Me aproximei dele vagarosamente enquanto ele me encarava ansioso. Não sabia se podia confiar no que ele me falaria, mas queria dar uma chance. Toda a raiva que senti nos primeiros dias depois da briga pareciam já ter se dissipado e a urgência para falar com ele parecia aumentar. Me parei meio distante dele e evitei contato, tinha medo de ceder e a última coisa que queria era fazer algo precipitado.

— Parabéns pela nota 100...

Ele disse sem querer me olhar nos olhos, parecendo que procurava as palavras que falaria logo depois. Não respondi sua parabenização e por um momento nós dois ficamos em um silêncio constrangedor olhando para o chão como se procurássemos alguma coisa.

— Eu não devia ter dito aquilo pra ti, foi horrível. Eu não sabia nem o que fazer depois que tu saiu do meu quarto, senti que tu nunca mais ia querer olhar na minha cara e aquilo me quebrou... Acho que foi todo o estresse das provas junto com os campeonatos de natação que vêm por aí. — ele suspirou fortemente desviando o olhar novamente. — Jesus, parece que eu to tentando arranjar desculpas mas eu juro por tudo que é mais sagrado que eu to arrependido até o último fio de cabelo do meu corpo.

Apesar de que suas palavras haviam me machucado, meu coração parecia não ligar e repetia sem parar para eu perdoá-lo imediatamente, mas minha consciência ainda me impedia, me fazendo lembrar suas palavras muito claramente. Minha cabeça era incapaz de formar qualquer frase coerente, ela doía muito por causa dos sentimentos conflitantes que a rondavam.

— Eu... — evitava olhar em seus olhos para não ficar ainda mais desestabilizada. — Eu realmente não sei o que te dizer William. Tu me machucou muito, é difícil simplesmente esquecer isso...

— Eu sei, e eu não podia estar mais arrependido.

— E eu posso confiar em ti? Não tenho mais tanta certeza disso. Quando tu me chamou de estúpida tudo que eu pensei que eu sabia sobre ti meio que se desfez. Talvez eu esteja sendo muito dramática afinal.

— Não, tu tem razão. Eu fui muito idiota. Desculpa, de verdade. Eu preciso que tu entenda que aquilo foi minha raiva falando. Eu acabei direcionando ela pra ti sem querer. Deus, eu me sinto um merda. O merda que eu sei que eu sou. — ele olhou para o céu parecendo procurar as palavras certas enquanto eu o encarava sem saber o que pensar. — Lindsay, eu te amo mais do que eu imaginei que eu podia. Eu não quero te perder, mas se tu achar que não dá mais eu vou embora e vou respeitar teu espaço.

Me virei de costas na tentativa de esconder meus olhos vermelhos. Apesar de sempre preferir dar mais voz à razão, a emoção realmente a estava ofuscando. Era difícil esquecer que ele havia dito aquilo para mim, mas era muito mais difícil esquecer que eu era apaixonada por ele e ele por mim. 

— Eu preciso pensar sobre isso Will.

Evitei seu olhar enquanto entrava no carro, e antes mesmo dele poder responder eu arranquei o carro.

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No último dia de aula do ano letivo Ella se sentou na minha mesa na hora do almoço e, notando que eu estava muito pra baixo nos últimos dias, decidiu que faria uma festa do pijama em sua casa. Sarah, que estava sentada na mesma mesa, se animou e se convidou. E assim começou os planos para a noite. Confesso que no começo não estava nem um pouco afim. Mas enquanto lia as mensagens das garotas no grupo planejando tudo, a vontade crescia.

No fim do dia eu mal podia esperar pra passar um tempo com minhas amigas. Um tempo que eu estava urgentemente precisando. Cheguei em casa e logo avisei minha mãe que passaria a noite na casa de Ella. Enquanto arrumava minhas coisas fiz uma chamada de vídeo com Sarah, que me ajudou a escolher o que era essencial.

— Eu vou levar meus esmaltes e vou fazer tuas unhas, tá precisando. — Sarah disse enquanto ria.

— Ei, sua ridícula. — parei para olhar pra ela na tela do computador enquanto ela ria mais ainda.

— Nada pessoal, só acho que nesses últimos dias tu não tem dado muita atenção pra si mesma.

— É, toda essa história com o Will tem perturbado muito minha cabeça. Tem muita coisa pra pensar... 

— Tu que pensa demais nas coisas. Esquece isso, sabe. As coisas acabam se resolvendo com o tempo, tu vai ver. Algum dia tu vai estar lá, fazendo absolutamente nada e tudo vai se esclarecer. Aconteceu comigo quando... É, quando eu e Will terminamos... — Sarah parecia sem jeito de repente. — Desculpa.

— Sem problema, pode continuar falando.

— Quando a gente terminou eu fiquei muito triste sinceramente. Apesar de que fui eu quem terminou com ele. E por um tempo eu não parava de duvidar da minha decisão. Mas tinha tanta coisa na minha cabeça que eu não conseguia nem diferenciar o que eu realmente queria do que eu achava que queria. Mas aí um dia eu tomei um porre e notei que aquela era sim a decisão certa. Por um tempo eu continuei a ter uns sentimentos por ele, mas eu sei que não eram reais. Tudo que te falta é decidir se o que tais sentindo é o certo pra ti.

Continuamos falando até terminarmos de arrumar nossas coisas. Busquei Sarah em sua casa e quando chegamos na casa da Ella, Cindy já havia chegado. Conversamos na cozinha enquanto ajudávamos a Sra. Chang na preparação das pizzas caseiras. Depois de jantar vimos um filme na sala, e quando a mãe de Ella foi deitar nós fomos até o porão, onde tinha uma sala que costumava ser a sala de brinquedos.

— Tenho uma surpresinha... — Sarah disse tirando uma garrafa de tequila da mochila.

— Ai meu Deus.

— Da última vez que vi a Lindsay tomar tequila ela foi parar na minha casa... — Cindy disse rindo mas já pegando alguns copos no armário abaixo da TV.

— O que não foi ruim, por que isso nos aproximou. — Ella disse sorrindo apaixonada para Cindy.

— Tão fofas... Um brinde ao amor formado pela tequila. — Sarah pronunciou enquanto distribuía os shots. — Tim-tim!

Depois de muito conversar e beber decidimos nos deitar, mas por mais que eu tentasse minha mente estava tão acordada quanto antes. E ficar deitada sem dormir só me fazia pensar mais ainda nas coisas que eu queria evitar pensar. Já que era familiarizada com a casa desde pequena me levantei do colchão no chão e fui até o andar de baixo me guiando com a lanterna do celular até o quintal.

Apesar do calor das noites de verão, a brisa ajudava a refrescar. Por alguns minutos fiquei parada apenas observando o movimento das árvores ao redor. Apesar de ser muito medrosa, a noite nunca me assustou, muito pelo contrário, ela parecia me acolher como ninguém. Era reconfortante sentir o ar fresco na pele, preenchendo meus pulmões, arrepiando os cabelos na minha nuca. Me sentia leve como a muito tempo não sentia. Foi então que tudo na minha mente ficou claro. Antes achava que Sarah estava falando bobagens quando disse "tudo vai se esclarecer" quando eu estivesse fazendo nada, até por que não acreditava em milagres, mas acho que ela estava certa. Tudo que eu precisava era um momento pra mim.

Num surto eufórico peguei meu celular e chamei Will, perguntando se estava acordado. Não esperava que ele respondesse, mas ele foi inesperadamente rápido em responder que estava sim. Liguei para ele e ele logo atendeu.

— A gente devia se ver. — falei com meu coração quase saindo pela boca, mal conseguia me reconhecer.

— Agora?

— Agora... No lago.

— Estou indo.

Desliguei o telefone completamente vermelha. Levantei e silenciosamente busquei a chave do carro em minha mochila no quarto. Quando me sentei atrás do volante soltei uma risadinha nervosa. Tudo que conseguia pensar era se estava realmente fazendo a decisão certa, mas a excitação de ver Will era grande demais. Dirigi para lá depressa e quando cheguei vi ele apoiado em seu carro apenas me observando chegar com seu olhar apreensivo e ansioso.

Eu sentia tanto sua falta. Nos encaramos por alguns segundos antes de eu desligar o carro e ir em sua direção. A cada passo que dava mais o amor que sentia por ele me preenchia, quase como se meus pulmões estivessem se enchendo de água e me afogando por dentro. Quando me parei em sua frente tudo de bom, todos os momentos que passamos juntos e todas as promessas me lembraram o porquê de eu gostar tanto de Will. Naquele momento eu entendia por que éramos perfeitos um para o outro.

— Tá tudo bem? — ele disse receoso.

— Eu acho que bebi muito, não devia ter te chamado. — disse fechando os olhos e pensando no que havia feito.

— Linds, tu sabe que tu não devia ter dirigido... — ele disse se aproximando. — podia ter me pedido pra te buscar.

— Eu não sei se teria tido coragem de esperar por ti, provavelmente eu teria desistido. E eu não queria desistir. Eu precisava te ver. Eu sinto tanto a tua falta. — eu vomitei as palavras sem pensar.

Will me envolveu com seus braços e eu escondi meu rosto cheio de lágrimas em seu peito. Sentir seu cheiro, seu toque, seu calor, tudo isso me fazia chorar mais ainda. Novamente eu era preenchida pelos sentimentos que sentia por ele. Estava deixando as lágrimas descerem livremente até que ouvi a risada de Will ressoar. Me afastei para encará-lo pois ele estava gargalhando muito. Quando vi seus olhos cheios de lágrimas também eu entendi, ele estava inundado pelo mesmo sentimento que eu.

— Eu jurava que tu ia terminar comigo… Fiquei com tanto medo dirigindo pra cá que quase atravessei um sinal vermelho. — ele disse ainda rindo e chorando ao mesmo tempo.

— Meus deus, fica calmo, vai ficar tudo bem de agora em diante.

Depois disso eu e ele ficamos conversando em seu carro até o sol nascer, mas em algum ponto da conversa eu acabei pegando no sono. Quando acordei estava no quarto de Will, e ele estava sentado no chão ao lado da cama lendo algum de seus livros distraidamente enquanto passava a mão por meus cabelos.

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Durante as férias, fui quase todos os dias para a casa de Will e pudemos aproveitar bastante já que seus pais quase nunca estavam presentes. Era triste ver que ele se sentia solitário e que ficava deprimido quando eu tinha que ir embora, mas apesar disso eu não podia estar sempre lá com ele pois também tinha uma vida. Aproveitei também para passar alguns dias com minhas amigas, enquanto Will passava alguns dias na praia com seus amigos da natação, assim como no ano anterior. Aproveitando a oportunidade, eu, Sarah, Ella e Cindy também fomos para uma praia.

Fazia muito tempo que eu não ficava de tão bom humor. Mesmo que eu fosse muito feliz passando meu tempo com Will, nada se comparava a alegria que minhas amigas traziam para minha vida. Nos entendíamos melhor do que ninguém, e quando juntas nos sentíamos invencíveis. Não trocaria os dias que passamos juntas naquelas últimas férias de verão por nada e elas eram as pessoas que eu mais amava em minha vida.

Mas nossas férias se foram tão rápido como chegaram, e logo nossas aulas voltaram. Finalmente começaria nosso último ano de ensino médio. Ousaria dizer que era o ano mais importante da escola. Se antes já havia pressão para escolhermos o rumo da nossa vida, agora seria pior ainda.