Acordo Perfeito escrita por BCarolAS, cecimaria


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Segura esse mimo, meninas!



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Capítulo 14



As primeiras semanas de janeiro passaram de forma monótona. Charlotte retornou a Paris um dia após o casamento, deixando a nova família sozinha.  O inverno se mostrava bastante rigoroso, impedindo que Victoria brincasse fora de casa, e assim eles acabaram formando uma rotina. Acordavam, tomavam café. Darcy e Elisabeta dividiam os jornais. Às vezes interrompiam a leitura um do outro para mostrar alguma matéria interessante. Sempre tiravam as palavras cruzadas para Victoria, que estava desenvolvendo gosto por ela. Em seguida, Darcy ia para o seu escritório, às vezes na empresa, e elas iam para biblioteca, onde tinham as aulas da manhã, normalmente teóricas. Darcy sempre chegava na hora do almoço, eles comiam juntos e conversavam sobre o que fariam nas tardes. Segundas, quartas e sextas, Victoria tinha aulas de piano e Darcy fazia questão de assistir. Ele dizia que era porque a menina estava se tornando uma exímia pianista, mas Elisa suspeitava que ele ainda sentia ciúmes do Theo, o que a deixava estranhamente feliz. Após as aulas eles costumavam brincar juntos, ou Elisa se retirava para a sala rosa enquanto Darcy e Victoria jogavam damas, e agora, ela estava aprendendo xadrez. Em algumas tardes eles brincavam de faz-de-conta, de casinha, de chá da tarde… Terças e quintas Victoria tinha balé. Darcy normalmente deixava a filha, e Elisa tinha aquele tempo para ela. Ele achava importante aquilo. Enquanto esperava, normalmente ele vagava pela cidade, lia um pouco, refletia sobre a vida. O jantar era servido pontualmente às sete horas da noite, e Victoria estava na cama antes de oito e meia.  E então, normalmente, eles se separavam. Elisabeta ia para sua sala, lia, escrevia, divagava. Darcy fazia o mesmo, com adicional de que, muitas noites, ele se sentava ao piano. Normalmente, ele tocava clássicos como Mozart, Beethoven, Bach. Ele adorava tocar Bach, ela concluiu. Algumas noites, ele tocava jazz, blues. Essas eram as noites favoritas de Elisa. Como aquela. Eles tiveram uma tarde particularmente agradável. Fizeram uma guerra de neve no quintal. Depois tomaram chocolate quente na lareira e tentaram ensinar alguns jogos de baralho para Victoria. Elisabeta tinha se recolhido, mas a verdade era que detestava aquele quarto. Ele era… demais. Brianna demais. Muito roxo, muito dourado, muito opulento. Se sentia desconfortável nele. Por isso levantou-se com o intuito de fazer um chá na cozinha. No caminho escutou uma canção sendo tocada e ela reconheceu, mas não conheceu. Já havia escutado, mas onde? Aquela dúvida a arrastou até a porta da sala de música, que estava aberta. Darcy estava sentado ao piano e seu suspensório vermelho a fez sorrir. Ele era uma visão e tanto.

— De onde eu conheço essa música? - Ela imediatamente se arrependeu de ter falado, pois ele parou de tocar se virou para ela.

— Desculpe, te acordei?

— Não. Estou tendo problemas para dormir naquele quarto. - Ela suspirou. - Estava indo na cozinha fazer um chá. Posso trazer um para você se concordar em tocar um pouco mais.

— Se trouxer biscoitos, aceito até pedidos. - Ele sorriu para ela, e seu coração fez uma coisa estranha. Quase como se tivesse errado uma batida. Os cabelos dele estavam muito grandes e acabavam sempre caindo nos olhos, principalmente com o hábito que ele tem de bagunça-los quando fica nervoso. E a barba por fazer o deixavam desleixado. E ele conseguia ser mais bonito assim. Não. Não mais bonito… Ela sacudiu a cabeça e deixou a sala de música tentando decidir qual aparência de Darcy era melhor.

Ela retornou com uma bandeja com um bule, duas xícaras e biscoitos amanteigados. Os preferidos de Darcy. Agora ele tocava Louis Armstrong. Ele parou quando ela chegou, e eles se sentaram na pequena mesa ao lado oposto do piano. Ela os serviu e ele devorou os biscoitos, antes mesmo do chá.  A barba por fazer ajudou a reter migalhas, e aquilo associado aos cabelos bagunçados espalhados por sua testa fez Darcy parecer juvenil. Ela não pode não sorrir.

— O que? - Ele perguntou.

— Anh?

— Do que você está rindo?

— Tem migalhas no seu rosto. - Ela estendeu o braço e limpou algumas, fazendo ele sorrir.  Pequenos gestos de intimidade já não os constrangiam mais. Ela gostava de pensar que eles eram amigos. E aquilo era aceitável para amigos. - Mas você não me respondeu.

— O que eu não te respondi? - Darcy passou a beber seu chá.

— Qual era a música que você tocava. Eu tive a sensação de que conhecia mas não consegui identificar.

— Foi uma canção que fez sucesso em 24. It had to be you.- Elisa fez esforço para se lembrar. Ela sempre franzia o cenho quando fazia isso e aquilo amoleceu o coração dele. - Nós a dançamos, no baile de Hampshire.

— Ah.

O silêncio se instalou por alguns segundos.

— Bom, você me prometeu música em troca de biscoitos. Eu cumpri minha parte do acordo.

— Muito bem. Algum pedido?

— Você pode tocá-la novamente? Era uma canção muito bonita.

E assim Darcy voltou ao piano. Ela percebeu que ele era um exímio pianista. Talvez Vicky tivesse herdado o talento dele e não de Charlotte como ele expôs certa vez. Ela foi para mais perto dele, sentando-se no banco da janela, onde ele poderia vê-la e vice-versa. Enquanto ele emendava uma melodia atrás da outra ela se deu conta de quão modesto ele era sobre os próprios dotes. Em um determinado momento, Darcy que também estava imerso em pensamentos, a perguntou.

— Por que você não consegue dormir na suíte da lady? Algo de errado?

— Não. Na verdade, sim. É só… Muito, sabe? Encontrei uma foto de Brianna em uma das gavetas. Ela era muito bonita e aquele quarto é o quarto dela. Opulento demais. Roxo demais. E eu não gosto dela, logo não gosto do quarto.

— Entendo.

— Estava pensando… Você se incomodaria se eu o reformasse?

— De forma alguma. Na verdade, eu não sei porque não pensei nisso antes.

— Ótimo. Mas agora já está tarde. Não teremos fôlego para acompanhar a Victoria se não formos dormir.

— Você tem razão.

Os dois caminharam em silêncio até chegarem às portas de seus quartos.

— Boa noite. - Os dois disseram ao mesmo tempo, e entraram em seus quartos sorrindo.

Na manhã seguinte, Elisabeta levou Victoria à mesma loja de tecidos que foram para reformar o quarto da pequena e escolheram um bonito tecido azul claro. Quando Victoria perguntou o porque de azul e não vermelho, Elisa respondeu:

— É a mesma cor de seus olhos. Quero dormir olhando para ele. - A menina abraçou Elisabeta tão forte, que Elisa quase perdeu o fôlego.

Ela não quis perder tempo escolhendo móveis, então ligou para o decorador que fez o quarto de Victoria e pediu que escolhesse móveis simples e sóbrios, mas elegantes. Darcy estava numa reunião e sairia perto de uma da tarde, então eles almoçariam em um novo restaurante italiano e depois iriam para casa. No caminho, passaram em frente a uma boutique onde vendiam roupas de mãe e filha. Elisa não pôde deixar de perceber o olhar de Victoria ao ver mães e meninas entrando animadamente na loja.

— Você acha que Adeline descobriria se cometessemos uma pequena traição? - Os olhos de Victoria brilharam e óculos dela escapou para a ponta do nariz e ela empurrou de volta com o dedinho. Aquele gesto já era natural para ela, e Elisabeta tinha vontade de beijá-la todas as vezes.

Elas acabaram comprando dois vestidos e um casaco, e acabaram trocando de roupa no provador, e as duas foram encontrar Darcy com vestidos azuis e casacos vermelhos, iguais.

— Estou chateado que fui excluído das roupas de família. - Ele respondeu abraçando Elisa e depois segurando a mão livre de Victoria, enquanto eles caminhavam até o carro dele.

— Pode deixar, meu esposo. Da próxima vez escolhemos um vestido para você também.

Darcy e Victoria gargalharam e eles seguiram para o restaurante. Durante a tarde, os três estavam na sala rosa, fazendo nada em especial. Darcy se admirava por Elisa sempre o chamar para ficar ali, com elas, enquanto ela poderia facilmente aproveitar o tempo para ela. Ele lia um dos livros dela, de Aluísio de Azevedo, e Elisabeta agora estava sentada na sala, enquanto Victoria brincava de pentear seus cabelos.

— Sabe, Elisa, eu amo que seus cabelos são compridos e não curtos como  os de todo mundo.

—  Eu não fico bem de cabelos curtos. - Ela fez uma careta que levou Darcy a sorrir.

— Você já cortou seus cabelos? - Victoria perguntou curiosa.

— Uma vez, mas não foi porque eu quis.

— E foi por que então? - Darcy também ficou curioso.

— Foi um ano antes de me mudar para cá. Minha irmã Lídia e minha irmã Mariana viviam ás turras. Lídia só tinha 14 anos, e Mariana já tinha 18, então papai deixou que a Mari fosse a uma festa, mas não deixou Lidia ir. Ela ficou furiosa e culpou Mariana. Para se vingar, ela pôs cola no shampoo de Mari. - Darcy arregalou os olhos e Victória fez um “o” e levou as mãos ao rosto. - Eu não sabia e meu shampoo tinha acabado. Enfim, eu e Mariana tivemos que cortar nossos cabelos bem curtinho - Ela apontou para as orelhas. - Mariana adorou, mas eu fiquei parecendo um cachorro tosado.

— Meu Deus. - Darcy estava surpreso mas acabou rindo. - Eu adoraria conhecer suas irmãs! - Ele se deu conta de que sabia pouco sobre a vida dela no Brasil.

— E eu achava que ter irmãs era divertido. - Victoria comentou.

— E é! Mas minhas irmãs são muito diferentes. E irmãs brigam, Vicky. Você precisava ver.

— Você pode me falar um pouco mais sobre elas? - Darcy fechou o livro e a olhou, um pouco receoso. Mas ela virou a cabeça para sorrir para ele. O que fez Victória reclamar, pois desmanchou parte do penteado.

— Claro. - E com a mão, chamou ele para o sofá em frente a onde ela estava. Ele levantou e deixou o paletó. Ela adorava quando ele usava o colete azul escuro. - Bom, como você sabe, eu sou a mais velha de cinco irmãs. Depois de mim vem a doce Jane, que vocês conheceram, ela é dois anos mais nova. Logo em seguida vem a Mariana. Mari é a mais parecida comigo. Ela é espírito livre. Gosta de aventura, de correr perigo. Da última vez que nos correspondemos ela estava tentando entrar em uma liga de corridas de motocicleta! - Darcy mais uma vez se mostrou surpreso. - Para você ver que não ficou com a mais doidivanas. - Ela riu e Darcy gostou de como ela colocou aquilo. - Cecília é um ano mais nova que a Mariana. Ela é a mais inteligente de nós. Bastante curiosa, e uma leitora voraz. Mas ela é delicada como Jane, então eu diria que ela é a mistura ideal entre eu, Mariana e Jane. Lidia veio alguns anos depois, e como toda caçula foi bastante mimada pela mamãe. Ela é a mais desmiolada, mas talvez seja porque ela ainda é muito jovem. Ela está sempre inquieta e apaixonada. Lídia troca de paixão como a gente troca de roupa. Mas é a mais divertida de todas nós.

— Você sente muita falta delas, não sente? - Darcy perguntou.

— Você não faz ideia.

— Talvez nós possamos visitá-las? Ou trazê-las aqui?- Darcy ofereceu mas antes que pudesse ter uma resposta de Elisa, a senhorita Smith entrou na sala.

— Lorde Williamson, o senhor tem visita.- Ela anunciou.

— E quem é, Mary?

— Ela se apresentou como Lady Legge. E está acompanhada de uma criança do tamanho de Victoria.

Ao escutar aquilo, Victoria soltou a trança de Elisabeta na metade. E Darcy levantou ao mesmo tempo.

— Eu não acredito! - Ele abriu um sorriso. - Diga que já iremos recebê-las!- Voltou-se para Elisa - Você irá adorá-la! Cora é uma mulher como poucas! Aventureira, divertida, à frente do seu tempo! Uma das mentes mais brilhantes que já conheci! E Vicky, ela tem uma filha que é quase da sua idade, eu creio. Faz algum tempo desde que nos correspondemos.

À princípio, o entusiasmo de Darcy animou Elisabeta. Até porque, ele não era um homem de muitas amizades. E uma mulher como ele descrevera parecia interessante. Mas então ele parou no espelho e se encarou.

— Preciso fazer a barba, não estou apresentável. - Depois, se voltou para as garotas. - Vocês podem ir na frente? Peçam Matilda para preparar um chá de amor. Era o preferido dela. E biscoitos amanteigados. Eu me juntarei a vocês em alguns minutos.

Entretanto, a empolgação de Darcy misturada com sua preocupação com a aparência deixou Elisabeta um tanto… insegura? Afinal, quem era aquela mulher de quem ela nunca tinha ouvido falar e, de repente, era a melhor pessoa do mundo que exigia que ele fizesse a barba? Elisabeta prendeu a meia trança que Victoria fizera, deixando o restante dos cabelos soltos, e ajeitou o vestido de Victoria antes das duas caminharam até a sala de visitas. Ao chegar, o bolo no estômago de Elisa aumentou, pois sentada no sofá da sala estava a mulher mais bonita que ela já vira na vida. Lady Legge era alta, tinha a pele clara, salpicada de leves sardas, os cabelos mais escuros e lustrosos, e olhos acinzentados, emoldurado por longos e escuros cílios. Ela vestia preto do arranjo da cabeça até o sapato, assim como a garotinha sentada ao seu lado. A menina, notou Victoria, parecia com uma de suas bonecas. Tinha cabelos no tom mais bonito de louro, os olhos acinzentados da mãe, as bochechas rosadas e o rosto em formato de coração. As duas suspiraram ao mesmo tempo.

— Olá, sejam bem-vindas. - Elisabeta disse por fim, empertigando um pouco a coluna e assumindo a postura de dona da casa, afinal, ela agora era a Lady Williamson. A Lady Legge levantou-se, seguida da filha, com um olhar curioso.

— Boa tarde. Sinto que não fomos apresentadas. Lady Legge, viscondessa de Moleyns. E esta aqui é minha filha, Lady Emma.

— É um prazer conhecê-la, Lady Legge. Lady Emma. Eu sou Elisabeta. - E assim ela ofereceu seu mais brilhante sorriso, principalmente para a garotinha que sorriu de volta, mas agora encarava Victoria.

— E eu sou Victoria Williamson. - Vicky disse por fim, sorrindo para a menina que sorriu para ela. Lady Cora sorriu para Victoria.

— Meu Deus, eu não acredito! Olhe só para você! A última vez que lhe vi não tinha mais de três anos de idade! Não se lembra de Emma, não é? Vocês se davam tão bem! - Voltando-se para Elisabeta, ela sorriu. - E a senhorita deve ser a preceptora dela!

Mas antes que Elisa pudesse responder, Darcy surgiu na sala.

— Cora!

— Darcy! - Ela foi até ele e o abraçou. Elisabeta levantou a sobrancelha. Desde quando ingleses se abraçavam? - Quanto tempo!

— Cora, minha amiga! Olhe só para você! Continua tão bela quanto eu me lembrava.

— Já você, consigo afirmar que está ainda mais bonito! Lembra-se de Emma? - Ela puxou a filha para frente.

— Meu Deus, pequena Emma! Como cresceu. - Ele se voltou para Cora. - Igualzinha você quando tinha sua idade. - Cora revirou os olhos.

— E Victoria! Está enorme. E linda, claro. Usando óculos! Que interessante.- Naquele ponto, Elisabeta já havia cruzado os braços em frente o corpo. Darcy e “Cora” pareciam deveras íntimos. Então ela se voltou a Victoria.

— Vicky querida, você não quer mostrar seu novo quarto a Emma? - Victoria concordou e as duas meninas deixaram a sala. Darcy pareceu se tocar naquele momento que Elisabeta estava ali, ou assim ela pensou, pois ele foi até ela e segurou sua relutante mão.

— Cora, já conheceu minha esposa, certo?

— Esposa?- Lady Cora piscou algumas vezes. - Deus, creio que cometi uma gafe sem tamanho. - Ela foi até Elisabeta e segurou sua mão. - Mil perdões, Lady Williamson.- Depois se voltou a Darcy, sentando-se no sofá, em frente a eles. - Não sabia que havia se casado novamente.

— Como não? Assim que soube que vocês retornaram à Inglaterra, mandei convites a casa de vocês. E onde está John?

— Ah, você não soube. John estava muito doente. Eles não sabiam o que eram, lá nas Indias Orientais. Quando enfim consegui convencê-lo a retornarmos, os médicos disseram que ele não tinha muito tempo, então voltamos para Moleyns. Ele queria morrer em casa.

— Meu Deus, Cora, eu não tinha a menor ideia. Se eu soubesse… Eu gostaria de ter estado lá por você. - Ele esticou a mão e pegou a mão dela. Elisabeta se sentiu tão errada por ter odiado aquele momento.

— Eu sinto muito, Lady Legge.

— Você pode me chamar de Cora. É Elisabeta, certo? Mas como eu disse, ele estava doente por muito tempo. Nos deu um período para acostumar com a ideia. Estamos bem. Quer dizer, tão bem quanto se pode ficar. Já faz algumas semanas.- Ela suspirou. Darcy a olhou com pesar. - Mas não quero falar sobre coisas tristes. Então você se casou! Uau. Acho que realmente nós nunca ficaremos solteiros ou descomprometidos ao mesmo tempo, hein? - Ela riu, arrancando um sorriso de Darcy também. E, virando-se para Elisa perguntou - Darcy lhe contou que éramos vizinhos em Pemberley?

— Não… - Elisabeta olhou de um para o outro. Então Darcy explicou.

— Crescemos juntos. Charlotte é dez anos mais nova que eu, então Cora sempre foi minha companheira de aventuras.

— E nós aprontamos muito. Lady Francisca ia a loucura todos os verões! Lembra da vez em que Brianna nos pegou nadando de roupas íntimas no riacho? Ela enlouqueceu porque era sua prometida. - Ela se voltou para Elisa. - Nunca nos demos bem, Brianna e eu. Às vezes eu fazia as coisas só para irritá-la. Cavalgava no mesmo cavalo que Darcy… Ela ficava louca. Quando éramos mais novos e não entendiamos o que era ser prometido, Darcy e eu juramos que nos casaríamos, e moraríamos em Pemberley. A vida é engraçada.

— Ô. - Respondeu Elisa.

— Cora era indomável. - Darcy contou. - Lady Candice, sua mãe, estava sempre reclamando. Você sabe, ela detestava todas as obrigações femininas da sociedade. Preferia cavalgar, subir em árvores.

— Lutar esgrima! - Cora complementou. - Aposto que ainda consigo lhe vencer!

— Eu não duvido. - Darcy sorriu.

— Teve essa vez, Elisabeta, em que eu ganhei dele na esgrima e ele ficou bastante chateado, então me desafiou para uma corrida de cavalos. Eu caí e torci o pé. Fiquei de cama por um mês. Ele ficou tão culpado, todos os dias me levava flores. Se lembra daquela vez que meu irmão nos fez acreditar que havia um fantasma no sótão?

— Não fui na sua casa o resto do verão. - Ele riu. - Mark adorava nos pregar peças. Eu me lembro que quando fiz nove anos, pedi o meu pai para trocar Brianna por você. Pois ele disse que quando um homem perdia para uma moça no cricket, sua honra só seria resgatada assim.  - Nesse momento Elisa levantou-se.

— Matilda está demorando com o chá, eu vou ver o que aconteceu.

Elisabeta passou na cozinha, mas depois acabou andando pela casa e parando na sala de música. Seu sangue estava fervendo. Eles não tinham a menor decência? Estavam flertando na maior cara dura. Na sua frente!

— “Nunca estamos solteiros ao mesmo tempo, Darcy”. Argh! Lambisgoia. E ele também não fica atrás! Descarado.

Ela se sentou ao piano e levantou a tampa. Não tocou nada, apenas deslizou o dedo sobre as teclas.

— “Ai porque eu queria que você fosse a minha prometida”. - Ela resmungou mais uma vez e tocou algumas teclas.

Elisa estava perdida em seus pensamentos (e sentimentos!) quando Darcy entrou na sala.

— Elisa, o que você está fazendo aqui? Estava lhe procurando! Achei que tivesse subido para checar as meninas, mas… - Ele encarou Elisabeta que dirigia um olhar de desdém a ele. - Elisa, o que foi? Por que você está aqui? Temos visita.

— Você tem visita. E do jeito que a conversa estava indo achei melhor dar privacidade para os dois, antes que pulassem um em cima do outro na minha frente mesmo. Não que os dois estivessem parecendo notar minha presença, de fato.

— Elisa, não estou acompanhando… Do que você está falando? - Ele entrou na sala e fechou a  porta. Elisabeta se levantou.

— Ah, Darcy, por favor! Não se faça de desentendido! Não para cima de mim! Vocês estavam… estavam…

— Estávamos o que, Elisa??? Eu não estou lhe entendendo!

— Sendo desrespeitosos comigo! Flertando em minha cara! Nossa, que pena, vocês nunca estão solteiros ao mesmo tempo. Oh, Romeu e Julieta. Dois amantes, apaixonados injustiçados pelo destino. Olha, meu livro é bom, mas quando eu terminá-lo vou escrever esse.

A expressão de Darcy mudou bastante durante a fala de Elisa. Primeiro foi confusão. Depois indignação e agora… divertimento.

— Você está sorrindo? - Era uma pergunta obviamente retórica. E Elisabeta estava furiosa. - E ainda ri na minha cara! Eu preciso lembrá-lo de que há uma cláusula…- Darcy começou a andar em sua direção, com passos de um gato e antes que ela pudesse terminar a fala dela, ele estava a centímetros de distância.

— Você não precisa me lembrar de nada. - E dito isso ele passou uma mão em sua cintura.

— O que você está fazendo? Não encoste em mim. Vai atrás da sua amada e destemida Lady Cora.

— Elisabeta Benedito Williamson. - Ele falou o último sobrenome com um prazer ainda maior. - A senhora está com ciúmes? - Questionou com um sorriso no canto da boca, que estava próxima demais da de Elisabeta.

— Que ideia mais estapafúrdia! - Neste momento, Darcy usou a mão que não estava em sua cintura para segurar seus cabelos. E fixar sua cabeça no lugar. E então, a olhando nos olhos disse:

— Me diz que toda essa indignação não tem nenhuma pitada de ciúme.

Elisabeta suspirou. E antes que sua parte racional voltasse ao controle daquela situação, suas duas mãos foram para o rosto de Darcy o trazendo para um beijo apaixonado. Darcy correspondeu automaticamente. Aquilo não era um beijo. Era uma adoração. Elisabeta sentia que seu corpo era diesel e Darcy era uma fonte de calor. Ela incendiava. Ela puxou os cabelos dele e ele desceu os beijos para o seu pescoço, a sua clavícula. Ela se remexeu, para que ficasse ainda mais perto dele, se é que era possível. Ela sentia a animação de Darcy. Queria que fosse possível ele sentir a sua. Já para Darcy era quase como uma competição silenciosa. De quem estava mais faminto, de quem estava no comando. Dê-me tudo que você tem e um pouco mais. Ele levantou a perna de Elisabeta a encaixou em sua cintura. Ela rapidamente a prendeu com o pé, se remexendo junto à intimidade dele. Ele suspirou e a olhou nos olhos. Ele conseguia ver as chamas no olhar de  Elisabeta. Deus, ela o enlouquecia completamente.

— Ah, Elisa… - Ele suspirou, então ela o puxou novamente para junto de si e foi sua vez de descer o beijo pelo pescoço dele. Finalmente percorreu aquela veia com a língua, os dentes… Estava cada vez mais difícil resistir a aquele homem, e Deus, ela não resistiria mais.

Darcy reagiu a trazendo ainda mais para si, suas mãos tocando o corpo dela. Braços, costas, seios.  Elisabeta puxou a gravata dele e mordeu o encontro do seu pescoço com a clavícula. Darcy a ergueu, puxando-a para seu colo, e a beijou novamente. Eles tentaram encontrar apoio em alguma superfície, mas o único móvel perto era o piano, então, sem pensar, ele a sentou sobre as teclas, fazendo um estrondoso barulho. Aquilo fez Elisabeta rir.

— Precisamos voltar. - Ela falou enquanto Darcy se ajoelhava e descia o vestido dela de forma que pudesse tocar seus seios sem restrições. - Afinal de contas temos visitas. - Mas os lábios de Darcy finalmente encontraram seu objetivo, fazendo Elisa se remexer e o piano fazer barulho mais algumas vezes. Darcy jurou ter ouvido um barulho sair da boca de Elisabeta também, além das teclas compondo uma melodia desajustada que soava exatamente como eles dois: urgentes e desesperados por mais.

— Agora você me lembra disso? - A voz de Darcy estava rouca quando ele finalmente se afastou de Elisabeta, depois de provar o gosto dos seios dela. Elisa sentiu um vazio.

— Na verdade, - ela suspirou, buscando fôlego - nós sempre podemos ficar aqui, eu não ligo. - Ela tentou puxar ele para si novamente, mas ele já estava subindo vestido dela. Que inferno de homem sensato! Com um suspiro, Darcy disse.

— Não é nem um pouco cortês com nossa visita, por mais tentador que soe absolutamente tudo aqui.

Os dois tentaram se arrumar, e quando Darcy terminou, sua gravata estava levemente torta, os cabelos um pouco desalinhados, seu pescoço vermelho, e o melhor, ele cheirava a Elisabeta.

— Espero que isto tenha deixado bem claro que Cora não é nada mais que uma amiga para mim. - Ele falou diante da porta, antes de retornar para a sala, a mão estendida para ela.

“E eu, Darcy? O que eu sou para você?” Elisabeta se perguntou, mas não disse nada enquanto o seguia de volta para a sala de visitas, levemente desalinhados e de mãos dadas.


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Notas finais do capítulo

Oi, estão vivas?



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