Saint Seiya - Especial de Halloween escrita por Katrinnae Aesgarius


Capítulo 1
Comece o baile!!


Notas iniciais do capítulo

A história é narrada por Seiya. Portanto, primeira pessoa.



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— Muito bem, garoto. Pode começar explicando o que aconteceu. Não esconda NADA!

Disse o comissário de polícia com seus olhos incisivos sobre mim.  Seu nome era Shion, estava ao lado de seu investigador, Dohko.

Quem imaginaria, não é? Àquela altura, nada mais me surpreendia. Estava lavado em sangue, com corte nos lábios, certamente tinha quebrado um dente, meus braços estavam arranhados e uma faixa continha o sangramento no meu antebraço feito pelos paramédicos. A minha calça estava nos trapos, o meu sapato sujo de lama e meus olhos vermelhos pelas lágrimas.

Queria que ele estivesse ali, que meu irmão, Tenma, estivesse ali. Até Kouga, aquele pentelho dos infernos queria que também estivesse ali. Por alguns segundos achei que estaria morto!

— E meus amigos?  O que aconteceu com eles? E quanto...

Tentava saber mais, é claro. Vi os dois cruzaram olhares e Dohko ir até uma mesa me servindo de um pouco de água que recusei. Eu tinha sede, mas não queria água, queria informações do Shun, do Hyoga, do Shiryu... e minha garganta queimou naquele momento.

— ERA PARA SER APENAS UMA FESTA!  — extravasei, já impaciente com tudo aquilo.  — Uma festa de Halloween, dia das Bruxas. A escola inteira só comentava isso, há semanas. Eu sabia, eles sabiam... Por que...

— Conte-nos o que aconteceu, Seiya. — disse o comissário pra mim em sua paciência quase paternal e me olhando de uma maneira que... — Cada detalhe é importante. Foco nesta noite. Comece do início quando chegou ao salão, ok?

Começar do início…?

 

Era uma festa de Halloween, um dos eventos mais esperados naquela escola. Por que?

Bom, a escola estava cercada de algumas lendas e outras histórias que beiravam a bizarrice como histórias de mortes estranhas e tudo mais, assombrações nos corredores que fazia muitos alunos evitarem sair à noite, e isso era razão suficiente para ficarem pregando peças nos novatos. Eu mesmo fui surpreendido diversas vezes com jogo de luzes, telefonemas estranhos com pedido de socorros que logo descobri serem nada mais que trotes.

Chega um momento que você se desliga disso e passa ignorar as evidências achando ser sempre uma grande brincadeira. E com a festa do Dia das Bruxas chegando, a coisa apenas piorava, as ditas 'brincadeiras' aumentavam. Hyoga mesmo quase morreu se não fosse o Isaak que apareceu na hora e o salvou após desmaiar com a pancada que levou quando tentaram fechar a rede da piscina. O diretor Saga deu uma chamada de atenção e criou 'zonas proibidas' na escola, mas todo mundo sempre dava um jeito...

—  Que tipo de histórias e lendas estamos falando?  — questionou o comissário para mim se levantando e caminhando para frente da mesa e de frente para mim, cruzando os braços.  — Recolhi alguns depoimentos, mas nada antecede a fundação que sustente isso que disse.

Ele tá me perguntando das histórias? Estou relatando o que ouvia, do que me diziam. Se eram verdades, depois dessa noite, começo acreditar que sim.

Confesso que, certa noite, sentia calafrios caminhar naquele corredor sozinho. Algumas coisas bem estranhas aconteciam como chuveiro desligar, passos no corredor sem ninguém à vista e aquela sensação de frio. Uma vez mesmo escutando rádio ouvi chiados que pareciam poltergeist.

Claro que não comentei com ninguém, não queria ser motivo de piada! Talvez era apenas meu psicológico, mas naquela noite, a festa... As brincadeiras ganharam corpo, não se tratava de um jogo. No começo parecia que sim, mas quando percebemos, era tarde demais. Mesmo porque, quem organizou aquilo foi o secundário, a elite da escola, aqueles que ditavam as regras, os principais responsáveis pelos trotes. Como não saber que estavam a jogar com todo mundo?

Lembrar-me disso fez meus olhos lacrimejarem sem que eu percebesse de imediato. Nesse momento sim aceitei a água oferecida por Dohko. Enquanto recuperava a fala, solucei e sequei o copo. Não podia reprimir aquilo. Precisava falar, colocar aquilo pra fora. Era o mínimo a fazer pela memória dos meus amigos.

No início daquela semana Hyoga trouxe os convites. Os cotistas, como eu, ele e Shiryu, ou os 'zuados' como Shun, jamais receberia algo assim. Sendo Hyoga popular entre as meninas e um esportista, conseguiu convite para nós, e poderíamos levar uma acompanhante por conta do concurso de fantasia e tal. Shiryu tava de rolo com Shunrei, uma menina da nossa turma, enquanto que Hyoga com tal Eire, de outra turma — e quem estava responsável pelos convites. Shun era uma incógnita, embora soubéssemos de seu encanto pela June, sua timidez era grande demais pra isso.

Quanto a mim, bom... Tinha uma pessoa, e isso era o grande problema. Ela era a 'Abelha-Rainha' da escola, uma das Patricinhas...

Seu nome era Saori Kido, neta do fundador da escola. Tinha certa atração por ela desde o primeiro ano, e duvidava que quisesse ir comigo, e como esconder minha surpresa quando ela chegou a mim, do nada, me chamando? Talvez quisesse fazer ciúmes no namoradinho dela, no Julian, secundarista e de família rica e influente o bastante para controlar muitos professores, mas aceitei. Por mais que dissessem o que fosse dela, não era tudo aquilo que diziam.

Como eu disse, as brincadeiras estavam ficando perigosas, passando do limite da humilhação por muitos ali. Depois do Hyoga, houve outros casos que incluiu Shun ser amarrado no campo, com braços abertos como Cristo na cruz, nu, com um 'gay' escrito de batom no peito enquanto ele se debulhava em lágrimas. Shiryu e eu que o encontramos antes do amanhecer e virasse chacota na escola inteira.

Comigo foi um banho de balde com urina que precisei de 5 banhos para tirar o cheiro. O pior foi Mihu, quem convidei primeiro para me acompanhar, que a assustaram em seu quarto com sons de correntes e fantasmagóricos, vestidos de fantasmas —  e isso terminou por incluir sua colega de quarto, e fazendo-a cair da janela. Se não fosse o toldo, estaria morta, mas ficou apenas hospitalizada. Diretor abafou tudo para evitar 'escândalos', mas isso porque tinha o dedo de Julian no meio.

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O dia da festa chegou. Por um lado me sentia mal de aceitar convite de Saori, a mimadinha-fútil-patricinha que muita gente odiava. Quando a vi chorando na quadra escondida — tinha ido pra lá para jogar basquete para me distrair depois do que houve a Miho   eu a encontrei e estava disposto a sair quando ela pediu, implorou que eu ficasse e a deixei falar de sua 'pobre vida de menina rica', mas logo vi não ser apenas lamentos.

Ela foi prometida a casar com Julian para que suas famílias unissem os dois impérios comerciais e de influências políticas, que todos tinham má impressão dela por ser uma Kido e que ela abominava esse nome, que queria ser ela mesma e tal... Era uma menina frágil, alguém que merecia ser defendida e viver sob uma máscara!

No outro dia, ela passou por mim sem falar, mas nem era preciso, pois vi em seu olhar que foi conciliador, em agradecimento. Eu a vi discutindo com Julian e correr, e a encontrei na quadra naquela noite onde ficamos conversando até altas horas. Foram três dias seguidos até vir o convite vindo dela. Pensei que seria para fazer ciúmes com seu namorado, sei lá. tava nem aí. Os meus amigos foram contrários, mas aceitaram quando disse que poderíamos dar uma lição em Julian naquela noite. Primeiro porque tinha o lance do Hyoga, Shun e Miho, segundo que queria colocá-lo em seu lugar porque ouvi o que ele disse a Saori... "Você não é nada sem mim!".

Pff, que babaca!

A idéia era bem simples, coisa idiota... mas que ajudou a salvar minha vida no último instante com um extra inimaginável!

O salão tava muito maneiro: penduraram aquele globo para ajudar na divulgação das luzes, muitos morceguinhos com asas de vidro que ajudava no brilho, bolas presas para serem soltas durante o baile, serpentinas e outras coisinhas a mais. O som estava sendo testado, a comida sendo colocada na mesa quando os primeiros convidados chegaram.

Eu estava vestido de zumbi, criei uma maquiagem bacana seguindo a idéia de Tim Burton... Irônico, não? Shiryu estava de vampiro, pois aquele seu cabelo comprido deu um toque muito bom e Shunrei foi de sua noiva de Drácula. Hyoga estava de múmia, ficando muito bem por sinal e Eire de egípcia. A Saori não tinha idéia de como iria, e não me surpreendi de ir de Gata-Borralheira, a pobre menina que vira princesa. O Shun... bom, ele ainda estava traumatizado demais e queria que nos vingasse por ele e prometemos voltar com fotos. June o faria companhia.

Como a festa acontecia na quadra de esportes e esse dava para o pátio, criaram uma espécie de 'Corredor da Morte', alusão aqueles dos condenados. Evitei a todo custo, pois imaginava quantos trotes seriam feitos ali. Quando cheguei com a Saori, muitos olhares caíram sobre ela, e acho que todos aguardavam que ela estava aprontando alguma, inclusive eu. Julian ficou possesso! Se era esse o objetivo dela, conseguiu.

A festa transcorreu bem nas duas primeiras horas. Alguns professores estavam presentes como Milo (natação) e Camus (francês), sempre destacados e observando a distância, Aldebaran (Ed. Física) com a turma do futebol, Afrodite (Artes) cercado das meninas encantadas com sua beleza e das quais todos diziam ser gay — mas eu vi bem ele aos beijos com uma das professoras na biblioteca apesar daquela sua estranheza. O diretor Saga, acompanhado por seu irmão Kanon, também estava no salão, apenas supervisionando, preferindo ficar em sua sala. Foi quando se ouviu o primeiro grito vir do 'corredor da morte', parando todos.

Uma garota sair correndo, pintada de vermelho, e cair no salão. Demorou alguns instantes até que uma risada ecoou — HIHIHIHEHEHAHAHAHAHAHA!!! — e do corredor sair alguns meninos vestidos de zumbis estilo Walking Dead, com aqueles silicones e látex, imitando olhos pendurados, boca escancarada pingando sangue e membros amputados. De repente, a garota se levantou, revelando ser Shaina. Era um trote, como era esperado. Todos caíram na risada, bateram palmas e o som voltou. Houve outros, o que me levou a seguir a caminhar pelo corredor e saber o que aprontavam após uma turma ser movida para lá.

Era um labirinto, muito bem criado e fácil de se perder. Era escuro, os desenhos bem reais feito pela turma de Arte de Afrodite que chegava a dar calafrios! Dizem que Cliff Okentos, conhecido como 'Máscara da Morte', um artista que Afrodite adorava, foi a inspiração para aquelas obras. Havia cabeças adornando nas paredes, e pareciam reais... REAIS DEMAIS!

O som estava distante, e a cada momento ouvíamos gritos acompanhados de risadas. Aquilo estava realmente incomodando. Nas primeiras vezes estava criando um clima legal, mas depois começou a me causar certo desconforto. Não sei se era aquela decoração, mas estava me sentindo mal e não era o único.

Saori, que aceitou me acompanhar naquela empreitada com certa hesitação, estava até admirando a ideia e logo se mostrou tão desconfortável quanto eu. No entanto, quando ela reclamou do mal cheiro, percebi que não era o único a sentir aquilo. Pensava se tinham criado aquelas bombas de fedor em laboratório…

Aquilo estava ficando nauseante, com a sensação de estar sofrendo alucinações de modo que aquelas cabeças não pareciam molduras sintéticas, nem o seu sangue artificial. Quando toquei num deles, senti ainda quente. Sim, QUENTE! Era estranho. Era grosso e pegajoso... Saori também viu aquilo, aproximando os olhos, tocando na ferida no alto da cabeça. Os olhos dela se arregalaram, me puxando para sair dali quando ouvimos outro grito. Não foi como antes. Pensei que seríamos alvo de um trote, mas não era bem isso.

Atravessamos os corredores e percebemos estar perdidos, dando voltas e mais voltas quando tropecei em algo por que o corredor estava simulando aquelas névoas para dar mais clima de terror. Praguejei e me voltei para o que quer que fosse aquilo que me fez cair, mas fiquei surpreso em perceber que era a Shaina, a mesma que havia criado aquela encenação no salão. Ela estava caída, de cara para o chão. Saori a chamava, mas não tinha respostas. Quando a viramos, seus olhos estavam com a pupilas dilatadas e em seu pescoço havia um corte que a fez perder muito sangue. Por conta da névoa, não vimos que estávamos sob uma poça. Saori se apavorou, soltando-a em seguida e me abraçando.

Que tipo de brincadeira era aquela? Gritei, chamando por alguém, mas aquele som, aquela música no salão que ecoava distante, jamais nos ouviriam. Disse para Shaina parar com aquilo, que não tinha graça, foi quando tomei seu pulso, e então me apavorei. Ela estava realmente morta! Alguém a tinha matado de verdade! Puxei a Saori dali e nos metemos no primeiro corredor que encontramos, ofegantes.

Seria que sua brincadeira provocou aquele acidente? Precisávamos voltar ao salão, mas como? Estávamos perdidos naquele lugar. Depois daquilo, corremos dali e nem mais marcamos nada, apenas que estávamos no 'Inferno', segundo as pinturas das paredes artificiais criadas ali. Via o Demônio sorrir pra mim e a Morte abaixo dele, como que abençoando, com sua gadanha apontando para nossa direção. Eu engoli a seco e puxei Saori dali antes que ela visse aquilo.

Saori pegou o celular, mas estávamos num lugar fechado demais para receber um sinal, mas ela tentava, em vão. Queria discar para a polícia, já que isso não precisa necessariamente de um sinal por ser emergência, mas algo estava interferindo até que ela soltou o aparelho alegando receber choque. As paredes, estavam realmente dando choque, pois encostei e senti aquela leve queimação e a puxei de volta antes que encostasse.

Eu não sabia o que estava acontecendo!

Era para ser uma festa, sei que rolaria uns trotes por parte dos amigos de Julian, até eu e meus amigos estávamos para aprontar com ele... mas matar a Shaina?

Eu queria jurar ser acidente, mas estava me convencendo que não, principalmente quando cruzamos com Minos numa curva e precisei me esquivar rápido com Saori antes de sermos golpeados por um taco de beisebol sujo de sangue. Ele parecia enlouquecido, totalmente chapado, sei lá. Falava coisa por coisa de mascarado com gancho....

Era uma festa de Halloween, vimos muitos colegas mascarados e com armas, de mentirinha, né...

Saori tentou acalmá-lo, mas recebeu um empurrão que, em meu reflexo, eu a segurei e a puxando para corrermos de volta de onde saímos. Foi quando me lembrei das paredes e corri até ele. Ele me xingou aos montes e que 'eu iria me ferrar por aquilo'. Ele estava tão louco que nem viu o corpo da Shaina, fazendo-o tropeçar e buscou apoio na parede onde recebeu uma carga elétrica que fez seus gritos ecoarem, gerando um apagão acompanhado de carne queimada.

Eu juro... Juro que queria achar que tudo aquilo fosse uma grande brincadeira... de muito mau gosto.

Se estava difícil encontrar saída antes, naquela escuridão era ainda pior. Ainda acreditava que tudo não passava de uma armação e tinha impressão de ouvir o som vindo salão. Já imaginava sermos alvo de risos de um trote e Shaina ali, fazendo aquela careta de morta e Minos surgir com uma carne queimada após sua grande encenação.

Até concluir isso, apenas queria sair dali. Tanto faz se fosse brincadeira.... Tanto melhor até. Até lá, eu tinha apenas a Saori em pratos, agarrada em meu braço. Quando então ouvimos passos se aproximando, estremecemos, e ela chegou a soltar aqueles gritinhos de esquilo que, instantaneamente, cobri sua boca e a puxando para um vão dos corredor e nos encolhendo. Nem bem notei que escoramos na parede, mas como estava sem luz, sem risco de sermos eletrocutado, né?

Quando a luz piscou, confesso que temi que fossemos morrer eletrocutados como vimos acontecer com Minos, mas o choque que levamos foi de ver o tal ‘Mascarado de Gancho’ a quem o Minos queria baixar a porrada, com o bastão bem diante da gente e socar aquilo em nós dois.

Eu nem bem sei o que fiz, mas a contar que Saori foi para um lado e eu para o outro, acho que eu a empurrei ou ela me soltou… não sei! O que sei é que nos separamos a tempo, antes daquele gancho perfurar a parede, e prendê-lo.  Isso me deu tempo para tomar Saori pelas mãos e corrermos dali por onde entramos... saímos… Aaaaah!! Entendeu!

Pulamos o corpo do Minos ali, esturricado com aqueles olhos esbugalhados brancos, a boca aberta cheirando a carne queimada e ainda esfumaçando. Escorregamos na poça de sangue onde estava o corpo de Shaina e entramos no primeiro corredor, e mais outro, e outro, e mais um… Visava confundir o máximo aquele… aquele…  Ao mesmo tempo que pensava de, de repente, dar de cara com ele. A verdade é que nem bem sabia onde estava indo e vindo porque tudo pareceu ficar igual, sem qualquer distinção. Não preciso dizer o quão desesperado estava, não é?

Começava achar que aquilo jamais foi uma brincadeira de Dia das Bruxas, mas uma armação das piores!

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— E por que alguém faria isso? Sei que a escola tinha muitos grupos distintos... — Shion tomou algumas notas — Patricinhas, badboys, esportistas, nerds, cotistas e... Alguns bem pejorativos pelo que vejo.

Pejorativo era pouco. Era realmente uma perseguição!

Julian fazia parte dos Playboys, uma variação das patricinhas da qual Saori seria parte, e grandes responsáveis pelas avacalhações que aconteciam na escola. Traçar um responsável era difícil. Quem gostava deles? Nem o diretor gostava, mas estava submetido aos pais. Eu mesmo diversas vezes o procurei e nada puderam fazer, mas aquilo era diferente. Não poderia acusá-los, mesmo porque... quem mataria gente do grupo deles?

Minos e Shaina estavam mortos naquele corredor e poderiam demorar horas até que alguém os encontrasse — embora o cheiro de carne podre pudesse ajudar, apesar daquela fumaça nauseante. Sem contar que os boatos era que todo mundo se pegava, e numa festa dessas de certo o desaparecimento deles nem mesmo seria notado.

A nossa ausência de certo nem estava sendo notada!

Não  sabia quanto tempo ficamos naquele corredor. Afinal, ficamos por um longo tempo perdido, dando voltas e mais voltas até que, enfim, o som do salão parecia aumentar cada vez mais. Pensei então, “Estamos perto da saída!” e apressei o passo, puxando a Saori ainda em prantos que a todo instante olhava para trás temendo que o Mascarado de Gancho estivesse atrás de nós, assim como eu tinha cuidado de cruzar cada curva esperando um golpe daquele gancho.

Quando finalmente vi as luzes do salão, sorri. Apreessei o passo, buscando tranquilizar a Saori de que procuraríamos o diretor e explicariamos o que houve quando apenas senti uma porrada que me fez voar! Foi um soco que me fez cuspir sangue enquanto sentia Saori ser puxada de minha mão. Na hora pensei que fosse o mascarado, mas quem eu vi foi um Julian agressivo com suas vestes de Fantasma da Ópera questionando Saori do porquê ela estar chorando e ela apenas assustada, alternando entre nós dois.

“O QUE VOCÊ FEZ COM ELA, SEU LIXO?”, gritou ele para que sua voz sobressaísse ao do salão. Saori até tentou dizer qualquer coisa, mas ainda estava tão chocada que suas palavras saiam inaudíveis, buscando atenção do playboy que só estava interessado em me xingar e agredir, verbal e fisicamente com chutes e até cuspir.

Cara! Eu já estava tão puto com o que houve, tenso com tudo aquilo que nem bem sei como saltei do chão em direção dele socando sua cara que quebrou aquela sua máscara e conseguindo arrancar sangue daquele filho da puta. Rolamos no chão até que chamamos atenção o bastante para sermos cercados pelo pessoal que pouco estava se importando com o estado da Saori, das minhas vestes sujas de sangue - acho que pensavam ser tinta ou qualquer outra coisa, sei lá! Ninguém tava nem aí com isso.

Chegou então os professores Aldebaran segurando a mim, professor Milo e Camus segurando Julian e o diretor Saga tomando as providências necessárias - nos levando para a diretoria e dispersando a todos que seguiram para o salão sem nem dar falta de Minos e Shaina ainda ‘perdidos’ no Corredor da Morte e desinteressados com nosso estado. Saori acabou acompanhando por conta do nervosismo. Talvez ela tenha conseguido alguma atenção pelo seu estado.

 

— Eu não entendo uma coisa… — interrompeu-me Dohko caminhando pela sala, mostrando-se confuso com tudo aquilo. — Vocês estavam sujos de sangue, possivelmente feridos. Saori estava bastante assustada segundo conta… E os diretores não suspeitaram de nada!

Eu também achava estranho…

Por outro lado, vamos pensar no seguinte.

Era noite de Halloween, certo?

Muitos trotes estavam sendo feitos, certo?

Tudo estava sendo uma grande brincadeira onde nada era verdade. Até o sangue da qual Saori e eu estávamos sujos foi visto como sangue sintético que a galera de química havia feito para dar mais realismo à encenação da Shaina e aos trotes realizados na última semana. Um dos alunos, Aiacos, havia simulado ter cortado o pescoço e o sangue espirrando quando era apenas truque de látex como muitos vídeos é encontrado no Youtube. Por isso o pouco interesse em nossa sujeira.

E para ser sincero, eles estavam mais interessado em saber o que houve à Saori que a mim. Foi quando então comecei a narrar o que aconteceu no corredor meio aos risos de Julian que precisou ser pedido para se calar duas vezes pelo Orientador Kanon. Falei do corpo da Shaina e do sangue no chão, do Minos nos atacar com taco e ser eletrocutado ao escorregar e cair na parede - e Julian justificando cada ação ainda que, de fato, tenha ocorrido o apagão e a luz de emergência foi ativada até que a luz em si retornasse, o que explicaria o som de volta ao salão.

Tudo era ouvido com ceticismo,  como se estivesse narrando Contos de Crypta ou sei lá. Julian chorava de rir apesar do corte na boca por conta do meu soco e sentir inchaço no rosto. Estava para desistir quando Saori confirmou cada palavra minha. Somente então vi uma linha de preocupação no rosto do Diretor e Orientador que trocaram olhares desconfiados.

“Uma noite de jogos, diretor. Ele está aplicando para se safar da agressão contra mim”, tentou Julian novamente sacando o telefone e tentando ligar para Minos. Dizia ainda que tudo aquilo fazia parte das ‘travessuras’ que tinham planejado para aquela noite durante a festa e que ligaria para os dois aparecerem na sala para me taxar como louco.

O telefone chamava. Chamava. E chamava. Caixa de mensagens.

Nova tentativa e a mesma coisa pelas três vezes seguidas e se repetindo com Shaina. Ele tentou argumentar que os dois poderiam ‘ter se empolgado’, mas eu vi seu desconforto e olhar para mim que mesclava medo e raiva, enquanto que Saori só se mantinha acuada num canto. Foi somente então que o diretor pediria para os inspetores darem uma olhada no tal ‘Corredor da Morte’, e caso confirmasse o que tinha dito, encerraria a festa e chamaria a polícia.

“Já houve trotes demais por uma semana, incluindo polícia essa semana por conta de ‘travessuras’ com certo aluno”.

 

— Fomos chamados na escola por conta de um possível assédio contra um aluno, mas ele não quis prestar queixa e deixamos uma advertência na escola. - comentou Shion coçando o queixo. - Isso sem contar de alguns trotes que nos passaram e o diretor estava ciente disso. Quanto a isso, compreendo sua hesitação em ligar acreditando ser mais uma brincadeira de vocês.

E agora quando era verdade, quem iria acreditar, não é?

 

Foi nesse momento que xinguei o Julian ao meu lado, chamando-o de babaca e responsável por aquela merda quando tinha um mascarado armado com gancho atrás da Saori e de mim e que, por conta de sua escrotice com os amigos com os bolsistas, tudo parecia não passar de mero trote enquanto um assassino rondava a festa. Ele tentou avançar novamente em mim, mas o Orientador Kanon o segurou enquanto o diretor tomava o telefone para tomar as ‘devidas providências’ após uma porrada na mesa para ter nossa atenção de volta.

Eu estava seco para dar mais alguns socos na cara, mas a pedido de Saori, eu me segurei. Afinal, ainda quero fazer meu acerto de contas por conta do banho de mijo no último semestre. Ficamos apenas naquela troca de olhares como dois cachorros raivosos até ouvi o diretor dizer que não conseguia contatar os orientadores e o senhor Kanon se ofereceu para sair para falar com eles. Julian queria ir embora, mas foi impedido até que tudo fosse esclarecido. O diretor, por sua vez, disse que sairia por alguns instantes apenas para pegar nossas fichas, deixando avisado que não aceitaria brigas ou seríamos suspensos - eu certamente seria expulso!

Lógico que, com a saída do diretor, Julian não perderia a oportunidade de me agredir verbalmente com insultos me desmerecendo o quanto podia. Eu estava tentando ignorar aquilo e pensando no Hyoga e Shiryu que nem sabiam o que estava acontecendo. Nem tive oportunidade de avisá-los já que aquele imbecil ao meu lado chegou me agredindo e fomos parar ali. De certo sabiam agora que estava na diretoria, mas o que poderiam fazer?

De repente senti aquela cutucada. Era Julian buscando a minha atenção de toda maneira possível, aumentando seu tom de voz, levantando-se da sua cadeira buscando me coagir comigo ali, ainda sentado. E sim, estava pronto para voar de novo na cara dele, mas não queria ceder a sua provocação de sair de vítima alegando que eu comecei a briga.

Ele continuava, eu já perdendo a minha paciência. Afinal, tudo tem um limite.

Quando pensei em reagir, Saori quem gritou pedindo um basta naquilo. Acho que a ouvi pedir por duas vezes, não sei… Quando ela gritou, com seu tom imponente, até Julian se surpreendeu seguindo até ela perguntando porque ela estaria me defendendo e não entendendo o que fazia comigo. Cara, aquilo soava patético! Eu quem agora estava prestes a mandar ele calar a boca quando ouvimos um baque vir do corredor e já deixando Saori e eu alerta por conta do solavanco junto à porta.


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Notas finais do capítulo

Parte 01/02



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