Os Segredos de Westside escrita por C C M A


Capítulo 2
Capítulo 2 - Mau Agouro




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02 de setembro de 1982, Silverlake.
      Quatro dias haviam se passado desde o incidente na Floresta de Westside. Arthur vira inúmeras vezes os clientes entrarem e saírem das portas do Jerry’s Bar comentando sobre isso. Toda noite ao chegar em casa, quando ia para seu quarto no casebre no qual morava com seu pai, Arthur desenhava em seu caderno de desenhos a forma como ele imaginava que estariam os corpos das vítimas na floresta. Era algo macabro, mas o sombrio encantava Arthur, que tinha o sonho de ser um ilustrador de contos de terror.
      Seu pai estava sóbrio a cinco meses, havia arrumado um emprego de faxineiro em uma loja da região. Entretanto, ainda era um estranho que dividia a casa. Desde que sua mãe morrera e sua irmã havia se casado e partido para São Francisco, a vida com seu pai não era mais a mesma. Michael era um homem depressivo que havia perdido o emprego por trabalhar embriagado. Todos esses problemas começaram a anos trás, quando a mãe de Arthur falecera de câncer. Desde então, Michael foi de mal a pior e Arthur foi o único que permaneceu ali com ele, mesmo com todo os surtos que muitas vezes lhe rendiam cicatrizes como o corte na sobrancelha. Viver com um alcóolatra era sua sina.
      No início de setembro voltava as aulas no Colégio de Silverlake. Arthur iniciaria o ensino médio naquele ano letivo. Após perder a carteira por dirigir bêbado, o carro de Michael ficou para Arthur que a partir do primeiro ano o usaria para ir até a escola. Quando chegou ao colégio, sentiu olhares em cima de si, mas fez o máximo para ignorar. Arthur usava calças jeans surradas, botinas de escalada e uma jaqueta de couro velha. Enquanto caminhava pelos corredores via as encaradas que sempre recebia por ter a fama de problemático filho de pai viciado. Nesse trajeto, topou com seu colega de trabalho, Eric Cooper, um garoto alto de cabelos negros e olhos azuis que usava uma jaqueta do time de natação. Um típico atleta, todos gostavam dele. No mundo fora do Jerry’s Bar, Eric cumprimentava Arthur com um sorriso tímido e nada além, pois não queria queimar sua imagem de bom moço, Arthur no fundo entendia.
      Os mesmos rostos esperavam naquela maldita escola. Viu Claire Foster sentada ao lado do namorado Noah Ford, durante sua aula de espanhol. Claire era uma garota com quem Arthur dividia a aula de espanhol desde os 7 anos de idade, entretanto, a menina nunca havia dirigido uma palavra sequer para Arthur, igual a grande maioria das garotas do colégio. Durante a aula, Arthur observou Claire passando bilhetes para seu namorado que estava sentado ao seu lado. Ambos trocavam sorrisos e olhares, o que parecia algo ridículo para Arthur, que via todas as relações românticas como uma grande perda de tempo.
      Com o fim daquela aula, Arthur dirigiu-se para o refeitório, onde de costume comeu seu almoço sozinho numa mesa para seis pessoas. Não tinha amigos naquela cidade. Ninguém queria se aproximar de um problemático. Arthur sentia o ar pesado naquela manhã. Muitos comentavam sobre a morte dos colegas que foram brutalmente assassinados por algum animal na floresta. O velório seria dali dois dias. Candy, a melhor amiga de Nora, estava aos prantos sentada na mesa junto ao grupo de animadoras de torcida. Nora era uma das principais daquele grupo. A mesa dos atletas também estava de baixo astral, embora nem todos pareciam exatamente tristes com a situação.

04 de setembro de 1982.
      Foram dias longos até o velório. Dois caixões selados foram usados no enterro. O dia estava tempestuoso e chovia muito. Todos observavam os caixões cercados por coroas de flores brancas. Guarda-chuvas negros pintavam o cenário. Arthur viu os pais de Elijah chorosos em um canto, a mãe com óculos de Sol para tampar as olheiras das noites mal dormidas. Tudo para preservar a imagem. O pai estava sério, mas não deixava cair uma lágrima sequer. Enquanto a família de Nora estava completamente desnorteada.
      Arthur deu seus cumprimentos a todos, antes de se afastar daquela multidão de tristeza e luto. Escorado em uma árvore, olhou todos se despedindo dos familiares. Enterros chamavam-lhe a atenção. Estava tão centrado que se assustou quando ouviu a voz de uma garota o advertindo:
      - Não deveria segurar um guarda-chuva debaixo de uma árvore, ambos atraem raios – disse Hannah o encarando. A garota era uma colega de escola também, porém pouquíssimas vezes o dirigiu a palavra.
      - Hannah, não é? – indagou Arthur.
      - E você é o Arthur, que bom que sabemos nossos nomes. Enfim, não fique aí, não quero ir em mais velórios hoje – e com esse comentário maduro a garota se retirou de sua frente.
     

      Após o enterro, Arthur voltou para casa para trabalhar em alguns desenhos inacabados. Estava fazendo a personificação de um pesadelo que estivera tendo nos últimos meses. Uma enorme massa negra, meio disforme, mas com tentáculos e uma penumbra escura sobre ele. Arthur não sabia ao certo o que era aquilo, mas parecia bonito quando tentava passar para o papel.
      Já era tarde da noite, quando seu pai muito atrasado apareceu em casa. Arthur o observou entrando na cozinha com um pacote nos braços. O garoto se aproximou silenciosamente e o encarou:
      - Onde estava?
      Sua voz tirou a atenção de Michael que o encarou com uma garrafa de vodka em mãos:
      - Não é o que parece, Arthur, isso é um presente, para os pais de Nora.
      - Não foi no enterro. – afirmou Arthur.
      Michael engoliu em seco, totalmente desconcertado. Arthur se aproximou e retirou a garrafa de suas mãos, o encarando. Em seguida, tirou o bico com o dente e despejou todo o conteúdo na pia, com seu pai observando. Ao terminar, Arthur o entregou a garrafa vazia com desgosto no olhar e subiu para o quarto, era um péssimo dia para se estar vivo.

****

05 de setembro de 1982.
      Claire beijou o namorado até perder o ar. A garota estava sentada sobre o colo de Noah no banco do motorista de seu Dodge Charger preto de 78. Noah deslizava as mãos por baixo de sua blusa, acariciando seus seios. Claire sentia a ereção do namorado. Quando faltou ar a garota se afastou e o encarou. Era tarde da noite, o carro estava parado em frente à sua casa. Noah era um garoto alto de 17 anos, estava no último ano do ensino médio. Seus cabelos eram loiros e batiam na altura dos ombros. No queixo havia alguns fios de uma fina barba loura. Os olhos castanhos escuros encaravam Claire com desejo:
      - Não quer ir para minha casa? – perguntou ele de forma provocadora.
      Claire respirou fundo e deslizou para o banco do passageiro, arrumando as roupas em seu corpo:
      - Hoje não, Noah – e assim despediu-se com um selinho nos lábios e saiu do carro. Enquanto caminhava rumo à casa, notou que a luz do quarto dos seus pais estava acesa. Bruce, seu padrasto, observava seriamente a garota pela janela. Claire sentiu um frio na espinha, enquanto entrava na casa diretamente para seu quarto.
      Deitada em sua cama com a porta trancada, Claire olhava fixamente para o teto do quarto. Sua mente estava longe, pensando no velório dos colegas da escola. Por algum motivo, uma sensação ruim se mantinha presente na boca do seu estômago. Ao olhar pela janela, notou que Eric estava acordado, pois a luz de seu quarto estava acesa. Claire estranhava ele estar acordado àquela hora.
       A garota caminhou até a janela para fechar a cortina e poder dormir, contudo, nesse momento, algo bateu abruptamente em sua janela, caindo do lado de fora. A menina deu um grito abafado e encarou o corpo inerte de um corvo, morto em seu jardim. Claire tremia, pois sabia o que aquilo significava. Era um mau agouro.
 


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