O Herói da Profecia escrita por Zarana


Capítulo 9
Desvendando a Profecia




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    Era uma linda manhã, mas Arya se levantou da cama relutante. Depois do que havia acontecido no dia anterior, não queria ter que levantar de sua cama tão cedo. Mas não podia se render à tristeza, tinha que decidir o que deveria fazer. Cuidar do problema com os Drakmons ainda era seu objetivo, já que não havia mais como recuperar a capital naquele momento. Ela se vestiu e saiu do quarto, antes que pudesse descer as escadas, escutou vozes vindas da sala. Eram Alex e Horst.

— E como ela está?

— Ainda está dormindo... 

    Arya parou no meio da escada, escutando. "Eles estão falando de mim...?". 

— Mas, o que ela vai fazer agora?

— Eu não sei, Horst... Pela lei, ela é a rainha agora, não é?

    "Alex... Você não compreende... Eu não posso assumir o trono... Não até me casar com algum nobre, coisa que parece ser impossível agora..." ela refletia, ainda parada na escada, ouvindo a conversa atentamente.

— Ela é tão jovem... Será que está preparada para assumir a responsabilidade do reino em suas mãos? - Indagou Horst.

    "Já chega!" Ela não conseguia mais ouvir. Sabia que esse pensamento seria comum entre as pessoas, e que ficariam em dúvida quanto a ela. Por isso tinha que ser forte, e mostrar que estava realmente comprometida a ajudar, provando que poderia sim, ser uma rainha digna de reger Fairth, assim como seu pai e sua mãe. Ela desceu as escadas para ir ao encontro deles.

— Horst, eu acho que... - Alex percebeu que ela descera a escada. - Arya! Você não precisava acordar tão cedo...

— Como eu posso dormir num momento como esse? - Ela se aproximou deles, que estavam em volta da mesa.

— Bom... - Começou Alex. - Como eu disse ontem, os Drakmons não poderiam ter planejado esse ataque. Aquelas bestas vivem divididas em diversas tribos que estão sempre em conflito umas com as outras. Além de que não seriam tão inteligentes ao ponto de se aliarem para atacar Fairth.

— Então, quem estaria por trás disso tudo?

— E se nós... Procurarmos na profecia? - Sugeriu Arya.

— Na profecia? - Os dois perguntaram simultaneamente.

— Sim, pensem bem... Primeiro eu tive um sonho sobre a profecia. Então Alex apareceu, tendo uma semelhança incrível com o Herói. E agora... Fairth está praticamente destruída. -Ela pensou por alguns instantes, e olhou para Alex. - Além disso... Tem aquele cristal que meu pai te deu... Eu acho que já o vi em algum lugar...

    Arya pegou o pergaminho que guardava consigo por todo esse tempo, desde que vira Alex pela primeira vez. Ela o abriu delicadamente em cima da mesa de jantar, e percebeu que os dois olharam confusos, tentando entender o que estava escrito. O que eles não sabiam, é que estava escrito numa linguagem ancestral, que atualmente era chamada de "Língua antiga", mas por causa de seus estudos sobre as lendas e profecias, ela sabia muitas coisas sobre essa língua.

— Está na Língua Antiga. Mas acho que consigo ler... - Arya segurou o pergaminho na frente de seu rosto, analisando-o com atenção.

    Ela começou a ler o texto da melhor maneira que conseguiu.

 

Nascido do fogo da guerra, um herói de coração justo surgirá. 

Com a sabedoria do Rei, o poder do vulcão e a coragem da floresta, sua espada erguerá.

Para as forças malignas do sul expulsar, e assim resgatar, a jovem realeza.

 

    Assim que terminou, abaixou novamente o pergaminho. Infelizmente, aquilo era tudo que ela podia ler, não tinha um conhecimento tão amplo da língua, além de que o documento já estava danificado, dificultando a leitura. Quando finalmente olhou para eles, percebeu que Horst tinha uma expressão de espanto no rosto.

— Nossa, você tem mais a ver com a profecia do que eu pensei... - Ele olhou para Alex.

— Como assim, Horst? - Alex parecia confuso.

— Eu nunca te contei, achei que seria desnecessário...

— Contar o quê??

— Há 21 anos atrás... - Horst começou a narrar. - Uma jovem prestes a dar a luz chegou desesperada no vilarejo. Ela estava em péssimas condições, e vinha de Daeladr, fugindo da terrível guerra que tomava conta do reino. Eu e Elga tentamos ajudá-la, mas a situação dela não era nada boa, estava tão fraca que não conseguiu aguentar, e morreu logo após o parto. E em suas últimas palavras, ela implorou para que cuidássemos de seu filho, Alex. 

— Por que nunca me contou isso?

— Eu temia que você quisesse voltar para Daeladr.

— Mas então... O que aconteceu com meu pai?

— Nós não sabemos. Sua mãe, Katryna, não disse exatamente, mas nos deu a entender que ele estava morto.

— Tudo bem... - Alex passou a mão pelo cabelo. - Não vamos nos preocupar com isso agora... Na profecia falava sobre "forças malignas do sul"... O que isso quer dizer?

— Do sul... - Arya olhou para um mapa que estava aberto na mesa. - Zoran! Foi contra ele a batalha de 21 anos atrás.

— Mas por que esperar 21 anos para atacar?

— Talvez... - Disse Alex, colocando a mão no queixo, pensativo. - Ele quisesse acumular poder, e nos pegar desprevenidos. Afinal, quase ninguém se lembra mais de Daeladr.

— Mas tem uma coisa que ainda não entendi. - Arya olhou o texto novamente. - O que significa "(...)a sabedoria do Rei, o poder do vulcão e a coragem da floresta...?". Não parece fazer sentido algum. Achei que minha interpretação da Língua Antiga estava errada, mas é exatamente isso que está escrito...

— O rei está morto... Talvez nunca possamos descobrir... - Lamentou Alex.

— Ele não disse nada antes de morrer? - Perguntou Horst.

— A jóia!! - Arya lembrou-se de repente. - Posso vê-la, Alex?

    Alex vasculhou o pequeno bolso preso em seu cinto, até que finalmente retirou a mão e estendeu para ela. Ele abriu a mão. A pedra azul cobalto era bem pequena, cabia com espaço de sobra na palma de sua mão. Arya estendeu o braço para pegá-la, mas no instante que a segurou em sua mão, sentiu uma sensação estranha percorrer por todo o seu corpo. De repente, tudo à sua volta ficou branco. "Onde estou?!?!" Ela não entendeu o que havia acabado de acontecer. Olhou em volta assustada, mas não conseguiu enxergar nada.

— Não tenha medo. - Uma voz ecoou.

    Ela olhou para trás rapidamente. Havia um homem parado a poucos metros, olhando para ela. Tinha aparência de velho, uma barba grande, branca como neve, assim como o pouco cabelo que possuía. Na cabeça, tinha uma coroa, e suas vestes, aparentavam ser majestosas como as de um rei.

— Quem é você? - Ela perguntou assustada.

— Arya Elvenheart, preste atenção, eu não tenho muito tempo. - Ele se aproximou devagar. - Eu sou um de seus primeiros antepassados, meu nome não é relevante agora. - Ele apontou para a mão de Arya, que segurava o cristal. - Uma benção foi dada a você. Deve protegê-la com cuidado, para que não caia em mãos erradas. Se o portador tiver a mente fraca, não resistirá.

— Mas, o que é esse cristal?

— Eu devo partir agora... - Ele se virou e começou a caminhar para longe.

— Espera! O que eu faço com isso?? - Arya tentou alcançá-lo mas ele já estava longe demais.

    "Você saberá quando chegar a hora", ela ouviu a voz dele desvanecendo-se. Se espantou ao piscar os olhos e perceber que já se encontrava novamente na sala da casa de Horst. Os dois a olhavam assustados.

— Tudo bem? - Alex perguntou. - Você deu um pulo... Pareceu até que levou algum tipo de choque.

— Estou... Eu acabei de falar com alguém... Ele disse que era meu antepassado...

— Do que está falando? Você não saiu daqui...

— Mas é verdade, assim que eu peguei o cristal, ele apareceu para mim!

— E o que ele disse? - Perguntou Alex.

— Algo sobre o cristal... Que eu deveria proteger ele, e que se caísse nas mãos de uma pessoa com a mente fraca, ela não resistiria.

— Resistir a que? - Indagou Horst.

— Eu não sei, ele não disse mais nada. E quando eu perguntei o que deveria fazer, apenas respondeu que eu saberia quando a hora chegasse.

— Então ele não disse nada sobre a profecia?

— Não, Alex... E continuamos sem saber para que isso serve...

    Arya olhava para a pedra em sua mão. Tinha um formato bastante peculiar. Era triangular, quase como um prisma, mas era muito diferente. "Parece até uma... Ponta de flecha!!" Sim, era verdade, o cristal era exatamente como uma ponta de flecha élfica, e ela sabia perfeitamente onde já havia visto aquilo "Como não percebi isso antes, é claro!!" Ela arrumou rapidamente o mapa em cima da mesa.

— Sabia que já tinha visto isso em algum lugar! - Arya aproximou a mão até a mesa.

    Segurando a pedra com apenas os dedos, ela colocou o cristal em cima do mapa, casando o formato dele, exatamente com o brasão de Fairth: Uma ponta de flecha sobre um coração. Muitos poucos sabiam o verdadeiro significado por detrás daquela figura, e no geral, acabavam atribuindo a seta élfica com a grande aliança que existia entre Galedhva e Fairth. Mas Arya conhecia muito bem a origem do símbolo. Uma de muitas histórias que ouvira de sua mãe, de que há muito tempo atrás, quando o reino tinha acabado de se formar, uma princesa elfa e o rei de Fairth se apaixonaram. Os dois ignoraram todas as regras que diziam a respeito de humanos e elfos, e se casaram, mas mantiveram isso em segredo. Até que as gerações se passaram, e o sangue élfico se perdeu quase por completo.

    - A "sabedoria do rei" talvez seja a joia - ela disse. - A profecia também fala de uma floresta e um vulcão. E olhem! - Arya apontou no mapa. - Tem um vulcão ao leste daqui. E a oeste, tem a Floresta do Desespero, onde fica Galedhva. Talvez possamos descobrir alguma coisa nesses lugares.

— Deveríamos ir aonde primeiro? - Perguntou Alex.

— Para a floresta... Os elfos eram nossos aliados. Talvez seja mais fácil...

— Então partimos amanhã para Galedhva! - Declarou Alex.

— Tão rápido? - Indagou Horst, surpreso.

— Quanto mais cedo, mais a frente de Zoran nós ficamos. - Alex andou até a porta de entrada.

— Tudo bem. Eu vou arrumar algumas coisas para vocês levarem. - Disse Horst, deixando o cômodo.

    Alex saiu de casa, indo em direção à uma grande árvore bem perto dali, no meio do vilarejo. Arya o acompanhou.

— E agora, o que fazemos? - Ela perguntou enquanto caminhavam.

— Esperamos...

    Ao chegar em baixo da árvore, Alex empunhou sua espada se colocando em posição. Arya sentou-se em uma raiz da árvore, que saía para fora do solo e ficou observando ele. Não pôde deixar de notar, que aquela cena era muito similar ao dia do torneio. As memórias de seu pai apareceram em sua mente, como ela havia discutido com ele naquele dia. "Se eu soubesse que aquele seria o último dia com meu pai... Eu nunca teria saído da cidade!" Enquanto ela estava perdida em seus pensamentos, Alex começou a executar uma série de golpes. O estilo com que ele manejava a espada era bem diferente do que ela viu tantas vezes quando assistia os treinos dos guardas reais. Ele parecia ter uma habilidade especial com a espada, manuseando-a com maestria, como se estivesse no seu sangue.

— Você é muito bom. Seu pai deve ter sido um grande guerreiro...

— Improvável... - Alex parou por um instante o movimento que estava fazendo.

— Mas ele com certeza teria orgulho de você agora...

    Ele não disse mais nada. Por um bom tempo, a única coisa que se podia escutar, era o som da espada cortando o ar. E após uma pausa para o almoço, a ação se repetiu. Até que o sol já havia ido embora, e a lua, junto com as luzes das casas ao redor, iluminavam os dois ao pé da árvore. Arya já estava ficando cansada, quando Alex abaixou a espada e parou de repente.

— O que f- - ela começou, mas foi interrompida.

    De um dos galhos da árvore, ela pôde ver um garoto gritando e pulando para cima de Alex. Mas ele conseguiu desviar com facilidade, apontando sua espada para o menino que caiu no chão. Exergando melhor agora, Arya percebeu que era Luca.

— Luca!!! O que está fazendo fora de casa a essa hora?!?! - Alex parecia bravo.

— Eu quero treinar com você Alec.

 

— Está tarde, você já deveria estar em casa.

— Por favor Alec... Me ensine só um golpe...

— Luca, eu... 

— Vai Alex... - Arya interrompeu. - Depois eu levo ele para casa.

—Tudo bem... Só um, e depois você vai para casa.

— Obrigado princesa!! - Ele estava com um enorme sorriso no rosto.

    Arya sorriu, enquanto olhava os dois. Além de ser bem determinado, Luca parecia ter uma grande admiração por Alex, ele tentava a todo custo imitar seus movimentos, exatamente como ele os fazia. Após alguns minutos de treino, o garoto já havia aprendido como executar o golpe, mas podia-se perceber que ele já não estava mais aguentando ficar acordado.

— Obrigado Alec... - Ele disse esfregando o olho. - Boa noite.

— Boa noite Luca. - Alex respondeu.

    Luca caminhou até Arya, que já havia se levantado, para levá-lo até em casa.

— Princesa... - Ele olhou para ela. - Você me leva no colo?

— Luca! - Alex o repreendeu surpreso.

— Tudo bem... - Arya pegou o menino no colo.

 

— Tem certeza?

— Não se preocupe. - Ela disse, enquanto caminhava para casa.

    Alex observou até que os dois saíram de vista. Ficou por mais alguns minutos treinando, até que resolveu entrar em casa. Arya estava na sala, esperando-o. 

— É melhor irmos dormir, amanhã será um longo dia...

— Sim... - Ela fez uma pausa. - Alex... por que o Luca te chama de "Alec"?

— Ah... Isso? Na verdade não é nada demais... Quando ele era menor, não conseguia falar a letra "x". Então ele sempre me chamava de Alec, acho que acabou virando um apelido...

— Entendi... Boa Noite Alex.

— Boa noite.

    Arya subiu as escadas e foi para seu quarto. Ela não sabia o que deveria esperar do dia seguinte, mas tinha que seguir em frente. "Vamos à Galedhva!" Ela se trocou e deitou na cama. Não demorou muito até que o sono chegou, tomando conta de qualquer pensamento.


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