A Luz dos Olhos Teus escrita por SBFernanda


Capítulo 4
Capítulo 4: Reminiscências




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4.

Reminiscências

 

Mansão Hyuuga, 1826

A pequena menina segurava o vestido enquanto corria o mais rápido que conseguia, já que o tecido enrolava em suas pernas, por vezes dando a impressão que ela iria cair. Mas seu coração batia tão rápido, a risada saía com tanta facilidade, que ela não conseguia parar.

Arriscou olhar para trás, apenas para o ver mais perto do que imaginava. O grande sorriso que ele estampava apenas mostrava que só não tinha a alcançado, porque queria prolongar a brincadeira. E, de fato, quando ela olhou para frente, rindo, ele se apressou e tocou em seu ombro.

Imediatamente, os dois diminuíram o ritmo até finalmente pararem um de frente para o outro, as mãos apoiadas nos joelhos, as respirações ofegantes, sorrisos alegres enfeitando o rosto e os olhos um no outro. Hinata sentia que se divertia mais do que nunca quando seu amigo estava ali. Tinha certeza daquilo.

— Sua mãe vai nos matar... — ele comentou, ainda ofegando.

— Está mais fácil a sua nos matar antes — ela respondeu, também ofegante, mas rindo.

Naruto concordou com a cabeça. Sua mãe os mataria assim que os visse chegando suados e, Hinata, com o vestido sujo de terra.

Era aniversário de Hinata, ele havia chegado há algumas horas e aquele era o momento que poderia estar com sua amiga sem nenhum convidado pensando ser adulto por perto. Alguns dos seus amigos eram chatos, não sabiam ser criança, querendo ser como os pais.

— Valeu a pena — ela comentou, fazendo com que o coração de Naruto acelerasse de alegria.

— Acho que podemos voltar andando. Não estou com pressa para morrer.

Hinata concordou, como costumava acontecer e ele pegou sua mão. Apenas andavam assim naquela idade. A verdade é que Hinata era a única menina que ele não achava fresca, afinal, ela brincava com ele. Mesmo sabendo que o pai iria repreendê-la, ela corria no meio das flores, se sujava de terra, suava e se escondia em lugares com poeira. Tudo em prol de suas brincadeiras. Ela não era fresca como as outras meninas de oito anos, que queriam ser como suas mães e não podiam sujar seus vestidos.

Foi com esses atributos que ele a elegeu como sua melhor amiga. O fato de suas famílias serem amigas apenas ajudou. Eles se viam com frequência e isso os fazia felizes.

— Eu não queria que fizessem uma festa — comentou a menina, olhando para o chão enquanto eles caminhavam. — Sempre me obrigam a agir como as outras meninas, como se eu não pudesse aproveitar para brincar. Mamãe diz que é preciso, pois podem pensar que sou mal-educada.

— Você é a menina mais educada que eu conheço. E a mais legal também — Naruto sorriu para a amiga. Ele era apenas dois anos mais velho, alguns centímetros mais alto, mas adorava brincar com ela.

— Você diz isso porque é meu melhor amigo.

— Você não seria a minha melhor amiga se isso não fosse verdade. — Ele balançou os ombros, sorrindo para ela em seguida. — Prometo que vou me comportar também, assim podemos falar mal de todo mundo juntos depois.

— Vocês vão ficar? — A alegria estava estampada nos olhos de Hinata.

— Sim! Mamãe diz que apesar de morarmos perto, gosta de passar um tempo aqui com vocês. Ficaremos alguns dias, então poderemos brincar mais.

Antes que Hinata pudesse expressar sua alegria, ouviu um grito:

— Naruto, seu arteiro! Não acredito que fez com que Hinata saísse tão perto do momento de se arrumar para a festa! Venha aqui e deixe a menina em paz!

Ele apertou a mão dela uma última vez antes de soltar. A última vez que tinham visto os dois com as mãos unidas, tinham dado um sermão longo demais para ser esquecido. Nunca mais eles deixaram que vissem.

— Corre pro quarto e eu distraio a fera — ele sussurrou e, rindo, Hinata passou correndo por Kushina, que ainda gritava com o filho.

 

Mansão Hyuuga, 1833

Hinata observava sua irmã e seu pai, ambos conversando e rindo do lado de fora de casa. Apesar de sete anos terem se passado desde a morte de sua mãe, os dois ainda evitavam ficar do lado de fora da casa, mesmo o clima estando quente, como naquele dia. O verão finalmente tinha chegado e eles estavam recebendo visitas mais que bem vindas.

Os Namikaze iriam fazer uma longa viagem antes da temporada, pois Minato tinha algumas coisas para resolver e Naruto queria se inteirar dos negócios junto com o pai. Kushina se recusava a ficar sozinha e iria com eles. Por isso, tinham decidido tirar aquele dia antes da viagem para visitar os amigos.

Kushina já se desculpara milhares de vezes por não comparecer ao aniversário de Hinata que aconteceria no final do ano, no inverno. Eles, provavelmente, só voltariam no outro ano e perderiam a festa da menina. Mas ela, sempre muito atenciosa, tinha levado como presente um lindo camafeu.

O cuidado da peça, mostrou a Hinata como tinha sido feito especialmente para ela. Era um colar com um camafeu branco e a pintura de um lírio. Dentro havia o espaço para que ela preenchesse com a pintura de alguém. Kushina disse que ela poderia pintar a mãe de Hinata posteriormente, mas Hinata já tinha a pintura perfeita para aquele espaço.

Naquele momento, sentados em uma grande toalha e fazendo um piquenique, ela via seu pai distraído com seus amigos, sua irmã brincando com Naruto e apertava o camafeu que já usava. Sua mãe, ela sentia, estava feliz por eles estarem conseguindo seguir em frente.

Distraída, não percebeu Naruto se aproximando e, em seguida, se jogando ao seu lado, já deitado na toalha. Ela, assustada, se afastou em um pulo, mas riu ao notar que era ele e que ria dela.

— Deseja me matar do coração, Naruto?

— De forma alguma. O que lhe distraía tanto? — Ele olhou a volta e pegou um cacho de uvas. — Uvas por seus pensamentos.

— Posso pegar por mim mesma, porque eu lhe diria meus segredos então?

— Além de que porque eu sou seu melhor amigo? — Finalmente ele se sentou, ficando mais próximo dela assim e fixando seus olhos nos dela. — Posso lhe dar na boca.

Ambos riram, mas Hinata ficou corada na mesma hora e desviou o olhar. Seu coração tinha disparado ao imaginar a cena. Sabia que era inapropriado.

— Nossos pais iriam enlouquecer, nem brinque... — ela sussurrou e, por estar olhando para o lado oposto, não notou que ele continuava a fita-la fixamente.

— Vem, vamos andar. Sinto que eles ficam tentando ouvir o que a gente conversa. — Ao perceber o olhar dela, concluiu: — Ainda estaremos ao alcance de seus olhos. Que medo é esse agora?

— Não somos mais crianças... — Hinata murmurou, mas já levantava para o acompanhar.

— Sabe que isso não vai me impedir de passar se braço pelo meu de forma bem educada e caminharmos, não é? — enquanto falava, ele executava as ações. — Mamãe diz que isso é bem educado de se fazer, então não vejo porque nos repreenderiam.

Hinata não disse nada. Sentia seu rosto vermelho e evitava olhá-lo. Tinha passado os dias anteriores àquela visita ansiando por encontrá-lo e tal ansiedade era o que mais a assustava. Agora, finalmente ao lado dele, sentia sempre o coração acelerar, fosse com um olhar e, ainda mais, com seu toque.

— Vi você apertando o camafeu. Já colocou a pintura? — Ele esperou que ela respondesse, mas só recebeu um aceno com a cabeça. — Sentem muita falta dela, não é mesmo? Mas tenho certeza que sua mãe estaria feliz de vê-los tão bem como estão hoje.

— Estava pensando nisso. Papai tenta ser forte todos os dias, mas ele ainda se fecha. Hoje ele está mais livre e alegre ao lado dos seus. Acredito que seja a amizade antiga e sincera que os liga.

— É bom saber disso. Quero dizer que, assim como minha mãe, sinto muito por não estar presente em seu aniversário em dezembro. — Eles se fitaram por alguns instantes, permanecendo em silêncio. — Vai ser um momento especial, por isso eu quis participar de seu presente...

Hinata o olhou, confusa com as palavras dele. Naruto sorriu e parou de andar. Eles ainda estavam à vista de seus pais, mas tudo que aparentavam é que estavam encarando o lago a frente.

— Pintei o seu camafeu. Lírios sempre me lembraram você, já que são seus preferidos. ­— Ele podia ver a surpresa em cada parte do rosto de Hinata e, por isso, riu. — Não fique tão surpresa, eu queria que soubesse que queria estar com você nesse dia e em todos os outros. É minha forma de mostrar minha amizade.

— Isso é... Isso é lindo. Obrigada, Naruto! — Ela olhou para os pais dos dois, distraídos com Hanabi. Aproveitou aquele momento para virar-se e o beijar no rosto. Um beijo rápido, que fez sua respiração falhar e ela ter que se afastar rápido.

Foi naquele momento que ela notou que estava começando a gostar de Naruto muito mais do que um amigo e ficou feliz que ele fosse viajar, pois não sabia como o encará-lo vezes seguidas depois daquilo.

Ele, por outro lado, ficou parado no mesmo lugar, surpreso com a atitude dela. Sentia ainda o lado esquerdo quente, exatamente onde os lábios dela tinham tocado. Quando a viu, já distante, afastando-se apressada, não conseguiu correr atrás dela, porque queria entender o que havia acabado de acontecer. Não era normal uma moça beijar o amigo no rosto. Não eram normais beijos no rosto.

Sorriu, tocando o local. Podia não ser normal, mas ele tinha gostado. Hinata era sempre tão tímida... Aquela atitude o pegara de surpresa e tinha feito algo dentro de si acordar. Algo que o impedia de desgrudar os olhos dela, mesmo que a Hinata já estivesse distante.

 

Mansão Namikaze, 1834

Hinata tinha chegado ali pisando nas pontas dos pés, com medo de ser pega, com medo de que o seu coração estivesse batendo tão alto quanto rápido. Mas a casa, mesmo que ainda não toda apagada, já que os criados ainda circulavam e Minato estava no escritório, estava tranquila.

Tinha se escondido até a cozinheira entrar na dispensa. Passou rapidamente pelo cômodo, seguindo para a porta e dessa para fora, fechando devagar para não fazer qualquer barulho. Concentrada no interior da casa, não notou Naruto atrás de si, por isso, quando se virou, deu de cara com ele.

Levou as mãos a boca, abafando o grito que quase saíra. Ele ria, sabendo que a tinha surpreendido. Tinha a observado, enquanto do lado de fora, fazer todos os movimentos na cozinha e não resistira em surpreendê-la.

— Quase me mata do coração! — o repreendeu em um sussurro, descendo os degraus da casa para a parte mais afastada.

— Você estava muito concentrada, não tenho culpa. — Mal terminou de falar, recebeu o olhar dela e riu. — Tudo bem, acho que tenho. Perdão, a última coisa que quero é lhe matar, sabe bem disso.

Ele caminhava apenas alguns passos a frente dela, mas olhava para trás ao conversar. Eles estavam indo para uma parte pouco iluminada e Hinata ficou nervosa ao observar isso.

— Vamos nos sentar naquele banco mais a frente, pode ser? Quando quero dar uma fugida à noite para observar o céu, venho aqui. Mamãe não consegue ver da janela, então estamos seguros.

Hinata não disse nada e eles ficaram em silêncio até completarem o caminho até o banco de pedra. Ela não sabia o que dizer, não sabia o que tinha causado aquele convite, apenas sabia o que a tinha levado ali: sua tola esperança.

— Você deve estar querendo saber porque a chamei aqui à noite, quando temos muita liberdade de andarmos pela propriedade durante o dia, certo? — Uma coisa que Naruto não sabia era prolongar ou enrolar em um assunto. — Hoje, enquanto dançávamos, me veio a mente o verão antes do seu aniversário de dezesseis anos.

Hinata se lembrava bem daquele dia. O dia que tinha notado os próprios sentimentos. O dia que tinha sido ousada e dado um beijo no rosto dele. Mas agora se perguntava porque Naruto se lembrava daquele dia enquanto dançavam.

— Eu não sou como meu pai, bom com as palavras, peço que me perdoe por isso, Hinata. — Sentiu a mão dele na sua, puxando para seu peito. — Algo em mim mudou naquele dia e algo mudou hoje.

Hinata parou de respirar. Ela sabia que tinha parado, mas não conseguia evitar. O olhava, surpresa, corada e querendo que ele continuasse.

— Naquele dia, eu soube que amigos não se beijam, mas eu quis mais de seu beijo, ainda que em meu rosto. Quando a vi na minha casa, depois de todo esse tempo, quando achei que tinha ficado louco por pensar aquilo, eu precisei a beijar, mesmo que fosse na mão.

Aquilo fazia sentido, mas ela precisava de mais. Ela queria ter certeza que não estava louca, que não haveria um “mas”.

— E hoje, quando dançamos, foi como se não existisse mais ninguém. Beijá-la nas mãos não foi mais suficiente. Desejei poder beijá-la nos lábios.

O rosto dela ficou quente e, por sorte, estava escuro o bastante para que ele não notasse a vermelhidão. Mas Hinata podia jurar que seu coração começava a fazer barulho, tão rápido o sentia. Se controlava para que não acabasse desmaiando.

— Passei o resto do dia pensando em o que isso significava. Amigos não sentem esses desejos. Mas amigos também não desejam que as amigas não participem da temporada para que não se casem e a amizade termine. Amigos não sentem medo de perder as amigas. — A mão dele apertou a sua, ainda sobre o seu peito e ela pôde sentir o coração acelerado de Naruto. — Então hoje pude perceber que não posso ser seu amigo, pois desejo ser mais do que isso. Muito mais.

Hinata abaixou a cabeça, sentindo os olhos lacrimejarem. Não conseguia acreditar em sua sorte. Não conseguia encontrar palavras para respondê-lo. Devido a ação dela, Naruto começou a se desesperar. Se perguntava se tinha perdido Hinata por ter dito aquelas coisas. Teria como consertar em caso afirmativo?

— Diga algo. Por favor, nem que seja para me dispensar — pediu em um sussurro.

— Tenho certeza que sabe que eu não o dispensaria — ela respondeu em voz baixa. Após alguns segundos, Hinata ergueu a cabeça, fitando os olhos azuis, que, mesmo na escuridão, brilhavam. — Meus sentimentos são além da amizade desde aquele verão... Eu nunca o dispensaria.

Impactado pelas palavras de Hinata, foi a vez de Naruto a encarar por alguns segundos em silêncio. Ela conhecia os próprios sentimentos há tanto tempo que parecia injusto ele pensar que tinha sofrido por não falar, quando isso acontecera em apenas algumas horas.

— Mas ainda terei de participar da temporada. ­— Ela sorria sem graça. — Papai diz que toda moça de boa família precisa ser apresentada.

— Eu sei... — Naruto pegou as duas mãos dela e levou aos lábios, a beijando mesmo por cima das luvas. — E, se seu pai me der a honra, antes mesmo do fim da temporada você estará comprometida.

O sorriso nos lábios da Hyuuga aumentou, assim como do rapaz a sua frente. Era uma promessa intensa, uma que iria definir o resto de suas vidas.

— Hinata Hyuuga, minha doce amiga, você me permite cortejá-la até poder pedir oficialmente a vosso pai? — O pedido fora feito, olhos nos olhos, mãos nas mãos e ambos os corações acelerados.

— Sempre sim...

Por mais que sentisse vontade de juntar os lábios aos dela, Naruto beijou a testa da moça a sua frente, sentindo seu coração se aquecer. Tinha feito a escolha certa, porque era o que o fazia feliz. Hinata era a perfeita companheira, sempre soubera, mas agora que tinha percebido, não a deixaria escapar.

E ele tinha fé que Hiashi não seria um empecilho, afinal, não eram suas famílias as amigas mais antigas?

Aquela seria a melhor temporada. E seria completamente de Hinata.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Espero que tenham curtido!

Link da música que serviu de trilha sonora: https://www.youtube.com/watch?v=0yW7w8F2TVA

Até o próximo!



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