A Criatura de Coração Quente escrita por Cary Monteiro


Capítulo 2
Capítulo 2




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O Doutor apareceu na sala de comando da TARDIS enquanto terminava de vestir seu casaco preto de capuz. Ted o observou e aguardou que ele estivesse perto o bastante para começar a falar.

—  Ela disse para chamá-lo de Doutor. Outra vez eu queria pedir descul-

— Um instante. - O Doutor interrompeu apontando com o dedo indicador na sua frente. Ele se voltou para a garota. - Clara, onde está o revólver?

— No incinerador.

— Boa menina. Pode dar continuidade ao pedido de perdão pela sua estupidez, senhor Ted.

— Doutor, que calças são essas? - Clara perguntou meio aos risos abafados, olhando para um senhor do tempo chateado e suas calças quadriculadas.

— Peguei o que parecia limpo. Era isso ou uma outra calça listrada laranja que não combinaria em nada com o meu casaco. Aí eu teria que pegar o outro juntamente colorido e… VOCÊ IA FAZER PIADA DE MIM NÃO IMPORTANDO COMO.

— E desde quando você se importa em combinar roupas? - Clara gargalhava diante da aceitação do Doutor e sua falta de senso de moda serem motivo de piada para ela.

— Err.. - Ted sentia que ia vomitar a qualquer momento, sentia-se completamente arrasado e desnorteado diante de toda aquela situação. Ele abaixou a cabeça e passou a sussurrar, visto que ninguém mais parecia dar-lhe atenção. - Eu fiquei nervoso…

— Diga, Ted. Por que o nervosismo? Você me parece jovem para estar tão estressado. Quer dizer. Vocês humanos tem sofrido muito recentemente com o acúmulo de informações devida a globalização, política, protestos, doenças, religião, filosofias que nascem e morrem todos os dias assim como vocês próprios. Mas fora isso, não vejo com o que se preocupar, ser um humano e se encher de batata-fritas todo dia parece ser uma vida bem fácil de se viver.

— Vo-você é um alienígena também, não é? E essa cabine, é sua nave espacial?! - Ted recuou para trás até tropeçar e cair de cócoras ao chão. Ele suspirou de cansaço e pos as mãos escondendo o rosto, começou a resmungar choroso e com a voz abafada. - Eu estou cansado desses alienígenas. Eu preciso ver minha filha.

— Vamos, Ted. Pare de balbulciar e diga de uma vez o que está havendo.

— Doutor, ele está em choque. Deixe-o em paz. - Clara foi até Ted e o ajudou a ficar de pé.

— Não consigo acreditar. Esse homem invade a TARDIS, me dá um tiro e você aí, sendo gentil com ele?

— Exatamente, Doutor. É impossível invadir a TARDIS. Pelo menos foi o que você me contou. Ela deixou que ele entrasse. E eu não queria dizer isso, pelo menos não aqui dentro onde ela pode me ouvir. Mas eu acho que confio na escolha dela. - O Doutor olhou para ambos pensativo e coçou o queixo. Andou de um lado para outro pelos controles de comando da nave. Passeando os dedos nos botões.

— Certo, certo. Vou confiar nela também. Apesar disto sempre acabar bem mal. O que disse sobre sua filha?

— O alienígena que eu estava caçando… Ele, ele matou a minha mulher e parece querer pegar minha filha também. Eu preciso ir vê-la! - O Doutor olhou-o intrigado.

           - Como é este alienígena? A quanto tempo isto aconteceu?

           - Huh?!

           - Doutor, agora não é a hora. Não vê como ele ainda está atordoado? - Clara comentou.

           - Oras, eu preciso de mais informações para poder trabalhar… Ah! Já sei! - E sem perder tempo o Doutor puxou o Ted até bem perto do console de comando da TARDIS, pegou suas mãos e as posicionou na interface de comunicação telepática.

           - Argh! O que é isso? - Ted perguntou fazendo cara de nojo.

           - Pense na sua filha, vamos! Vamos! - O Doutor falou animado. Ted sentiu-se incomodado, mas atendendo ao pedido fechou os olhos e se concentrou. A TARDIS começou a emitir seus sons e luzes de partida fazendo o Doutor sorrir.

           - Ah! Se segurem! - Ele finalizou puxando uma alavanca para baixo. Clara obedeceu na mesma hora devida a experiência, mas já era tarde demais para Ted que estatelou ao chão quando a máquina impulsionou vôo. Três segundos depois o Doutor passou por cima dele com um salto e correu para a porta.

           - O que foi que houve? - Ted perguntou enquanto se levantava.

           - Nós nos movemos! Clara, explica pra ele! - O Doutor respondeu rapidamente e saiu porta afora deixando os dois sozinhos dentro da cabine.

           - Você tem razão, a TARDIS é uma nave espacial. Acho que o Doutor usou sua memória para chegar até a sua filha. - Clara comentava enquanto empurrava um atordoado Ted para o lado de fora.

           - Mas como isso é possível?! Só houve uma freada e… - Ele percebeu estar em outro lugar, um lugar familiar. Sua visão foi tomando forma e ele se viu de pé na frente de sua residência. Ele virou rapidamente para trás e observou a cabine policial depois voltou à sua frente, observando o Doutor abrir sua porta da frente com um objeto luminoso na mão.

           - Doutor, ele mesmo podia ter aberto a porta para nós. - Clara disse assim que chegou perto o bastante do senhor do tempo.

           - Tolice. Estamos perdendo tempo. Pergunta: Por que está tudo tão quieto?

           - Está tudo escuro também. Você deixou sua criança sozinha, Ted? - Clara virou-se para o homem e perguntou. Ele estava distraído fazendo-se as mesmas perguntas sobre o silêncio e a escuridão.

           - Não! Ellie só tem um ano, eu a deixei com a babá. - Ele passou a mão no interruptor, mas não funcionou e os três permaneceram no breu.

           - Interessante… - O Doutor comentou e passou a andar na frente. Ele entrou na sala de estar e tentou não bater em nenhum cômodo em vão, xingando baixinho quando bateu com o pé em alguma coisa. Escorreu a mão sobre a cortina e a retirou da frente, deixando a luz de fora adentrar no recinto. A chuva já havia parado e intensificado o silêncio que caia sobre a casa. Clara e Ted seguiram o Doutor e pararam abruptamente quando ouviram um rangido no chão vindo do segundo andar. O Doutor mostrou o dedo indicador na frente da boca pedindo que fizessem silêncio e os três começaram a subir lentamente o lance de escadas que levava até os quartos.

         Um grunhido foi ouvido no final do corredor e o Doutor acelerou o passo focado na porta entreaberta, tropeçando em algo no caminho e quase caindo ao chão, quando olhou para trás e apontou a luz de sua chave de fenda sônica percebeu que o que obstruía o caminho era uma adolescente desacordada.

           - É a babá! - Ted sussurrou e agachou-se para ampará-la.

           - Não está morta, apenas desmaiou. Vamos continuar. - O Doutor virou-se para a porta e ao dar um passo mais longo cambaleou para trás e se ancorou na parede. Clara foi ao seu encalço ver o que havia acontecido e com a chave de fenda iluminando o senhor do tempo, ela viu que o ferimento havia aberto e voltado a sangrar, manchando parte da camiseta. - Argh! Clara, faz alguma coisa!

           - Doutor! Sabe por que abriu? Porque você não pára quieto! - Ela reclamou de volta, procurando por um lenço ou qualquer coisa que pudesse usar para estancar o sangue. Ted ignorou ambos e continuou a caminhar pelo corredor. Ele sentia seu corpo todo tremer e tentava desprezar o medo tomando conta do seu corpo, mas ele precisava continuar pelo bem de sua filha. Passou a mão pela porta e foi vagarosamente abrindo-a. O lado de dentro era iluminado pela luz que vinha da janela e assim ele pode ver a monstruosa silhueta que carregava sua cria, como que ninando-a. A criatura ainda não havia percebido a presença de Ted e continuava a cantarolar baixinho em grunhidos para o bebê em seu colo.

           - Ellie! - Ele gritou. O monstro encarou-o e semicerrou os olhos vermelhos. Ele rosnou e foi lentamente descendo a criança de volta ao seu berço. Ted sentia-se paralisado. Um passo em falso e sua filha estaria morta. O Doutor e Clara finalmente chegaram e se surpreenderam com a criatura a sua frente. O silêncio tomou conta do recinto, o monstro estava encurralado. A janela era pequena demais para deixar passar seu grande corpanzil esquelético.

           - Hey, deixe a pequena em paz. Sei que pode me entender! - O monstro respondeu ao Doutor silvando como uma serpente. Passou a longa cauda como um chicote sobre Ted, Clara e o Doutor. Os três se abaixaram para fugir do ataque. Logo em seguida o alienígena se lançou contra eles, porém não para atingí-los, mas para passar pela porta. Os três se jogaram para dentro do quarto. Ted levantou-se antes de todos e correu para ver sua filha. O Doutor e Clara levantaram-se e correram atrás do monstro que descia as escadas passando a cauda pelos porta-retratos e derrubando-os ao chão. Ambos senhor do tempo e companheira seguiram o monstro até o meio da rua quando era tarde demais e o mesmo já havia conseguido fugir. Clara voltou para dentro para ver como Ted e a criança estavam. Antes de entrar, o Doutor passou a chave de fenda sônica pela caixa de força e religou a energia da casa.

           - Ted, está tudo bem? O monstro fugiu, infelizmente. - Clara perguntou preocupada. Ted descia as escadas com a filha dormindo em seu colo.

           - Estamos bem… - Ele respondeu rapidamente, ainda parecia estar recuperando ar. Clara percebeu seus olhos marejados e o pequeno sorriso enquanto o rapaz observava a criança.  

           - Ela é linda.

           - E está segura, graças à vocês.

           - Nosso trabalho está apenas começando… - Clara constatou. O Doutor voltava à sala para encontrá-los no mesmo instante.

           - Exato. Clara, onde está a babá? Eu tenho muitas perguntas… - Os três ouviram o ranger vindo da escada e avistaram a garota descer lentamente com uma das mãos massageando a cabeça.

           - Senhor , o que foi houve? Ellie está bem?

           - Está. Você está bem?

           - Garota, diga-nos o que aconteceu. - O Doutor interrompeu.

           - Eu, eu não sei…Eu estava colocando Ellie para dormir quando as luzes se apagaram. Saí do quarto para ver o que havia acontecido e levei uma pancada na cabeça. - Ela respondeu enquanto massageava a testa.

           - Ótimo. Você é inútil. Vai pra casa. - Ele foi empurrando a moça para a porta de entrada.

           - Doutor! - Clara chamou-lhe a atenção.

           - O que?!



           Não muito longe dali, num prédio empresarial, uma conversa começava.

           - Senhor, a criatura foi vista novamente nos arredores deste bairro a poucos minutos atrás. - A secretária comentou enquanto apontava o local no mapa numa grande tela LCD na parede. Um homem sentado em sua poltrona observava tudo.

           - Acione a equipe que temos um monstro para caçar e que isto termina esta noite. - Ele ordenou. A secretária saía da sala enquanto discava um número no celular.Ele levantou e se dirigiu para a janela, observou o tráfego iluminando as ruas logo abaixo. O homem arrumou a gravata enquanto soltava um suspiro triunfante e formava um sorriso doentio.


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Notas finais do capítulo

E ae, o que tão achando? Manda lá nos comentários c:



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