Discrepante escrita por Ero Hime


Capítulo 3
Voar para longe, no sentido que for


Notas iniciais do capítulo

OI POVO BONITO ME DESCULPA A DEMORAAAAA
Bloqueio, faculdade, provas, estágio blábláblá isso ai
AGORA EU TO DE FÉRIAS VEM ATUALIZAÇÕES RÁPIDAS
Primeiro queria agradecer MUITO todos os comentários, vocês me fazem feliz demais ♥
Espero que estejam gostando! São pequenas coletâneas de acontecimentos, e as palavras dificultam um tico, mas eu estou adorando de qualquer maneira ♥
Nos vemos em breve!

p.s. ignorem a louca que não planeja nada e desconsiderem 1. datas de aniversário canon e 2. o ano letivo terminando em dezembro, mas sim em junho



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Alvadio

al.va.di.o

 

cinzento-claro, alvacento, esbranquiçado

 

Era como se todos os muros fossem alvadios, e apenas se colorissem quando estavam juntos, em cada traço

 

Hinata sabia – não, ela tinha certeza— que não teria sobrevivido aqueles quinze dias sem Naruto. Percebeu, infeliz, que não conhecia nada sobre a vida, como sobreviver; enquanto isso, o garoto parecia ter um dom natural para aquilo.

Se descobriram uma boa dupla. Algo como yin e yang. Naruto tinha a lábia e os sorrisos cereja, com o cabelo loiro californiano e os ombros largos; Hinata tinha o conhecimento, o inglês fluente e toda a racionalidade – ela também sabia que, se dependesse de Naruto, tampouco teriam sobrevivido aqueles quinze dias. Ele tinha as ideias mais insanas, os pensamentos mais livres e os comentários mais desmedidos. Era rebelde e audacioso, com uma jinga das ruas que ela nunca teria lido em seus livros. Ainda assim, tinha que cuidar para que ele não os metessem em problemas, enquanto procuravam um lugar provisório para ficar. O condado era enorme; a cidade, imensurável. Eram dois jovens, indecorosos, explorando o desconhecido, e aquilo era excitante.

Naruto mostrou onde poderiam encontrar o metrô – longas passagens subterrâneas que conectavam todos os bairros, em uma grande malha de ferro –. Hinata traduziu as placas, as instruções, e também o tentou convencer de pegarem um táxi, porque ela não confiava em transportes públicos. É claro que ele a ignorou, sem antes deixar de provocá-la. O cheiro era de produtos neutros de limpeza; as pessoas tinham semblantes perdidos, com pastas e ternos, mas também pranchas e roupas de banho. Eram pequenos mundos acomodados em bancos de plástico laranja, e Naruto, como um bom cavalheiro, se ofereceu para ficar em pé ao seu lado, protegendo-a de tarados de plantão – ela se lembrou da primeira vez que saíram, quando ele ainda era um badboy. E sentiu o coração esquentar.

Não comentou sobre sua família, ou seu passado. Embora ele sorrisse o tempo todo, entusiasmado, não queria ser a razão para que seus traços endurecessem – talvez em outra ocasião. Enquanto isso, ela informava as estações, e ele lhe contava as histórias, como um guia turístico.

Encontraram uma pousada aceitável – para os padrões dela – e convenientemente barata – para as exigências dele –. Alugaram um quarto igual os que ela via nos seriados, com uma cama de lençóis floridos e um banheiro próprio, no último andar. Tinha uma janela com uma pequena sacada, e, se deixassem as cortinas abertas, a lua iluminava o tapete quase a noite toda. Não houve uma só noite em que não dormissem juntos, com os pés embolados e um cobertor cobrindo suas pernas.

Durante o dia, ela o ensinava sobre as coisas do mundo; tentou – falhando miseravelmente – ensiná-lo o básico da língua nativa, visto que, tecnicamente, ele já tinha tido aulas de inglês, mas Naruto apenas aprendeu os palavrões. Explicava sobre a história do lugar, a geografia e a sociologia. Apresentava curiosidades e figuras históricas, e passeava pelas avenidas famosas com um chapéu de turista. Durante a noite, ele a ensinava sobre as coisas da vida; não sabia nada sobre história, geografia e sociologia, mas sabia sobre as ruas e as pessoas. Falava sobre as percepções e os truques mais simples para sobreviver. Ensinava os macetes, como pechinchar ou escapar de um problema. Contava coisas que jamais teriam sido grafadas em um livro, e mostrava como cada pessoa funcionava, como ler suas expressões. Eram, mesmo, uma boa dupla.

Os primeiros dias passaram tão rápido que não perceberam. Todas as manhãs eram cheias de itinerários, e Hinata queria conhecer o máximo de pontos turísticos possíveis. Compraram inúmeros passes de metrô, visitaram museus e praças, e, no terceiro dia, ela o obrigou a enfrentar uma fila quilométrica para visitarem a Estátua da Liberdade, há quilômetros de onde estavam dormindo. Compraram mapas e atualizaram seus celulares, para o caso de se perderem – o que também aconteceu, porque Naruto sempre se deixava levar pela multidão apressada que caminhava entre eles –. Mesmo assim, tudo estava dando certo.

Eles também aprenderam mais um sobre o outro. Coisas banais, que Hinata gostava de saber, como o filme preferido, a comida que mais gostava, seu espírito animal; e coisas profundas, que Naruto gostava de saber, como a melhor lembrança de infância, a pessoa de quem mais gostava no mundo e seus sonhos mais secretos. Passavam horas conversando, sentados em algum lugar, ou almoçando comida gordurosa. Passeando de mãos dados, apontando para paisagens interessantes ou esperando pelo próximo trem. Uma ligação mais forte se formava, e, apesar de perdidamente apaixonados, estavam aprendendo a se amar, verdadeiramente – mas nenhum deles sabia disso.

Era noite, e estavam deitados no telhado. Sim. No telhado. É claro que Hinata surtou quando descobriu para onde Naruto escapava sempre que estava tomando banho, mas ele a convenceu a subir depois de alguns minutos – e uma careta muito apelativa –. Pela sacada, uma escada de incêndio enferrujava levava direto para o telhado, e, se ignorasse as folhas secas e a poeira, tinha uma vista incrível para Manhattan.

Naruto tinha os braços como travesseiro e abraçava seus ombros. Usava uma calça de flanela e sem camiseta, deixando nu seu peito coberto de rabiscos. Hinata estava deitada sobre um lençol e apoiada contra o corpo dele. Usava seu pijama de algodão, e, no contraste da cena, se sentia muito mais nova e inexperiente. Ele apontava para o céu, falando sobre como se guiar pela lua e pelas estrelas, enquanto ela só conseguia nomeá-las e identificar suas constelações.

— Está com sono? Quer ir dormir, para amanhã? – ele sussurrou para ela, que balançou a cabeça em negação.

— Não quero mais ir. Sou péssima. – resmungou, aninhando-se. Evitava se mover muito, com medo das telhas cederem, mas Naruto apenas ria e dizia para confiar mais.

— Mas só faz três dias que você começou, princesa. – ela já tinha se acostumado com o apelido.

— Eu sei, mas já quebrei dois pratos! Nós não temos dinheiro suficiente ainda? – choramingou, e ele riu baixinho, com certo charme.

— Temos, e não vai durar para sempre. Além disso, foi você quem disse para guardamos para as próximas passagens. – cutucou a ponta de seu nariz, fazendo-a grunhir ranzinza.

— É fácil ser otimista assim quando se é ótimo no que faz.

Na primeira semana, eles tinham conseguido empregos temporários. Para Naruto foi fácil, no entanto, Hinata nunca tinha trabalhado em toda sua vida. Estavam voltando para o hotel, em um fim de tarde, quando erraram uma esquina e entraram em uma rua diferente, com os muros grafitados e lanchonetes temáticas. Naruto apenas fez amizade com um deles – enquanto Hinata servia de tradutora para uma pessoa que falava tantas gírias quanto um texano – e perguntou se não podia fazer parte do grupo. Eles tatuavam, mas também pintavam todo tipo de trabalho para o qual era pagos. Gostaram dos desenhos de Naruto, e disseram que ele podia ficar com uma parte do dinheiro que conseguisse de cada cliente. É claro que eles o adoraram, com sua jaqueta de couro e seu ar descolado.

Hinata teve a obrigação moral de conseguir um trabalho também, para não se sentir em dívida. Estavam tentando economizar o máximo que podiam, mas era difícil refrear um espírito livre como o do Uzumaki, e ela também queria aproveitar a viagem. Assim, começou a procurar nas lanchonetes daquela rua, próximas ao salão onde os tatuadores trabalhavam, caso Naruto precisasse dela – ele estava começando a pegar algumas palavras –. Na segunda, teve sorte. Precisavam de uma garçonete. Hinata, garçonete. O que poderia fazer? Ela precisava. Pagavam por semana, e podia jantar no lugar de graça. Naruto ficou animado quando soube – para ele, só existiam vantagens, inclusive o uniforme minúsculo com uma saia amarela e laranja e o avental brega.

Ela estava se esforçando, contudo, não levava muito jeito para a coisa.

— É só por enquanto. – Naruto acariciou seu ombro, solidário – Quando quiser, nós vamos embora desse lugar. – era estranho pensar que realmente poderiam fazer isso.

— Não quero ir ainda. – ela suspirou – Mal conhecemos a cidade. Tem tanto que eu quero ver, tantos lugares incríveis. – assumiu um tom sonhador que o fazia querer beijá-la até acabar o ar.

— Amanhã de manhã vamos comprar passagens para Staten Island. – prometeu, apertando o abraço – E logo poderemos ir para a Califórnia. Você não queria ver a placa de Hollywood de perto?

— Seria incrível! – animou-se, rindo. Em seguida, porém, deixou o sorriso morrer, murmurejando um tanto triste – Como um sonho se realizando.

— Ei, o que foi? – Naruto ergueu um pouco a cabeça, para poder fitá-la. Hinata sentiu as maçãs corarem levemente.

— É que logo é meu aniversário. – explicou. Naruto franziu as sobrancelhas.

— Eu não sabia disso. – estava um tanto descrente. Ela fez uma careta culpada.

— Vai ser o primeiro aniversário que eu passo longe dos meus pais. – continuou, sentindo um bolo na garganta, de repente – Eles sempre perguntavam o que eu mais queria de presente, e quase sempre eu ganhava. A não ser quando eu pedi um pônei, e para conhecer o Mickey Mouse. – vincou a testa, o fazendo rir.

— Você sente falta deles? – Naruto perguntou, terno. Hinata virou-se para o lado cuidadosamente, ainda apoiada em seu bíceps.

— Um pouco. – confessou, baixo. O vento no telhado começava a ficar mais gelado – Eles eram bons pais. Sinto que os decepcionei muito. – sua voz se transformou em um fio e quase desapareceu. Desviou o olhar, e Naruto acariciou seu rosto, também se sentindo culpado por tê-la desvirtuado.

— Você não precisa se sentir criminosa por seguir a sua vida. Seus sonhos. – ergueu seu queixo com os dedos, encarando seus grandes olhos perolados – Não pode viver as expectativas de outras pessoas. – era como um conselho que ele repetia para si mesmo. Hinata desejou que pudesse ser mais como Naruto: livre, desimpedida e ciente. Ele não tinha arrependimentos, e era fiel a si mesmo. Ela nunca estaria ali, se não fosse por ele. Provavelmente continuaria infeliz, lendo romances no chão do seu quarto, fantasiando lugares que jamais conheceria. E que agora podia. Aqueles pensamentos tiraram um pouco do peso em seu coração, e ela se inclinou para beijá-lo profundamente.

— Obrigada. – agradeceu por muito mais que a conversa – Agora vamos descer antes que esse telhado desabe, sim?

Naruto riu e se sentou, a ajudando a descer pelas escadas. Em seu quarto, acomodaram-se na cama barulhenta, mais abraçados e sonolentos.

 

Hinata conseguiu entregar mais um pedido de cheeseburguer sem tropeçar, e, quando se sentou na cozinha, prometeu a si mesma nunca mais colocar um daqueles na boca – não aguentava nem o cheiro –. Tinha trocado de turno com a garota da manhã, e, na hora do almoço, se trocou para ir encontrar Naruto. Já tinha aprendido a usar roupas leves, no auge do verão. Também colocou seu chapéu de abas grandes e uma fita, aquele que Naruto zombava por parecer um de madame. Já estavam em Nova York há boas semanas, àquela altura, e conheciam o máximo de lugares que turistas comuns poderiam visitar. No próximo fim de semana, comprariam passagens de ônibus para a Califórnia, e ela estava animadíssima para ir a Los Angeles.

Desceu a rua, já acostumada com o barulho incessante de buzinas. O estabelecimento colorido estava com as portas abertas, e a lembrava, nostalgicamente, do lugar onde Naruto costumava trabalhar, em Miyagi. As lembranças daquele fim de semestre seguiam-na a todo momento, lembrando, constantemente, dos motivos que a levaram até ali.

Entrou no salão, cumprimentando alguns dos rostos conhecidos, também familiarizada com todas suas gírias estranhas. Naruto estava concentrando em terminar um desenho, e ela não perdeu a chance de admirar como seus músculos se retesavam conforme fazia esforço.

Se aproximou quando o cliente se sentou, agradecendo com o rosto radiante. Não sabia o que ele tinha tatuado, mas sabia que tinha feito um bom trabalho. Ignorou o som ligado e as máquinas zunindo, caminhando direto até o loiro, que retirava suas luvas brancas. Quando a avistou, abriu o maior dos sorrisos, estendendo os braços para acolhê-la em um abraço apertado.

— Que bom que já foi liberada. – a afastou, tirando seu chapéu chique para beijá-la apropriadamente – Você está adorável com esse vestido. – o elogio era verídico, mas Hinata rolou os olhos, ruborizando. Era sempre assim quando ele a tratava com aquele tom doce e ligeiramente afetado.

— Obrigada. Está pronto para irmos? – visitariam Manhattan novamente, e, dessa vez, Hinata tinha alguns dólares para gastarem em bugigangas. Naruto negou, entretanto.

— Estou esperando mais um cliente, para a última sessão. Não vai demorar nada. – garantiu. Ela se sentou na cadeira onde o cliente estava, analisando as diversas cores e a pasta de desenhos. Naruto analisou seu olhar interessado, e sorriu provocador – Tem algum desenho em mente?

— O que? – assustada, olhou para cima, fitando-o – Eu, fazer uma tatuagem? – riu nervosamente – Nunca. – desconversou – Além disso, tatuagens não são, sabe, para pessoas decentes. – deu de ombros, a medida que Naruto erguia as sobrancelhas, cético.

— Obrigado pela parte que me toca. – ironizou, exibindo os antebraços quase fechados. Seu cabelo estava totalmente loiro, sem as mechas escuras, e dava mais contraste na pele morena e nas linhas pretas – Não adianta, agora eu gostei da ideia. Vamos, deixa eu te tatuar. Prometo que faço algo pequeno e discreto. – implorou, e Hinata estremeceu, arrependida de ter se sentado ali.

— Hm, não, agradeço. – engoliu em seco, mantendo as pernas cruzadas e os ombros para trás. Naruto revirou os olhos, se inclinando para ela e mordiscando sua orelha, causando certos arrepios.

— Você não quer ser uma rebelde? – as palavras soaram mais erradas do que realmente eram, acendendo Hinata em certos lugares. Sendo sincera, estava mesmo pensando no que seus pais pensariam se aparecesse em casa com uma tatuagem. Mas, para alguém que fugiu depois da formatura e estava do outro lado do globo com uma má influência, ela não tinha muito com o que se preocupar. Respirou fundo, já se arrependendo.

— Tudo bem. – soou mal-humorada – Vamos fazer essa maldita tatuagem.

Naruto arregalou os olhos e abriu um sorriso cheio de dentes, meio assustador. Hinata se encolheu, e ele pegou novas luvas de latex, enquanto arrastava algumas palavras para o outro tatuador que trabalhava ao seu lado – foi engraçado tentar vê-lo formar uma frase coerente e inteligível –. Em seguida, puxou os ombros da garota para trás, preparando a máquina e a agulha. Hinata tentou relaxar, mas estava agarrada ao braço da poltrona. Quando sentiu sua mão, deu um salto, se afastando abruptamente.

— Espera! – quase gritou – O que você vai fazer? Nada de dragões, né? – saiu um pouco esganada, e Naruto riu, voltando a encostá-la na cadeira.

— Relaxa e confia em mim, princesa.

Pegou sua caneta e fez um desenho matriz do que estava imaginando. Traços suaves e pequenos, na parte de trás de seu ombro. Ficou perfeito. Em seguida, ligou a máquina, e o zumbindo confortável o deixou relaxado, como sempre acontecia. Limpou a área com um pano esterilizado e afastou as alças do vestido sofisticado que ela usava. Pressionou a agulha com tinta preta, e ela exprimiu um silvo surpreso. Era desconfortável, todavia, não era doloroso. Depois de alguns contornos, ela até conseguiu entender porque Naruto fazia tantas.

Todo o processo não demorou dez minutos. Naruto limpou a área avermelhada novamente, e Hinata soltou o ar que parecia estar segurando. Relaxou o pescoço, e ele virou sua cadeira para o grande espelho emoldurado. O contraste do casal, lado a lado, não deixava de ser cômico. Naruto tinha um largo sorriso, e Hinata exibia uma meia careta.

— Tudo bem, pronta? – ela assentiu, e ele a virou de lado, com o ombro direito para o espelho.

Era realmente miúdo. E delicado. Simples. Apenas tracejado. Sob sua pele alva, ainda irritado, estava um belo desenho de uma gaiola, com grades e a portinhola aberta; dela, saiam dois pássaros, com as asas abertas em todo seu esplendor. Eles voavam para o infinito de seu pescoço, altivos. Hinata sentiu os olhos encherem d’água. Se virou para Naruto, procurando por seu rosto. Ele se assustou por um segundo, até ver todo o sentimento refletido naqueles olhos. Então ele sorriu, satisfeito.

— Eu amei. – disse, embargada – Obrigada.

Aquela era sua liberdade.

 

Naquela tarde, passeavam pela encosta de South Beach. Hinata usava um vestido veronil, carregando seus chinelos e afundando os dedos na areia branca. Estava relativamente vazia, e o sol ainda estava ardido. Exibia seu ombro orgulhosamente, e a outra mão segurava firmemente a de Naruto. Com seus óculos escuros e a regata, ele parecia nativo, enquanto ela continuava com sua pele de porcelana.

Tinham chego de ônibus, depois de uma viagem considerável. Conversaram o tempo todo, com ela mostrando seu guia turístico e ele apontando para os demais passageiros, fazendo piadas. Desceram perto da praia e caminhavam pelo calçadão. Queriam procurar algumas casas noturnas, mais tarde, para conhecer a diversão nova-iorquina.

— Ah, vamos tomar um sorvete de barraquinha! – o Uzumaki exclamou, puxando-a com mais pressa. Hinata foi guinchada até uma tenda, e balançou a cabeça.

— Você sabe quanta gordura hidrogenada tem nessa massa? Isso vai direto para as suas veias. – exclamou, e Naruto a ignorou, pedindo duas casquinhas apenas apontando no balcão.

— Deixa de ser nerd, não estrague meu sorvete. – reclamou, entregando um cone de morango – Aqui, toma essa massa hidrogenada com sabor artificial, sua ranzinza. Ela aceitou, rolando os olhos, e foi se sentar em um dos guarda-sol. Lambeu, satisfeita com o gelado, apesar de tudo. Ele a seguiu, sentando-se ao seu lado.

— Aqui é tão colorido. – comentou, seus olhos passando por turistas que carregavam bolsas demais – Tão diferente do Japão. Tenho a impressão de que era tudo alvadio.

— Eu nem sei o que isso significa. – ele ergueu uma sobrancelha, divertido – Por que você tem que usar adjetivos difíceis?

— Entendeu o que eu quis dizer. – deu a língua – Estamos aqui há bastante tempo já. – suspirou – Continua parecendo um sonho.

— Você sempre fala como uma velha, até esqueço que é uma adolescente. – a provocou, e quando ela bufou um “não sou adolescente”, ele se inclinou para beijar sua bochecha – Se quer minha opinião, também acho tudo muito colorido. Mal posso esperar para irmos para a Califórnia, e para outros estados, e para outros países.

— Esses são nossos planos? – perguntou, mordaz. Ele assentiu, sorridente.

— Sim, nossos planos.

— Me parece bom. – riu, e ele a acompanhou – Não te assusta que nós sejamos apenas recém-formados no ensino médio? E estamos do outro lado do mundo? – questionou, curiosa. Naruto deu de ombros, indiferente.

— Eu ia sair da cidade de qualquer maneira. – Hinata não entendeu porque seu coração falhou uma batida apenas com a possibilidade de nunca mais vê-lo – O que me surpreende é você estar aqui comigo. – roubou um beijo – Quer dizer, olhe para nós. – alfinetou – Eu sou um zero a esquerda. Você teria sido aceita em qualquer universidade do país!

— Esse foi o planejado. – murmurou, agora com os pensamentos distantes.

— Era o que você queria?

— Honestamente? – retrucou, terminando seu sorvete e limpando as mãos – Não sei. Era o que meus pais queriam. – riu seu humor – Meu pai surtou quando eu disse que não faria isso, você lembra. – ele assentiu, sem interromper – Desde sempre me elogiaram por ser tão obediente, tão disciplinada. Eu não sabia dizer não. – encolheu-se – Acho que você quem me ajudou com isso. – sorriu, tímida. Ele a puxou pelos ombros, em um meio abraço.

— Que péssima influência eu sou. – brincou, secretamente orgulhoso.

— No futuro, talvez eu queira fazer uma faculdade. Quem sabe. – comentou – Agora, eu posso fazer o que eu quiser. – olhou para cima, encontrando seus olhos reluzentes – Sou um pássaro livre, não é?

Naruto assentiu, com um largo sorriso, antes de se inclinar para beijá-la tão intensamente quanto conseguia. Correntes elétricas passaram por suas células, e não havia outras pessoas no mundo. Hinata entendeu por que existiam tantas cores – não era um lugar. Nada mais era cinza, desde que conhecera Naruto. Pouco a pouco, estavam se livrando das amarras do passado, e se tornando novas pessoas.


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