O Herói da Profecia escrita por Zarana


Capítulo 8
Premonição




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/770034/chapter/8

 

    Arya acordou, sentando-se na cama, e pela janela aberta, conseguiu ver que o dia estava lindo lá fora. Ela demorou algum tempo se espreguiçando antes de finalmente se levantar. "Hoje, eu tenho que descobrir ao menos alguma coisa!" Estava decidida a resolver a questão dos ataques. "Antes de qualquer coisa, eu preciso me vestir."  Mas não tinha como colocar seu vestido antigo, estava imundo e rasgado, a única opção era vestir um dos dois que Elga havia trazido. Ela olhou para a mesa de cabeceira, onde havia colocado os vestidos. Sem pensar duas vezes, ela pegou o azul-escuro. Embora preferisse um tom mais claro, azul era sua cor preferida. 

    Ela se trocou rapidamente e saiu do quarto, indo até o final do corredor, desceu a escada que levava até a sala, mas a casa parecia vazia. Ouvindo alguns sons vindos do cômodo logo ao lado da mesa de jantar, se aproximou da porta. Era a cozinha. Elga estava cozinhando algo no fogão, que tinha cheiro delicioso e convidativo. Arya se aproximou de uma pequena mesa no meio da cozinha, para se sentar, e Elga virou para ela, segurando um prato com algumas panquecas.

— Bom dia princesa! - Elga sorriu.

— Por favor... Pode me chamar de Arya.

— Está com fome... Arya?

— Sim, obrigada...

    Arya se ajeitou na cadeira, enquanto Elga colocava o prato de panquecas à sua frente. Ela começou a comer, e realmente estava delicioso. Mas ela comia com pressa, pois estava ansiosa para sair e resolver toda aquela história o quanto antes.

— Sabe aonde o Alex foi? - Ela perguntou antes de levar uma garfada até a boca.

— Humm... Ele saiu cedo. Deve estar no cemitério.

    A princesa terminou de comer em silêncio, havia se esquecido de Kassandra, e não sabia o que dizer.

— Eu... Sinto muito por sua filha... - Arya fez uma pausa breve antes de prosseguir. - Se tiver algo que eu possa fazer...

— Não se preocupe! - Ela pegou o prato vazio da mesa. - Já está fazendo muito por nós.

    Arya sorriu ao escutar aquilo. Após passar um dia no vilarejo, e ver de perto a destruição causada pelos ataques, ela se sentia mais compelida a ajudar aquelas pessoas. "Espero que consiga realmente fazer algo." Ela se levantou da mesa, e atravessou a casa o mais rápido possível até a porta de entrada. Ao sair, andou pelo vilarejo até que finalmente avistou Alex. Exatamente onde Elga havia dito, em um pequeno cemitério, um pouco afastado das casas. Estava na frente de um dos túmulos, que ela já suspeitava de quem seria. "Kassandra..." Se aproximou dele devagar e em silêncio para não incomodá-lo. Ela parou ao lado dele, observando o túmulo onde podia ler "Kassandra Theron".

— Ela estava dando aula quando os Drakmons atacaram... - Ele continuava olhando fixamente para o túmulo. - Foram direto atrás das crianças. Quando os homens chegaram para combatê-los, já era tarde demais. Kassandra deu a vida para salvar as crianças, foi uma verdadeira heroína... Se eu não tivesse saído para caçar naquele dia...

— A culpa não foi sua.

    Até aquele momento, Alex não tinha desviado sua atenção do túmulo nem por um segundo. Quando finalmente olhou para Arya, ela percebeu que seus olhos se arregalaram surpresos, fitando o vestido. Mas no mesmo instante, desviou o olhar para a floresta.

— Eu posso colocar outro se o incomodar...

—  Não. Ele caiu bem em você, princesa... - Alex saiu andando. - Vamos. Quero te mostrar uma coisa.

    Alex foi andando para a floresta, enquanto ela o seguia. Quando já haviam adentrado um pouco na mata, ele finalmente parou e olhou em volta.

—  Por que você continua me chamando de "princesa"?

— Porque é o que você é... É impróprio chamá-la assim?

— Não. - Ela deu uma risada. - Mas você não precisa dessas formalidades. Me chame de Arya, por favor.

— Tudo bem...

    A verdade era que Arya já estava extremamente cansada de que todos se dirigissem a ela por títulos ou outras formas de tratamento, como se não fosse mais nada além de uma princesa. A única pessoa que a chamava pelo nome era seu pai. Alex parou de repente, olhando para as árvores.

— Olhe. - Ele apontou por entre as árvores. - A floresta parece estar perdendo vida ali. E tem vários rastros de Drakmons indo para o norte.

— Isso é estranho... Por que estão indo para o norte?

    Arya chegou mais perto para observar. Havia algo de diferente, um ar estranho pairava naquele lugar. Ela começou a caminhar para lá, sentia como se algo a atraísse cada vez mais. "O que é isso...?" Ouviu Alex chamar por ela, mas não conseguia responder "É magia??" No momento em que tocou a árvore que estava na sua frente, sua visão escureceu. "Arya?!", ela ainda pôde escutar o grito de Alex, que parecia estar bem longe, e então, não escutou mais nada.

    Em questão de segundos, e com grande dificuldade, ela enxergou a capital de Fairth e o castelo. A cidade estava completamente tomada por chamas. Nas ruas, ela via as pessoas correndo com medo. E o motivo. Um exército de Drakmons invadira, e estava causando um completo caos. O cenário mudou, e ela reconheceu o pátio do castelo. Guardas reais, já sem vida, caídos no chão. Portões arrombados, e todos os brasões pegando fogo. Por fim, ela enxergou a coroa de seu pai sobre o piso do pátio, manchada de sangue.

 

    Alex olhava para Arya preocupado, ela se segurava na árvore à sua frente. Ele chamava por ela mas ela não respondia, claramente ela não estava bem. Assim que se aproximou, ela perdeu as forças, mas antes que caísse no chão, ele conseguiu segurá-la em seus braços.

— Arya!!

    Ele passou a mão, retirando o cabelo do rosto dela e sentiu que gotas de suor escorriam de sua testa. Tinha que leva-la de volta para casa. Alex se levantou, e andou o mais rápido que pode, carregando ela. Não precisou fazer muito esforço para carrega-la, já que ela era leve. Mas era difícil se locomover pelo meio da floresta, e tinha que tomar o maior cuidado para que não tropeçasse ou batesse em alguma árvore. Logo que saiu do alcance das árvores, andou depressa até em casa. Ele abriu a porta do jeito que conseguiu e foi até o sofá. Horst estava na sala, e ficou pasmo ao vê-lo entrar daquela maneira.

— O que aconteceu? - Horst levantou depressa.

— Ela desmaiou! - Alex a colocou deitada no sofá. - Arya?!

— Fairth! - Ela acordou assustada, sentando-se no sofá.

— Você está bem?? - Alex perguntou preocupado.

— E-estou... Eu vi...

    Ela ficou alguns segundos atônita, ao se lembrar de tudo o que tinha acabado de ver enquanto estava desacordada. "Fairth destruída...".

— Temos que voltar para Fairth, agora! - Ela se levantou.

— O quê?? Como assim "agora"? - Alex estava confuso.

— Eu vi... Fairth em chamas.

— Foi só um sonho, você desmaiou.

— Não Alex! Foi real! Os Drakmons estão indo para o norte, você mesmo disse!

— E quando será?

— Eu... Não sei. Amanhã, mês que vem... Ou já pode estar acontecendo! - Ela foi indo para a porta. - Eu vou voltar agora para Fairth!

    Arya saiu de casa. Estava extremamente nervosa depois de ter visto tudo aquilo, a cidade inteira tomada pela desgraça. Alex saiu correndo atrás dela.

— Arya, espera! Eu vou com você! - Ele gritou enquanto se aproximava.

    Os dois foram até os cavalos, do lado da casa. Sem pensar duas vezes, Arya foi logo subindo em Thunderbolt, e Alex fez o mesmo em Saphira. 

— Se sairmos a toda a velocidade, podemos chegar lá ainda de tarde.

    Ela quase não esperou que ele terminasse a frase, e saiu no galope mais veloz que seu cavalo conseguia suportar. Para a sorte deles, as montarias da família real tinham descendência de uma espécie de cavalos élficos, que vive na Floresta do Desespero. Pelo menos, era o que diziam as lendas. Mas isso fazia completo sentido, pois eles tinham capacidades muito além dos cavalos normais. Eram mais rápidos e mais resistentes, podendo percorrer distâncias maiores em muito menos tempo.

    Arya estava tão preocupada, com a cidade, e com os moradores, mas principalmente com seu pai. Acima de tudo ela o amava, mesmo discordando de suas decisões e discutindo com ele, ela o amava e não queria perde-lo. Era a única família que lhe restava.

 

    A tarde estava quase chegando ao fim enquanto eles cavalgavam pela estrada, parando de vez em quando para não sobrecarregar os cavalos. Quando eles chegaram mais perto de Fairth, Arya aumentou o galope. Mas assim que pôde avistar a cidade, ela parou.

— Alex! - Ela gritou em desespero.

    O cenário que ela presenciou era o pior de seus pesadelos. A cidade já estava completamente destruída, e ainda era possível ver fogo queimando em alguns lugares. Mas no geral, tudo já estava perdido. Ela não conseguiu acreditar e saiu correndo com o cavalo desesperadamente. Ela passou pelas ruas da cidade, não havia mais ninguém, além de corpos sem vida caídos pelo meio das ruas. Todos os sobreviventes já deviam ter ido embora se refugiar em outra cidade. Mas ela estava morrendo de angústia para encontrar seu pai.

    Assim que chegaram na entrada do castelo, desceram dos cavalos. O lugar que um dia ela havia chamado de "casa", agora não passava de paredes e colunas quebradas. Estava quase irreconhecível. Ela correu pelo que sobrou do pátio do castelo, procurando por seu pai. Alex já havia desembainhado a espada, assim que descera do cavalo. Uma cidade que acabara de ser atacada com certeza era perigosa.

— Arya... Ali! - Ele apontou com a espada para um canto.

    Quando Arya se virou para onde ele estava apontando, ela viu. A coroa real estava caída, e logo ao lado dela, seu pai. As lágrimas começaram a escorrer de seus olhos, enquanto saiu correndo, e se jogou no chão ao lado dele. Encostou o rosto no peito de Rothgar, soluçando sem parar. Mas ele ainda não estava morto.

— Papai... - Ela olhou para ele. - Papai! Me perdoa...

— Minha filha... - Ele tossiu. Falava pausadamente e com dificuldade. - Eu que peço perdão por não tê-la escutado antes... Tinha razão, é ele...

    Arya abraçou o pai, não conseguia parar de chorar. Alex se aproximou deles. O rei passou a mão acariciando o rosto e depois os cabelos de sua filha.

— Arya... Eu preciso falar com o Alex...

    Ela se afastou um pouco, dando espaço para que Alex se ajoelhasse ao lado do rei. Rothgar estendeu a mão fechada para Alex, que a segurou.

— Alex... Eu confio em você para protegê-la... Você é minha única esperança... Você... Tem que mantê-la a salvo...

— Darei a minha vida se for preciso...

    O rei abriu sua mão, entregando a Alex um cristal pequeno, de cor azul cobalto. E sem que pudesse dizer mais nada, a vida esvaiu-se completamente dele. Era o fim do reinado de Rothgar.

— Arya... - Alex olhou para ela aflito.

    Mesmo ele não terminando de falar, ela sabia muito bem o que ele queria dizer. "Ele se foi..." O mundo de Arya desabou naquele exato instante. Primeiro sua mãe, que perdera ainda jovem. E agora, seu pai. O único membro que restava de sua família, havia falecido. Ela o abraçou forte enquanto derramava incontáveis lágrimas, como se fosse sua despedida, o seu último adeus. Alex se levantou e a deixou um pouco sozinha, enquanto vigiava as redondezas. Mas era muito arriscado que eles ficassem ali. Ela percebeu que deveriam partir, e se sentou tentando se acalmar, enxugando as lágrimas persistentes.

— O que é isso? - Ela olhou para Alex, que observava o pequeno cristal.

— Eu não sei... - Ele olhou em volta, preocupado. - Arya, precisamos ir antes que alguém apareça...

— Sim... - Ela se levantou.

— Para aonde vamos agora? - Ele perguntou, enquanto montava em Saphira.

— Eu... Não sei.

— Você aguenta galopar de volta para o vilarejo?

— Aguento.

    Foi a última palavra que eles trocaram. Seguiram a galope em direção ao vilarejo, da mesma forma como tinha vindo, o mais rápido que podiam. No caminho, Arya não podia deixar de pensar em como seriam as coisas dali em diante. "Fairth praticamente não existe mais... A capital se foi... Junto com o rei. Além da cidade Abeorn, só sobraram algumas poucas vilas pequenas. Sem contar que, mesmo se a capital for reconstruída, eu teria que me casar com algum nobre para ter a chance de assumir o trono..." Todos esses problemas giravam na mente dela sem parar. "O que devo fazer agora??".

    Quando Arya se deu conta, já estavam na entrada do vilarejo. A lua estava alta no céu negro, e já se passava da meia noite. Pararam os cavalos e os amarraram ao poste, onde deveriam ficar. Arya ficou acariciando Thunderbolt e Saphira, ela achava que ao menos deveria gratificá-los, pelo ótimo trabalho que haviam feito. Logo avistaram Horst abrindo a porta e saindo preocupado.

— Já voltaram?! O que houve??! - Disse ele.

— A capital... Não existe mais... - Alex se aproximou dele.

— O que?!?! Então, o Rei...

— Sim Horst... O Rei morreu. - Alex olhou para Arya, ainda com os cavalos.

— Como isso aconteceu?

— Não sabemos. Parece que foram Drakmons, mas acho que eles não seriam tão espertos a ponto de planejar um ataque tão grande assim...

    Terminando de cuidar dos cavalos, Arya se aproximou deles.

— Será que podemos discutir isso amanhã? Estou cansada...

— Claro. Vocês podem ficar aqui como da outra vez - disse Horst.

— Obrigado Horst. - Alex deu passagem para Arya entrar.

    Arya entrou e foi direto para o andar de cima, Alex ia logo atrás dela. Ela parou no corredor,  já com a mão pousada na maçaneta, para abrir a porta de seu quarto, enquanto ele seguiu no corredor.

— Alex... - Ela olhou para ele, que também se virou na direção dela. - Obrigada por ficar comigo e me ajudar...

    Ela ficou olhando para ele por alguns instantes, até que abriu a porta e entrou para seu quarto. Ela se trocou rapidamente, colocando a camisola, e se jogou na cama. O dia havia sido tão cansativo, que sua mente não queria pensar em absolutamente mais nada. A única coisa que ela queria, era dormir. A lembrança de seu pai veio à tona, e ela deixou escapar algumas lágrimas. Mesmo tendo plena consciência de tudo, ainda queria acreditar que tudo aquilo não tinha, de fato, acontecido. "Quem sabe, amanhã eu não acordo desse pesadelo terrível...?" 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Herói da Profecia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.