Acordo Perfeito escrita por BCarolAS, cecimaria


Capítulo 20
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Alerta de muitas emoções nesse capítulo! Mas foi feito com muito carinho.
Boa leitura!



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Haviam se passado três dias desde a aparição de Brianna no escritório  de Darcy, o que o preocupava. A ex mulher jamais desapareceria assim, muito  menos sem ganhar algo em troca. Mas Darcy e Elisabeta estavam mais unidos do que nunca. Aparentemente a volta de Brianna traria muitos problemas para os Williamson, mas nenhum jamais seria grande o suficiente para abalar o amor que sentiam um pelo outro.

Entretanto, como Elisabeta se lembrou naquele momento, existia um ditado de Dona Ofélia sobre não gritar sua felicidade alto demais que a inveja poderia ouvir. E lá estavam eles, na sala de visitas, recepcionando Brianna.

—Então Brianna, o que você quer dessa vez? Darcy, dinheiro? - Elisa pareceu entediada. Darcy também estava fazendo pouco caso. Continuava a ler o seu livro. Victoria foi mandada para o quarto.

—Na verdade, eu estou aqui para ver minha filha.

—O que? - Os dois a encaram de vez, levando um sorriso de satisfação ao rosto dela.

—Sabe, andei conversando com alguns advogados… Normalmente, em caso de separações, a filha fica com a mãe. E acho que quero Victoria comigo de novo. Não estou gostando da educação que vocês a estão dando a ela.

—Brianna… - Darcy começou mas Elisabeta parecia um touro.

—Mas é mais fácil o sol nascer roxo do que você levar minha filha de mim, está me escutando? Você não sabe do que eu sou capaz, garota, então me provoque.

—Ora, ora. Finalmente mostrando sua verdadeira face. Toda essa falsa educação não combinava mesmo com você.

— Você pode fazer o que quiser. Aparecer aqui para o chá todos os dias, dar em cima do meu marido, eu não ligo. Mas tente, ou melhor, sonhe em tirar Victoria dessa casa e não vai restar uma renda francesa sua para contar história. - Elisabeta estava com o dedo quase em cima do rosto de Brianna, que apenas sorria com satisfação. - Você está me ouvindo? Fique longe da minha filha.

Minha filha. - Brianna sorriu. - Acho que já trouxe meu recado. Vou dar um tempo para vocês contarem a ela e arrumarem suas coisas. Aliás, para não dizer que eu sou uma pessoa ruim, eu darei uma semana para vocês. Em uma semana, eu voltarei para pegá-la.

Quando Brianna deixou a sala, pela primeira vez se sentindo triufante, Elisa olhou para Darcy, desesperada.

—Ela não pode, não é? Ela não tem esse direito.

—Eu não sei, Elisa, de verdade. Mas contatarei meus advogados. Não se preocupe. Você está certa, é mais fácil o sol nascer roxo. - Darcy abraçou Elisa, que naquele momento fazia inúmeros planos de fuga e defesa. Sua família os esconderia no Vale, e seria preciso um exército para passar por cima de Dona Ofélia Benedito. 

***

Dois dias depois, durante a aula de piano de Victoria e Elisa admirava o talento da menina quando Darcy entrou como um furacão pela porta principal.

—Arrumem as malas, estamos indo para o Brasil amanhã mesmo.

Victoria parou de tocar abruptamente e encarou o pai com os olhos arregalados. A expressão de Elisa não era diferente. Ela levantou-se do sofá e foi até o marido.

—Você está falando sério? E toda a situação com a Brianna, Darcy?

Darcy puxou Elisabeta para longe de Victoria.

—É exatamente por toda essa questão com Brianna que o Brasil é excelente. O prazo que ela nos deu está acabando, esse processo jurídico legal demora demais, e não existe a menor chance de eu deixar Victoria com Brianna por poucos dias que seja. Pemberley seria o primeiro lugar aonde ela nos procuraria, Elisa. Vai ser bom pra nós dois. Principalmente para  Victoria. - Ele tentou mudar sua expressão para uma mais leve - Além disso, tem o casamento! - Darcy balançou um envelope no ar. - Com toda essa confusão esquecemos do casamento de Jane e Camilo. Nós somos os piores padrinhos do mundo!

—Deus! Eu sou a pior irmã do mundo! - Elisabeta desabou na cadeira próxima a ela, os olhos passando pelo envelope.

—Camilo ligou no escritório hoje perguntando se estávamos bem, porque paramos de dar notícias há duas semanas, e se precisariam adiar o casamento. Adiar, Elisabeta! Deus, nós somos terríveis. Podemos dar uma casa de presente a eles? Uma bem grande, que os faça esquecer o quão horríveis somos. - Darcy respirou cansado e baixou um pouco o tom de voz, para Victoria não ouvir. - É unir o útil ao agradável, meu amor. Vamos ao casamento, você vê sua família e ainda ganhamos algum tempo para encontrar uma forma de lidar com Brianna. Victoria está precisando esquecer um pouco essa confusão toda, ela anda triste e assustada, imagina se Brianna aparece aqui com juízes e advogados a levando embora. Ela vai perder a confiança em nós, Elisa. Eu não quero sequer pensar em perder minha filha outra vez.

Ele encostou a cabeça no peito de Elisabeta e as mãos dela imediatamente foram para os cabelos dele, em um carinho, na tentativa de acalmá-lo quando ela própria estava a um passo de desabar.

—Você tem razão. Eu odeio vê-la assim. E odeio ver você assim, ainda mais sem poder fazer muita coisa. Vamos para o Vale! - Elisa suspirou - Se sairmos amanhã conseguimos chegar a tempo?

—Eu vou ligar para deixarem um carro pronto para nos receber assim que chegarmos em São Paulo e vamos direto para o Vale. - Voltou para perto do piano e dirigiu-se à Srta. Smith - Mary, você pode ajudar Victoria com as malas?

—Nós vamos mesmo, papai? Eu vou conhecer a casa da mamãe? - A menina estava eufórica.

—Vai, meu amor. E vai conhecer o furacão Ofélia também. Que Deus nos ajude! - Elisa falou e Darcy riu. - Agora vamos subir e arrumar nossas coisas, não temos tempo a perder. Vamos, vamos!

Passava das dez da noite quando Elisabeta finalmente fechou sua mala. Darcy escovava os dentes no banheiro do quarto do casal quando viu a esposa pelo reflexo no espelho. Ela estava sentada próxima a janela, e parecia muito concentrada no que quer que estivesse pensando.

—Eu saí do Brasil há quase quatro anos e agora vou voltar com um marido e uma filha de sete? Como eu vou explicar isso? - Parecia mais um questionamento para si mesma, mas Darcy enxugou o rosto e caminhou até a esposa, se ajoelhando diante dela.

—Por que você está com tanto medo? Meus sogros são tão assustadores assim?

—Não é medo, é só que… Eu fui pega desprevenida. Darcy, você não está entendendo. Você não conhece dona Ofélia. Ela vai gritar. Bastante. Bem alto. Vão conseguir ouvir em São Paulo. “Elisabeeeeetaaaaa!” E então vai desmaiar. E quando acordar vai me chamar de desnaturada. E então você vai virar a pessoa preferida dela no mundo inteiro.

—E como isso poderia ser ruim? - Darcy questionou divertido.

—Eu não falei para ninguém no Brasil do nosso casamento. E não acho que Jane e Camilo tenham dito também. Mas eu deixei todo esse tempo passar, telefonei pra minha mãe com bastante frequência até, e jamais toquei no assunto. E agora estou com medo deles entenderem tudo errado, principalmente meu pai. Minha mãe é uma casamenteira nata, ela vai ficar louca que casei “escondida”, mas vai amar. Vai amar você. - Ela passou as mãos pelo rosto do marido e ele riu. - Mas meu pai… Ele vai achar que tem algo por trás disso tudo. Vai associar com as novas leis de imigração, ele se demonstrou preocupado com isso várias vezes durante as ligações. Ele vai achar que nos casamos sem amor, e vai se preocupar comigo, e cair em cima de você como um pai super protetor.

—Mas nós nos amamos, e logo todos vão perceber isso. Não é como se eu conseguisse esconder que sou completamente apaixonado por você. - Darcy a beijou rapidamente. - Nós vamos chegar para o casamento de sua irmã, você estará deslumbrante no altar e eu vou querer casar com você de novo, e depois você conta tudo para o seu pai. Conte toda a verdade, desde o início, incluindo o acordo, se isso for lhe deixar mais aliviada. Ele vai entender. E se ele não entender eu não tenho problema nenhum em tentar provar a ele que eu amo a filha dele mais do que tudo nesse mundo. - Darcy a beijou de novo e a puxou para próximo dele - Vamos dormir, embarcamos amanhã cedo e quando chegarmos não vamos ter tempo para descansar.

—Darcy, eu amo você. - Ela disse antes de fechar os olhos e se aconchegar no abraço dele.

***

Tudo fascinava Victoria. A primeira mudança que a menina sentiu foi o clima. Suas roupas de verão ainda eram quentes para o clima do Brasil, e Elisa prendera seus cabelos em um coque alto, para tentar aliviar um pouco o calor. O penteado também era novidade para a menina, mas ela gostou de como seus cachos ficaram no alto de sua cabeça. A flora da estrada a encantou. E por mais que ela ficasse tonta algumas vezes não conseguia parar de olhar pela janela enquanto o carro se movimentava com alguma rapidez na estrada de chão que ligava a capital ao Vale do Café.  

—Meu amorzinho, você não quer dormir um pouco? Quando chegarmos não teremos muito tempo entre as apresentações e a hora do casamento. - Elisabeta sugeriu e Victoria negou com a cabeça.

Darcy olhou pelo retrovisor e sorriu. A filha não havia viajado muito, o que tornava a situação ainda mais empolgante, além do fato de estar a alguns minutos de conhecer suas tias Benedito. Era bom vê-la feliz depois de toda a tristeza e insegurança que Brianna trouxe à menina.

—Será se elas vão gostar de mim?

—Quem, filha? - Darcy perguntou.

—Minha novas tias! As irmãs da mamãe. E minha avó Ofélia.

—Se você chamá-la assim quando a ver pode ter certeza de que será a preferida - Elisabeta sorriu. - Claro que vão gostar de você, meu amor, quem não gostaria de uma menina linda, inteligente e educada como você? - Ela abraçou a filha. Sua filha. Seria demais aparentar Victoria assim à sua família? Essa é a filha de Darcy parecia frio demais. Errado demais. Victoria era sua filha.

—Olha que lindo, papai, tantos morros! - Victoria apontou para as montanhas que começavam a surgir na paisagem.

—Ali é meu lugar preferido no mundo todo, bem ali, no topo daquele morro. É como o topo do mundo! - Elisa guiou a mão de Victoria.

—Nós podemos ir lá, mamãe?

—Claro! Eu não poderia deixar de levar minhas pessoas preferidas no mundo todo no meu lugar preferido!

O carro finalmente entrou na pequena cidade. O centro estava calmo demais para uma sexta-feira. Passaram em frente a casa de chá, a loja de tecidos, a delegacia. Elisabeta estava em casa. O coração dela pareceu ganhar vida fora de seu peito. Lágrimas começaram a cair em meio a um sorriso.

—Papai, a mamãe está chorando. - Victoria cochichou alto demais no ouvido de Darcy.

—São lágrimas de felicidade, meu amor. Estou feliz de estar em casa. Muito feliz. Eu não sabia que estava com tantas saudades do Vale até estar realmente de volta.

—Que bom que viemos, então! - Darcy virou para trás e apertou a mão da esposa.

—Pode dobrar à direita naquela placa, Sr. Fernando. - Elisa instruiu o motorista. Não demorou muito para ela ver os sinais da pequena fazenda dos Benedito. - Pare aqui, Sr. Fernando. - O motorista parou o carro e Elisabeta desceu. Caminhou um pouco até o portão e tocou o velho sino. A casa estava silenciosa e demorou pouco mais de um minuto até que a porta da frente fosse aberta. Tanto Darcy quanto Victoria ficaram no carro observando ela caminhar, seguindo pela direita de um laguinho, em direção a porta. Darcy observou uma senhora enxugar as mãos nos vestido antes de gritar:

—Elisabetaaaaaaa

Quatro meninas surgiram na porta, lágrimas e sorrisos embelezando o rosto das irmãs Benedito. Jane ele já conhecia, estava com metade do cabelo preso em um penteado que deveria ser para o casamento. Então as cores. Laranja era Mariana. Rosa era a caçula, Lídia. E verde, Cecília. Não fora isso que Elisabeta contou no dia do festival?

As mulheres Benedito envolveram Elisa em um abraço coletivo. Darcy e Victoria observavam tudo de dentro do carro, respeitando o momento que era só delas.

—Minha irmã, nem acredito que está aqui! - Cecília enxugava as lágrimas, um sorriso que poderia iluminar todo o estado de São Paulo.

—Elisa, você está tão linda, minha irmã! - Mariana admirava a irmã com um enorme sorriso no rosto.

—Toda chique chegando das Europa, hein?  E olha essas roupas. Parece coisa fina. Vai me levar com você dessa vez? - Lídia perguntou dando outro abraço na irmã.

—Ah, Elisa! Que saudade! - as meninas deram espaço para Jane, para que ela não desfizesse o penteado, em vão, pois àquela altura já estava arruinado. - E Darcy, não veio com você?

—Está no carro. Com Victoria. - Elisa ruborizou ao responder.

—Aquela coisa linda veio também? Será se ainda dá para colocá-la de daminha?

—Darcy? Quem é Darcy? Ara, é aquele amigo de Camilo? Ele que trouxe você, filha? E quem é Victoria? Elisabeta, Elisabeta o que você aprontou? - Dona Ofélia examinava a filha com um olhar desconfiado.

—Eu vou chamá-los, mamãe. Estão loucos para conhecer vocês.

Elisa foi até o carro e voltou acompanhada dos Williamson. Victoria estava no colo de Darcy, a empolgação havia dado espaço à timidez.

—Meu amor, venha comigo. Deixe seu pai cumprimentar minha família. - Elisa estendeu o braço para Victoria, que desceu do colo do pai e se escondeu atrás de Elisabeta.

—Jane, que bom revê-la! - ele abraçou a cunhada e então virou-se para as demais. - Lídia, Mariana e Cecília. - Ele olhou para cada uma ao dizer os nomes, sem errar. - Elisabeta me falou muito de vocês. Dona Ofélia, é um prazer finalmente conhecê-la. - Darcy beijou a mão da sogra, que ruborizou.

—Ara, o prazer é todo meu. - Ela se virou para as filhas. - Todo educado. O senhor é muito chique. E alto!

—E muito bonito também, mamacita. - Lídia achou de bom tom afirmar o óbvio.

—Obrigada por trazer Elisabeta, viu. Essa menina é uma desnaturada que esqueceu da família.  - Dona Ofélia agradeceu, segurando as mãos de Darcy. E foi então que os olhos treinados da maior casamenteira do Vale notou a aliança na mão esquerda de Darcy. - O senhor é casado? - Ela olhou para os lados. - Não veio com o senhor? Eu que não deixaria meu marido viajar sozinho para canto nenhum se ele se parecesse com o senhor.

Darcy olhou para Elisabeta e viu a esposa ficar pálida. Nenhum dos dois falou nada. Mas Victoria decidiu que era uma boa oportunidade para deixar a timidez de lado.

—O meu pai casou com a Elisa, e agora ela é minha mamãe. - Ela se pôs na frente, estendendo a mãozinha, com um português quase livre de sotaque. -  Prazer em conhecê-la, vovó Ofélia.

As irmãs não conseguiram conter suas expressões de surpresa, mas Elisabeta não teve tempo de dar qualquer resposta a elas, pois precisou correr para segurar a mãe, que havia desmaiado.

Darcy colocou Ofélia no sofá da sala e passou as mãos pelos cabelos. Então Elisabeta não estava exagerando ao falar que a mãe desmaiaria.

Victoria estava sentada nas pernas de Elisa, com cara de choro. Estava preocupada com Ofélia não ter gostado dela. Jane e Elisa tentavam consolar a menina quando ouviram a mãe pedir por um copo d'água.

Darcy afastou-se do sofá nervoso e Elisa entregou Victoria a ele.

—Sua mãe está bem? - ele sussurrou pra Elisa, preocupado.

—Eu estou ótima! No céu, com certeza. - respondeu Ofélia levantando-se do sofá. - Pois só assim para Elisabeta ter casado com um inglês de dois metros de altura lindíssimo sem eu precisar empurrar o senhor pra ela. Se saiu bem, minha número um. Quem diria!

—Mamãe! - Cecília a repreendeu.

—Para a senhora ver como eu posso fazer um excelente trabalho sozinha. - Respondeu Elisa divertida.

— O senhor é que merece os parabéns. Como conseguiu convencer essa turrona a se casar com o senhor? - Ela se dirigiu a Darcy. - Desde que se entende por gente que essa daí grita para os quatro ventos que não queria se casar. Uma mãe preferia ser surda a ter que ouvir essas barbaridades! Ai decide ir para as Europas e acaba com todas as minhas esperanças, pois sem mim por perto que não ia conhecer ninguém mesmo. Mas então o senhor, hein. Se eu fosse dez anos mais nova também não resistiria.

As irmãs riram. Darcy estava sem jeito, mas agora que dona Ofélia havia acordado do desmaio ele estava achando tudo extremamente divertido. Victoria ainda estava com o rosto escondido no pescoço do pai.

—E essa menina pouquinha desse jeito? Você não está alimentando a criança direito, Elisabeta? Ou são essas comidas chiques da Inglaterra que não dão sustância? Você também está magrinha, minha filha. Amanhã vou pedir para Nicoleta assar um porco bem gordo pro almoço, o Sr. Darcy precisa se alimentar bem para sustentar esse corpão todo, hein. Elisabeta, venha cá. Deixa eu ver a aliança. - Ela puxou a mão da filha. - Minha nossa senhora Aparecida, olha essa pedrona vermelha! O senhor tem dinheiro? Não me diga que se endividou todo para comprar esse anel, que a gente não é disso. Coisa de primeira... Então esse casamento é de verdade mesmo? - Ofélia puxou a orelha de Elisabeta - Sua desnaturada!! Casou e não falou pra ninguém! Eu não criei filha minha pra isso, Elisabeta. Puxou pro seu pai, reservado por demais! Mas filha minha não tem segredo comigo não, Elisabeta, onde já se viu? Esconder da mãe que casou com um homão desse!

—Que barulho é esse nessa sala? Não estava todo mundo se arrumando? - Seu Felisberto atravessou a porta de casa sem acreditar no que estava vendo. - Elisabeta, minha filha, você veio?

Elisa correu em direção ao pai e o abraçou. Que saudades ela estava do abraço de seu pai.

—Sim, papai, eu vim. - Ela acariciou o rosto de Felisberto, que estava emocionado. - Não podia deixar de vir para o casamento de Jane. Já basta ter perdido o de Cecília. Estava com saudade do senhor…

—Eu também, minha filha! - Seu Felisberto beijou o rosto de sua primogênita, e então notou Victória no colo de Darcy. - E essa princesinha, quem é?

—Papai, deixe-me apresentar. Darcy e Victoria.

Darcy apertou a mão de Seu Felisberto, que acariciava os cabelos de Victoria.

—O senhor é o amigo de Camilo, não é? O que vai ser padrinho. E que deu um emprego a Elisabeta, e recebeu Jane em sua casa quando ela foi à Inglaterra. Muito obrigado.

—O senhor não precisa me agradecer por isso. Suas filhas são ótimas. Todas elas.

—Ara, Felisberto - Ofélia interviu - não precisa agradecer o Sr. Darcy não, ele não se negaria a receber a irmã de sua noiva na própria casa. Espertinho, querendo agradar a noiva, hein, Sr Darcy!

Felisberto olhou da esposa para a filha, e depois para Darcy, com vários questionamentos no olhar.

—Papai, será se podemos conversar? - Elisabeta pediu, o tom de voz mais baixo.

—Isso. E nós precisamos nos arrumar, não é meninas? - Mariana se dirigiu à mãe e as irmãs. - Vamos mamãe, precisamos começar do zero no cabelo de Jane, de novo.

—Eu… Eu vou para casa de Camilo. - Darcy virou para Elisabeta - Vou pedir que o Sr. Fernando traga suas coisas para cá.

—Deixe Victoria. As mulheres se arrumam aqui. - Ela tentou sorrir. - Deixe-a com Cecília, ela é boa com crianças. - Elisa acariciou o rostinho de Victoria, chamando sua atenção. - Logo eu subo para lhe ajudar a se vestir pro casamento do tio Camilo, tudo bem? Você vai adorar a tia Cecília. Seu pai precisa ir se arrumar também.

—Eu não posso ir com o papai?

—Mas você estava tão ansiosa para conhecer todo mundo aqui!

—Mas eu prefiro ficar com o papai…

—Seu pai não sabe fazer aquele penteado bonito. Ele só sabe fazer tranças, e elas não combinam com seu vestido de hoje.

—Você sobe logo? - ela encarou Elisabeta com os olhos assustados

—Logo, logo. Eu prometo. Dê um beijo no seu pai e suba para ficar com a tia Cecília, tudo bem?

—Eu vou deixá-la lá em cima. - Darcy falou e se inclinou para beijar Elisabeta, mas desistiu ao notar a expressão de Seu Felisberto. - Passo para levá-las ao casamento. Vocês duas e Jane, ok?

Elisa assentiu, e segurou a mão dele, apertando forte. Depois o viu subir as escadas com Victoria antes de se dirigir com o pai para a biblioteca.

 

—Minha filha, você e o senhor Darcy… - Felisberto indagou com certo receio, sentando-se em sua cadeira.

—Nós nos casamos. - Elisabeta respondeu sem titubear.

—Para poder ficar na Inglaterra? Minha filha, eu falei que buscariamos alternativas.

—No começo sim… Mas nos apaixonamos. Eu o amo, papai.

—Elisa, você tem certeza? Ou está dizendo isso somente para me acalmar?

—É verdade, papai. Nunca estive tão certa dos meus sentimentos como agora. Eu o amo. E ele me ama. E amamos Victoria mais do que tudo. Somos uma família. De verdade.

—Há quanto tempo estão juntos? Sua irmã sabia disso?

—Nos casamos no ano novo. Jane achava que era apenas um acordo para me manter em Londres, mas depois contei a ela, em cartas, o quanto descobri amar meu marido.

—Por Deus, Elisabeta! E nos esconderam isso todo esse tempo?

—Eu fiquei com medo do que o senhor pensaria. Que me julgaria mal e…

—Eu jamais a julgaria mal, minha filha. Jamais.

—Eu sei, papai. Só estava com medo. Eu tentei lutar contra meus sentimentos, mas foi em vão. Mas não dá mais para negar o fato de que amo Darcy, ardentemente. E como demorou um pouco, como eu ligaria e diria que estava casada e com filhos? - Ela deu uma risada.

—Vocês são felizes?

Elisabeta lembrou-se de Brianna, e de como a ex mulher de Darcy estava se esforçando em acabar com a felicidade de sua família. Mas ela e Darcy se amavam, confiavam um no outro, e descobriram força um no outro. Nem mesmo Brianna conseguira estragar a felicidade deles.

—Sim, papai, muito felizes. Na verdade, está acordado entre eu e Darcy, que somos o casal mais feliz de todo o mundo.

—Sendo assim, vocês tem a minha benção. E traga aqui minha neta para que eu possa conhecê-la!

*** 

Duas horas depois Darcy passou para pegar Jane, Elisa e Victoria. Os demais Benedito se dividiram entre o carro de Rômulo, marido de Cecília, e o de coronel Brandão, futuro noivo de Mariana.

Camilo ficara realmente feliz ao ver o amigo, mais ainda por tê-lo em seu casamento. Desejou ter estado no dele, pois Darcy falava de Elisa com tanto amor e admiração, que ele sabia que havia sido um momento especial para o amigo, mesmo as circunstâncias na época tendo sido diferentes. Parece que Charlotte havia ganhado a aposta, afinal. Darcy e Elisabeta cederam ao amor que sentiam um pelo outro pouco tempo depois do casamento. Camilo nunca sentiu-se tão feliz por perder uma aposta antes. Mais feliz ainda ele ficou ao ver sua adorável Jane atravessar a nave da pequena igreja do Vale do Café. Feliz era pouco, sequer se comparava ao que ele realmente estava sentindo naquele momento. Estava em êxtase. Era como estar no céu. No paraíso. Estava se casando com o amor da sua vida, seu melhor amigo encontrava-se do seu lado no altar, testemunhando sua felicidade. Sua mãe olhava emocionada a troca de votos, braços dados com seu novo marido, um homem honrado que a amava como seu pai nunca chegou a amá-la. Darcy e Elisabeta também estavam felizes e apaixonados. A pequena Victoria exalava vida e amor, como ele jamais vira. Camilo Bittencourt estava extasiado. Realizado. Rodeado de felicidade, a sua e de todos que ele amava.

Elisabeta enxugava discretamente as lágrimas que caiam ao ver sua irmã declarar seu amor por Camilo. Eles, de fato, foram feitos um para o outro. Seriam, sem dúvidas, o casal mais feliz e generoso de toda São Paulo. Ao seu lado, no altar, depois de entregar a filha ao noivo, estava Seu Felisberto. Como desejou ter tido seu pai no altar em seu próprio casamento. Mas, naquele dia, ele não conseguiria ver nos olhos de Elisabeta a mesma felicidade que via em Jane, e na própria Elisa ali, naquele momento, sorrindo para seu marido do outro lado do altar. Sua vida não havia seguido o caminho convencional. E, em alguns momentos, ela achou que havia se perdido. Quando viu já estava no meio do caminho, não sabia onde tinha começado, mas era grata por ter chegado aonde ele a levou. Elisabeta Benedito estava em casa. Depois de quase quatro anos. Exceto pelo fato de que não era a mesma. Não era a velha e boba Elisa Benedito, que acreditava que o mundo era oito ou oitenta. Amor ou carreira. Ela agora era Elisabeta Williamson, Condessa de Pemberley. Autora de um livro. Esposa. Mãe. E seu coração estava completo. Estava com seus pais, suas irmãs, seu marido e sua filha no seu lugar no mundo, no Vale do Café.


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Notas finais do capítulo

Estamos todas e casa, assim como Elisabeta!



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