A sensação de paz tomava conta de seu ser e ele não tinha ideia de como aquilo poderia ser possível, em toda a sua vivência não houve um momento em que tal sensação estivesse presente, ao menos não de forma plena. 

Dor.

Dor era tudo o que ele conhecia e, ainda assim, aquela sensação estranha e acolhedora o rondava como um manto quente em uma tarde fria, o protegendo.

Seus olhos se abriram e então ele entendera o que havia de estranho ali. É, ele só poderia estar dormindo para sentir aquilo, cair no sono sempre seria sua melhor terapia, uma que lhe desse uma paz finita, não deixando que ele se esquecesse de como poderia ser sentir tal contentamento diariamente. Ele sabia que tinha um período curto para apreciá-la e isso era o suficiente. Deveria ser cedo ainda mas não tão cedo o suficiente para sua vista ser nítida, o cômodo estava parcialmente claro, e se ele não conhecesse cada parte daquele lugar, não saberia se localizar com tanta facilidade. As íris azuis se focaram em um objeto que estava ao lado de sua cama, o pequeno templo que ela construíra para ele, que parecia ser de brinquedo mas que carregava um significado profundo demais para ele, que fazia seu coração apertar por algum motivo. E mais ao fundo, do outro lado do cômodo, aquele que era seu guia ressonava tranquilamente em meio a uma montanha de livros empilhados.

Yukine estava estudando muito ultimamente, e seria impossível para ele conter o orgulho que irradiava de seu ser ao vê-lo tão comprometido com algo, consigo mesmo, comprometido a guiá-lo para o caminho correto, o caminho de um deus que desse orgulho de seguir.

Yato tinha ciência de todas as suas falhas. Que sua origem o tachara de tal forma que comprometia sua tão desejada mudança, mas ele não deixaria de tentar. Ele tinha quem o auxiliasse, quem mostrasse a ele o melhor movimento, alguém para aconselhá-lo quando não tivesse certeza do que fazer. Yukine estaria ao seu lado para segurá-lo quando ele mais precisasse. E caso a sua regalia divina não pudesse fazê-lo ele teria outra pessoa a quem recorrer. Ela seria sua opção.

Querendo ou não, Hiyori Iki mudara parte de sua existência, uma parte consideravelmente grande. Depois de que suas linhas se cruzaram a vida dele mudara bruscamente e coisas demais aconteceram, ele não imaginara que uma mera humana pudesse fazer ele ser tão grande, fazer ele cortar laços que mantinha e não tinha coragem de desfazer, fazer com que ele sentisse que pudesse mudar.

Hiyori podia ser comparada com um furacão, agitava o mundo e as pessoas ao seu redor. Era forte, geniosa e carinhosa, acima de tudo, ela tinha um grande coração.

Ele amava Hiyori. E afirmar isso a si próprio trazia um alívio enorme para seu ser. Ele a amava tanto.

Seus altos e baixos, todas as falhas que possuía, sua personalidade. Ele deixara que ela conhecesse cada canto e pedaço dele e mesmo sabendo que ele não era cem por cento bom ela o aceitava e o amava mesmo assim.

E ele a amava. 

E ele sabia que ela sempre estaria ao seu lado.