Carpe Diem escrita por Tahii


Capítulo 5
Carpe Diem


Notas iniciais do capítulo

E AÍ, PESSOAS? TURO BOM? ♥

Quero pedir desculpas pelo meu atraso em atualizar a fanfic com o último capítulo fofinho, mas é que eu estava com um monte de coisa pra resolver/fazer/estudar e acabou não dando tempo. O IMPORTANTE É QUE EU SOBREVIVI!!

Gostaria de agradecer, novamente, à Ana Clara por todo o carinho, e a todos os novos leitores dessa história ♥

Carpe Diem surgiu de repente e meu intuito com ela foi despertar a reflexão acerca das nossas expectativas e a realidade que nos cerca, assim como as nossas atitudes em frente a elas. Deixar algumas coisas para trás é necessário para que possamos seguir em frente ♥

Espero que gostem desse capítulo

Boa leitura!



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Lys,

Gostaria de me desculpar por tudo o que aconteceu ontem. Você é uma pessoa maravilhosa, e não quero te magoar de nenhuma forma possível. Quando eu disse sobre eu e o Scorpius, bem, não estava realmente tão certa do que dizia, mas não quero dar a impressão de que “não te escolhi” ou de qualquer outra coisa. Gosto de você como amigo, e quero que nossa amizade prevaleça independentemente de quem escolhemos para ser nossos companheiros amorosos.

Minhas sinceras desculpas por não ter sido mais direta e verdadeira, e por provavelmente ter te magoado.

Com amor,

Rose

Às vezes eu me convencia de que sábado era o pior dia que já haviam inventado, talvez pelo fato de que usualmente algo perturbava meus pensamentos durante a madrugada. Depois que contei as coisas para as meninas, minha cabeça continuou funcionando a mil, o que fez com que eu não achasse nenhuma posição confortável para dormir e sentisse algo me consumindo por dentro, em diversos aspectos.

Quando era por volta de quatro horas da manhã, segundo o relógio do meu criado-mudo, eu me levantei e peguei um pergaminho e uma pena, para escrever uma singela carta de desculpas à Lysander. Dominique estava certa, teria sido mais justo eu dizer que simplesmente não gostava dele do modo que ele queria e que, de certa forma, sentia. E, pensando bem, até o Malfoy foi sensato ao dizer que eu estaria alimentando as esperanças de Lysander, o que não era e nunca seria a minha intenção. Por isso que quando terminei de desenhar o coração, deixei a minha pena sobre a mesa da cozinha e enrolei o pergaminho para amarrá-lo com uma fitinha amarela. Foi como se uma tonelada de diabretes da cornualha tivessem saído das minhas costas, e da minha cabeça.

Sorri aliviada e relaxei meus ombros, sendo obrigada a me debruçar parcialmente sobre a mesa. Eu estava caindo de sono, sentia até meus olhos pesarem, mas meu coração passou a bombear o sangue de uma forma mais tranquila.

— A cada dia você se prova mais estranha. — fechei os olhos, desejando que fosse um pesadelo. — Não me diga que a madrugada te inspira a escrever cartinhas para o amor da sua vida, Weasley. — soltei um muxoxo de lamentação pela perda da minha recém conquistada paz de espírito.

— Não vou nem perguntar se a madrugada te inspira a me irritar, já que você faz isso a qualquer momento. — o idiota que abria o armário deu uma risadinha estúpida. Pegou um copo, encheu de água e se encostou na pia. Ele parecia um zumbi, mais branco do que o normal e com olhos inchados de alguém que estava dormindo perfeitamente. — Mas, de fato, é uma carta.

— Para o Lystranho. — complementou mecanicamente, como se fosse óbvio.

— É. — dei ombros. — Pedi desculpas por não ser tão direta com ele e disse que prefiro manter a nossa amizade independentemente dos nossos companheiros.

— Ele vai ficar arrasado. — disse sério, embora eu fosse capaz de filtrar sua ironia, o que me deixou levemente irritada.

— Não entendo você e a Roxanne. — cruzei os braços, apenas observando como sua face não mudava. — O que tem de tão engraçado em ficar zoando o Lysander?

— Nada.

— Nada? — repeti estridentes, fazendo-o assentir. — Então por que toda essa implicância?

— Se a Roxanne gosta ou não de zoar o Scamander, eu não sei, Weasley. A única coisa que me concerne é o fato que te deixar irritada torna meus dias mais divertidos. E como se fosse uma equação lógica, zoar ele te deixa tremendamente enfurecida. — colocou o copo na pia e segurou a beirada com as mãos. — Porque, obviamente, você é apaixonada por ele.

— Você é um idiota.

— E você uma cabeça de abóbora estragada. — revirei os olhos, desistindo de conversar com uma pessoa que claramente não tinha a capacidade de ser civilizado. — Por que você beijou ele naquela festa então?

— Porque ele era a única pessoa que estava sendo legal comigo, e sincera. Diferente do que essa sua mente doentia possa pensar, não foi legal ser a corna do castelo, e o único que não dizia coisas idiotas como “ah, ele não merecia você” era o Lysander. E no momento eu quis e… — expirei todo o ar dos meus pulmões, arrependendo-me de ter soltado a minha maldita língua grande.

— Se foi por livre e espontânea vontade, aguente as consequências, pimentão, elas nem vão durar tanto tempo assim.  — deu ombros. — Além disso, eu e a Roxanne temos o direito de zoar quem bem entendermos.

Foi como se eu tivesse sido atingida por um raio, ou levado um choque ao enfiar o dedo em alguma tomada. Pela primeira vez em anos, Scorpius Malfoy havia dito algo realmente inteligente.

Fazer as próprias vontades implica em lidar com as consequências, mas não significa que passaremos o resto da vida com seu peso. Se eu beijei Lysander, foi porque eu quis, e tirando as zoações descabidas, isso não afetaria todos os meus planos — no momento inexistentes — para o futuro. Talvez fosse isso que Teddy, Victoire, meu tio Jorge e Horácio queriam dizer com “carpe diem”. Aproveitar o hoje para que ele possa ser verdadeiramente vivido, sem contar que não há nenhuma garantia de que pensar no amanhã irá garanti-lo de alguma forma. Se fosse assim, Brian Wood não estaria com a Spinnet, e eu ainda estaria convicta sobre os meus planos com ele.

Um tipo de alegria fez com que a minha boca se configurasse em um sorriso, e a minha tão buscada paz preencheu o meu corpo. Scorpius arqueou a sobrancelha, e passou a mão pela barba rala antes de se desencostar da pia.

— Onde você vai? — perguntei fazendo-o parar de andar.

— Voltar a dormir?  — olhou-me cansado. — Não faz parte dos meus hobbies te ajudar em reflexões, Weasley, sem contar que não posso subtrair muito tempo do meu sono de beleza.

— Você não precisa de sono de beleza, Malfoy. — ele franziu o cenho, desconfiado da minha afirmação. — Sua cara de trasgo precisaria de um século para ficar menos pior.

— Por Merlin, você é insuportável, Weasley. — grunhiu cruzando os braços. Levantei-me da mesa e andei em sua direção, atrapalhando sua passagem. Sorri. — O que foi?

— Qual a relevância em saber o motivo que me levou a beijar o Lysander?

— Me preocupo com a sua saúde mental, docinho. — rebateu passando os dedos pelo meu rosto, em um gesto falso e irônico.

— Sei. — dei um tapa em sua mão, fazendo-o bocejar. — Posso te perguntar outra coisa?

— Pelo jeito não tenho opção.

— Por que me beijou hoje? — Scorpius abriu a boca para responder uma ou duas vezes, sendo interrompido pela sua vontade aparentemente incontrolável de rir. Deu meia volta e sentou-se no banquinho o qual eu estava.

— Você estava literalmente me implorando, e eu queria ser convincente.

— Não pedi para que me beijasse, pedi para que ficássemos próximos.

— Essa é a sua versão. — encarei seus olhos divertidos de forma incrédula. Scorpius Malfoy era a pessoa mais egocêntrica e maldosa que eu conhecia, com uma capacidade extraterrestre de distorcer fatos. — Já que estamos em um interrogatório, posso te perguntar algo também? — dei ombros, fingindo estar entediada. — Por que me beijou naquela festa?

Você me beijou, Malfoy.

— Depois de você ficar se insinuando.

— Eu não estava me insinuando.

— Claro que estava, Weasley, pelo menos assuma o que fez. Naquela noite e hoje foi você quem começou.

— Eu?

— Não se faça de inocente, e nem fuja da pergunta. — sorriu como se tivesse conseguido me prender na ratoeira. — Por que me beijou?

— Porque sim.

— Isso não é resposta.

— Claro que é. — grunhi encostando-me na parede. — Hoje eu queria realmente convencer o Lys, e naquela festa eu-

— Queria se convencer de que não estava nem um pouco abalada com o Wood e com a Spinnet?

— Exatamente.

— Hum. — ele se levantou, nada convencido. — E se eu te beijasse agora, e você correspondesse, seria por quê?

— Eu não te beijaria. — respondi na lata. Scorpius deu uma risada antes de me olhar desafiadoramente e sorrir. — Desculpe te frustrar, Malfoy, mas dois beijinhos não foi o suficiente para te tirar do status quo.

— Entendi. — ergui minhas sobrancelhas, surpresa com sua reação. Não que de alguma forma eu estivesse esperando algo, mas, talvez, uma insistência descabida nesse assunto sem nexo. Respirei fundo ao vê-lo se aproximar de mim. — Posso voltar para a cama ou você tem mais alguma outra pergunta — ele apoiou as duas mãos na parede, bem ao lado dos meus ombros. —, Weasley?

— Por que você me beijou nessas duas vezes?

— Porque eu achei que seria interessante. Você estava tão… — mordeu os lábios como se prendesse alguma palavra sórdida, o que me fez sentir o sangue ferver, só que não necessariamente nas bochechas. — Gata naquele vestido, e nem estava brigando tanto comigo. E hoje, hum, sou uma alma caridosa que gosta de fazer boas ações. Além disso, está me devendo três favores.

— Não vou fazer seus deveres de História da Magia, já estou avisando. — ralhei fazendo-o dar risada por alguns instantes.

— Já sei a finalidade deles, Weasley, fique tranquila.

— E quais seriam? — cruzei os braços, engolindo a seco enquanto os olhos cinzas me fitava com uma aura maligna que eu conhecia muito bem.

— Já que insiste… — suspirou tirando as mãos da parede. — Não quero ouvir sua voz irritante proferindo palavras feias contra a minha pessoa de hoje até o fim das férias, entendeu? — dei ombros, meio impaciente. — E eu quero que por cinco minutos você fique quieta e de olhos fechados.

— Agora?

— É, cabeça de abóbora, agora.

— O que vai fazer?

A última coisa que vi antes de fechar os olhos foi a expressão divertida do imbecil que estava parado na minha frente. Os segundos que se prosseguiram foram de total silêncio, e cheguei a considerar a hipótese de que a intenção dele era me deixar parada feito uma tonta ali — o que seria a melhor das opções, infelizmente.

Porém, as coisas começaram a mudar quando senti uma mão em cada lado da minha cintura, e me vi obrigada a tentar conter um arrepio que percorreu toda a minha espinha. Foi pior quando senti meu cabelo sendo afastado e lábios quentes depositando beijos pela extensão do meu pescoço. Talvez se passaram vinte ou trinta segundos sem que ele fizesse outra coisa, o que me deixou com o coração mais acelerado com uma energia que passou a pulsar de uma forma intensa. A única coisa que me veio à cabeça, quando percebi que de uma forma meio atípica eu me encontrava em uma situação de querer ser beijada por Scorpius Malfoy, foi a voz do meu tio Jorge falando as palavras “carpe diem”.

Quando deixei de sentir o calor dos lábios dele, ergui minhas mãos para apalpar seus braços, seus ombros, seu pescoço e seu rosto. Passei meus dedos pela sua bochecha, por debaixo de seus olhos, pelo seu nariz pontudo e não resisti a olhar os meus dedos sobre os seus lábios vermelhos. Scorpius não disse nada sobre eu descumprir parte do que havia sido acordado, como se me desse uma chance de lhe dar um tapa na cara e sair dali. E talvez eu realmente devesse, mas não era o que eu queria. Por isso, segurei seu rosto com as duas mãos antes de grudar nossas bocas e nossos corpos, quase da mesma forma que aconteceu em um dos corredores escuros de Hogwarts.

A situação que eu me encontrava era comprometedora, era um potencial estopim para um conflito interno comigo mesma. O que aconteceria com Joshua, Elizabeth e a vida perfeita que eu havia planejado com Brian Wood? Eu estava em uma cozinha, de madrugada, beijando Scorpius Malfoy e procurando desesperadamente uma brecha para sentir mais a sua pele. Não tinha sentido voltar atrás, mas não havia saída também. Meu plano de vida havia perdido, provavelmente, todo o seu fundamento.

Não haveria amanhã para pensar, até mesmo porque seria impossível pensar em outra coisa além de tudo o que o toque do idiota do Malfoy me causava. Talvez fosse, inconscientemente, um dos motivos que não me deixaram permanecer na minha confortável cama. A culpa e o desejo provavelmente são primos; a culpa consome, o desejo corrói.

— Já passaram cinco minutos. — eu disse segurando mais firme suas costas, que eu tocava por debaixo de sua camiseta. Ele sorriu imitando o caminho das minhas mãos.

— Devemos parar? — perguntou ingenuamente, passando o dedo indicador pela minha coluna em direção aos ganchinhos do meu sutiã. — Não vou conseguir dormir depois disso.

— Meus sinceros sentimentos, Malfoy, mas… — ele se desencostou parcialmente de mim, um pouco ofegante, e tirou a camisa com a qual eu lutava por mais aproximação. Engoli a seco ao vê-lo tão… — O que vão achar se nos encontrarem aqui?

— Não vão. — sussurrou pondo meu cabelo atrás da orelha, e abaixando o rosto para alcançar a pele do meu pescoço. — Estão dormindo e o nosso trato é que fique quieta.

— Você fala como se eu fosse uma escandalosa.

— E não é? — riu apertando a minha cintura com força, e mordiscando com os lábios sua trilha quente. — Seus suspiros saem um pouco alto às vezes. — fechei os olhos ao senti-lo me apertar mais contra seu corpo. — Podemos voltar ao que estávamos fazendo ou você tem alguma outra intervenção?

— Acho que estou ficando com calor. — eu me lamentei falsamente comovida, afastando seu rosto e levando as suas mãos para a barra da minha blusa de pijama. Ele sorriu arteiro antes de tirá-la, e depois mordeu os lábios com força, antes de me olhar. — E nem pense em tocar.

— Por Merlin, Weasley. — soltou um muxoxo, aproximando-se de mim novamente. — Desde quando você tem peitos?

— Não te interessa. Vamos voltar ou não?

Sua resposta foi um beijo.

[...]

Um barulho infernal preencheu meus ouvidos e me fez acordar, ajudando na sensação de que eu havia sido atropelada por uma carroça de hipogrifos nervosos, ou me dopado com alguma erva mágica. Meus olhos pesavam ao ponto de eu não conseguir abrí-los, e minha nuca doía pela posição que eu havia dormido. Quando consegui ter a visão de uma claridade horrenda, senti meu coração disparar ao perceber que eu estava no sofá da sala e que o barulho era apenas a minha amada família tomando café da manhã.

Levantei em um susto e olhei ao redor. A última coisa que eu me lembrava era de ter deitado com Scorpius no sofá. O lado positivo era que, pelo menos, eu estava vestida com o meu pijama intactamente.

Com muito esforço cambaleei até a mesa do café, e ocupei uma cadeira vazia ao lado de Dominique.

— Sua mãe mandou avisar que ela e seu pai foram não sei onde comprar não sei o que para o almoço. — ela avisou antes de morder seu pão com geléia. Assenti, em seguida segurando a minha cabeça com as duas mãos. — E bom dia para você também.

— Bom dia. — suspirei após alguns instantes. Ao levantar a cabeça para, quem sabe, degustar um pouco do café da vovó, os olhos castanhos de Roxanne me fitavam de uma forma amedrontadora. — O que foi?

— Por que dormiu no sofá? — dei um riso indignado com tamanha cara lavada. Coloquei café da minha xícara e peguei um dos crumpets quentinhos em minha frente.

— Porque eu não estava conseguindo dormir graças à você, então desci para comer alguma coisa e acabei pegando no sono. — respondi com um sorriso falso.

— Mas eu não fiz nada. — rebateu ingênua. — Apenas tenho curiosidade acerca da sua vida agitada, Rosinha.

— Deixe ela em paz, Roxanne. — Dominique revirou os olhos. Ao olhá-la percebi que sua feição angelical estava torcida em uma careta totalmente insatisfeita. — Ah, sim, eu me esqueci que você não tem esse talento natural.

— Eu já pedi desculpas, Dominique, não preciso ficar sobre o seu julgamento pelo resto da vida.

— Ela disse para o James que o Hilliard iria nessa festa e que tinha comentado com o Alvo sobre querer ficar comigo. — minha prima praticamente vomitou as palavras em cima de mim, enquanto ficava vermelha de raiva.

— Isso é meio indiferente. — constatei, ouvindo um grunhido dela. — Ele não iria mesmo. E pelo menos assim não parece que você está tão afim dele.

— Foi exatamente o que eu disse para ela. — Roxanne cruzou os braços, debruçando-se um pouco sobre a mesa. — Mas eu prego no deserto. Se vocês me ouvissem não quebrariam tanto a cara.

— Quem está com a cara quebrada aqui, filhote de mandragora? — o olhar que Dominique lançou para Roxanne foi quase tão mortal quanto um Avada Kedavra, o que me incentivou a apenas observar a discussão.

— Você ainda não está. Esse — Roxanne se inclinou para sussurrar após olhar para os lados — lance de vocês é completamente doido e é óbvio que não vai dar certo.

— Não é porque você é boa em adivinhação que pode se colocar no posto de senhora do destino alheio.

— Não tem a ver com adivinhação, Domi, tem a ver com lógica. Além disso, o Hilliard quer mesmo ficar com você.

— Eu não quero saber disso, Roxanne! — Dominique rebateu enfurecida. — Você sabe de quem eu gosto e eu não vou deixar você estragar tudo.

— Como você é dramática. — rolou os olhos. — Até a Rosita disse que vocês dois não dariam certo.

— E o que a Rose entende de relacionamentos?

Era uma boa pergunta. E pesada.

Dominique olhou para mim e pôs as mãos sobre a boca em um sinal de arrependimento. Eu apenas arqueei uma sobrancelha e fiquei encarando a minha xícara de café por alguns instantes. Não sabia o que dizer, até mesmo por não ter me sentido tão ofendida.

— Nada. — suspirei melancolicamente. — Eu sou péssima nisso, um trasgo. Quer dizer, meu ex-namorado beijou outra menina na frente de todo mundo mesmo sabendo o quanto eu super valorizava ele, meu plano de vida foi completamente arruinado, enchi o Lysander de esperanças descabidas depois de me sentir fragilizada pelos dois pedaços de vômito de hipogrifo. E como se tudo isso não fosse o suficiente, beijei o maior idiota do universo. Três vezes. — passei a mão pelo meu cabelo, sorrindo ao ver carcaças de arrependimento das duas. — A pior parte é que eu faria isso mais um zilhão de vezes. Acho que deveriam me levar para o St. Mungus antes de irmos para a festa. Aliás, vocês acham que um biquíni azul combina com o meu tom de pele?

Quê? — Roxanne deu um gritinho de pavor. — Por Merlin, Rose, tomara que eu tenha entendido errado.

— Você beijou o Scorpius de novo? — Dominique me olhou espantada, levando alguns segundos para configurar seu rosto em um sorriso perverso. — Por isso dormiu no sofá. Foi dar umas bitoquinhas!

— Na verdade eu escrevi uma carta para o Lysander pedindo desculpas e por um acaso acabamos nos encontrando na cozinha.

— Aham. Sei. — Roxanne riu. — E de repente resolveram se pegar, imagino.

— Estou tentando seguir uma filosofia mais light, Rox, me inspirei no seu pai o tempo todo. Por isso, quero aproveitar essa festa hoje sem nada capaz de tirar minha paz de espírito. Acho que vocês deveriam fazer o mesmo.

Embora Horácio e o tio Jorge estivessem certos, eu me esqueci de um pequeno detalhe enquanto  sonhava com uma vida que poderia ser vivida na base do carpe diem, dava conselhos para as minhas primas e me arrumava para a pool party que Roxanne, Alvo e Scorpius planejaram: querer não é poder.

A verdade é que fazer um planejamento é essencial, principalmente porque é levado em consideração possíveis erros, desastres, catástrofes e idiotices que podem acontecer em um determinado contexto. Eles poderiam estar certos, mas eu também estava. Por algumas horas, até às três horas da tarde de uma forma mais precisa, eu fiquei cega pensando somente em como seria bom beber aquela bebida estranha cor de rosa, não me importar em ser rotulada de corna pelas costas, me sentir livre do peso de Lysander sobre os meus ombros e, quem sabe, em como seria dar mais alguns beijos no Malfoy. Esse foi o meu querer.

O meu não poder, porém, deu um tapa na minha cara quando, ao chegar em Wiltshire, vi o casal do ano na borda da piscina — trocando uma saliva perigosamente nojenta —, Lorcan e Lysander conversando com o Leo Hilliard, e ainda por cima Alvo, Zabini e o besta do Malfoy rindo escandalosamente na companhia de Britney Idiota Parkinson e Karen Fantoche Nott.

— Abortar missão. — disse decidida a dar meia volta. Os braços de Roxanne e Dominique me impediram de ir embora daquele formigueiro.

— Você tem que ir fundo com a sua filosofia light caso queira que algo realmente aconteça, Rosinha. — Roxanne resmungou olhando as pessoas, cerrando suas orbes castanhas para um foco em especial. — Quer abortar a missão por causa do mozão?

— Que mozão, Roxanne? Se toca. — revirei os olhos. Embora não soubesse a quem ela se referia, preferi fechar os olhos e tentar fazer com que o sangue do meu rosto voltasse a ser espalhado pelo resto do corpo. — Embora eu tenha uma leve impressão de que foi você quem convidou o casal vinte.

— Você é tão arcaica. Casal vinte? — riu dando uns tapinhas no meu ombro. — Eu sei que sou um pouco fissurada nesse lance de zoeira, Rosinha, mas eu não teria a capacidade de chamar o seu corneador, ele provavelmente está com a Hubi porque ela está com a Georgie. E você deve saber o quanto nosso amigo Malfoy estima a Georgie.

— E qual sua explicação para o Hilliard? — perguntou Dominique desviando do olhar curioso do garoto, que estava um pouco longe.

— Digamos que aceitei o suborno da parte dele e convenci o Scorpius a chamar ele. — sorriu amarelo. — Ele ficou com a Georgie uma vez e blá, blá, blá, mas consegui abrir a cabeça quadrada da nossa doninha loira. Vou pegar uma bebida, vocês querem?

— Não.

— Não mesmo. — respondi azeda, sendo obrigada a ver o rosto pleno de Roxanne sorrir diabolicamente enquanto se afastava.

— Qual é o problema dela?

— Desde quando o Malfoy se importa com algo além do próprio umbigo? — questionei perplexa, após Roxanne estar em uma distância segura. Dominique me olhou de canto, desconfiada. — Ele poderia continuar sendo um egocêntrico idiota e não ter deixado a Spinnet vir e então o Wood não viria e eu poderia ficar mais tranquila.

— Ou poderia não ter deixado ela vir para a Roxanne não te contar sobre a outra Spinnet. O amor é tão lindo. — suspirou falsamente comovida. — Por que não esquecemos de tudo isso e aproveitamos essa linda piscina?

Não tive como argumentar, porque era a melhor alternativa. O único problema foi que eu não consegui disfarçar a minha insatisfação, o que refletiu tanto na vermelhidão do meu rosto quanto no bico frustrado que contorci meus lábios.

Eu e Dominique andamos até a beirada oposta da piscina, longe o suficiente dos germes do casal de imbecis. Minha prima tirou o vestidinho azul que usava, colocou seus óculos de sol, esticou uma toalha sobre as pedras e ostentou seu corpo maravilhoso, provavelmente torcendo para que o Hilliard não fosse incomodá-la com seu papo furado. Por outro lado, eu apenas tirei a blusa e fiquei de short, sentada ao lado do rosto de Dominique enquanto mexia a água com os pés.

Me sentia ligeiramente tosca por ter idealizado um momento relaxante e tranquilo, sendo que a triste realidade batia na minha cara para eu acordar de um sonho perfeito. Era impossível não se sentir descartável perto de pessoas que, de fato, haviam me deixado de lado como se eu não fosse algo muito relevante.

— Você está bem, Rouxinol? — perguntou Dominique se ajeitando para colocar a cabeça em meu colo. — Não estrague seus planos por causa daqueles dois. Eles não valem nada.

— Se merecem totalmente.

— Sinto repulsa só de ver aquelas caras idiotas, principalmente pelo fato de que o Wood já te olhou umas sete vezes nos últimos cento e vinte segundos.

— Deve gostar de me ver fingindo que não me importo. Aposto que vai morrer de dar risada quando o Lysander vier falar comigo sobre a carta, ou quando a Parkinson disser alguma besteira para me diminuir de alguma forma.

— Tem cada bruxo sem noção no mundo. — suspirou. — A minha teoria sobre o Wood, é que ele se arrependeu de ter feito o que fez com você, mas talvez ele goste da Hubi, embora o motivo não esteja muito claro para mim. Quanto à Parkinson, você sabe que ela não gosta que ninguém se aproxime muito do Scorpius enquanto ela tenta ser o centro das atenções, e meio que vocês se alfinetam tanto que é impossível ele não te usar para tirar ela da cola. Sem contar que o seu cabelo é mais hidratado do que o dela.

— Realmente. — ri sem ânimo. — O Lysander está olhando para cá?

— Está. E se te interessa, o Scorpius também.

— Não faz a mínima diferença.

— Aham. Como foi o amasso de vocês na madrugada?

— Quente. — Dominique gargalhou, sentando-se ao meu lado.

— Você está admitindo que ele é um pedaço de mau caminho?

— Estou admitindo que ele é um pedaço de mau caminho quente, e que beija muito bem.

— Pelos brincos de argola de Morgana, Rose! Então por que você está aqui, parada, enquanto podia estar com o bonitinho?

— Porque ele está lá com os amigos dele, e também porque não quero passar a imagem errada para o Wood.

— Isso seria por que você é tapada ou…?

— Não sou como ele.

— De fato. — pigarreou. — Você não o traiu, o que comprova a sua integridade como ser humano. Só que nada te impede de mostrar para ele que não está sofrendo por causa do que aconteceu. Além disso, como vai convencer o Lysander de que está enrolada com o Scorpius caso ele fique com outra garota?

— Ele ficaria?

— É uma suposição, Rosinha. — deu ombros, fazendo uma careta em seguida. — Credo, pareci a Roxanne falando.

Não soube o que responder para Dominique, nem o que fazer. Permaneci onde estava, do jeito que estava, olhando para água e tentando esvaziar a minha mente de uma forma eficaz.

Eu não queria provar nada para ninguém, apenas queria me ver livre das tramas que me meti. Não queria ser a corna do Wood, e nem a mentirosa de Lysander. Apenas queria ser Rose Weasley e tentar, de alguma forma, aproveitar o dia. Desde o meu insight sobre “a vida”, um bolo indigesto estava me incomodando na garganta, sendo ele composto por desejos que eu não sabia lidar, problemas que eu não sabia lidar e fatos que eu definitivamente não sabia lidar. Como, por exemplo, o fato de que a textura dos lábios do Malfoy não saíam da minha cabeça, e que de uma forma estranha eu umedecia meus lábios em busca de sentir algo que parecesse com os seus.

— Onde vai? — perguntou Dominique ao perceber que eu estava me levantando decidida até demais.

— Falar com o Malfoy.

— Hum. — passou a mão pelos cabelos. — Vê se não demora, não quero ficar a mercê da estupidez do Hilliard.

— Sim, senhora.

Dominique voltou a deitar sobre sua toalha, e eu fitei o meu percurso.

Minhas pernas bambearam imediatamente com a situação de passar por olhares de dúvida, julgamento e até mesmo de deboche, mas eu não tinha algo muito importante a perder; na verdade, não tinha nada. Por isso aproveitei para pegar um copo verde com uma bebida que eu realmente não sabia qual era, e consumi seu conteúdo até a metade, sentindo um arder na garganta que me proporcionou um tipo de gás para me aproximar do grupinho no qual o Malfoy estava inserido.

Ele, Zabine e as toscas das garotas conversavam sobre um assunto aparentemente ilícito, o que fez com que olhares pesados caíssem sobre mim quando me aproximei.

— Pois não, queridinha? — Britney Idiota Parkinson me dirigiu a palavra. — Perdeu mais da sua dignidade por aqui?

— Não tanto quanto você, Britney. Na verdade, queria falar com o Malfoy um instante. — olhei tediosamente para a cara dele, cuja boca se configurou em um sorriso perverso. — Se fosse possível.

— Alguém já te disse como está educada hoje? — arqueei uma sobrancelha, indiferente. Ele se desencostou da cadeira onde estava apoiado, e fez um gesto com a mão para que andássemos um pouco mais para longe. — Precisa de mais algum favor sórdido, docinho?

— Ahn, eu… — bebi mais um gole do conteúdo do copo para ganhar algum tempo útil para formular uma resposta decente. Embora estivesse decidida, não sabia bem o que falar. — Não. — suspirei. Não sabia o que dizer, o que foi me deixando mais nervosa conforme os segundos de silêncio incômodo iam se passando. — É que, eu… Por que a Spinnet está aqui?

—  Porque ela é a peguete do Wood, pensei que você já tivesse entendido isso, Pimentão. — rolou os olhos e colocou as mãos na cintura. — Ele está praticamente como um penetra, mas, não vou expulsá-lo a chutes daqui nem nada do tipo.

— Não seria uma má ideia.

— O Wood é um babaca, mas isso não significa que as Spinnet sejam. — deu ombros. — Mais alguma coisa? — neguei com a cabeça, engolindo a seco. Eu era uma tapada. O Malfoy cerrou os olhos, e tocou meu ombro com uma de suas mãos. — Você está esquisita.

— Não, é que…

— Se quiser, pode entrar em casa para aliviar um pouco a tensão. — falou baixinho. Devido à velocidade baixa das minhas sinapses nervosas, não entendi o que ele quis dizer. — Você sabe, para se acostumar com a ideia de que o Lystranho, o Wood e a Spinnet estão juntos num mesmo lugar.

— Acho que não vai ser necessário. — desviei o olhar para o chão, um pouco constrangida. — Até mesmo porque eu provavelmente me perderia e nunca mais seria achada.

— Não exagere. — pediu esticando os dedos da mão que estava repousada em meu ombro, de modo a tocar no meu cabelo e enrolá-lo. — Como estão as coisas com o Lystranho? Ele já foi falar com você?

— Não. — neguei com a cabeça, fazendo-o olhar por cima da minha cabeça. Um sorriso ainda maior nasceu em seus lábios.

— Ele olha para você de uma forma tão intensa e desesperada, Weasley, nunca considerou dar uma chance para o amor poético dele? — questionou retoricamente, fazendo uma careta em seguida. — O olhar do Wood também parece desesperado. Seria uma pena para o ego dele caso você não estivesse sofrendo, hum?

— Dominique disse quase a mesma coisa. — dei meia volta para enxergar se a minha prima estava xeretando o que acontecia ou se estava apenas deitada, e me surpreendi por vê-la completamente concentrada em apenas tomar sol. — Acho que vou voltar para lá.

— Só queria perguntar sobre a Spinnet?

— Sim. — tomei o resto da bebida, entregando-lhe o copo vazio. — Não estava contando em vê-los por aqui e meio que a culpa é sua, como sempre.

— Você falando desse jeito até parece que vivo em função do seu desprazer. — fez uma cara de deboche, colocando meu cabelo atrás da orelha enquanto eu tentava fuzilar seu rosto bonito. — Para ser sincero, pensei que comentaria algo sobre o que aconteceu essa noite.

— Por sorte eu não lembro, Malfoy, e mesmo se lembrasse não seria uma pauta interessante.

— Não seja um doce azedo, Rose. Nós dois sabemos que você gosta dos nossos beijos casuais. É isso que fazemos, não é? Ficamos casualmente. — sorriu vencedor. — E não acho que seria uma má ideia para hoje.

— Por Merlin, Malfoy, me poupe das suas insinuações descabidas. — ele pendeu a cabeça e ergueu as duas sobrancelhas, me encarando como se eu tivesse falado algo de outro mundo. — O quê?

— Vou ser sincero com você, Weasley. — ele pendeu o corpo para aproximar sua boca do meu ouvido. Antes de começar a falar, deu uma risadinha. — Estou acordado desde a madrugada só pensando em você. Eu não acharia tão absurdo ficarmos para acabar com o ego idiota do Wood, e nem para afirmar a sua história para o Lystranho. Você sabe, seria por causas nobres.

— Você é um idiota, Malfoy. — eu gargalhei, dando-lhe um tapa na cabeça. — Não podemos simplesmente ficar no meio de tantas pessoas.

— Por que não? — ele cruzou os braços enquanto esperava a resposta. — Sou a melhor opção de vingança.

— Não quero vingança.

— Hum. — assentiu não muito convencido. — Então se eu te beijasse agora você não corresponderia e não ficaria feliz pelo Wood estar vendo?

— Claro que não.

— Hum, sei. — riu pelas narinas. — Caso mude de ideia, estarei à disposição, mas não até o final da festa, é claro.

— Não vou precisar da sua ajuda, Malfoy, obrigada.

Foi a última coisa que eu disse antes de dar as costas para ele e voltar até onde Dominique relaxava. Sentei-me ao seu lado, enfiei meus pés na água e grunhi como um esquilo nervoso. Nunca pensei que eu caberia tão bem na definição de garota estupidamente burra.

— E aí?

— Não quero falar sobre isso.

[...]

Depois de duas horas, eu e Dominique nos encontrávamos na mesma situação de antes: na beirada da piscina ora conversando ora pensando na vida, enquanto que todo mundo dançava, bebia e nadava. Inclusive o Wood e principalmente o Malfoy.

Me senti levemente incomodada pelo fato do Lysander não ter me dirigido a palavra, embora sorrisse para mim de vez em quando, e o volume da música estava começando a me incomodar. Roxanne estava ocupada com Lorcan e Alvo perto da mesa dos aperitivos, Dominique estava indisposta a fazer algo que exigisse seu movimento físico e eu, bom, estava odiando o fato de não poder olhar para os lados sem ver o Wood, a Spinnet ou o Malfoy. Esse último que, por sinal, sempre dava risada quando nossos olhares se cruzavam.

Quando olhei para o céu e percebi que dali alguns minutos não haveria mais sol, decidi que pelo menos entraria naquela água um pouco, nem que fosse para ficar na beirada conversando com a Dominique. Levantei-me, tirei meu short e entrei devagar na piscina, buscando não me arrepiar tanto com a água não tão gelada.

— Estou ficando cansada. — resmunguei debruçando meus ombros sobre a borda. — Pensei que seria mais divertido.

— Se o James estivesse aqui, com certeza seria.

— Pra você. — rolei os olhos. — Odeio ser tão idiota.

— O seu problema, Rose, é que você não consegue simplesmente fazer algo que possa te satisfazer. Você fica pensando no que os outros vão achar e blá, blá, blá. Se eu fosse você, estaria onde eu quisesse estar. E nós duas sabemos onde é esse lugar.

— Esse lugar não está disponível.

— É claro que está. Ele está super dando em cima de você, Rose, para de ser boba.

— Não está não. — olhei para o lado a fim de checar onde o Malfoy estava. Senti meu estômago revirar ao vê-lo encostado na parede da piscina, conversando com Alvo.

— Tanto faz. Se você acha que ele não está, por que você não dá em cima dele?

— Porque não faz o meu feitio.

— Rose, entenda. — Dominique olhou séria para mim. — Ele quer ficar com você de novo, então simplesmente deixe claro que também quer e pronto.

— As coisas não são tão simples assim.

— Claro que são. Olha, para te dar um apoio moral, eu vou ir pegar alguma coisa para comer. Por que não aproveita a deixa para flertar com ele?

— Dominique, preste atenção, sim? — pedi observando-a levantar. — Eu não sei fazer essas coisas.

— Se vira.

Fiquei como uma tonta vendo a minha única distração se afastar de mim.

A coisa mais sensata que pensei em fazer foi continuar debruçada sobre a borda para não dar tão na cara. Depois de alguns segundos, virei meu rosto para a direita e “sem querer” olhei para o Malfoy, que imediatamente me encarou de volta e fez um movimento com a sobrancelha. Virei meu rosto e, com muito esforço, resisti à olhá-lo de novo. Apenas depois de alguns minutos tentei olhar para a mesma direção, mas ele não estava mais lá.

— Você fica ardentemente gata de azul, Weasley. — ouvi sua voz sussurrar no meu ouvido após submergir da água bem atrás de mim. Ele estendeu os braços ao lado dos meus e repousou o queixo sobre o meu ombro.

— O que pensa que está fazendo, Malfoy?

— Tirando o nosso atraso, docinho. — depositou um beijo sobre os meus cabelos e aproximou o seu corpo do meu, causando nada mais do que uma erupção nas minhas bochechas. — Como que eu, na minha posição de anfitrião, posso te deixar largada pelos cantos sem nada divertido para fazer?

— Eu estava relaxando, Malfoy, sem a sua ilustre presença. — respondi azeda, ouvindo sua risada ao pé do ouvido.

— Humhum. — ele abriu as mãos e tocou meu braço, molhando-o com a água que não estava mais gelada. — Você se lembra de que está me devendo um favor por eu ter sido tão legal com você nesses dias?

— Pensei que estávamos quites.

— Claro que não. Foram apenas dois, falta um. — riu movendo seus braços para dentro da água e, posteriormente, para a minha cintura. — Só quero que você se vire para mim.

— Você não é muito bom em usufruir da minha boa vontade. — disse fazendo o que ele havia pedido. O Malfoy sorriu antes de pressionar minha cintura contra a parede e se aproximar um pouco mais de mim. Seu cabelo escorrido pingava água sem parar, e algumas gotas escorriam pelo seu rosto... O que era tremendamente horrível, porque o deixava mais atraente. Suspirei melancolicamente ao perceber o que estava pensando.

— E você não é muito boa em alimentar um clima. — ele levou uma mão por trás da minha nuca e beijou a minha bochecha. — Mas podemos dar um jeito nisso.

— Você sabe que as pessoas estão olhando, certo? — perguntei movendo meu olhar discretamente para os lados.

— E você sabe que eu não estou nem aí, certo?

Ele riu antes de encostar sua boca na minha e de mover suas mãos para as minhas costas.

Eu não conseguia pensar em outra coisa além de como era bom senti-lo de novo, e minha respiração se provava mais frágil cada vez que ele distanciava nossos lábios por pequenas frações de segundos. Nunca havia pensado no quão bom seria tocar sua pele, seus ombros , seu tórax; ou dedilhar suas costas como se fosse um instrumento de corda. Na verdade, nunca perdi meu tempo pensando na criatura que provava, então, ter mais qualidades do que apenas uma retórica muito boa.

E, embora alguma parte controladora do meu cérebro quisesse deter a onda de prazer que eu estava sentindo, eu teria que admitir que beijar Scorpius Malfoy não era tão ruim assim, do mesmo jeito que ser vista pelo idiota do Wood também não era tão errado como eu pensava.

Não era uma revanche, não. Eu apenas estava seguindo a minha vidinha, ou pelo menos seria essa a minha possível resposta para qualquer questionamento.

Scorpius intensificou nosso beijo antes de apertar mais forte a minha pele e distanciar seu rosto do meu.

— Weasley — ele disse em um suspiro enquanto abria um sorriso. —, nunca pensei que eu diria isso, mas, você é demais. Se eu soubesse que você beijava tão bem não teria perdido tempo nas nossas rondas.

— Isso foi um elogio?

— Com certeza. — eu cruzei os braços e o encarei tentando segurar qualquer emoção. Infelizmente isso não durou muito tempo. — Só espero que você não reclame acerca dos recentes acontecimentos — ele se colocou ao meu lado e esticou o braço para enrolar um fio do meu cabelo. —, você é um porre e quando está irritada sua voz fica alguns tons mais agudos… Meus ouvidos não vão aguentar.

— Relaxe, Malfoy, tem coisas piores para me lamentar do que uns beijinhos casuais. — fiz um sinal com os olhos para que ele olhasse por trás de mim. Eu sentia um raio violeta atravessando as minhas costas e impedindo que uma risada escandalosa saísse da boca de sua proprietária. Ele seguiu a direção e, ao encontrar uma Roxanne eufórica perto da mesa das bebidas junto com Dominique, sorriu e fez um gesto com a mão.

— Hum. Pode começar a me chamar de Scorpius, se quiser, já passamos alguns minutos sem que nos agredissemos verbal e moralmente.

— Pode continuar a me chamar de Weasley. — respondi ácida, fazendo com que voltasse seu olhar para mim. Ele sorriu de canto.

— Você é tão rabugenta.  — cantarolou passando a mão pela minha cintura. — O que acha de sair comigo?

— Acho que é algo que pessoas com alguns parafusos a menos na cabeça fazem. — Scorpius soltou o ar dos pulmões, colocou o meu cabelo atrás do ombro e ficou me olhando por alguns segundos. Tentei controlar ao máximo meus instintos idiotas para não fazer nenhuma besteira.

— Não é uma ideia tão ruim assim. — ele tirou um dos braços da água e se apoiou na borda, aproximando-se mais de mim.

— É uma ideia péssima. — mas não a pior dos últimos dias, claro.

— Weasley. — sussurrou, relando sua testa na minha.

— Malfoy. — arreguei. Encostei-me em seu corpo em uma tentativa de abraço, e entrelacei meus braços em seu pescoço, beijando-lhe os lábios. — Na próxima sexta?

— Não pode ser segunda-feira?

— Que tipo de pessoa sai de segunda-feira? — ralhei olhando-o indignada. Scorpius olhou para cima e deu risada antes de me apertar contra seu corpo.

— O tipo que não vai aguentar ficar sem te beijar por quase uma semana.

— Mas você pode aproveitar para me beijar hoje.

— Posso mesmo?

— Carpe diem, quam minimum credula postero. — recitei as palavras do sábio Horácio, fazendo-o arquear uma sobrancelha. — Aproveite o hoje e confie o mínimo possível no amanhã.

Foi pensando nisso que nós aproveitamos a festa, a segunda-feira e todos os demais dias que se prosseguiram, sem pensar muito no que aconteceria quando meu pai descobrisse que de uma maneira meio absurda eu estava beijando casualmente Scorpius Malfoy.

FIM


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Notas finais do capítulo

E é isso! Espero que tenham gostado de ler essa história do mesmo jeito que eu gostei de escrevê-la. Um pouco de scorose não faz mal para ninguém, certo? ♥ Comentem o que acharam da história, indiquem para os migos scorose shippers e recebam o meu abraço imenso de agradecimento por todos que acompanharam essa short!

Um beijão no core de vocês,
Tahii ♥



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