Acordo Perfeito escrita por BCarolAS, cecimaria


Capítulo 22
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo tá com uma vibe meio pesada, mas é necessário para a história. Preparem os lencinhos e a força do ódio (contra a Brianna, obviamente)
Boa leitura!



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Quando Darcy retornou à casa dos Benedito, no final da tarde, os recém casados estavam conversando com Elisa.

—Olá, achei que iam direto da lua de mel no Rio para São Paulo - Ele comentou enquanto abraçava o amigo e a cunhada.

—Viemos nos despedir, saímos amanhã antes do sol nascer. - Respondeu Camilo. - E já falamos com todos, mas não poderíamos sair sem falar com nosso padrinho!

—De fato, seria muita falta de consideração, meu amigo. - Darcy brincou com Camilo antes de puxá-lo para um abraço.

—Meu amigo, tenho um recado para você. - Camilo puxou Darcy para um pouco mais afastado das mulheres - Rogers ligou lá em casa hoje mais cedo, precisa que você telefone para Londres urgente. Falou até algo sobre vocês precisarem voltar, algo sobre um telegrama. Não sei o que está acontecendo, mas fiquei um pouco preocupado. Está com problemas, Darcy? Algo na empresa? Posso ajudar?

—Infelizmente não pode, meu irmão. É Brianna, acabei de receber o telegrama de Matilda. Meio que fugimos de Brianna ao vir para o Brasil, e agora ela deve estar ainda mais furiosa conosco, e causando problemas ainda maiores em Londres. - Darcy passou a mão pelos cabelos. Elisabeta viu e se aproximou do marido com uma expressão preocupada. - Agora vão descansar, que viajam logo cedo! Se estavam esperando apenas por mim, por favor, não se demorem mais. - Darcy sorriu para os recém casados e envolveu Jane em um abraço de urso.

Quando Jane e Camilo saíram pela porta, Elisabeta acariciou o rosto do marido.

—Está tenso? Depois das semanas lindas que tivemos? Estou quase me sentindo ofendida. - Ela tentou brincar e recebeu um beijo em troca.

—Esses dias foram perfeitos, meu amor. Há tempos não me sentia tão livre e feliz. Obrigado por ter dividido comigo seus lugares preferidos.

—Olha, isso é um privilégio para poucos, hein! - Ela beijou o marido - Entāo por que você parece preocupado? Problemas nos negócios com Aurélio e Julieta?

—Como pode me conhecer tão bem? Mas nada tem a ver com a ferrovia aqui no Vale - Ele ainda não havia contado da casa, queria surpreender a todos na festa de inauguração. Darcy beijou a testa de Elisabeta - Recebi um telegrama de casa, Brianna está criando problemas.

—Ah, Darcy… Eu já quase havia me esquecido dessa louca. - Elisa suspirou e Darcy a envolveu em um abraço - Temos que voltar, não é?

—Por hora, não. Eu vou na frente, me resolvo com Brianna. Ela quer dinheiro, Elisa, só isso. E me tirar do sério. Eu vou, e você fica mais um pouco com Victoria. O Vale está fazendo muito bem a vocês. E não quero Victoria vivendo sob a nuvem negra de Brianna. Não quero Victoria achando que precisa se aproximar da mãe só para ser abandonada de novo.

—Eu também não quero, mas acho melhor voltarmos todos juntos. Sei lá o que essa mulher pode fazer conosco separados.

—Nada. Ela não pode fazer nada. - Darcy beijou a testa da esposa - Onde está Victoria?

—E eu sei? Com alguma das tias. Definitivamente perdemos nossa filha para os Benedito.

—Que seja para os Benedito, então. Desde que não seja para Brianna…

Elisabeta puxou o marido pela mão, abriu a porta e olhou para o céu.

—O sol ainda não está roxo, então acho que tudo bem.

Darcy riu sem humor e puxou Elisa para seus braços.

—Obrigada por tentar acalmar a mim e a Victoria quando você mesma está preocupada.

—Estou muito preocupada. Mas não posso perder minha força jamais.

Você é a minha força, Elisabeta.

Eles ficaram um tempo em silêncio vendo o sol se pôr, até que viram Lídia atravessar o portão com Victoria.

—Eu vou aproveitar a carona de Jane e Camilo até São Paulo e vocês ficam com o carro aqui para o que precisarem. Vamos roubar nossa filha só para nós dois essa noite? - Darcy falou.

—Por favor! - Elisa respondeu antes de abrir os braços para receber a filha.

Depois do jantar, Darcy, Elisa e Victoria subiram na casa da árvore, onde ouviram e contaram histórias sobre o Vale do Café. Victoria estava deitada com a cabeça nas pernas do pai, para receber um delicioso cafuné, quando ele avisou que voltaria amanhã para a Inglaterra.

—Mas por que o senhor tem que voltar agora? E sozinho?

—Apareceram uma problemas no trabalho e vou precisar ir às pressas. Mas você e sua mãe vão ter mais tempo para organizar a viagem de volta, convencer alguma de suas tias a ir com vocês e se despedir de todos que ficarem aqui. E em alguns dias já estaremos juntos de novo.

—Tudo bem - a menina deu de ombros, mesmo com o rostinho ainda um pouco triste - Eu gosto daqui, é só que vou ficar com muita saudade de você.

—E eu de vocês duas, minha princesa.

 

Camilo e Jane passaram na casa dos Benedito bem cedo, antes mesmo do sol nascer. Apesar das lamentações e inúmeros pedidos de Ofélia para que ele pagasse alguém para cuidar de tudo, afinal era um lorrrde, a matriarca pareceu se conformar com o fato da filha e da neta ficarem mais um pouco. Desse modo, e por conta do horário -, Deus me livre de acordar de madrugada para dar tchau, por favor se despeça de nós agora, cunhadinho, como bem havia dito Lídia na noite anterior -, apenas Elisa esperou com Darcy na porta de casa.

—Dê notícias, está bem? - Elisabeta pediu quando viu o carro se aproximando.

—Assim que chegar! Ligarei todos os dias, prometo.

—E tome cuidado com aquela cobra da sua ex-mulher. Não vou estar lá para lhe defender das garras dela dessa vez.

—Meu amor, cobras não tem garras. - Ele brincou.

—Mas tem veneno. - Ela respondeu à altura.

—Ao dela já estou imune, acredite.

— Mas se ela tentar agarrar você… - Darcy gargalhou. - Trate de me mandar um telegrama.

Elisa suspirou e puxou o marido para mais perto pelas lapelas do terno.

—Amo você.

—Amo você, Elisabeta Benedito. -  Ele beijou a esposa e caminhou com sua mala até o carro.

— É Elisabeta Williamson para você! - Ela gritou e viu Darcy sorrir para ela quando o carro saiu em direção a estradinha de chão.



***

O frio característico de Londres pegou Darcy de surpresa assim que ele pôs os pés na capital inglesa. Não imaginou que fosse sentir tantas saudades do Brasil depois de quase vinte anos morando na Europa. Mas agora, seu coração batia lá, no Vale do Café.

Rogers quase abraçou o patrão quando foi buscá-lo no aeroporto, mas os dois fizeram o caminho até a mansão Williamson em completo silêncio. Silêncio este que não pôde ser encontrado em casa. Ao abrir a porta a primeira pessoa que Darcy viu foi Brianna, sentada no sofá com uma revista feminina na mão, gritando pela Srta. Smith.

—Ah, Darcy, querido. Finalmente chegou. Sente-se, junte-se a mim e tente relaxar, você não terá muito tempo para isso quando meu advogado passar por aquela porta.

—O que está fazendo aqui, Brianna?

— Vim procurá-lo duas semanas atrás, para discutirmos a guarda compartilhada de Victoria, mas você havia fugido do país com a minha filha, então peguei de volta o que era meu e estava disponível no momento: minha casa. Enquanto meu advogado trabalhava com a papelada para tomar de vez a guarda de Victoria, e prender você e sua brasileirinha.

—Você só pode estar louca, Brianna. - Darcy quase partiu para cima da ex-mulher, mas sentiu a mão de Rogers no seu ombro o lembrando de que aquilo só pioraria ainda mais a situação.

—Você que só pode estar completamente louco se acha que estou falando alguma coisa sem cabimento, Darcy. Eu lhe dei uma semana para contar à Victoria que ela voltaria a morar comigo, porque é o que manda a Lei. Estava, inclusive, disposta a fazer um acordo e deixá-lo vê-la uma vez por mês, mas você fugiu do país com minha filha achando que a lei ficaria do seu lado? Quanto está pagando a seu advogado? Está jogando dinheiro fora, querido, se ele não lhe alertou das consequências do seu ato. Mas, se me permite dizer, você foi burro em voltar, Darcy. Agora é tarde demais. Em meia hora meu advogado estará aqui com o juiz e a polícia, e não restará outra alternativa a você senão devolver a menina.

Darcy passou a mão pelos cabelos e caminhou pela sala. Ele estava devastado. Deus, como havia sido burro! Brianna estava certa, amparada pela lei não só agora, mas antes também. E, movido pelo seu desespero, ele agiu sem pensar nas consequências. Tirou Victoria do país em meio a um processo legal, e agora havia voltado para ser descoberto. A ira tomou conta de Darcy. Brianna não queria Victoria, ela não cuidaria da menina, não sentia carinho pela filha. Deus, ela prendia a menina no banheiro! Não ensinava as tarefas, não teve o cuidado de contratar uma preceptora. Sem falar que ela sim havia ido embora do país sem ligar para a filha. Era Brianna que estava errada desde o início, e ele iria até o inferno se fosse preciso para provar isso e desaparecer com aquela mulher da sua vida e da vida de sua filha.  

Ele caminhou em direção a Brianna, a fúria estampada em seus olhos verdes de um jeito assustador. Segurou a ex-mulher pelo braço e bradou em alto e bom tom:

—Você é cínica, Brianna. Cínica e vil, e qualquer pessoa que passe cinco minutos em sua presença consegue ver isso. Não vai ser difícil provar para a Rainha da Inglaterra, se preciso for, que você não vale nada. N-A-D-A. Não vale seu nome, seu sangue azul, ou a renda vagabunda desse seu vestido que eu sei que você comprou em uma loja xinfrim porque não tem um único centavo no bolso. E é só isso que você quer, além de me provocar e me fazer perder a razão. Você quer dinheiro. É só isso que lhe interessa. Foi só por isso que casou comigo. E foi por isso que me traiu. E foi por isso que você foi embora do país largando sua filha trancada em um banheiro, porque ela não era o fantoche que você desejou. - Ele soltou o braço de Brianna, que permaneceu parada, a boca aberta sem sair nada - Você pode ficar o tempo que quiser. Aproveite da minha hospitalidade enquanto pode. Usufrua da minha prataria de luxo, da boa comida de Matilda, das sedas das camas dessa casa. Eu não me importo. Eu sequer notarei a sua presença. Pois estarei ocupado demais afastando minha filha das suas garras e do seu interesse sujo. - Darcy passou as mãos pelo cabelo, dessa vez tentando colocá-los no lugar, e virou-se para o motorista - Rogers, vamos até o escritório do meu advogado e depois na câmara. Matilda, - ele chamou a moça - prepare um bom jantar para nossa convidada, algo que a faça se lembrar para sempre do último jantar de qualidade que ela terá na vida.

Depois de falar com Hendricks, o advogado, Darcy se dirigiu até a empresa. O sofá era pequeno, mas teria de servir. Ele não voltaria para casa enquanto Brianna estivesse lá, mas também não a mandaria embora. O famoso ditado agora fazia todo o sentido para ele, era melhor manter os inimigos por perto e saber cada passo que eles dão. Brianna jamais dispensaria luxo, independente das circunstâncias. Darcy crescera com ela, foi casado com ela, conhecia a ex-mulher bem o suficiente para saber como lidar com ela.  Tirou o paletó e abriu os primeiros botões da camisa, cansado. Uma intimação do juizado o encarava em cima de sua mesa e ele pensou em Elisabeta. Como sentia a falta dela. Fechou os olhos e imaginou as mãos da esposa lhe fazendo uma massagem, aliviando os pontos de tensão que, naquele momento, eram muitos. Mas não era a mesma coisa. Ele sentia a ausência de Elisabeta com todo o seu coração, em uma dor física que ele nem sabia ser possível. Olhou para o relógio, passava das dez da noite em Londres, mas calculou que no Brasil os Benedito estivessem terminando o jantar. Pegou o telefone e ligou para casa: Elisabeta.

Quando o primeiro toque do telefone soou discreto, Elisa praticamente pulou até o objeto e o atendeu de imediato. Darcy ainda não havia dado notícias desde sua partida do Vale dois dias atrás e ela estava extremamente angustiada.

—Alô! - A voz dela soou urgente e Darcy quase chorou do outro lado.

—Meu amor, como é bom ouvir sua voz!

—Darcy! - ao ouvir o nome, todos os olhares se dirigiram a Elisabeta, urgentes. Victoria correu para as pernas da mãe. - Estava ficando preocupada sem notícias suas.

—Me desculpe, Elisa.Não tive muito tempo desde que cheguei. Estou no escritório, Brianna está lá em casa. - Ele suspirou.

— Por quê? - Elisa tentou manter seu tom neutro, não queria alarmar ou preocupar ninguém, mas ela própria estava  alarmada o suficiente.

—Estava me esperando ou se aproveitando do luxo, não sei, não me interessa. Deixei que ela ficasse, é melhor mantê-la por perto. Rogers, Matilda e a Srta. Smith estão vigiando os passos dela. - Darcy fez uma pausa, e Elisa conseguiu sentir todo o peso dele mesmo do outro lado da linha, do outro lado do mundo. - Fomos intimados. A dar explicações sobre nossa saída às pressas do país levando Victoria, acham que nós fugimos com ela. Estávamos em meio a um processo de guarda e, por isso, a lei tende a ficar do lado de Brianna. Mas estou trabalhando na nossa defesa, estou colhendo provas de que Brianna não cuidava direito de Victoria, que sempre a tratou com frieza. Nós vamos lutar por ela, meu amor. E não vamos sossegar enquanto não vencermos essa luta. Mas, infelizmente, preciso que vocês voltem. Quanto mais tempo Victoria ficar longe, pior para nós.

—Nós iríamos de qualquer forma, Darcy. Estamos com saudades! - Ela tentou aliviar a fala e a expressão ao sentir as mãozinhas de Victoria em sua perna.

—Comprei as passagens, preciso que estejam em São Paulo amanhã às 10, tudo bem? Algum dos rapazes podem levá-las? Rômulo? Ou Brandão? Estarei em casa para receber vocês quando chegarem. Prepare Victoria para um possível encontro com Brianna.

—Estaremos lá, meu amor.

Darcy ainda falou um pouco com a filha antes de desligar o telefone e deitar a cabeça no encosto do sofá. Não conseguiu dormir. Levantou cedo na manhã seguinte e recrutou amigos para ajudar a desmascarar Brianna. Ligou para Cora, os Russell, Adeline. Tentou contactar o ex-namorado que a havia trocado por outra mais nova e também a moça que limpava o apartamento de Brianna três vezes na semana durante os anos em que Victoria morou com ela. Quando o relógio sinalizou o horário da chegada do voo de Elisa e Victoria ele foi até o aeroporto recebê-las.

Encontrou uma Elisabeta pálida, os lábios secos e uma expressão cansada no rosto. Quis que seu abraço pudesse envolvê-la em amor e cuidado. Victoria correu até ele e pulou em seu braços. Ele beijou os cabelos da filha e caminhou até Elisa.

—Meu amor, você está bem? - Ele passou o braço ao redor da esposa, com Victoria no outro braço, e deixou que Roger levasse as malas até o carro.

—Enjoei um pouco durante o vôo, nada demais.

—Tem certeza de que já está se sentindo melhor agora?

—Melhor eu só vou me sentir depois que nos livrarmos daquela mulher.

Ao chegarem na mansão Williamson, Brianna os aguardava com o advogado e um oficial de justiça. Victoria se escondeu atrás de Elisabeta e Darcy se colocou na frente da esposa.

—Pois não, senhores, no que posso ajudá-los?

—Viemos buscar a menina, Sr. Williamson.

—Eu não vou para lugar nenhum! - Victoria gritou em meio ao choro, ainda agarrada à perna de Elisabeta.

—Senhores, minha filha e minha esposa acabaram de chegar de viagem, estão cansadas. Minha filha está assustada com toda essa movimentação na casa. Minha esposa não está se sentindo bem desde que desembarcou. Será se poderiam nos dar um tempo para chegarmos, alimentá-las apropriadamente e conversarmos? Os senhores também estão convidados para o jantar.

—Senhor, só estou fazendo meu trabalho. - Respondeu o oficial de justiça.

Elisa caminhou até o homem, as mãos de Victoria ainda segurando as suas.

—Senhor, estamos cientes da situação e das nossas obrigações diante da justiça. Meu marido é um lorde, membro do Conselho, ele sabe de suas obrigações. Só queremos dar um banho e comida para Victoria, foi uma viagem longa e cansativa. O senhor está aqui para garantir o bem-estar dela, não é mesmo? Então não vai nos impedir de colaborar com o seu trabalho.

Victoria chorou durante todo o banho. Praticamente não comeu no jantar. A presença dos homens a amedrontava, sem falar da presença de Brianna. Elisabeta não pôde deixar de reparar que em nenhum momento Brianna fez menção de se aproximar da filha, de acalmá-la, ou simplesmente de cumrpimentá-la quando chegaram. Ela não demonstrou interesse algum pela menina, e Elisa não podia acreditar que o oficial de justiça pudesse fazer vista grossa em relação a isso.

Ao final do jantar, o oficial sinalizou que precisava ir, pediu que preparassem uma pequena mala para Victoria, o que fez com que a menina protestasse novamente, gritando que não iria para lugar nenhum.

—Eu vou ficar com meu pai e minha mãe! Mamãe, por favor, não deixa ele me levar. - Victoria se agarrava à saia de Elisabeta - Papai, por favor. Por favor…

Elisa se abaixou para ficar da altura da filha e a tomou nos braços, enxugando suas lágrimas.

—Ninguém vai tirar você de mim e do seu pai, está me ouvindo? Ninguém! Esse homem pode estar querendo levar você hoje, mas não vai ser por muito tempo, meu amor. Você é uma menina forte, eu tenho muito orgulho de você e sei que vai fazer tudo direitinho e não deixar que ninguém lhe faça mal. Assim como eu não vou deixar.

—Eu não quero ir com minha mãe, ela vai me bater e me prender no banheiro.

—Você não vai com ela, meu amor.Não, Victoria. Olha pra mim, você não vai com a Brianna.

No outro canto da sala Darcy tentava negociar com o oficial.

—Senhor, minha filha está assustada. Está acostumada a dormir comigo e minha esposa. A audiência está marcada para daqui a dois dias, minha ex-mulher está ficando conosco, de modo que não vejo problema em deixar Victoria ficar aqui até a audiência. Ela não estaria longe da mãe, posso lhe garantir.

Brianna, ao ouvir isso se aproximou:

—Eu não vou ficar com vocês, Darcy. Veja se tem cabimento uma coisas dessas?! E muito menos a menina vai ficar, não sem mim.

Darcy estava furioso, que Deus o perdoasse, mas ele queria mandar Brianna para o inferno com suas próprias mãos.

—E você vai para onde Brianna? O apartamento sou eu quem pago, e desde que você foi embora largando minha filha aqui que ele não está sendo pago.

—Vamos para um hotel, oras.

—Um hotel? Senhor, vai tirar minha filha do conforto da nossa casa, onde ela tem um quarto, para dormir em um hotel? Isso sim não tem cabimento!

O oficial de justiça estava cansado. Já havia passado muito da sua hora de estar em casa, e ele poderia jurar que, até aquele momento, não havia visto um indício de aproximação da mãe com a criança. E, agora, no primeiro indício durante todo o dia, parecia mais como uma provocação direta ao ex-marido. Mas o que ele podia fazer? Estava apenas seguindo ordens. Ordens diretas de levar a menina com a mãe ou para um abrigo.

—Sendo assim, terei que levar a menina para um abrigo provisório até o dia da audiência.

—Claro que não! Abrigos são para crianças que não tem casa, e Victoria tem uma! Isso eu não vou admitir! - Darcy suspirou exausto, as mãos na cintura, tamanha a indignação e o nervosismo. - Senhor, sejamos sensatos, Victoria e Brianna ficam aqui esta noite e amanhã entraremos em um acordo.

O oficial deu de ombros, cansado demais para discutir.

—Olha senhor, infelizmente, eu cumpro ordens. - Darcy balançou a cabeça. Precisava fazer algo. Então pediu que ele esperasse mais trinta minutos.

—Não vai adiantar, querido. - Brianna disse do sofá. Mas Darcy conhecia algumas pessoas. Ligou para Charles, que também começou a fazer ligações. Em vinte minutos, tinha um juiz da família no telefone, que diante da promessa de uma eterna dívida do Conde de Pemberley, concordou em deixar a menina na casa. Ele chamou o oficial no telefone que escutou a ordem de deixar a menina em casa.

—Está bem, a menina dorme aqui esta noite.

—Muito obrigado, senhor. Não vou submeter minha filha a esse tipo de situação desconfortável por mais nenhuma noite. Amanhã cedo eu mesmo irei tomar uma providência, mas se o senhor puder agilizar meu pedido, seria muito útil.

Naquela noite, Victoria dormiu entre Darcy e Elisabeta.Teve frequentes pesadelos, chorou a maior parte da noite, levando uma parte do coração dos dois.



Na manhã seguinte, Elisabeta acordou passando mal. Srta. Smith a ajudava no banheiro próximo à sala de visitas quando Brianna passou em direção à mesa do café da manhã e viu a cena. Darcy havia saído muito cedo, na intenção de conversar com o juiz responsável pelo caso. Victoria não desceu, e Elisa comeu com a filha no quarto do casal.

Darcy voltou próximo às 10 da manhã, anunciando que a audiência havia sido remarcada para aquela tarde.

Às 3 horas, Elisabeta arrumava o vestido da filha em frente ao Parlamento. As mãos de Darcy suavam. Antecipar a audiência não havia sido a melhor das ideias, tendo em vista que ainda não havia conseguido contactar todas as testemunhas que gostaria. Cora e os Russel cumprimentaram o casal logo na entrada. Elisa abraçou as amigas tentando não desabar, mas estava cada vez mais difícil se manter forte. Victoria foi levada para longe de todos, com lágrimas nos olhos. Antes disso Elisa repetiu a ela.

—Pense no Vale. Na nossa família. E tenha certeza que ninguém me tirará de você.

Brianna encarava Elisabeta com um olhar vitorioso, que fazia com que Elisa quisesse voar em cima dela e arrancar cada fio de cabelo da ex-mulher de Darcy.

O juiz deu início à audiência com o pedido de guarda de Brianna. Darcy foi o primeiro a ser questionado pelo advogado da ex-esposa:

—É verdade que o senhor viajou com a menina para o Brasil sem avisar à mãe dela,e no meio do processo de guarda em andamento?

—Sim. - Não havia como negar aquilo. - Mas nossa ida ao Brasil já estava marcada desde o ano passado, quando recebemos o convite de casamento da minha cunhada.

Quando questionado novamente sobre o porquê de não ter avisado à Brianna ou solicitado a autorização do juiz, Darcy ficou nervoso, gaguejou e afirmou não ter pensado que seria um grande problema, já que retornariam a Londres. O que era uma mentira completa, pois a intenção de Darcy havia sido justamente fugir de Brianna.

Quando Elisabeta foi interrogada pelo advogado, ela tentou parecer segura. Não tinha medo de Brianna nem de ninguém naquela sala. Tudo que ela tinha era seu amor por Victoria.

—Senhora Elisabeta, é verdade que a senhora encontrou Victoria perdida, sozinha pela cidade, em uma noite fria, poucos dias depois da menina ter ido morar com o pai?  E que ela disse estar fugindo de casa?

—Victoria estava fugindo da rejeição, causada pela mãe durante os anos em que viveu com Brianna, em meio a agressões físicas, sendo frequentemente presa no banheiro da própria casa pelo que a mãe julgava como mal comportamento. - Elisabeta respondeu firme ao encarar Brianna.

—A senhora não respondeu à minha pergunta. É verdade ou não que encontrou a menina sozinha na rua no meio da noite?

—É verdade, mas ela não estava…

—Obrigado, sra. Williamson.

E então foi a vez de Brianna. Ela subiu ao júri com um sorriso vitorioso no rosto, o que deixou Elisa e Darcy preocupados.Ela estava planejando algo, e não podia ser bom. O advogado dela deu início às perguntas, bem escolhidas para favorecê-la diante do interrogatório de Darcy e Elisabeta.

—Srta. Brianna, é verdade que procurou seu ex-marido para um acordo de guarda compartilhada, mesmo a lei dando guarda integral à mãe?

—Sim, é verdade. Mas Darcy não demonstrou interesse algum. Pelo contrário, ele fugiu com a minha filha para outro país!

—Qual sua versão dos fatos de que a menina apanhava e ficava presa no banheiro?

—Victoria ficava com uma moça, que deveria cuidar dela, mas aparentemente fazia o contrário. - Ela fingiu um choro, e Elisa sentiu nojo. - Quando descobri que minha filhinha era mal-tratada desse jeito imediatamente demiti a moça.

—Foi sua escolha deixar a menina com o pai, 1 ano atrás, quando viajou com seu ex-namorado?

—Sim. Eu pensei que não poderia haver melhor pessoa para cuidar de minha filha do que o próprio pai, ainda mais depois de tudo que ela sofreu nas mãos daquela moça horrível - Ela enxugou as lágrimas falsas - Mas nas primeiras semanas com o pai, Victoria fugiu de casa. Claramente porque Darcy era incapaz de cuidar da menina. Depois contratou a preceptora, que hoje é a esposa dele, - Brianna comentou com certo asco na voz, e foi preciso Cora segurar Elisabeta pelo braço - e essa mulher simplesmente se apossou da minha filha, como se ela não tivesse mãe. Elisabeta colocou minha própria filha contra mim, a fez chamá-la de mãe, apagando qualquer rastro meu na vida da menina, e a ensinando modos grosseiros e caipiras. Ela usa minha filha para se exibir diante da alta sociedade, a qual ela jamais irá pertencer verdadeiramente, pois é uma estrangeira sem modos. Mas agora, meritíssimo, Victoria será esquecida, provavelmente em algum colégio interno na Suíça, e Darcy e Elisabeta usarão do dinheiro que deveria ser de minha filha para criar o filho bastardo deles. Elisabeta Benedito está grávida, e acaba de consolidar o seu golpe da barriga!


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Notas finais do capítulo

Gente, será se a Elisa tá grávida mesmo ou é tudo invenção dessa cobra?



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