A Portadora- Origin escrita por MaluSF


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oi povo!!!! Os capítulos serão atualizados durante a semana segundo a minha vontade kkkkkk
acompanhem e comentem, por favor!
obrigada!



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Mary

Meu despertador toca pela terceira vez em quinze minutos. Não quero levantar. O pior da dor é ficar vazia. Eu estou assim. Um turbilhão de pensamentos me tira o sono todos os dias. A culpa está me consumindo crua e lentamente até a hora em que eu sucumbirei dentro do meu quarto bonito. Passar a vida sendo chamada de assassina pela própria mãe tem suas consequências: (a)você passa a ter raiva de si mesmo e ganha a compaixão das pessoas ao seu redor. Até meu pai tem pena de mim. E isso é horrível de se sentir; (b)depois de um tempo nada mais importa; (c)pensar na morte não te causa medo.

O teto branco do meu quarto às vezes reflete as minhas lágrimas. Como agora, por exemplo. Salto da cama. Chega. Caminho para o banheiro, escovo os dentes, prendo os meus volumosos cabelos em um rabo de cavalo e passo uma maquiagem leve para esconder as olheiras horríveis que se formaram em meu rosto. Em meu closet escolho um vestido branco abotoado até a cintura que fica bem em mim. Meus saltos bejes combinam. Eu me olho no espelho. Aí está a garota que os outros veem, que não falha, que é quase perfeita. As pessoas que me cercam acreditam que para atingir a perfeição eu só preciso de um colar de diamantes. Ninguém sabe a dimensão do quase que me separa desse título. Eu sou um ser desprezível. Sou um lixo, deveria ter morrido a muito tempo. Mas para a infelicidade da minha família, não fui eu. Foi minha irmã. E a culpa foi inteiramente minha.

Desço as escadas de minha mansão triste, pego as chaves do meu carro e me preparo para sair. Quando abro a porta o vento calmo e fresco do verão me atinge e arrepia um pouco minha pele. A natureza me faz querer não estar morta. Adoro essa sensação em meu corpo.

O caminho até minha escola é tranquilo, não demoro nem vinte minutos para estacionar minha BMW sob as árvores no estacionamento. Sim, eu sou rica. Não, eu não sou metida. Pelo menos faço tudo o que posso para não ser. Tenho amigos muito mais legais do que seria a minha turma.

Passo pelas portas duplas da escola e me dirijo ao meu armário. Minha primeira aula é química, depois tenho matemática, geografia e para fechar com chave de ouro tenho biologia como última aula. Pego todos os meus livros e quando estou fechando a minha porta, Catarina, minha melhor amiga, acena no fim do corredor. Ela está linda com sua calça de couro e a jaqueta jeans que ela tanto ama. Os cabelos estão presos em um coque alto. Ela sorri quando se aproxima e me dá um abraço apertado.

— Uau! Você está deslumbrante como sempre! - Ela pisca para mim.

— Você também não está nada mal. Vai acontecer algo que eu deva saber? - Solto um sorriso presunçoso para ela que retribui.

— Vou sair com Gustavo hoje—suas bochechas coram. Ela é apaixonada por esse garoto desde o baile de inverno. Finalmente ele a convidou para sair. Acredito que ele também gosta dela.

— Nossa garota! Você é rápida! - Nós duas caminhamos em direção à sala.

— Eu? - Ela faz cara de indignação. - Jamais! - Depois que nossa crise de riso passa ela muda de assunto. - Você já ficou sabendo da novidade?

— Não. O que está acontecendo?

— Chega aqui na escola amanhã, um garoto da Inglaterra. Todo mundo está comentando sobre ele. Ele só fala oito idiomas diferentes. Até mandarim ele sabe!

— Realmente não é normal. Mas como você sabe que isso é realmente verdade? - Já escutei todo e qualquer tipo de fofoca falsa, várias vezes. 

— Ele é alguma coisa do nosso querido diretor. E sua vinda para cá está lhe tirando o sossego. Ele gosta do tal menino, mas parece nervoso com sua presença.

— Então ele não gosta.

— Talvez. Mas de qualquer forma, o importante é que estão comentando que além de sua desenvoltura com os idiomas, ele é lindo—estava demorando para ela tocar nesse ponto e pelo olhar safado que ela me lança eu sei o que vai me dizer. - Você tem andado muito sozinha ultimamente. Quem sabe com a chegada desse tal inglês, você não se anime.

Não. Eu não vou me animar. Tenho implantado uma filosofia de: minha vida já é complicada o suficiente para ficar pior e eu me apaixonar. Tenho medo do que eu possa causar aos outros. A última pessoa que eu amei, morreu por minha negligência. Sem querer responder, apenas balanço a cabeça.

Entramos na sala e assistimos às nossas aulas até o intervalo. Quando nos acomodamos no refeitório, o assunto é o menino que vai chegar. Andrew. É impressionante como adolescentes conseguem informações com facilidade. Até eu fico abismada. Acabo descobrindo mais da vida do menino do que aprendi na aula.

O resto do dia passa devagar. Muito devagar. Infelizmente conseguiram me deixar curiosa para saber como ele é.

Cansada eu vou para casa. Quando entro pela porta retiro meus sapatos e vou comer algo na cozinha. Tamiris, nossa empregada e minha mãe de coração me dirigi um sorriso caloroso. Ela cuidou de mim de uma forma que Stefany Nington, minha verdadeira mãe, nunca foi capaz de fazer.

— Oi, querida. Como foi a escola hoje?

— Cansativo, mas bom—abro a porta da geladeira e pego um copo de suco e uma maçã. - Como foi o dia por aqui?

— A mesma coisa de sempre. Só que hoje eu não a vi.

— Deve estar tendo um dia ruim. Como todos os outros nos últimos onze anos.

— Sua mãe precisa de ajuda, Mary.

 

— Ela não quer minha ajuda.

— Você não pode afirmar isso. Ela só sofre com um luto permanente.

— Todos nós sofremos. Mas ela? O que ela sente por mim é ódio. Não posso fazer nada com isso a não ser deixá-la em paz.

— Sua mãe precisa de você.

— Não. Ela precisava da minha irmã e eu a matei.

Me levanto atordoada com a conversa e subo as escadas correndo tentando afastar as lágrimas de meus olhos. Porém, nem todo o barulho dos meus passos abafam os soluços que vem do quarto que deveria ser da minha irmã. Minha mãe está lá. Luto internamente com o que devo e com o que tenho que fazer. Meus pés fazem um curso próprio e quando eu saio do transe já estou batendo na porta.

— Mãe, você está bem? Nada. Um silêncio me pega de surpresa e eu respiro profundamente decidindo o que fazer. Mas antes que eu possa começar a raciocinar a porta se abre. O rosto cansado da mulher a minha frente nem se quer me lembra o que ela foi um dia. Mas sinceramente, eu não me lembro mais de como ela era nitidamente. Faz muito tempo. Minha mãe me encara como se não me conhecesse.

— Mãe?

— Quantas vezes eu te pedi que não me chamasse de mãe?

Um suspiro profundo de surpresa sai da minha boca. Choque corre meus membros e uma dor dilacerante se instala em meu peito.

— Eu…

— Saia da minha frente—eu tento fazer o que ela pede, mas meus músculos não me obedecem. - Fora daqui! Saia! Suma!

Eu me afasto. Viro as costas e lentamente me arrasto pelo corredor dando um pequeno pulo quando minha mãe bate com força a porta do quarto e solta um grito de dor. Na escada à minha frente Tamiris aparece e me olha com piedade. Corro para o meu quarto e choro. Minha vida tem sido um inferno e eu não posso reclamar pois fui eu quem causou isso tudo. Eu teria feito tudo diferente mas não há espaço para arrependimentos. A dor infla dentro de mim. E eu não vejo como pode ficar pior.

Eu queria pedir perdão a todos eles. Minha família. Eu queria fazer isso mas nenhum deles me ouve. Eu sou e sempre serei uma aberração. Uma maldita. Uma assassina que não é digna de nada.


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