Momentos Embaraçosos escrita por Dream


Capítulo 1
Capítulo 1 - Ikki




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Maid’s Sheep. Um café e restaurante onde as lindas criadas e os charmosos mordomos que atendem a clientela são um atrativo tão grande quanto a própria comida – talvez até maior, dependendo de para quem você pergunte. Um lugar agradável e aconchegante.

Em qualquer momento do dia, a maioria dos clientes serão jovens, muitos deles colegiais ou universitários. Devido à quantidade de atendentes de cada gênero – quatro rapazes e três moças – a maioria dos clientes é feminina, embora o público masculino não seja pequeno. A beleza e a simpatia das três moças conseguira cativar uma quantia considerável de fãs.

A vida era tranquila naquele restaurante. Os clientes eram, em sua maioria, educados e respeitosos. Os que não eram dificilmente voltavam após um olhar aterrorizante do gerente, que dispensava seguranças. E mesmo entre os empregados, havia um senso de camaradagem que fazia mesmo os dias mais ocupados e exaustivos valerem a pena.

—Muito bem, muito bem. – Era a voz de Waka, o gerente. Hoje fora apenas mais um dia, sem grandes eventos. A quantidade de clientes fora satisfatória, nada abaixo ou acima do normal. -Bom trabalho hoje. Os responsáveis pela limpeza de hoje, lembrem-se de cumprir com a agenda.

O olhar frio e severo do gerente foi na direção de uma menina específica, que não se deixou abalar.

—Sim, senhor. Eu e o Ikki-san somos os responsáveis hoje. – Ela disse, curvando-se com respeito. O outro rapaz, Ikki, fez o mesmo, dando um sorriso despreocupado em seguida.

—Senhor gerente, por que direcionar um olhar tão gelado a uma flor tão bela e delicada? – Ele perguntou, pondo uma das mãos sobre o ombro dela, em um gesto protetor. -Quando foi a última vez que esta bela princesa faltou com suas obrigações?

—Tudo bem, Ikki-san, tenho certeza que Waka-san não tinha más intenções. – A jovem respondeu, sorrindo despreocupada. Já estava perfeitamente acostumada à frieza e aos galanteios de cada um dos dois.

Ikki era, sem dúvida, o mais popular dos rapazes do Maid’s Sheep. Aonde quer que fosse, rostos femininos se viravam para olhá-lo, tanto dentro quanto fora do café. Ele era alto e esguio, com cabelos branco-azulados caindo-lhe sobre o rosto de um jeito absolutamente encantador, e seus olhos. Aqueles olhos azuis de uma profundidade indescritível, aos quais nenhuma garota resistia. E quando ele elogiava uma garota... era simplesmente poesia pura. Qualquer garota daria tudo para estar no lugar daquela que acabava de ser tão sedutoramente protegida.

Ela, por sua vez, estaria mentindo se dissesse que ele não fazia o seu tipo. Na verdade, de uma forma ou de outra, todos os rapazes daquele restaurante faziam seu tipo – exceto, talvez, o gerente. Ela se lembrava dos primeiros dias trabalhando ali, em que mal conseguia segurar o nervosismo de estar ao lado de quatro deuses gregos. Era como um sonho realizado – um sonho que foi lentamente se tornando outro.

À medida que o tempo passava, ela conhecia melhor seus colegas de trabalho. E à medida que os conhecia melhor, a sensação de se estar num paraíso de homens lindos diminuía... e se tornava mais como a sensação de se estar numa família. Ikki era charmoso e galanteador, mas ele também era agradável e divertido de se conversar. Shin era distante e um pouco rude, mas ele também era gentil e compreensivo quando queria. Kent era ainda mais distante que Shin, e difícil de ler, mas no fim ele apenas não sabia interagir direito com pessoas, e era uma pessoa amável. E Toma era um rapaz amigável e simpático, talvez o mais fácil de se aproximar dentre os quatro.

Eles eram... pessoas. Amigos. Assim como suas duas companheiras Sawa e Mine. Com o tempo, ela simplesmente se sentia perfeitamente à vontade naquele ambiente. Naquele dia mesmo, uma das clientes comentara rapidamente com ela sobre como ela era sortuda por trabalhar com aqueles homens... e ela pode apenas dar um risinho sincero em resposta. Sabia o que aquela garota estava pensando, e não pôde deixar de pensar em quanto tempo ela levaria para se acostumar, tal como ela própria.

E assim prosseguiu a noite, com ela e Ikki sozinhos no café, lavando as louças que restavam, arrumando as mesas, cadeiras, varrendo... enfim.

Após um tempo não tão longo de faxina, ela finalmente havia acabado e estava pronta para se arrumar. Ikki estava apenas terminando de levar o lixo para fora, então ela foi direto para o vestiário e começou a se trocar.

O uniforme do Maid’s Sheep era lindo, ela pensava enquanto o tirava. Era o segundo maior motivo que a atraíra para trabalhar naquele lugar. Um lindo kimono, e um avental super fofo... ela se sentia uma perfeita Yamato Nadeshiko. E ela não era a única – de todas as meninas, ela era provavelmente o maior sucesso do público masculino daquele café. Sawa e Mine eram lindas, mas elas não tinham aquele cabelo simultaneamente fofo e sofisticado, com uma pequena e charmosa trança em um dos lados, e um coque elegante e perfeitamente mantido do outro, com o formato que lembrava uma rosa. E principalmente, elas não tinham o ar de inocência e serenidade que ela tinha quando sorria, intensificado pelos seus lindos olhos verdes – que podiam não ter o encanto sobrenatural dos de Ikki, mas eram brilhantes como duas esmeraldas.

E enquanto terminava de dobrar cuidadosamente seu uniforme para guarda-lo, ela se lembrou de que comprara uma lingerie nova no caminho, antes de chegar ao trabalho. Ela gostava de colecionar lingeries fofas, e desde que descobrira aquela loja – que tinha conjuntos lindos do seu tamanho, o que era raro – ela tinha quase certeza de que aquilo iria se tornar um hábito.

Naquele momento, ela estava usando um sutiã branco de lacinho, com uma calcinha combinando. Ela gostava daquele conjunto – era simples, porém bonitinho. Porém o novo era mais bonitinho ainda, ela pensava enquanto tirava o sutiã e jogava em sua bolsa. Agora era a hora perfeita se descobrir se aquela lingerie cara era tão confortável quanto fofa.

Ansiosa para experimentá-la, ela tirou a calcinha, jogou dentro da bolsa de qualquer jeito e, enquanto se movia para procurar a lingerie nova, sua visão periférica via algo que não notara a princípio.

Havia um pequeno saco jogado ali no canto. Erguendo a sobrancelha, ela andou até ele e... parecia haver uns cacos de vidro dentro.

“Deve ter sido o copo que a Mine-chan quebrou...” ela pensou, enquanto o pegava. “Quem foi que deixou isso no chã-“

Seu pensamento foi interrompido por duas coisas simultâneas.

Uma delas foi a lembrança de quem estava responsável por levar o lixo para fora.

A outra, que acontecia exatamente ao mesmo tempo, era o barulho da maçaneta da porta do vestiário girando.

Esse instante foi extremamente breve. O próximo... seria estranhamente mais longo.

 

A porta estava aberta. Ikki estava parado, com a mão na maçaneta, de frente para ela.

Ela estava parada, segurando um pequeno saco de lixo, de frente para ele.

Ele ainda estava usando o elegante uniforme de mordomo do Maid’s Sheep.

Ela estava nua.

—... Ora, ora.

Ela estava completamente nua.

—Eu... humildemente peço desculpas.

Ela estava completamente nua na frente de um homem.

—Eu... ia levar esse saco para fora. Não deu para carregá-lo com os outros.

Enquanto falava, ele buscava olhá-la nos olhos. Seu primeiro instinto, na verdade, fora fechar a porta imediatamente e sair correndo envergonhado, mas... aquele não era o estilo dele. Ele era Ikki, o homem perfeito de todas as meninas. Não importava o quão surpreso, o quão envergonhado estivesse... ele precisava manter a pose. Precisava olhá-la nos olhos e sorrir. No momento em que ela exclamasse de surpresa e, envergonhada, tentasse cobrir seu corpo com as mãos, ele fecharia os olhos e viraria as costas calmamente, sem jamais perder o glamour.

Por isso ele precisava esperar a reação dela.

Por isso ele ainda não saíra.

A qualquer momento, ela iria reagir.

A qualquer momento...

 

... Ela não reagia.

Ela olhava para Ikki. Ikki olhava para ela.

Ela estava nua.

Ikki falava alguma coisa. Ela mal ouvia.

Ela estava nua e trêmula.

Seu rosto estava em chamas. Seu corpo estava completamente rígido e trêmulo, e sua mão perdia a força e deixava o pequeno saco cair no chão. Agora ela estava numa pose engraçada, com um braço levantado ao lado do corpo sem segurar nada... e o outro imóvel, descansado ao lado do corpo.

Sua mente registrava e repetia apenas uma coisa.

Eu estou completamente nua na frente do Ikki-san.

A essa altura, nem mesmo Ikki estava conseguindo esconder o rubor em seu rosto. Ele a estava encarando havia vários segundos... e não houvera qualquer tentativa dela de esconder seu corpo de sua vista.

—... Está... tudo bem...?

—Ah – Foi o som que ela finalmente conseguira emitir. -Um... Eh... Ah...

Ela precisava fazer alguma coisa... cobrir o corpo... gritar... fugir... mas seu corpo estava completamente travado. Sua voz só emitia vogais indistintas, e seu rosto, na verdade, seu corpo inteiro parecia em chamas enquanto seu coração parecia querer destruir seu peito... seu peito completamente exposto...

Suas pernas trêmulas não aguentaram mais o peso de seu corpo e ela caiu. Ikki imediatamente correu para ajudá-la, ela tentou se levantar antes que ele chegasse, mas ainda estava tremendo de vergonha.

—Ei – Ele se ajoelhava e erguia o queixo dela, para olhá-la nos olhos. -Você está bem? Se machucou?

Ela não respondeu. Estava completamente paralisada... de vergonha. E ao perceber isso, só ficou ainda mais envergonhada... e menos capaz de se mover.

Ikki baixava o olhar – ele está vendo tudo ele está vendo tudo— até suas pernas. Ai meu deus ele viu tudo

—... Ah-!!!!

O que saiu de sua garganta foi apenas uma exclamação abafada, mas em sua mente, era um grito de vergonha – Ikki, um garoto, um garoto lindo, a erguera nos braços como se fosse uma noiva, enquanto ela estava nua em pelo! Ela conseguia sentir o tecido da roupa dele diretamente em seu corpo... sentir o calor do corpo dele... colado em seu próprio corpo... seu próprio corpo nu...!!!!

Ikki, tentando a todo custo parecer calmo, a carregava para fora do vestiário, e a sentava na área dos empregados. Ela estava dolorosamente ciente de cada passo que ele dava, enquanto sentia seu seio encostado contra o corpo dele durante todo o trajeto... e agora... ela estava ali.

Sentindo, pela primeira vez, a textura daquele sofá diretamente na pele de suas costas e sua bunda. Sentada, nua, na frente de Ikki... que agora se ajoelhava em sua frente e segurava sua perna entre as mãos.

—Uh... Ik...ki...san...

—Não me admira que não consiga andar... suas pernas estão tensas de um jeito que eu nunca vi.

Ele começava a massagear seus pés.

Seu rosto ficou ainda mais quente, se é que isso era possível, quando ela processou o tipo de situação em que estava. Ela estava sob a companhia de um rapaz muito atraente, vestido elegantemente como um mordomo, lhe fazendo massagem nas pernas. Isso por si só a deixaria incrivelmente encabulada mas, como sua mente insistia em lembrá-la a cada segundo, ela estava nua!

—Não se preocupe. – Ikki sorria, enquanto olhava nos olhos dela. -Eu sou muito bom com massagens.

—U... Uhum...

Ele não mentira. Sua massagem era, de fato, muito efetiva... e ela não conseguia segurar seus gemidos de prazer com aquilo. Era uma reação normal para se ter a uma massagem, mas a cada gemido que soltava ela se sentia mais envergonhada consigo mesma... um garoto... a estava fazendo gemer... nua...

E não era qualquer garoto.

Era Ikki.

Ela não tirava os olhos dele durante os vários minutos que se seguiram. Ele era, de fato, muito bonito... e charmoso... e atraente... e aqueles olhos, aqueles olhos azuis hipnóticos, estavam olhando para ela.

Ela se sentia de volta ao primeiro dia no café, só que com todas as sensações e emoções elevadas a mil. Ikki jamais lhe parecera tão... tão... sedutor... enquanto olhava no fundo de seus olhos e então... para baixo...

... para baixo?

Foi por um breve segundo, mas ela percebera. Mais uma vez, ele olhara para o corpo dela. Mais uma vez, ela sentiu o olhar dele... no corpo dela...

... ela olhou para os próprios seios. Ela estava perfeitamente ciente do quão grandes eles eram. E ela sabia que garotos gostavam do corpo dela... ela sempre desprezara pervertidos que não faziam questão de esconder suas olhadas, mas Ikki...

Ele estava tentando esconder. Ela percebeu as olhadas subsequentes dele. Foram várias, mas foram breves. Primeiro seus seios, depois sua barriga... suas coxas... sua... ela não sabia se o gemido que dava naquele momento era mental ou verbal.

A cada olhada, ela sentia algo estranho... não era raiva. Ela não tinha raiva de Ikki por olhar para o corpo nu dela. Ele era um homem, afinal... e tentava, o melhor que podia, não encarar fixamente. Era quase... fofo...?

A essa altura, ela provavelmente já podia se mover um pouco... ela podia tentar... cobrir seus seios com as mãos... ela pensava, enquanto não movia um músculo para sequer tentar cobri-los.

Ikki estava vendo. Ela sabia que ele estava vendo. Ela sabia que ele iria continuar roubando olhadas em seu corpo nu. Mas ela não tentava se cobrir. Ela não queria se cobrir.

... Um arrepio de vergonha percorreu seu corpo enquanto um pensamento fugaz, que ela se apressou em afastar o mais depressa que pôde, cruzou sua mente.

Ela queria que ele olhasse.

A essa altura, as mãos de Ikki subiam cada vez mais ao longo de suas pernas, enquanto a massagem continuava. Ela continuava com aqueles gemidos, e continuava envergonhada, mas... resistia menos, enquanto as mãos dele massageavam suas panturrilhas. Ela só conseguia se perguntar... se elas subiriam ainda mais...

Ela tentava o melhor que podia afastar essas ideias da cabeça dela, mas já estavam tidas. Ela apenas olhou para baixo – para seus seios – sentindo seu rosto ardendo e quase lacrimejando de vergonha.

 

Após vários minutos, Ikki se levantou.

—Está se sentindo melhor?

Ela fez que sim com a cabeça, mas não emitiu som algum nem tentou se levantar. Sabia que iria se envergonhar ainda mais se falhasse.

—Fico feliz... – Ele sorriu, aquele sorriso maroto e despreocupado de sempre. -Eu vou indo na frente então, tudo bem?

Ela fez que sim mais uma vez.

—Boa noite... não esqueça de fechar a porta.

Ela esperou alguns minutos enquanto Ikki ia ao vestiário masculino e saía, já usando suas roupas casuais. Ele a olhou mais uma vez – ela, obviamente, ainda estava sem roupas – e acenou, agindo como se nada estivesse errado.

 

Já longe dali, Ikki mal conseguia sorrir de volta para as meninas que o encaravam. Não conseguia tirar os últimos minutos de sua mente...

Fora necessário todo o autocontrole do mundo para ele continuar agindo normalmente naquela situação. Ele já tinha entendido que ela fora pega desprevenida, e que estava envergonhada... em níveis que ele nunca tinha visto antes. Ele nunca imaginara que um dia veria uma garota literalmente incapaz de sequer se mover de tanta vergonha. Chegava a ser... fofo, de um jeito um pouco estranho.

Ainda assim... aquela era uma visão que ele não esqueceria tão cedo. Ikki se considerava um cavalheiro, mas... aquele corpo perfeito... aqueles peitos enormes e firmes... aquela cinturinha de modelo... aquelas coxas deliciosas... mesmo Ikki tivera dificuldades para manter uma expressão serena enquanto olhava para aquela deusa. Mesmo naquele momento, ele sentia o sangue subir-lhe ao rosto.

Como será que ela lidaria com isso... ele esperava que as coisas pudessem continuar normais entre eles.

 

Ela ainda esperou vários minutos depois dele ter ido embora, respirando fundo antes de levantar.

—O que... foi... isso...

Ela cobriu o rosto com as mãos enquanto gritava dentro delas. Então ela finalmente correu para o vestiário e vestiu o mesmo sutiã e calcinha brancos que usara na vinda, antes de pôr o seu vestido de sempre e sair. Àquela altura, lingeries novas eram a última coisa em sua mente. Só queria ir para casa... e esquecer o dia mais embaraçoso que já tivera.

E pensar que tudo isso... acontecera por causa de um deslize que não era culpa de ninguém. Ainda se matando de vergonha enquanto caminhava para casa, ela tentava se consolar pensando que algo tão embaraçoso só acontece uma vez na vida.

Oh, se ela soubesse o que os próximos dias lhe reservavam...


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