Splash escrita por Jubs


Capítulo 4
Reality Can Hit You Hard


Notas iniciais do capítulo

Olá meu caro amigo hoje não tenho muito pra falar a além de FELIZ ANO NOVO GENTE!

Nos outros capítulos recomendei músicas que me dava vontade de recomendar mas daqui pra frente são só músicas que eu não parava de escutar enquanto escrevia então fé nelas gente. A desse capítulo é Box of Rain do Grateful Dead. Música perfeita sem defeitos.

Espero mesmo que vocês gostem da leiturinha de hoje anjos.



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Durante o resto das férias não troquei uma mensagem com Will. Não nos vimos em momento nenhum o que me aliviava mas ao mesmo tempo me aterrorizava. As perguntas continuavam a aparecer na minha mente e me atormentavam dia e noite.

Quando as aulas finalmente voltaram eu não achava Will em parte nenhuma, nem se quer na aula da Sra. Chang. Durante o intervalo decidi ir até a mesa do time de natação perguntar por ele.

— Will ainda não voltou de viagem, mas amanhã ou depois ele deve aparecer. — Patrick me respondeu.

— Ah, a gente não se falou durante as férias então não fiquei sabendo. — eu disse meio sem jeito já saindo, mas Patrick me seguiu.

— Ele não tem sinal de celular por lá. A mãe do Will adora fazer essa viagens para se desconectar do mundo, meio natureba e tals. — ele disse nos fazendo rir. — Meus pais são mais do tipo de viajarem sozinhos e me deixarem pra trás.

— Os meus nem pensam em viajar, eles adoram tanto essa cidade que acho que eles literalmente criaram raízes. Mas faz sentido, eles nasceram e cresceram aqui e a vida deles é ótima, eles se amam. As vezes quase como se eu nem existisse. — eu falava distraída enquanto saíamos para o pátio.

— Eu sinto como se quanto mais tempo tu passa aqui, mais a cidade te prende. Mal espero pra sair daqui. Aliás, já pensou no que quer fazer na faculdade?

Depois de conversar com Patrick tudo que eu conseguia pensar era no que iria fazer depois de me formar. Já que acabara de começar meu penúltimo ano na escola era hora de eu começar a pensar nisso.

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Eu e Ella estávamos sentadas em seu quarto um dia. Ela em seu computador jogando algo e eu assistindo a TV sem pretensão nenhuma. A pergunta de Patrick havia se instalado em minha mente de modo que nem Will parecia me preocupar mais. Por um momento observei Ella concentrada em seu jogo, e quando a partida acabou e ela levantou eu desliguei a TV.

— Ella, tu já decidiu o que fazer na faculdade?

— Faculdade? Sei lá, não é muito a minha praia. Já conversei com a mamãe e ela disse que se eu quiser um ano de pausa pra tentar lançar a banda pro mundo que ela me apoiaria. To seriamente pensando em fazer isso.

— E pretende ficar por aqui nesse meio tempo? — eu perguntei e ela concordou com um aceno. — A baterista mais legal de todas. Quando ficar famosa não esquece de mim.

Nós rimos enquanto ela jogava um travesseiro em mim. Enquanto Ella ia na cozinha buscar algumas porcarias para nós comermos eu fiquei pensando em como seria sair da cidade para ir para a universidade, sem ninguém conhecido. A ideia parecia assustadora na minha cabeça mesmo sabendo que esse era o sonho de muita gente.

Pior de tudo é que não era por minha família, mas por meus amigos e pelo ambiente que eu estava acostumada, minha zona de conforto. Era como Patrick havia falado, se tu deixasse a cidade crescer em ti, ela não te deixava ir embora nunca e meus pais eram o perfeito exemplo disso. Nunca precisaram ir á universidade. Meu pai era um ex-militar aposentado e minha mãe trabalhava num escritório desde muito nova. Era de se entender que não quisessem ir embora, a vida estava feita para eles. Mas não para mim.

Eu não ia bem em nenhuma matéria na escola. Era o que muitos chamam de aluna medíocre. Sempre na média, com apenas o suficiente para passar de ano, mas nunca com uma nota que chamasse a atenção dos professores ou nada do tipo. Eu simplesmente não era boa em nada. Era um sentimento de ser julgada por todos que sabem o que querem ou que são bons em algo que gostam.

E se o meu destino fosse igual o de minha mãe? Passar minha vida inteira aqui, numa cidade que ninguém sabe onde fica, achar o amor da minha vida e trabalhar como um robô que faz um comando repetidamente. Eu não queria ser um robô, e isso foi uma realização apavorante.

Quando Ella voltou ao quarto ela se assustou e me envolveu em seus braços tentando me acalmar. No início não entendi bem o que estava se passando mas logo pude sentir as lágrimas que desciam do meu rosto. Me agarrei a minha amiga como se me segurasse para não cair de um penhasco.

— Vai ficar tudo bem. — ela dizia enquanto apertava meu rosto contra seu peito e acariciava meu cabelo.

Depois de longos minutos tentando me tranquilizar, Ella finalmente conseguiu. Ou pelo menos me fez parar de chorar, o que já era suficiente para que meus pensamentos se organizassem um pouco.

Quando me afastei de seu abraço ela não me fez perguntas, apenas me ofereceu um pacote de doces. Enquanto eu abria o pacote e começava a comer, ela botava um filme na TV para nós assistirmos. Eu me aconcheguei contra ela e nós assistimos o filme sem trocar uma palavra. Quando os créditos apareceram na tela Ella se virou para mim.

— Se tu quiser se abrir, eu to aqui. Tu sabe que eu sou toda ouvidos.

— Eu não sei o que falar. Pra falar a verdade só percebi que tava chorando quando tu me abraçou. — eu disse rindo mesmo que ela me olhasse preocupada o tempo todo. — Acho que tenho medo de não ser ninguém no mundo. Não sou boa em nada.

— Tu ainda tem tempo pra descobrir no que tu é boa. Vai dar tudo certo, confia em mim.

— Vai passar isso, só me veio agora. O Patrick, amigo do Will, trouxe o assunto à tona e fiquei cismada com isso. Se a gente dormir eu vou acordar melhor.

Ella concordou e apagou as luzes. Pedi para que botasse algo na TV para deixar de barulho de fundo mas eu dormi antes mesmo de começar, seja lá o que ela tenha botado.

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Quando vi Will pela primeira vez depois de voltar das férias minha cabeça estava tão cheia de outros problemas que eu quase esqueci o que havia acontecido da última vez que nos vimos. Eu estava apoiada em meu armário com os fones de ouvido bem altos enquanto olhava Will e Patrick se aproximarem. Quando os dois chegaram até mim Will não me olhava diretamente.

— Então Patrick, eu pensei sobre o que tu me perguntou no outro dia. — Will logo olhou para nós como se estivesse curioso para saber do que eu estava falando. — Eu ainda não sei o que eu quero fazer. Eu sei que o futuro tá logo ali e que todo mundo quer que eu escolha uma carreira logo mas eu simplesmente não consigo sabe? É como se minha cabeça quebrasse toda vez que eu começo a pensar nisso.

— Tá tudo bem tu não saber o que quer fazer. Eu também não tenho certeza. Meu pai quer que eu faça algo ligado a economia pra poder herdar o negócio dele mas não é bem minha coisa. Eu quero sair por aí, ver o mundo enquanto eu posso.

Patrick falava quase sorrindo como se a ideia de sair pelo mundo o deixasse em paz. Na verdade era um bom plano. Eu imaginei como minha mãe reagiria se eu dissesse que queria sair pelo mundo, sem rumo, sem futuro arranjado, sem faculdade. Ela provavelmente enlouqueceria. Acho que entendia o sentimento que Patrick sentia no momento.

— E tu? Sabe o que quer fazer? — Parick perguntou a Will, que agora parecia interessado na conversa.

— Eu vou tentar entrar em alguma universidade com bolsa de estudos de natação. Quero fazer química ou algo relacionado.

— Deve ser bom saber exatamente o que vai fazer depois de se formar. — eu disse, sem querer, de forma arrogante.

Não era minha culpa que o clima estava tenso. Eu sabia o que queria e já havia lhe dito. Faltava ouvir dele o que ele achava sobre eu estar gostando dele e sobre tudo o que aconteceu já que ele parecia distante sobre o assunto como se quisesse evitar que a bomba explodisse nele. Ele me olhou surpreso.

— Desculpa, isso saiu bem mais grosseiro do que eu queria. Eu to meio estressada com toda essa coisa de futuro. Acho que eu to um pouco sensível sobre o assunto.

— Tudo bem. — ele disse nos levando a um silêncio chato. — Posso falar contigo rap...

O sinal de entrada o interrompeu fazendo com que o tumulto de pessoas tentando chegar a suas salas aumentasse. Patrick puxou Will que tentou dizer que nos falávamos depois. Durante a aula minha cabeça viajou por tantos pensamentos que eu acabei adormecendo.

No intervalo Will me puxou para um canto para podermos finalmente conversar.

— Eu imagino que tu queira uma resposta sobre o que aconteceu. — eu concordei com a cabeça. — Okay, eu ainda to muito preso ao meu relacionamento com a Sarah. Depois de tudo eu percebi que eu ainda considero muito ela, e eu simplesmente não consigo deixar o sentimento ir embora assim, sem mais nem menos.

Apesar de que o certo a se fazer era apenas aceitar e falar para ele que estava tudo bem, eu não achava que estava tudo bem. Ele havia me iludido, pensava que algo iria acontecer e agora ele me falava isso como se tudo o que ele tinha falado fosse mentira ou só fruto da minha imaginação.

— Então tu me beijou só por satisfação própria?

— Não! Escuta Linds, eu gosto de ti, isso é um fato. Só que toda vez que eu penso em ti, no que a gente pode ter junto, todas as memórias da Sarah vêm na minha mente. Eu não quero misturar vocês, eu quero ter certeza que ta tudo bem.

 

— Tu só vai saber tentando. Eu sei que parece óbvio que eu fale isso já que eu gosto de ti, mas não tem como tu saber sem tentar. — por um longo tempo nos olhamos, esperando alguma reação.

— Tá bem. — ele disse me abraçando.

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Eu enviei a mensagem para Ella e esperei no estacionamento para que ela aparecesse. Não muito tempo depois ela apareceu. Eu estava animada para contar a novidade mas ela não parecia preocupada. Vinha caminhando com Cindy, a garota do espanhol. As duas conversavam e caminhavam vagarosamente até onde eu estava.

— Anda logo Ella. — eu disse berrando

Ella se despediu de Cindy e veio até mim com passos apressados.

— Que foi caramba?

— Eu tenho novidades. — eu disse sorrindo para ela, que não mostrava entusiasmo nenhum. — Eu e William Wells estamos oficialmente namorando.

Quando ela ouviu a notícia deu um berro e me abraçou. Nós duas rimos enquanto ela pulava e me abraçava ao mesmo tempo. Ela sabia que era o que eu queria por tanto tempo, então festejava comigo.

— Finalmente. Demorou né? Garoto lerdo.

— Pelo menos aconteceu finalmente. Achei que iria surtar, precisava compartilhar contigo. Esse é o melhor dia do ensino médio inteiro.

— To orgulhosa. Pensei que nunca ia tentar nada mas olha pra ti, tá até namorando.

— Achei que tu não gostasse do Will.

— E não gosto, mas se tu tá feliz, então eu também estou.

Ella entrou no carro e eu dei carona até sua casa. Quando paramos na frente de sua casa eu esperei para que ela saísse mas ela ficou sentada. Então me olhou como se esperasse eu falar alguma coisa enquanto eu esperava ela falar alguma coisa.

— Eu preciso te contar uma coisa. Eu também to namorando...

— Que? — eu falei alto o suficiente para um cachorro na vizinhança começar a latir. — Com quem?

— Cindy.

Ella já havia me dito que era bissexual, mas eu não havia a visto com ninguém. Nunca se envolvera com ninguém e na minha mente ela não tinha alguém que gostasse, mas ela nunca foi de me contar muito do que sentia, mesmo que eu insistisse. Novamente ela me olhava esperando que eu falasse enquanto eu fazia o mesmo.

— Quem deu o primeiro passo?

— Eu. Faz um tempo que a gente tem conversado. Quando descobri que ela também gostava de meninas eu comecei a dar sinais. — quanto mais ela falava mais eu sorria.

— Que amor meu bebê tá crescendo. — eu falei com voz de quem fala com uma criança pequena.

— Ai Lindsay para, eu não fiz isso quando tu anunciou teu namoro.

— Mas eu não teria reclamado se fizesse. — eu mostrei a língua pra ela e nós rimos.

Depois de conversar mais um pouco no carro Ella finalmente entrou em sua casa e eu segui para a minha. Quando estacionei na frente de casa percebi um carro conhecido que não era o de meus pais. Peguei minha coisas rapidamente e corri para dentro. Na cozinha encontrei quem eu procurava, Martin, meu irmão.

Meu irmão não era o tipo de pessoa que se via muito em casa. Ele morava bem longe, no dormitório de sua faculdade. Antes dele ir, ele e nosso pai haviam brigado feio e desde então ele não tinha aparecido nenhuma vez. Nem sequer em meu aniversário.

Apesar de que quando morávamos juntos nem nos suportávamos direito, eu sentia muito sua falta agora que ele estava sempre longe. As vezes eu mandava mensagens dando notícias, dizendo como estavam as coisas por aqui e quase nunca Martin me respondia. Eu tentava acreditar que era por que ele estava ocupado estudando, mas minha cabeça sabia que ele apenas não queria contato com a cidade de modo nenhum.

— E aí maninha.


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Notas finais do capítulo

Ai mal espero pra mostrar um pouco do Martin (aka meu personagem favorito) no próximo capítulo.
Espero ver vocês nos comentários e nos próximos capítulos também. Beijão no coração.



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