Memento Mori escrita por EsterNW


Capítulo 14
12.0 - Live & let it die


Notas iniciais do capítulo

Hallo hallo, povo!
Bem, estamos de volta para o último capítulo da Memento Mori. Deixarei os agradecimentos para as notas finais, pois pretendo não me demorar por aqui :D

*A música que aparece no capítulo é a mesma da epígrafe e o link para ela está nas notas finais. Eu intercalei entre a letra original e a tradução, porque ela é realmente importante no texto. Caso a formatação não tenha ficado muito boa, me avisem que eu mudo.

Boa leitura ;)



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“Dentro de seu coração, uma história para ser contada,

Este é o momento de apenas deixar ir.”

— Life Eternal, Ghost

 

O caminho mais longo para Gallifrey, em algum lugar no tempo.

Clara pressionou os dedos no tronco da árvore que a ocultava, sentindo entrar pequenas lascas de madeira debaixo de suas unhas, que permaneciam do mesmo tamanho de sempre e com a mesma cor de sempre. Tudo em seu corpo era o mesmo de sempre. Exceto seu espírito.

Mesmo com a pressão que fazia no tronco, tentando permanecer escondida, Clara sentiu-se impelida a caminhar até aquele banco de madeira. Assim como a maioria naquele campus, não estava vazio. Este, contudo, era ocupado por uma única pessoa, sozinha e perdida em sua própria música e pensamentos.

O Doutor tocava os acordes com suavidade, fazendo com que as notas se perdessem com o vento de fim de tarde, deslizando de forma precisa os dedos pelo braço da guitarra, transformando aquela canção em uma versão única, contendo seus sentimentos.

Clara tentava manter-se oculta o máximo que podia, portanto, parou a alguns passos de distância do banco, às costas do senhor do tempo. Com as conversas e outros sons no ambiente a céu aberto, achava difícil que alguém ouvisse seu caminhar sobre a grama.

Tentando controlar-se, torcia os dedos de forma nervosa, quase girando sob os calcanhares e dando meia volta para sua própria Tardis. Era arriscado demais, ela sabia, pois, assim que o visse, sua maior vontade seria abraçá-lo, chorar, rir e contar suas histórias, cada coisa de uma vez e com todo o tempo que possuía ao alcance de suas mãos. Ela possuía o universo inteiro ao alcance de seus dedos, bastava apenas apertar um botão ou puxar uma alavanca. Ela tinha tudo, menos o seu melhor amigo.

— É uma bela música, não acha? — Clara sobressaltou-se ao ouvir a voz do Doutor, embalada pelas notas aleatórias que saiam de sua guitarra após o findar da música que tocava anteriormente.

Ele tinha percebido sua presença parada ali atrás. Ele sempre a perceberia, Clara se esquecera. Mesmo que não se recordasse ou reconhecesse o seu rosto, o Doutor sempre perceberia quando ela estivesse por perto, mesmo que fosse a sondá-lo de longe.

— Ela é mesmo... — Clara conseguiu achar alguma voz do fundo da garganta, cortando os últimos passos de distância entre ela e o banco onde estava sentado o Doutor. — Você toca muito bem. — Apoiou o cotovelo sobre a madeira e o queixo sobre a mão, tentando mostrar uma postura descontraída. Ela estava tudo naquele momento, menos descontraída. Porém, sempre fora boa em fingir e mentir, por que não agora?

O Doutor fez um gesto de cabeça, simbolizando um “obrigado”, em seguida, fixou seus olhos azuis no rosto daquela mulher que chegou de repente trazendo um sorriso triste nos lábios. Ela mal parecia dar-se conta da expressão que tomava seu rosto.

— Está tudo bem com você? — o senhor do tempo questionou em um leve tom de preocupação, vendo aqueles olhos castanhos começar a se encherem de lágrimas.

O Doutor virou-se no banco, tentando ter uma visão melhor da desconhecida, ela, entretanto, deu-lhe as costas, secando duas lágrimas fujonas que escapavam de seus olhos. Limpando a garganta, procurou pensar em algo para puxar assunto, afinal, não fora até ali para se desmanchar em lágrimas na frente de seu melhor amigo. E pensar que teria as emoções sob controle depois de tanto tempo... Tanto tempo que até tinha perdido as contas.

— V-você... Você trabalha aqui? — Voltou-se novamente para ele, tendo já ocultado o caminho de suas lágrimas e adquirindo uma expressão parcialmente amena.

— Podemos dizer que sim... — O Doutor descansou a guitarra no assento vazio ao lado, voltando a analisar o rosto da mulher que conversava com ele. Seus traços despertavam algo de familiar em sua mente, algo que parecia estar oculto em uma neblina, por mais que se esforçasse para tentar alcançar. — Sou palestrante na universidade tem certo tempo — respondeu a pergunta anterior, enquanto sua mente trabalhava em busca de uma memória que contivesse aquele rosto que seus olhos analisavam.

Clara ergueu as sobrancelhas, surpresa ao saber que o Doutor palestrava e, ainda por cima, estava no mesmo lugar por tempo suficiente para dizer “certo tempo”. Por que ela ainda se surpreendia, com o tanto que ele escondia? Sempre haveria algum de novo para descobrir sobre o Doutor.

— E sobre o que você palestra? — retorquiu com curiosidade e um sorriso brincando em seus lábios, desta vez, ao menos, Clara tinha os sentimentos em parte sob controle, não sendo mais um sorriso triste que chamava a atenção em sua face.

— O Universo, Física, poesia... — O senhor do tempo deixou no ar, mais concentrando em observar aquele rosto.

Clara apoiou as mãos sobre o encosto do banco, com o vento a brincar-lhe com os cabelos e fazer com que ocultassem parte do rosto. Com um rápido movimento de mão, devolveu a mecha de volta para trás da orelha, ficando com a face completamente limpa ante seus olhos. O Doutor franziu o cenho, tendo certeza que aqueles pequenos gestos despertavam alguma memória em sua mente. Sua mão sobre o assento do banco parecia buscar pelo toque naqueles dedos pequenos que tamborilavam sobre a madeira.

— Não sabia que tinha como misturar tudo isso numa palestra só — ela devolveu no automático, no costume de brincadeiras leves como essa em tempos passados.

O Doutor sentiu seus próprios lábios formarem um sorriso, ao ver um sorriso de canto nos lábios daquela mulher. Seu inconsciente agia como se tudo fosse completamente normal, como se cenas iguais a essa tivessem se repetido tantas vezes que parecia ter até certa memória corporal de como agir.

— E por que não? Não acha que pode haver poesia em um buraco negro? Ou em supernova? — Clara tombou um pouco a cabeça para o lado, parecendo considerar sua réplica. O Doutor sentiu uma sensação de familiaridade, como se somente aquela mulher sorrisse daquele jeito ou franzisse as sobrancelhas daquela forma quando confusa, ou até mesmo como inclinava a cabeça para o lado em curiosidade, de um jeito somente dela. — Nós já nos conhecemos antes? O seu rosto... — Clara ergueu a face em direção ao Doutor, arregalando os olhos e afastando-se alguns passos do banco e dele, como se não devessem ficar perto demais. Céus, até mesmo a arregalada daqueles olhos grandes e expressivos provocaram um dejá-vu tão forte no Doutor que ele acreditava ser quase palpável. — Você me parece familiar.

Os lábios de Clara dividiram-se entre esboçar um breve sorriso triste e curvar-se para baixo em tristeza logo em seguida. Ela queria tanto sentar ao lado dele e conversar até o sol se pôr e as estrelas tomarem conta do céu... Contudo, doía demais estar ao seu lado e ter frases como essa vindo ao seu encontro. Já havia se passado tanto tempo, que até mesmo se esquecera de como doía não ser reconhecida.

— Nah. — Deu de ombros, tentando fingir que não era nada demais. — Eu sou uma pessoa comum, só isso. Deve haver muitas como eu por aí — soltou como desculpa, colocando as mãos atrás das costas para esconder seus dedos inquietos em nervosismo.

— Acredito que alguém como você pode ser qualquer coisa, menos comum, senhorita... — de forma velada, ele perguntava pelo seu nome. Clara sentia o peso daqueles olhos curiosos sobre si.

Clara engoliu em seco, sentindo seu coração arder ao ver aqueles mesmos olhos azuis, tão familiares para ela, não a reconhecerem.

— Clara — respondeu apenas com seu primeiro nome, sabendo que seria reconhecida de cara ao revelar seu sobrenome.

Ser reconhecida era tudo o que ela mais desejava, porém, sabia que alguns desejos eram inalcançáveis. Esse, para seu infortúnio, era um deles. O que aconteceria caso o Doutor se recordasse dela? Clara não queria vê-lo sofrendo por ela mais uma vez, afinal, o contador zerado na parte de trás de seu pescoço era um aviso silencioso de que algumas coisas eram inevitáveis.

— Clara... — O Doutor repetiu mais para si mesmo, sendo tomado por lembranças de tantos momentos e aventuras ao lado de uma mulher que ele tinha um carinho enorme... Mas que não tinha rosto em sua mente. Uma pessoa que era um completo borrão em suas memórias. O seu rosto, o seu riso, o seu sorriso, tudo parecia estar tão próximo, contudo, ao mesmo tempo, inalcançável nos corredores de sua mente. — Eu conheci uma pessoa chamada Clara uma vez. — O Doutor sorriu, lembrando-se das aventuras com aquela mulher sem rosto. — Éramos muito próximos. Ela era minha melhor amiga.

Clara abaixou a cabeça, tendo seus lábios tomados por outro sorriso mais tristonho ainda. Seus cabelos caíram sobre a face, servindo como um véu sobre suas expressões.

— Está esperando alguém? — o Doutor devolveu outra pergunta, ainda curioso com aquela Clara que parecia tão misteriosa e ao mesmo tempo tão familiar.

— Eu vim ver alguém, na verdade. Alguém importante pra mim — ela optou por dizer a verdade, mesmo que ocultasse quem viera encontrar. Todo aquele momento compreendia seu último desejo. — E você? As aulas parecem ter acabado... — deduziu ao ver o campus cada vez mais cheio de estudantes, mais absortos em si mesmos e em suas conversas, ignorando aquela dupla isolada em um banco de madeira no meio de tanta gente.

— Também estou esperando alguém importante — o Doutor respondeu, vendo um sorriso tomar o rosto de Clara, mesmo que ainda parcialmente oculto pelos cabelos escuros. O senhor do tempo questionou-se por que ela sorrira tão docemente de forma repentina.

O semblante de Clara iluminou-se instantaneamente ao saber que ele seguira mesmo seu conselho: não estava sozinho, não era mais tomado por fúria e tristeza e, acima de tudo, continuava sendo um Doutor, mesmo que fosse de um jeito que ela não esperasse.

— Doutor!

A atenção dos dois foi desviada para a moça morena que acenava à entrada do prédio principal da universidade. O Doutor sorriu e acenou de volta para Bill, avisando que logo iria até ela.

— Parece que a pessoa que você esperava, chegou — Clara comentou, sabendo que aqueles eram seus últimos minutos juntos. Ela olhou mais uma vez para aquela jovem que preenchia aquele que outrora fora seu lugar a bordo da Tardis. Com certeza ele estava na companhia de quem precisava. Ele estava na companhia de alguém que sonhava em conhecer o universo, assim como ela um dia sonhou. Ele estava na companhia de quem não o deixaria perder-se no mar de solidão.

— Talvez a pessoa que você espera esteja por aqui em breve — o Doutor tentou reassegurá-la, porém, Clara apenas balançou a cabeça em negativa, sabendo que quem ela procurava não a reconheceria. Apenas ela realmente o veria dessa vez.

— Talvez ele esteja indo embora agora e não vai saber que eu estive aqui — comentou melancólica enquanto o senhor do tempo se levantava com a guitarra em mãos.

O Doutor tornou-se de frente para Clara, tendo apenas o banco separando aqueles dois. Um banco e um véu de memórias.

— Tenhamos esperança que ele ainda esteja aqui — tentou confortá-la, oferecendo um pouco de esperança e um sorriso. Clara, porém, não deixou que isso tomasse conta dela. Ao menos, ele voltava a ser o Doutor, oferecendo esperança para todos, como sempre fazia. — Foi um prazer conhecê-la... Clara.

Clara sentiu as lágrimas retornarem aos olhos, sabendo que aquela seria a última vez que ouviria o seu nome sair daqueles lábios.

— Digo o mesmo. Foi um prazer imenso conhecer você, Doutor — confessou com sinceridade, pois sempre seria um prazer imenso ter conhecido aquele homem que mudou sua vida no instante que se encontraram pela primeira vez. Foi um prazer imenso tudo o que viveram juntos. E ela nunca se esqueceria dele, jamais. Seria um prazer imenso para sempre se lembrar do Doutor.

Trocando sorrisos por uma última vez, cada um deu as costas para o outro, indo de encontro para sua companhia naquele momento. O Doutor ia de encontro à Bill, para mais uma aula e mais uma aventura logo em seguida. Clara finalmente decidira pôr um fim àquilo que adiara por tanto tempo. No fim do caminho, ela sabia que a Morte aguardava por seu encontro.

Caminhando como um fantasma sobre o campus, sendo ignorada pelas pessoas imersas em conversas e risadas altas, Clara pisava a grama daquela universidade com o solado de seus sneakers pretos, mal deixando marcas por onde passava. A Garota Impossível trajava as mesmas roupas de seus minutos finais na Rua Cilada. Eram aquele suéter azul claro e os tênis preto que estariam com ela para sempre em seus momentos finais naquela vida.

Can you hear me say your name forever? [...]

Você pode me ouvir dizendo seu nome para sempre? [...]

Seus ouvidos captavam todo o barulho ao redor, as conversas, as risadas, o cantar dos pássaros, inclusive a música que alguém ouvia às portas de saída da universidade. Todos presos em seus momentos, em suas vidas. Clara também estava presa àquele único momento entre sua última batida de coração e o corvo. Ela sabia que era a hora de encará-lo, pois não poderia fugir eternamente. Nada poderia ser adiado para sempre.

I know the light grows darker down below

But in your eyes it’s gone before you know

This is the moment of just letting go

She said, if you had life eternal

 

Eu sei que a luz fica cada vez mais escura lá embaixo

Mas nos seus olhos ela se foi antes de você perceber

Esse é o momento de apenas deixar ir

Ela disse, e se você tivesse vida eterna?

Clara saiu despercebida pelos portões da universidade, visualizando pela última vez as ruas cinzentas de Londres, cidade na qual viveu durante bons anos de sua vida. Cidade em que encontrou o Doutor e tudo mudou. Cidade que seria para sempre sua morada final.

Ela olhou para o alto, vendo o dia tornar-se noite por uma última vez. Com seus olhos cheios de memórias e mais envelhecidos do que a última vez que passara por ali, observava como a vida parecia correr da mesma maneira. Tudo parecia passar ao seu redor: as pessoas apressadas, as crianças correndo e brincando, os carros e ônibus que não paravam nunca, a não ser quando esperavam pelo trocar de luz de um semáforo, um sinal de que podiam prosseguir em segurança. Tudo ao seu redor rodava no carrossel da vida, enquanto ela continuava congelada no mesmo lugar. Sem um pulso, sem um coração batendo, apenas mais uma memória a caminhar pelas alamedas.

Can you hear me say your name forever?

Can you see me longing for you forever, forever?

Would you let me touch your soul forever?

Can you see me longing for you forever, forever?

 

Você pode me ouvir dizendo seu nome para sempre?

Você pode me ver te ansiando para sempre, para sempre?

Você me deixaria tocar a sua alma para sempre?

Você pode me ver te ansiando para sempre, para sempre?

Ela já cumprira sua missão, o Doutor estava a salvo por enquanto, vivera todas as aventuras que queria, estivera em mais planetas do que um dia pudera imaginar, conhecera mais pessoas do que era capaz de lembrar, então, por que não deixar o cronômetro contar seus milésimos restantes?

Porém, Clara sentia que devia vê-lo uma última vez. Suas vidas sempre eram encerradas após um último momento com o Doutor e, dessa vez, não queria que fosse diferente. Continuaria mantendo o ciclo.

Como se soubesse exatamente onde achá-lo, como se fosse seu destino encontrá-lo quando estava às portas da morte, Clara esteve com seu melhor amigo uma última vez. Ela sabia que iria doer, mais nela do que em qualquer pessoa, entretanto, não se importava com a dor se fosse para saber que tudo estava bem. Para saber que o luto estava para trás e que ele fora capaz de seguir em frente, mesmo que fosse sem ela ao seu lado.

We dance once more

I feel your hands are cold

Within your heart, a story to be told

 

Nós dançamos mais uma vez

Eu sinto que suas mãos estão frias

Dentro do seu coração, uma história para ser contada

Agora, era hora de deixar que ele seguisse em frente com uma nova companheira ao seu lado, de deixar que ele fizesse o que sabia de melhor e se exibisse em sua caixa azul enquanto mostrava o universo para os olhos curiosos. Era a vez de outra pessoa conhecer o universo. Era a vez de outra pessoa escrever sua história de aventuras com o Doutor. Afinal, ela não deveria ser a única a ter o privilégio de conhecer um universo tão vasto.

This is the moment of just letting go

Este é o momento de apenas deixar ir

À sua história, era chegada a hora de dar um fim. Já vivera tanto, já experimentara tanto, fosse na companhia do Doutor, de Ashildr — que há tanto ficara para trás, querendo escrever seu próprio destino — ou até mesmo sozinha. Clara sentia que já vivera tudo o que um dia quisera experimentar, até mesmo o que ela sequer imaginaria que um dia fosse passar. Tudo parecia ter perdido o brilho e se tornado cinza, mostrando para ela que era finalmente hora de partir.

This is the moment of just letting go

Este é o momento de apenas deixar ir

Agora, tendo a visão das cores de seu restaurante a encherem seus olhos, Clara sabia que era hora de dizer adeus à sua Londres e ao seu Doutor.

Virando as costas para a porta de sua Tardis oculta pelo restaurante, Clara visualizou pela última vez o céu escurecer. Pela última vez, ela visualizou as ruas londrinas, essas mais vazias, pois decidira estacionar sua Tardis em um local o mais discreto possível.

Pela última vez, ela entrou na Tardis, completamente consciente de qual seria sua próxima parada.

Can you hear me say your name forever?

Can you see me longing for you forever, forever?

Would you let me touch your soul forever?

Can you see me longing for you forever and ever?

 

Você pode me ouvir dizendo seu nome para sempre?

Você pode me ver te ansiando para sempre, para sempre?

Você me deixaria tocar sua alma para sempre?

Você pode me ver te ansiando para sempre e sempre?

Para o planeta de seu melhor amigo ela digitou as coordenadas, puxando uma alavanca e deixando que a Tardis fizesse o restante do trabalho sozinha. Era incrível que o Doutor estaria presente em seus momentos finais mais uma vez, mesmo que não fosse em pessoa, é claro. Clara rumava para o planeta onde o seu amigo nasceu e cresceu, onde tudo lhe lembraria do Doutor. Onde tudo começou para ele, era para onde ela se dirigia para seu fim, sabendo que de lá a devolveriam para onde nunca deveria ter saído. Se o Doutor não fosse tão teimoso... Ah, aquele velho estúpido! Clara para sempre o amaria, por tudo o que ele fez, por quem ele era e por tudo o que significava para ela.

Forever...

Para sempre...

Enquanto suas melhores memórias passavam por sua mente em seus minutos finais, a coluna principal da Tardis continuava em movimento, a meio caminho do final do universo, onde Gallifrey se encontrava. Clara recordava-se de sua infância, de sua mãe, de seu pai, de seus alunos, que jamais saberiam o que realmente lhe acontecera, de seu antigo namorado e de seus momentos a bordo da Tardis, correndo enquanto achava que nada de mal a alcançaria.

Apesar de tudo, Clara sentia-se grata. Grata pela vida que viveu, pelos inúmeros planetas que pisou, por tantas vidas que tocou, pelas pessoas que salvou, por tudo o que conquistou e por tudo o que perdeu. Ela era grata até mesmo por ter chegado até ali.

Forever...

Para sempre...

Ela sempre seria grata ao Doutor, por tudo que ele lhe ensinara, por tudo o que viveram juntos, pelas inúmeras memórias que eram seus tesouros, por toda a história que construíram juntos. Mesmo prestes a pôr o ponto final em sua própria história, Clara sabia que suas memórias viveriam para sempre, espalhadas pelo universo.

Forever...

Para sempre...

Naquele exato momento, em que ela caminhava de encontro à morte, uma nova Clara abria os olhos para uma nova vida, bem longe dali e com um destino selado no momento de seu nascimento.

Naquele exato momento, uma Clara Oswald conhecia um dos rostos do Doutor e vivia uma aventura. Em algum lugar no universo, um de seus ecos mais uma vez cumpria seu destino e salvava o Doutor. E para sempre seria assim.

Desde o momento em que se jogara em sua linha do tempo, Clara marcou-se na história do Doutor. Onde ela sempre estaria.

Forever...

Para sempre...

Pela última vez, Clara Oswald atravessou as portas de sua Tardis. Clara finalmente deixava de adiar seu encontro com a Morte naquela vida.

Cumprindo seu destino, Clara deixava que o corvo a arrebatasse naquela rua estreita. Ela ficava cara a cara com a morte mais uma vez. E, mais uma vez, ela não temia.

Espalhada pelo universo, Clara Oswald e a Morte estavam destinadas a se encontrar. Espalhados pelo universo, Clara Oswald e o Doutor também estavam destinados a se encontrar. Para sempre as inúmeras vidas de Clara Oswin Oswald estariam marcadas pelo universo.

If you had life eternal?

E se você tivesse vida eterna?

 


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Notas finais do capítulo

Life eternal, Ghost: https://youtu.be/-O9W4hpYb-M

Depois de todas essas aventuras, a história da Clara finalmente vai chegando ao final por aqui. Gostaria de agradecer a todos que estiveram aqui comigo acompanhando a Memento Mori e que deram uma chance pra ela. Eu realmente não esperava todo esse êxito e me deixa muito feliz saber que essa ideia que eu guardei por tanto tempo tenha dado tão certo.
Deixo aqui um agradecimento especial ao meus leitores comentadeiros, que estiveram pelo menos uma vez aqui pelos comentários: Valdie Black, Camélia Bardon, Kai19 e Hunter Pri Rosen. Cada comentário de vocês me deixava ainda mais motivada a continuar postando ♥
Bem, é isso. Oficialmente encerramos aqui, mas amanhã teremos um pequeno epílogo, porque, mesmo que a história da Clara tenha um fim, sempre haverá uma nova vida dela para contar uma história.
Até amanhã no epílogo, povo o/