Do amor ao oceano escrita por Miss Koroleva


Capítulo 9
Segredos


Notas iniciais do capítulo

Voltei com mais um capítulo,dessa vez RECHEADO de emoções e,como diz o próprio título,segredos... Mas por quanto tempo segredos assim permanecem em silêncio?
Juro que foi um dos capítulos mais intrapessoais que eu já fiz,mas queria trazer um pouco a visão de cada um dos lados do casal principal e achei melhor fazer isso hoje.
Tenham uma ótima leitura e espero que gostem! ♥️



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Voltou correndo á casa,mesmo sem acender nenhuma luz para,ao menos,enxergar a escada. Sentiu-se mal por deixar o rapaz pra trás de forma tão intempestiva,mas precisava de um tempo. Seus pensamentos estavam desorganizados,seu coração percurtia incessante em seu peito. Fora contrariada pelas próprias emoções.

Quando notou que Adrien parecia querer se aproximar mais, reagiu mal. E,talvez,fosse apenas a maneira do rapaz de expressar afeição,mas ainda estava confusa sobre tudo que se relacionava á ele. Á princípio,pensou que se devia ao fato de nunca ter visto nada parecido em toda a sua vida,uma primazia de interesse pela descoberta atípica. Porém,conforme os dias se passavam,ela foi percebendo um lado humano nele que nunca havia visto em mais ninguém. Apesar de extremamente brincalhão,com um bom humor que contagiava,ele sabia conversar sério quando era necessário,além de se empenhar constantemente para ser o mais empático possível, sendo especialmente sensível no que se tratava de assuntos complicados para ela,como ocorrera nos últimos dias.

Até mesmo sua inocência em certas questões,como no momento em que descobriu o funcionamento da bússola,lhe parecia adorável. Certamente,vivia uma vida muito diferente do que ela imaginava até então.

O que não significava que fosse mais feliz. Pelo contrário,ele ocasionalmente transparecia algum aspecto recluso,que ela julgava como consequência da ausência do pai,o qual,segundo ele,também era austero demais com tudo que se tratava do filho.

Mas tudo parecia mudar drasticamente quando se encontravam.

Ele confiava nela mais do que no próprio pai.

E confiança,para ela,era inestimável.

Suspirou baixo,recordando das últimas horas. Aquela aproximação repentina não havia sido ruim,na verdade,ela gostava de tê-lo por perto. Ainda mais agora, que havia aceito ajudá-lo a aprender a andar,sentia que teriam bastante tempo juntos. E isso a alegrava de uma maneira que não soube explicar.

Ele era peculiar,fosse na maneira de falar ou mesmo na expressão do olhar,e lhe prendia a atenção de uma maneira mágica.

Também não negava,o achava extremamente atraente. Os olhos esmeralda ornavam perfeitamente o rosto anguloso e os cabelos loiros um pouco bagunçados do rapaz, detentor de um sorriso magistral que,por mais que nunca tivesse dito,trazia uma alegria genuína ao seu dia.

Só que,até então,não era o suficiente para ter certeza sobre o que sentia.

Mas,nos últimos instantes,receou estar confundindo tudo. Se ela realmente gostasse dele,mas ele estivesse apenas sendo gentil? Ser dispensada doeria tanto quanto ela imaginava?

A resposta era sim. Desde a primeira vez que percebera a importância do espaço que aquele tritão ganhou em sua vida,temeu que ele não estivesse lá quando voltasse no dia seguinte,por conta de um erro seu.

Ela não devia ter fugido,mas também não queria perder mais ninguém.

Em seu âmago,a verdade que ela tentava esconder de seus pensamentos acabara por retornar,desenterrando emoções incompletas. Não queria mais se enganar sobre algo que,para si,já estava claro o suficiente.

Ela gostava dele muito além de uma simples amizade.

Mas,neste momento, precisava de certezas. Saber se a reciprocidade do sentimento era real ou se estava apenas imaginando coisas. Caso contrário, sufocaria toda e qualquer manifestação que seu coração pensasse em fazer sobre o rapaz,mesmo que tivesse que mentir para si mesma até que o tempo se encarregasse de os afastar.

Riu sem graça do pensamento cruel. Não queria ter que pensar num "E se…". Mas,se não houvesse outro jeito,teria de se conformar.

Adormeceu com os pensamentos confusos envoltos em uma penumbra, forçando-se ao máximo para não chorar. Pensar assim lhe exauria.

Precisava urgentemente que o dia seguinte chegasse rápido para revê-lo.

 

Distante dali,quilômetros abaixo da superfície,Adrien ainda refletia sobre tudo que acontecera naquele dia,sem um pingo de ânimo. Nadava sem pressa, em direção ao fundo em mar aberto e despovoado,mas que,com um único toque seu sob a cúpula mágica protegendo o local,revelou-se plenamente ocupado. Ao ultrapassar a barreira,que tornou a ficar invisível rapidamente, pôde vislumbrar a imponente cidade submersa onde habitava. Dotada de diversas construções feitas a partir de rochas da região, nos arrabaldes circulares do local, abrigando a população comum do reino. Conforme se aproximava do centro,desviando dos que atravessavam as passagens,mais claramente enxergava o enorme palácio que chamava de casa. Diferente das demais,esta era ricamente ornamentada na fachada,com suntuosas estátuas fazendo vista em meio a algas coloridas mescladas a colônias de anêmonas e recifes de corais. Logo que passou pelos guardas,sendo recebido por reverências respeitosas dos mesmos,entreabriu silencioso a porta de acesso principal,ingressando no salão de recepção. Tal qual toda a residência,tinha o pé direito extremamente alto e era quase que inteiramente vazia,não fosse pela presença de dois acessos bilaterais,que resultavam no andar superior, logo á frente do vestíbulo e,em cada uma das laterais,corredores direcionados a outras salas.

Novamente,estava sozinho. Ou não.

— Adrien,por que demorou tanto ? - Reteso sob a entrada direita,com um semblante impassível,estava seu pai. Gabriel carregava um tridente prateado,apoiando sutilmente a terminação do cabo no chão, dando-lhe um aspecto ainda mais severo e imponente. - Não quero você fora da cidade por mais tempo do que o necessário.

Ele endireitou a postura,encarando-o diretamente. - Sei disso,meu pai. Estava treinando.

Sua expressão não mudou,apesar de levantar o queixo alguns centímetros. - Espero que seu controle destrutivo esteja sob controle. Teremos um evento importante em breve e você irá comparecer. Não quero que cause nenhum tipo de dano aos convidados.

"Péssima hora para me avisar isso…" - Perfeitamente. Se me der licença,vou para o meu quarto… - Gabriel assentiu e,quando Adrien se direcionou ao piso superior,ouviu sua voz o chamando novamente.

— Não ouse continuar atrasando em seus horários ou terei que mandar Nathalie te acompanhar. - O loiro concordou rapidamente. - Eu dei esta liberdade e posso muito bem tirá-la. Não abuse da sorte.

Subiu assim que ele havia deixado o cômodo, inconformado com o que ouvira. Curiosamente,seu poder não se manifestava quando a tristeza era a emoção dominante. Quando fechou a porta, se permitiu chorar todas as mágoas que não podia fazer á frente do próprio pai. Tudo que lhe vinha era uma sensação de algo escorrendo dentro de si lentamente,como se seu coração derretesse, seguido de infelicidade. Há alguns anos,ele havia conseguido algumas horas longe dos treinos de luta,estudos(intensos o suficiente para prepará-lo para governar o reino,seguindo a linha familiar) e do controle possessivo de Gabriel,aonde fugia para a superfície. Numa dessas quase acabou morto,mas quis o destino brincar novamente,mexendo desta vez com os seus sentimentos, e colocar Marinette em seu caminho.

Só de pensar na possibilidade de nunca mais poder voltar a vê-la,percebia o quanto sua vida ficava incompleta. A moça de olhos azuis como o céu, brilhantes como as estrelas que havia lhe ensinado a ver,havia ganho seu coração de uma maneira sutil,graciosa como somente ela sabia ser.

Desde a primeira vez que a viu,no sonho,não soube precisar qual era a importância de tantos acasos.

Até reencontrar o navio da bela mulher que o resgatou,em um porto nas proximidades. Sempre carregava a faca que ela havia perdido,na esperança de rever a mergulhadora e,quando enfim a viu novamente,decidiu que era a hora certa. Fora d'água ela parecia ainda mais determinada,ajudando a todos no local.

Olhou novamente o nome cravado na lâmina e a chamou,jamais esperando que ela fosse reagir da maneira como fez.

Todas as lembranças desse encontro acabaram lhe marcando. Ela sempre o surpreendia.

Fazia jus ás histórias de amor do seu povo:

Pelas lendas antigas humanas,as sereias cantavam para encantar e atrair marinheiros desavisados,com a intenção de afogá-los no fundo do mar.

Quando Mari lhe contou sobre isso,ele ficou espantado: Como era fácil deturpar uma história na qual não se tem conhecimento pleno !

Mas a verdade,que ainda não tinha tido a chance de contar á oceanógrafa,é que,quando alguém era capaz de conquistar o coração de uma sereia ou de um tritão,este era seu até o dia de sua morte. E,mesmo após a morte,praticamente não existiam exceções que prosseguiam sua vida com outro alguém, tão forte e perfeito era o elo que surgia entre eles.

Quando o companheiro falecia ou mesmo não correspondia aos sentimentos,era costume das sereias,mais tipicamente,irem até a superfície e cantar suas lúgubres memórias com a pessoa amada. E,por serem cantos regados de emoção natural e fácil de se compreender,a maior parte dos seres humanos,desacostumados á simplicidade desse sentimento,acabavam cedendo á cobiça e ao desejo de viver algo semelhante,o tão famoso "encanto das sereias". O final, infelizmente,culminava em tristeza.

Mas ele gostava da parte bonita desta história.

Suas lágrimas começaram a cessar.

Quando descobriu que a mulher que amava detinha o poder complementar da criação,seu coração só faltou saltar para fora. Mesmo com seu receio pelo despertar e por todos os problemas que seriam acarretados por essa situação,ele ainda mantinha o otimismo. Afinal,também havia uma lenda de que os portadores dos poderes centrais de equilíbrio estavam sempre lado a lado,unidos de algum modo.

E ele torcia para que fosse da maneira que imaginava.

Estendeu a mão direita á frente,observando o anel prata que adornava um de seus dedos. Era a única coisa que o impedia de perder o controle em níveis absurdos. Tanto o Miraculous da Criação quanto o da Destruição tinham por função fazer a contenção e distribuição de magia no corpo do usuário,quando este aprendesse a lidar com o que a natureza havia lhe presenteado.

Desanuviou dos pensamentos quando ouviu a voz do pai no começo do corredor,conversando baixo com alguém.

E,no meio daquela rápida conversa, ouviu algo que preferia não ter escutado.

Se fosse verdade,teria que começar a agir mais rápido do que previa. Não podia deixar aquilo se concretizar sob nenhuma hipótese.

Não ia perder mais nada,nunca mais.


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