Os Segredos de Westside escrita por C C M A


Capítulo 1
Capítulo 1 - Romeu e Julieta


Notas iniciais do capítulo

Aberta às criticas construtivas.



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28 de agosto de 1982, Floresta de Westside, proximidades da Cidade de Silverlake
      Muitos dizem que a escuridão de Westside abriga os piores pesadelos de um homem. Entretanto, naquela noite, boatos não foram suficientes para impedir que um casal perdidamente apaixonado realizasse um fetiche sexual. A garota, de cabelos castanhos encaracolados e volumosos, tinha lábios carnudos e usava uma jaqueta cor de rosa que roubara mais cedo de sua mãe. O garoto, era um atleta, forte e de boa aparência, com cabelos na altura dos ombros fixados por gel capilar, além de ter um queixo duplo bem marcado que chamava a atenção das garotas. Seus nomes eram Nora Parker e Elijah Wicks.
      O romance havia iniciado no início das férias de verão, durante o baile do Colégio Municipal de Silverlake. Elijah havia levado Nora na caminhonete vermelha de seu pai e dançado a noite inteira com a bela moça, que usava seu melhor vestido azul celeste de ombro único e rendado. Usava os cabelos presos em um rabo de cavalo alto, deixando seu pescoço branco nu, livre para ser tocado. Após o baile, Elijah levou Nora para o Cine Drive-in da cidade, que naquela noite estava fechado porque o projetor estava quebrado. O jovem pulou a cerca de segurança e destrancou pelo lado de dentro usando um canivete que ganhara de seu pai.
      Elijah e Nora se despiram e fizeram sexo pela primeira vez dentro da sala de projeção naquela noite. O namoro já durava quase dois meses, quando Elijah deu a ideia de acamparem na Floresta de Westside, na beira do lago. Nora havia preparado sanduíches de pasta de amendoim e geleia de framboesa, enquanto Elijah preparava o resto. Para conseguir fugir, Nora disse para sua mãe que dormiria na casa de sua melhor amiga, Candy, contudo, é claro, tudo fazia parte de um combinado.
      Por volta de dez horas da noite, algumas horas após Nora ser deixada pelo pai na casa de Candy, o carro de Elijah parou do outro lado da rua. Candy ajudou a amiga a pular a janela de seu quarto e descer pela árvore que encostava no telhado da casa. Ao pular do último galho para o chão, Nora deixou cair a cesta com sanduíches e torceu o pé. A luz da varanda logo se acendeu, entretanto, a garota apressou-se e correu manca para o carro com a cesta em mãos.
      Elijah usava a jaqueta azul e laranja da equipe de atletismo, enquanto mastigava um chiclete de nicotina, não porque era fumante, mas porque queria parecer descolado. Ao entrar no carro, Nora fechou a porta e beijou o namorado que arrancou rapidamente com o veículo.
      O lago de Westside tinha uma das águas mais frias da Califórnia. Sua profundidade era um tanto incerta, mas aproximava-se de 100 metros. Não haviam muitos peixes no local, talvez pela constante baixa temperatura. Elijah parou a caminhonete do pai próxima à uma grande pedra que se encontrava na beira do lago. Com ajuda de Nora, esticou um grande lençol no chão, cobrindo com folhas secas e pedregulhos. Fizeram uma fogueira, que Elijah acendeu com o isqueiro em forma de caveira que ganhara de aniversário de 16 anos. Enquanto comiam, observavam a lua reluzindo na água escura do lago. O vento batia nas folhas mais altas das árvores, fazendo ressoar um zumbido semelhante ao uivo de um lobo ou mesmo o choro de um bebê.
      Nora estava vestida com um vestido florido e sapatilhas, os cabelos presos por uma tiara dourada impediam que os cabelos caíssem no rosto. Elijah a observava de canto de olho enquanto a garota falava disparadamente sobre ser aeromoça em uma grande empresa de aviação, afinal queria poder voar o mundo inteiro antes dos 30 anos. Elijah apenas sorria, pois, seu interesse não estava nos sonhos da moça ou na forma como ela falava sobre isso, mas sim em tirar sua roupa. Quando acabou de comer, Nora deitou-se no peito de Elijah, que logo começou a acaricia-la e beijar seu pescoço. Foram precisos apenas algumas carícias até que a moça cedesse aos encantos do garoto.
      Há alguns metros de distância do casal, uma forma animalesca surgia na floresta, se embrenhando por entre as árvores e rastejando na escuridão, enquanto exalava um odor pungente de morte e putrefação, ao mesmo tempo que soltava um silvo abafado semelhante ao raspar de metal em pedra.
      Os amantes, porém, não se ligavam no que estava por vir. Elijah penetrava a namorada de forma compulsiva, buscando apenas suprir sua necessidade de prazer. Nora pedia para ele ir mais devagar, porém o garoto não se importava. Somente quando o ato começou a ficar demasiadamente desconfortável que Nora gritou para que ele parasse, empurrando o atleta com toda a força para trás. Elijah sentou encarando-a com incredulidade:
      - Qual seu problema, garota? – indagou ele perplexo.
      - Estava me incomodando, El, você não me ouvia.
      Elijah torceu o nariz e aproximou-se beijando a garota, enquanto passava as mãos por seu corpo nu:
      - Vamos lá, Nora, vamos continuar...estava tão gostoso – ele sussurra em seu ouvido.
      Nora, entretanto, pestaneja e o afasta:
      - Não sei se quero mais, El...
      O garoto a encarou com raiva, não entendia como uma garota como aquela podia negar sexo para ele. Elijah então se levantou abruptamente e começou a vestir a calça:
      - Quer saber, Nora, eu vou caçar uma garota que queira, eu não tenho paciência para esses joguinhos, isso é ridículo, você está sendo ridícula!

      Nora ficou desconcertada e com os olhos lacrimejados com a possibilidade do término:
      - El, por favor, não é isso, é só que não estou em um bom momento...minha mãe está doente e...
      - Então procure uma terapeuta – cortou El, já totalmente vestido – Porque pra mim já deu.
      Nora levantou-se rapidamente, fechando o vestido e correndo para puxar o namorado, já com as lágrimas rolando pelo rosto:
      - Não, por favor, eu te amo...
      Elijah a encarou com desdém já tentando afastar a menina, porém nesse momento um barulho ensurdecedor ecoou pela mata. Os amantes olharam em direção ao estranho ruído e viram as árvores balançarem na escuridão. Um som crescente como de milhares de abelhas batendo contra uma tela de arame começava a ficar cada vez mais alto e mais próximo, fazendo o coração de Nora disparar:
      - Elijah, o que é isso?
      O garoto não respondeu, suas pernas tremiam e os olhos procuravam por uma resposta que o escuro insistia em esconder. O barulho começou a ficar insuportável, Elijah empurrou Nora em direção ao carro dizendo para ela correr, contudo, nesse momento um enorme tronco de árvore caiu sobre a caminhonete, esmagando-a como uma bola de papel. O grito de desespero de Nora ecoou na noite. Os amantes começaram a correr para o lado oposto, porém, a menina mancava pela torção de mais cedo, fazendo com que ficasse para trás. Nora gritou para que Elijah a esperasse, porém, o atleta veloz já adentrava a floresta aos pulos. A menina correu com todo o seu fôlego, sentindo o rugido mais próximo a cada passo, até que seu pé descalço tropeçou em uma raiz, fazendo-a cair de cara no chão. Nora ficou tonta e não conseguia se levantar, de seus lábios só saía o nome do namorado, clamando por socorro.
      Nesse momento uma enorme sombra caiu sobre ela e Nora pôde ver a cara de seu perseguidor. Ficou tão assustada que sua voz desapareceu, os olhos esverdeados dilataram-se como num surto psicótico, a boca aberta em “O” não dizia nada, pois não tinha o que se dizer. Um odor pungente tomou conta da atmosfera, fazendo Nora engasgar. A jovem tentou se arrastar pela floresta, com o pé provavelmente quebrado e diversos cortes, contudo, seu perseguidor aproximava-se, encarando-a com sede de sangue.
      Enquanto Elijah corria pela floresta desesperadamente, ouviu o que imaginou ser o último grito de dor e desespero de sua ex-namorada, seguido por um silvo extremamente alto de uma criatura animalesca e feroz que vinha em sua direção. Elijah ainda corria, com passos largos e rápidos. Correu até chegar na mina de carvão mineral de Silverlake. Ao ver a entrada da mina, Elijah não pensou duas vezes antes de correr naquela direção, adentrando uma mina escura e desconhecida. Correu por aquele local até perder o contato com o chão e cair de uma elevada altura em um buraco profundo. Ao atingir o chão, Elijah ouviu o som do seu fêmur direito se partindo em diversos pedaços, o sangue da fratura exposta pulou de sua perna, ensopando sua calça. Elijah lutava para não gritar de dor, pois ouvia o barulho lá fora. Não conseguia enxergar absolutamente nada na escuridão.
      O som foi se aproximando de forma abrupta, até chegar na mina. Foi quando o silêncio pairou no ar. Elijah só ouvia o barulho de sua própria respiração. Não sabia se estava a salvo, mas precisava sair dali. Sabia que pela manhã haveria alguém para ajudá-lo. Foi durante seus segundos de esperança que o barulho ressurgiu. Agora bem em cima de sua cabeça. Alto e em bom som, como dentes e salivas mastigando o que parecia ser ossos ou algo muito duro. Elijah olhou para cima, lágrimas já desciam de seus olhos, talvez por dor, mas também por medo. Ele conseguia ver, os olhos de seu perseguidor e tremia como nunca tremeu na vida. Foi um único movimento e toda a dor e agonia haviam acabado.
      Na manhã seguinte, uma chuva forte caía sobre a região de Westside. Em meio a lama e ao temporal, caminhava um caçador chamado Walt, atolando suas botas no assoalho da floresta. Em sua mão trazia um rifle e do seu lado vinha seu labrador Sam. Walt havia saído pra caçar bem cedo naquela manhã, porém fora pego de surpresa pela chuva. Correu então em direção ao abrigo dos pescadores, bem próximo à margem do lago de Westside. Enquanto fazia esse caminho, Walt cuidava para não tropeçar e cair no chão, pois haviam muitos galhos e raízes naquela área. Aproximando-se do lago, Sam afastou-se do dono, chamando a atenção de Walt, que gritava para o cachorro o seguir, porém ele não o fez, obrigando Walt a persegui-lo. Foi durante essa aventura que Walt encontrou o que parecia ser um corpo no meio da mata.
      A pessoa estava irreconhecível, roupas e pele totalmente rasgados, a cabeça não estava onde deveria estar, pois pendia em um galho a alguns metros do corpo. Sangue e carne marcavam a lama pelos próximos cinco metros quadrados. Era a cena de um filme de terror. Walt ficou paralisado ao ver aquilo. O senhor tinha sessenta anos, usava um boné marrom da guarda florestal e roupas típicas de um caçador que já estavam totalmente encharcadas. De sua barba branca pingavam voluptuosas gotas de chuva. Sam cheirava o cadáver, atolando o focinho entre as tripas da vítima. Walt gritou para que o cachorro se afastasse e rezou para que houvesse alguém na delegacia.
      Naquele dia, foram encontrados os corpos de dois estudantes na floresta. Nora Parker, completamente desfigurada, jazia no chão da floresta, com ferimentos feitos de forma muito violenta e desregular. Elijah Wicks fora encontrado por funcionários da Mina de Carvão de Westside, estava muito ferido, contudo a cabeça não estava separada do corpo. Poucas horas após o início daquela manhã, a notícia daquele terrível incidente já corria por toda a cidade.

****

Cidade de Silverlake, 29 de agosto de 1982.
      Uma chuva torrencial caía sobre Silverlake naquela manhã. Eric observava a água despencar do céu enquanto limpava a sujeira que um cliente havia feito no balcão do Jerry’s Bar, onde trabalhava. Arthur, seu colega de trabalho, organizava as mesas da lanchonete, pois logo chegariam os trabalhadores da Mina para almoçar.
      Ao aproximar da hora, Eric começou a estranhar a ausência de movimento no local. Olhava pela janela lá fora, pensava que talvez fosse culpa da chuva. Foi então que dois homens adentraram pela porta da lanchonete, fazendo ressoar o sino que ficava pendurava em cima da entrada. Os homens eram policiais, todos trabalhavam para o pai de Eric, que era o delegado da cidade. Um dos homens se chamava Bruce e assim que viu Eric fez um aceno de cabeça e pediu um sanduíche de queijo e duas vitaminas. Enquanto Arthur preparava o sanduíche com a ajuda de Jerry, Eric fazia as vitaminas de abacate, contudo sua atenção estava nos dois policiais que conversavam de forma sorrateira no balcão:
      - Não consigo imaginar algo que pudesse fazer aquele estrago Steve, nunca vi algo do tipo, nem aqui e nem quando trabalhava na cidade grande – disse Bruce.
      - O garoto tentou fugir, tenho certeza, foi covardia deixar a namorada para trás daquele jeito, mas não me surpreende, os Wicks têm fama de covardes – respondeu Steve.
      Eric serviu os policiais, porém não conseguiu evitar de se intrometer no assunto:
      - Senhor, desculpe a pergunta, mas não pude evitar de ouvir, aconteceu alguma coisa? – indagou Eric para Bruce. O policial de pouco mais de quarenta anos, tinha cabelos loiros ralos, uma barriga saliente e olhos azuis leitosos que o encaravam naquele momento:
      - Lamento que sim, Eric, encontramos dois corpos hoje na floresta, não foi bonito de se ver...mas não saia comentando por aí, está bem?
      - Claro, senhor – Eric engoliu em seco, sua mente apenas vislumbrava a possível imagem de algum amigo ou conhecido morto de forma violenta na mata. Seria alguém que Eric conhecia? Arthur o encarava do outro lado do balcão com ar sereno. O garoto tinha 15 anos, a mesma idade de Eric, os cabelos loiros eram mantidos raspados em estilo militar, havia uma falha em sua sobrancelha esquerda e os olhos eram castanhos e carrancudos. Não eram amigos, apenas colegas de escola e de trabalho.
      Após a partida dos policiais, Eric sentiu Arthur se aproximar por trás e parar do seu lado:
      - O que acha que aconteceu? Urso? Coiote? Pé-grande? – indagou curioso.
      - Pé-grande não existe – respondeu Eric – Vou falar com meu pai em breve, ele já deve saber.
      Logo após sair do trabalho, Eric foi para sua casa, que se localizava a poucos quarteirões do Jerry’s Bar. Contudo, mesmo pedalando rápido em sua bicicleta prateada, a chuva o encharcou até os ossos. Ao chegar em casa, encontrou a porta aberta e duas viaturas do lado de fora. Eric largou a bicicleta no jardim em frente à casa e entrou correndo em passos largos, deixando um traço de umidade por onde passava. Cinco policiais estavam em sua sala de estar conversando com seu pai, Harold Cooper, um homem de 54 anos, alto e forte, com cabelos grisalhos e uma barba escura e espessa. Sua mãe, Penny, servia algumas cervejas para os homens. Eric se aproximou até parar na porta, ninguém notou sua presença. Sobre a mesa estava alguns papeis e fotos do que ele imaginava serem as vítimas. Do amontoado só distinguiu duas figuras familiares. Eric se aproximou da mesa e pegou as fotografias de Elijah Wicks e Nora Parker, estudantes do seu colégio com o qual topava nos corredores algumas vezes. Ambos estavam um ano na frente de Eric e pelo que sabia eram namorados desde o início do verão.
      Quando seu pai percebeu a presença do filho, arrancou as fotos de suas mãos e o repreendeu:
      - Eric estou em reunião, é importante, vá para seu quarto. – Harold o encarou com olhar sério, o que fez Eric engolir em seco. O garoto subiu correndo para o quarto e arrancou as roupas molhadas, se jogando seminu na cama. Com o telefone fixo em mãos, discou o número de uma grande amiga e também vizinha. Após chamar duas vezes, a voz de uma garota atendeu o telefone, era Claire. Ao fundo fazia barulho de aspirador de pó e alguém gritando palavrões:

      - Casa dos Foster.
      - Claire, sou eu, Bruce está aqui.
      Eric ouviu Claire engolir em seco pelo telefone:
      - Aconteceu alguma coisa, Eric?
      - Então não ficou sabendo?
      - Sabendo de quê? – indagou a menina intrigada.
      - Nora e Elijah foram encontrados mortos na floresta essa manhã.
      A garota engasgou no telefone. Nora era filha da melhor amiga de Mônica, mãe de Claire:
      - Você tem certeza disso?
      - Sim, ouvi eles conversando.
      - Que horror, Eric...como isso aconteceu? – Claire falava baixo ao telefone.
      - Eu não sei, talvez ataque de urso.
      - Não temos ursos em Westside.
      - Talvez agora tenha – completou Eric.
      De repente um barulho de passos tomou conta do corredor, vindo em direção ao quarto de Eric, o garoto despediu-se rapidamente da amiga e desligou o telefone. Sua mãe adentrou o quarto com um monte de roupas limpas e secas deixou sobre a cama do filho:
      - Não quero que fique no meio do trabalho do seu pai, entendeu? É muito novo pra isso, Eric.
      - Tenho direito de saber o que está acontecendo, não acha?
      - Não, mais alguma coisa? – criticou a mãe de pé de prontidão para sair. Penny tinha cabelos encaracolados compridos e dourados, um rosto marcante e vestia um vestido florido verde com branco.
      - Não, mãe, desculpe-me. – com isso ela saiu deixando-o sozinho. Eric olhou para o calendário sobre seu criado-mudo, faltavam menos de 20 dias para o começo das aulas, aquele verão estava passando demasiadamente devagar, talvez pelo fato de ter passado todos os dias trabalhando na lanchonete do Jerry para conseguir dinheiro para comprar uma moto. Daqui 20 dias voltaria para o ritmo do ensino médio e reveria seus amigos, mas talvez a escola não fosse a mesma coisa aquele ano, não quando um casal tão conhecido se reencontraria debaixo da terra.

****

      Hannah descobriu o ocorrido enquanto esperava para comprar dois ingressos para uma sessão de Blade Runner. Ela e sua melhor amiga, Jodie, aguardavam em pé em uma fila de fora do cinema municipal de Silverlake. Hannah usava um longo vestido verde e argolas em suas orelhas que se destacavam debaixo das madeixas loiras soltas. Jodie estava vestida com uma meia calça colorida e um casaco grande em cor de madeira. Em frente às amigas, um grupo de garotos comentava sobre um terrível incidente na floresta. Jodie sussurrou para Hannah:
      - Será que é verdade?
      Hannah encarou a amiga de traços orientais com um olhar despreocupado:
      - Deve ter sido algum ataque de animal, já aconteceu antes, lembra? No início do ano, encontraram aquele homem com o pescoço quebrado.
      Jodie parecia tensa com aquilo e olhava em todas as direções, ansiosa para a fila andar:
      - Relaxa, Jodie, em breve vamos descobrir o que aconteceu, o jornal não poupa nenhuma notícia nessa cidade infernal.
      Após assistirem a sessão, Hannah e Jodie caminharam de volta para a casa da asiática, onde Hannah dormiria aquela noite, numa noite das meninas:
      - Acha que devíamos ter chamado a Claire? – indagou Jodie para Hannah enquanto caminhavam no fim da tarde.
      - A Claire está muito ocupada com o namorado, Jodie, e é uma noite das meninas, não queremos um garoto para estragar tudo.
      Jodie deu de ombros e continuou a caminhada. Quando chegaram na loja de souvenier de Akemi, mãe de Jodie, o local já estava fechado. A loja vendia todo tipo de bugigangas, desde lembrancinhas da região até mesmo brinquedos sexuais medonhos. Hannah cumprimentou Akemi ao chegar, que finalizava o livro caixa no balcão da loja. A casa de Jodie ficava aos fundos, após passar por vários degraus de uma longa escada.
      O quarto de Jodie era pequeno, com paredes amarelas cobertas de pinturas que contavam a história dos samurais. Em um canto havia uma grande estante com inúmeros livros, onde Jodie alimentava seu vício pela leitura. Hannah se jogou na enorme cama de casal da amiga, olhando para o teto coberto de estrelas de neon. Sua cabeça ainda estava no Blade Runner, mas Jodie insistia em falar do boato sobre o incidente na floresta:
      - Quanto tempo acha que vai levar até todos saberem?
      - Não tem como saber, Jodie, porque ainda está pensando nisso? – Hannah olhou para a amiga que estava sentada ao seu lado na cama.
      - Estou com um pressentimento ruim.
      - É uma daquelas “coisas de família”? – questionou Hannah intrigada.
      Jodie colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e encarou os próprios pés:
      - Talvez.
      Hannah sentou-se ao lado da amiga e pegou sua mão:
      - Seja o que for que aconteceu, amanhã iremos saber, não tem o que se preocupar, incidentes acontecem, principalmente com pessoas ruins.
      - Acha que eles eram pessoas ruins?
      Hannah deu de ombros:
      - Não acho nada.
      Mais tarde naquela noite, outra chuva despencou do céu, fazendo as janelas do quarto baterem com força. Hannah acordou com o estrondo e olhou para o lado da cama, onde Jodie dormia tranquilamente. Ela caminhou nas pontas dos pés até a janela e a fechou cuidadosamente. Haviam livros caídos no chão e ao apanha-los, Hannah deu de cara com uma cópia de Romeu e Julieta de Shakespeare. Aquilo lhe fez pensar sobre o casal da floresta. Um Romeu e uma Julieta. Um fim trágico. A vida ali parecia um grande ensaio shakespeariano, Hannah indagou-se se Jodie gostaria daquela versão.


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