Pov. Hinata.

Após aqueles primeiros dias sem a presença de Naruto, concentrei-me em treinar exaustivamente, e com isso acabei sentindo muita fadiga. Também pudera, desde que foi firmado meu compromisso com Naruto, eu não havia mais treinado e agora estava fora de forma. Pelo menos era o que eu pensava há quatro dias atrás, depois de receber aquele pergaminho, onde Naruto falava sobre uma garota que queria se casar com ele, eu fiquei extremamente nervosa e insegura. Sai de casa aos prantos em direção a floresta sem dar ouvidos aos chamados de meu pai e Neji.

Também não ajudou muito quando Sakura resolveu me confrontar sobre o motivo de eu estar passando mal, nunca pensei que diria isso, mas naquele dia eu cheguei a odiá-la. Depois de descobrir que ela poderia estar apaixonada por Naruto, me senti pior ainda, estava me sentindo ameaçada, afinal Naruto sempre declarou amar Sakura. Aquele dia sem dúvidas foi um dos piores que já tive, ouvir Sakura me ofendendo daquela forma ferveu o sangue em minhas veias, mesmo agora só a lembrança já me faz querer bater nela. Como ela teve a audácia de dizer que eu só tinha a cara de santa, que devo ter me insinuado e oferecido ao Naruto, na frente de Neji e de todos os nossos amigos? Sei bem o que ela quis dizer quando disse que eu havia estragado a vida de Naruto, logo agora que ele estava em uma missão importante, teria que se casar comigo as pressas. Não aguentei quieta e lhe disse que ela não tinha nada que ver com nossa vida, não era de sua conta o que fazíamos ou não, e que Sakura sim era uma oferecida que ficou a vida correndo atrás de um criminoso que nem a considerava. Num instante Sakura se posicionou para me atacar; ledo engano o seu, não sou mais aquela garota tímida e introspectiva que se retraia perante ameaças, já com o Byakugan ativo desviei de seus golpes e acertei cada um de seus pontos na rede de Chakra. Caída no chão Sakura me olhava com raiva, sem poder mais me desferir qualquer golpe, levantou-se na intenção de me atacar com palavras, mas foi interrompida por Ino, que veio ao meu favor. Desde aquele dia evito encontrar com ela, antes de participar de qualquer atividade com  nossos amigos, me certifico de Sakura não participará; e foi assim, através de Chouji que descobri sobre a missão na ilha, e nunca senti tanto medo em minha vida, como sinto agora, tudo está desmoronando em minha cabeça, e fico imaginando se Naruto me deixaria para viver com Sakura, mesmo depois de tudo que vivemos.

Por isso decidi escrever a ele, e expor todas as minhas dúvidas e medos, por mais que me doesse pensar nele com outra, eu entenderia se essa fosse sua vontade, mesmo na situação em que me encontro não o impediria de ser feliz. Contei a ele sobre o que ocorreu, apenas não falei que chegamos a nos atacar, muito menos sobre a guerra que se aproxima; ordens da Tsunade-sama, então não poderia dizer, mesmo não achando correto esconder isso dele. Mas meu maior problema eu não poderia contar a Naruto agora, tinha medo de como ele reagiria, nós nunca falamos sobre o assunto. Diante de tudo isso eu só tenho chorado nos últimos dias, ando deprimida e sem vontade de sair do quarto, cada barulho que escuto me assusta, quando penso que pode ser Gamachan trazendo a resposta que destroçaria meu coração. Agora, deitada na minha cama, penso que pelo menos teria uma lembrança boa de Naruto, algo para me alegrar e lembrar dos momentos bons que vivemos. Mas quando penso na reação das outras pessoas, sinto um medo sufocante, e me permito perder em lágrimas novamente.

— Filha?! Chorando de novo Hinata. - meu pai fala se sentando ao meu lado - Quando você vai parar com isso e voltar a sorrir filha?

Eu estava tão entretida em minha dor, que nem vi quando ele chegou, mas me encolhi diante de seu olhar ainda mais envergonhada.

— Filha por favor, fale comigo, não suporto mais te ver assim. Você não brigou com Naruto, brigou? - ele pergunta aflito.

— Não papai. - respondo entre soluços.

— Que bom filha, assim fico mais tranquilo, agora tudo vai ficar bem. - ele responde com calma.

— Como vai ficar bem papai, se Naruto ainda for apaixonado pela Sakura? Ou mesmo se aquela garota for atrás dele para se casar? - falo desesperada.

— Filha, Neji me contou o que aconteceu. - ele responde calmamente - e não acredito que Naruto seja leviano a ponto de brincar com seus sentimentos desta forma. Quanto a essa história maluca de casamento, você prestou bem atenção na parte que Naruto relatou que recusou a moça e ainda falou para ela que já era comprometido? Filha você acha mesmo que Naruto a abandonaria agora? Vocês dois já estão com tudo encaminhado para se casar, e eu nunca tinha visto tantos sapos em minha casa a sua procura. Você não pode acreditar que esse rapaz a deixaria, ou que não a ame. E sim, eu li o pergaminho, quando te vi naquele estado pensei no pior, então li e não me arrependo, pois se não tivesse lido eu teria cometido uma injustiça.

— Mas papai tudo será diferente agora, eu cometi um erro terrível que vai acabar prejudicando Naruto e o senhor também. - tento justificar.

— Não diga isso Hinata, não foi um erro minha filha. - meu pai fala amavelmente.

— Papai...? - pergunto vacilante.

— Eu já sei minha filha, acha que não percebi? Já vi acontecer muitas vezes, e confesso que estou muito feliz. - meu pai responde a minha pergunta muda.

— Mas papai, o que hão de dizer do senhor, do clã? Eu me sinto tão culpada e envergonhada. - digo com novas lágrimas nos olhos.

— Filha há muito que eu não me importo mais com o que os outros pensam, só me interessa o bem estar dos meus filhos, não fique mais nervosa, isso não te fará bem. - ele responde com paciência - E também duvido que Naruto fique muito tempo longe, então logo vocês estarão casados e o clã não tem que se intrometer em nada!

— Ah papai, eu tenho tanto medo de tudo que virá pela frente, ainda mais que estamos em vias de entrar em guerra. - confesso baixinho - Tenho medo do que pode acontecer no campo de batalha, mas se eu não for terei de dizer meus motivos e expor o senhor a vergonha.

— Nós daremos um jeito em tudo isso Hinata, não se preocupe agora. - meu pai fala me abraçando - Mas para mim não é vergonha alguma filha, para mim é um lindo presente. Você já contou ao Naruto?

— Ainda não, não quero atrapalhar seu treinamento e também me falta coragem. - confesso.

— Fez bem, enquanto ele não voltar, eu e Neji cuidaremos de você. - fala sorrindo.

— Como o senhor pode estar tão bem assim? Como pode me tratar tão bem, não me acha indigna de ser uma Hyuuga? - pergunto aflita novamente.

— Sabe filha, acho que isso é de família, comigo e com sua mãe também foi assim. - ele fala saudoso - Enfrentamos a mesma situação que está vivendo agora, mas nós nos amávamos tanto que nem por um minuto duvidamos que tudo daria certo. E no fim tudo deu certo, e nós fomos felizes pelo tempo que nos cabia. Eu nunca a rejeitaria por isso minha filha, não sou hipócrita e muito menos cruel.

Fiquei feliz de ouvir meu pai falando com tanto carinho de minha mãe, e confesso que não sabia que eles viveram a mesma situação, e saber disso de certa forma me conforta, pelo menos tenho o apoio de meu pai e com certeza terei dos meus irmãos, e muito em breve de Naruto e isso é tudo que me importava. Quando fiquei mais calma, descemos para jantar, assim que nos viu, Neji me deu um sorriso doce e compreensivo, e Hanabi me abraçou animada.

— Então? - pergunta marota.

— Estou bem Hana. - digo sorrindo.

— Oras você sabe que não é isso que quero saber! - fala brava - É verdade?

— Sim. - digo baixando os olhos, mas os levanto vendo o estardalhaço que Hanabi faz.

Ela está exultante de alegria, Neji não fica atrás, até deixou seu jeito reservado de lado. Quando nos sentamos a mesa, sou rodeada de atenções, todos querem me fazer comer alguma coisa que me fará bem. Apesar de ainda estar constrangida, estou feliz com todo esse mimo que estou recebendo. Meu pai, Neji e Hanabi param de falar do assunto, quando Tokuma aparece na porta, seus olhos analisam minha expressão e ele sorri de lado, com certeza viu que andei chorando. Logo atrás dele vem Gamachan com outro sapinho que nunca tinha visto.

— Hiashi-sama, outros sapos do Monte Myoboku a procura de Hinata-sama. - Tokuma fala e seu rosto se contorce em escarnio.

— Mande entrar, não os deixe esperando. - meu pai responde sério.

Tokuma dá passagem aos dois, mas não se retira, pelo visto está curioso para ver o que acontecerá.

— Hinata-sama, tenho uma entrega especial do Mestre, ele disse para entregar primeiro, antes do pergaminho! - Gamachan fala ao chegar ao meu lado.

O outro sapinho se aproxima e todos o observamos, ele é um pouco maior que Gamachan e seu tom de vermelho mais fraco que o dele. Gamachan faz um sinal de mãos e o sapinho abre a boca, expulsando direto para minhas mãos um lindo pacote de presente. Hanabi dá um grito ao ver a cena, Neji ri de seu susto. Curiosa para ver o que tem dentro, abro o papel afoita; dentro tem uma caixinha preta bem simples, com algumas conchinhas cravejadas, a caixa em si já é linda, mas não contenho uma exclamação quando a abro. Dentro dela está um lindo colar de pérolas negras e pedras da lua, se alternando e formando um equilíbrio perfeito. Acho nunca tinha visto uma joia tão linda, junto do colar vinha uma pequena etiqueta, me emocionei ao ler "Para Minha Amada Hinata". Retirei o presente de dentro da caixinha e ouvi as exclamações de surpresa de Neji, Hanabi e meu pai, Tokuma nada disse, apenas se retirou com uma expressão contrariada. Em seguida Gamachan me entrega o pergaminho e o abro com mãos tremulas. Os três se posicionam atrás de mim para ler também, não me importo, não tenho mais nenhum segredo com minha família, e sem falar que devem estar curiosos como eu para ler a resposta de Naruto.

Minha Amada Hinata

Você pensa em me deixar? Por favor me diga que não. Nem por um segundo sequer quero que pense na possibilidade de nos separarmos, não fale mais em esquecer o que vivemos, nem em mil anos eu me esqueceria de ti e do quanto a amo. Não imagino minha vida sem você minha pequena, então não me peça isso. Sobre esse problema que se passou com a Sakura, pode ter certeza que não, nunca a verei de uma forma romântica, como você mesma citou, então esqueça essa história, não tem a menor possibilidade de eu voltar atrás com minha palavra. Na minha cabeça e em meu coração só existe você Hina. Fico feliz que nossa casa está pronta, porque assim que eu voltar vou falar com seu pai e acertaremos a data do nosso casamento. Eu sinto tanta saudade Hina, a maioria das noites passo em claro pensando em você, queria você aqui comigo e poder te abraçar. O Gai-sensei continua enjoado, acredito que ele não melhore durante a viajem. Sim, nós encontramos Sakura, Ino e Chouji na primeira ilha, mas ninguém me contou nada, estavam todos agindo estranho, nem mesmo me falaram porque você passa mal. Hina você melhorou não é? Não gosto de saber que você precisa de mim e eu não estou ai para te cuidar, sinto que estou falhando nos meus deveres e promessas, mas vou consertar isso, assim que voltar vou te encher de mimos para compensar minha falta. Gostaria de ver o que tem feito para o enxoval, tenho certeza que nossa casa ficará linda e aconchegante, e eu finalmente vou ter minha própria família. Já fico imaginando chegar em casa e te encontrar me esperando pequena, nada me fará mais feliz que passar o resto dos meus dias ao teu lado. Hoje nos acabamos entrando em uma tempestade, o navio bateu nas rochas e eu cai no mar, mas não se preocupe, não aconteceu nada grave. Tivemos então que esperar a tempestade passar em uma ilha na costa, as pessoas são bem simples e humildes, mas o lugar era espetacular Hina. Pensei em te levar para conhecer quando eu voltar, foi lá que achei seu presente. Uma vovó bem simpática me vendeu, e disse que nós teremos muitos anos juntos, acho que a velhota me deu uma previsão do futuro Hina. Mas era uma boa velhota, queria saber se você gostou do presente? Tenho medo de você não gostar Hina, mas eu escolhi esse porque as pedras da lua me lembram seus olhos e também achei muito bonito e diferente, mas se você não gostar Hina, eu te dou outro, um que for do teu agrado.

Hina, eu sei que sou atrapalhado e muitas vezes idiota, e que não a mereço, sei também que vivi até tempos atrás iludido, mas por favor não duvide de meu amor, tampouco me deixe; eu já disse a você pequena, você é minha vida, então não se deixe abalar por coisas insignificantes, e quem não puder ver e aceitar que somos felizes e que  nos amamos, não pode fazer parte de nossas vidas e muito menos merece a nossa amizade. Mas Hina, eu te conheço bem o suficiente para saber que tem mais coisas que você não me contou, eu te peço que não me esconda nada, e não adianta dizer que não é importante, eu sei que é, não me pergunte como, mas eu sei. Por favor confie em mim, nós somos um casal e temos que resolver as coisas juntos, seja o que for que te aflige eu estarei ao teu lado sempre, mas se você não me contar o que está te acontecendo eu vou largar o treinamento e volto para Konoha em três dias, então por favor me conte o que omitiu no ultimo pergaminho. Não se esqueça Hinata que eu te amo e que nunca vou deixa-la por motivo que for. Aguardo sua resposta futura senhora Uzumaki.

Seu Naruto.

Olho o pergaminho chocada, como Naruto pode saber? Será que Sakura insinuou alguma coisa a ele? Não, não deve ser isso, ele apenas percebeu que deveria ter algo acontecendo, meus pergaminhos para ele devem ter causado estranhamento, afinal Naruto não é nenhum tolo.

— Você vai ter que contar irmã. - Hanabi fala.

— Também acho filha, Naruto pode ficar magoado se você esconder isso dele - meu pai concorda - você leu também, para o Naruto ter uma família é muito importante.

— Eu só queria ver a cara dele quando souber. - Neji fala rindo - Aposto que vai desmaiar.

— Eu vou contar! Não posso arriscar que Naruto volte a vila agora por um capricho meu. - digo decidida.

Subo para meu quarto resignada com a ideia de revelar o que se passa a Naruto, talvez ele fique feliz afinal, meu pai ficou e era quem mais eu temia, guardo o pergaminho junto dos outros e deixo meu colar na penteadeira, pego tinta e pergaminho e começo a escrever uma resposta, antes que eu fique cansada e acabe pegando no sono, ou que me acovarde e não conte nada.