Tudo que me lembro daquele momento, é de estar preso, subjugado, como um animal acorrentado, pensando em uma maneira de reverter aquela situação. O corpo sem vida do Fukasaku-sama estava jogado no chão, Shima-sama atingida  e inconsciente, a vila destruída ao ponto de parecer uma cratera na lua, meu modo Sennin já acabou e estou com meu corpo preso ao chão por estacas, que até onde sei controlam meu fluxo de Chakra, impossibilitando minhas ações.

Preciso sair daqui e terminar essa luta, antes que as habilidades deste Pain retornem totalmente, antes que mais pessoas da vila morram. Quando penso no que ele fez a vila, ao Kakashi-sensei; meu ódio por Pain e esta maldita paz distorcida que ele prega aumentam. Tento achar uma resposta para a paz verdadeira, era esse o desejo do meu mestre, que eu encontrasse uma saída para esse mundo de angustia, dor e sofrimento, uma resposta que acabasse com todo ódio do mundo, que fizesse com que todos pudessem realmente se entender, essa é a missão que meu mestre confiou a mim.

— Como eu havia dito: sua morte trará paz - conclui Pain.

E nessa hora sei que não tenho mais tempo, preciso agir. Então ela aparece, determinada como eu nunca havia visto antes, essa foi a primeira vez que vi seu rosto, que costuma ser doce e gentil, com uma expressão mais severa. Não entendia o porquê dela estar ali, eu pedi que ninguém interferisse, não podia deixar mais ninguém acabar ferido.

— Eu não vou permitir que você machuque mais o Naruto-kun!- sua voz suave saiu alta e clara, sem gaguejar ou falhar.

— Hinata! Saia daqui, você não pode, o que você está fazendo? Fuja - eu gritei, não queria que ela se machucasse, Pain não teria piedade.

— Eu sei... - disse simplesmente.

Meu coração já estava apertado, uma angustia sem explicação. Só queria que Hinata saísse logo. Não entendia o motivo, mas sabia que precisava protege-la.

— Este é... apenas um ato egoísta meu...- aquelas palavras calmas e serenas eram como um aviso, sua determinação não a deixaria ir.

— Por favor Hinata! Vá embora! - eu supliquei, implorei, talvez ela me ouvisse.

— Estou aqui por vontade própria! Eu estava sempre chorando, desistindo antes mesmo de tentar... Sempre tentando do jeito errado... Mas então, Naruto-kun... Você me mostrou o jeito certo de viver... Eu estava sempre atrás de você... Sempre, tentando te alcançar... Queria tanto poder andar ao seu lado... Você me mudou Naruto-kun, e por isso, se for para te proteger, eu não tenho medo de morrer...! Porque eu te amo, Naruto-kun!

Suas palavras simples e sinceras me bateram mais forte que um soco, e eu senti medo do que estava por vir, aquela realidade era surreal para alguém como eu, que sempre foi rejeitado e amaldiçoado pelas pessoas, abandonado e negligenciado. Mas alguém olhou para mim, alguém me notou, e aquelas simples palavras foram o suficiente para me abrir os olhos. Com o coração aos pulos, naqueles poucos instantes, me fiz entender o que estava sentindo; olhei para trás e percebi que todas as vezes que me senti excluído, era Hinata quem estava ao meu lado, quem me compreendia, não me julgava, apenas ouvia; suas pequenas ações me cativavam, gostava de conversar com ela, era sempre algo novo, admirava a forma como seu rosto ruborizava, e nunca entendi  o porquê de achar desconfortável a amizade dela com Kiba, ou o porquê de querer parecer sempre legal para ela. Agora entendia, nessa situação de desespero, entendo como se estivesse vendo o mundo pela primeira vez, entendo todas as sensações e emoções que sinto perto dela, toda essa vontade e necessidade de protege-la, mais que a qualquer outro; eu simplesmente não a vejo como somente uma amiga, como me fiz acreditar, isso tudo porque também a amo. E nesse momento o medo me tomou conta.

— Punhos Gentis dos Leões Gêmeos!- ouço sua voz anunciar, enquanto seus punhos reúnem uma grande quantidade de Chakra, tomando a forma de dois leões.

— Hinata! - eu grito enquanto a vejo partir para o ataque e meu coração aperta.