Resmungou — E alguns colegas da aula de álgebra queria o seu número... Elas nunca falaram comigo e vieram pedir o número do irmão gostosão da Cora... 

— Eu não sou gostosão... — Fez uma careta e Cora não gostou nem um pouco de ser interrompida — Olha, não teve como passar ali na sua escola e não ter feito nada, Coralzinho — Sussurrou, carinhoso para com ela, bagunçando seu cabelo levemente e vendo a face triste da mesma — Eu já passei mais ou menos por isso quando eu e Laura estudávamos juntos — Contou. 

Era desagradável vários garotos mais velhos que ele pedirem o número de Laura ou até mesmo algum segredo da irmã, tipo um diário? Era, ainda mais quando ele era usado apenas para outros se aproximarem da Hale mais velha. 

Mas, felizmente, Laura sabia se defender e assustar cada um deles. 

— Não fale isso como se fosse fácil, Derek — Voltou a resmungar — Pelo menos... Pelo menos aquele garoto que você salvou não está se gabando como a maioria das pessoas que você salva... 

— Coralzinho... 

— Não me chame dessa forma, você sabe que eu não sou mais um filhote — Resmungou, se afastando e andando na frente. 

Se ela estava chateada, Derek sabia como animá-la. Andando depressa e chegando perto da caçula, ele nem esperou ela se assustar ao ser pega pela cintura e ser levantada para longe do chão, carregada nos ombros de Derek e gritar com medo, o xingando de vários nomes e na maioria dos gritos, rosnando. 

— Me põe no chão! — Gritou e Derek apenas deu uma risada, girando no ar. 

O detalhe da qual o tornava diferente da família de lobos e do mundo sobrenatural? Ele não era um humano comum, não era dali. Derek Hale não era um humano. 

— Porra! Me coloca no chão! DERE—! Chão! Agora!  

— Apenas se você me desculpar e retirar a fala que eu sou gostosão! — Rebateu, dando risadas e sua irmã choramingava e rosnava — Temos a tarde toda, levo você até Planeta Diário se isso não adiantar! 

— Você é idiota, feio que doí! Agora me coloca no chã—!  

E ele a deixou cair um pouco antes de a pegar novamente, a deixando “a salvo” no chãi que tanto pediu e pela face irritada e os socos que ela dava em no braço de Derek, aquilo não foi nem um pouco divertido para ela. 

— A mamãe já disse mil vezes pra você não voar em casa, seu pedaço de pulga! — Rosnou e ele a segurou pela cabeça a afastando e socar o ar com raiva. 

— A mamãe não vai saber que eu voei em casa, Coralzinho — Sorriu, a soltando e dando um peteleco na testa da mais nova — Vamos, mais animo, nem parece que nunca gostou de voar quando era menor que uma cadeira. 

As vantagens de ser o irmão do meio era que era esquecido na maioria das vezes, sobrando sempre para a mais velha ou a mais nova, por isso Cora apenas desmanchou a cara de mal humor costumeira e sorriu fracamente, negando com a cabeça enquanto seguiam rumo a sala de jantar. 

O almoço estava sendo colocado na mesa e quem justamente os esperava ali era a mãe deles. Talia Hale. Braços cruzados, o olhar vermelho brilhando e uma face séria no rosto, o claro sinal de que tanto Derek como Cora estavam ferrados. Mas ela não deu bronca nenhuma e logo os dois se juntaram a grande mesa, indo aos seus lugares de cabeça baixa. Não demorou muito e Laura já tinha chegado junto com o pai deles.  

O momento em família se seguiu com poucas palavras, o suco de laranja preferido dele estava até ali... Parecia que ele tinha voltado a ser criança novamente e sem o capuz vermelho com a grande responsabilidade nos ombros. Bebeu o suco de laranja e a nostalgia aguçou todos os seus sentidos. 

— Quando você vai trazer a Lois para cá, querido?  

O nariz dele ardeu quando engasgou com o suco, tossindo e sentindo alguns tapinhas nas costas como “apoio”. Quem fez aquela pergunta? Não poderia ser ninguém menos que sua adorável mãe, ela até mesmo olhava ansiosa para uma resposta. 

— Sem drama, sei que você vai desviar do assunto como sempre — Falando sério, ela bebericava seu refrigerante e ainda o encarava. 

— Quantas vezes eu vou ter que repetir... Eu e a Lois não temos nada, nunca nem ficamos juntos e somos apenas colegas de trabalho, só — Falou, batendo no peito. 

Era o que faltava, o que poderia acontecer de pior naquele dia? 

— Mãe, o Derek não gosta da Lois — Laura a interrompeu e ele a olhou, agradecido — Ele tá afim de um garoto da escola da Cora — Completou. 

— Eu o quê?  

— Querido, por que não me disse que gostava de garotos? — Talia o olhou, frustrada e irritada por talvez ser a última saber das coisas. 

— Desde quando eu gosto de um garoto? Faltou a parte da pessoa interessada saber, não é? Espera só um instante, essa pessoa sou eu! — Rosnou para Laura e ela apenas deu de ombros. 

Ótimo, ficou pior. 

— Para mim, Derek nunca me enganou — E o pai deles se pronunciou pela primeira vez, o senhor Marcus Hale parecia mais interessado que Cora naquela conversa. 

— Vamos parar com esse assunto, sim? — Resmungou, mexendo no prato e o afastando. 

Respirando fundo, em cinco minutos a família dele inteira conseguia constrange-lo com um assunto como aquele. Pegou até mesmo os óculos falsos que usava e o colocou no rosto, já pronto para se retirar e ir para o seu antigo quarto. 

— Mamãe, eu tenho até um vídeo com o garoto que ele salvo — Laura provocou e o olhar assassino de Derek nem pareceu assusta-la. 

Quando Talia se inclinou para ver o vídeo antes que Derek tivesse conseguido tirar o celular da mão da irmã, sua mãe o viu e a face séria tomou conta dela.  

A condição de aparecer em Beacon Hill’s era não usar o seu traje e mesmo ele tendo um “interesse” no garoto da qual Laura mostrou, Talia esqueceu o assunto na hora e os gritinhos que saiam do aparelho ficavam de fundo como uma música de terror. 

Mesmo com a super-força, velocidade e a capacidade de voar, Derek Hale tinha amor a própria vida quando se tratava da sua mãe e ele desobedecia a um acordo feito com ela sobre sua vida dupla. 

— Sem Lois Lane para uma linda reunião em família... — Ela sussurrou, deixando o celular da filha de lado — De tantas pessoas de Beacon Hill’s, Derek, você tinha mesmo que ter interesse no filho do xerife? — Lamentou e Derek rolou o olhar. 

— Mãe, eu já disse que não tem interesse nenhum nesse assun—. 

— O jeito que vocês se olham parece como cena de um seriado romântico — Laura provocou novamente — E tire esses óculos, você não engana ninguém com eles. 

Senhoras e senhores, a família de Derek Hale era linda. Maravilhosa. 

— Sente-se, querido — Talia mandou e  ele o fez —  Vamos ter uma longa conversa sobre garotos... 

É, tinha como piorar.  

Nem mesmo as pessoas com superpoderes escapavam das suas mães, fossem de sangue ou não.