Judith escrita por Flower


Capítulo 7
Capítulo 7 – Pólvora


Notas iniciais do capítulo

FELIZ ANO NOVO, ADEUS ANO VELHO! ♥

Como vocês estão, flores do meu jardim? Espero que bem!

Esse capítulo termina em uma parte delicada, confesso. Mas decidi fazer assim para instigar vocês! Sem mais, espero muito que esteja do agrado de vocês, espero ainda mais que vocês estejam gostando, é sempre bom ter um retorno.

Assim que eu puder estarei dando uma olhadinha nos comentários e os respondendo em seguida. Agora, tenha uma ótima leitura... ♥.♥



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Oliver Queen
A noite não é fria como nos últimos dias, a brisa é confortável e me mantem fresco durante a pequena caminhada que decidi fazer para esfriar um pouco a cabeça. Dessa vez acho que fui longe demais, falei coisas que Felicity não precisava ouvir, porque não eram verdades. Eu só precisava falar algumas besteiras para me manter por cima depois de toda a merda que tinha acontecido por culpa minha, porque se Judith havia sumido, se Felicity precisou dizer tudo aquilo, era porque ela tinha propriedade, tinha razão.

Ela não tem culpa por ter dito tudo aquilo, pois toda a minha vida foi um descaso. Eu não cresci. Meus pais passavam as mãos na minha cabeça sempre que era preciso, eu tinha tudo o que precisava quando queria, acostumaram-me mal. As coisas mudaram um pouco quando mamãe faleceu, eu deixei de frequentar alguns lugares, passei a sair com meu pai para ajudá-lo com os projetos dele e me tornei o que sou hoje, um cara um pouquinho melhor, mas que ainda precisa amadurecer muito.

Só que não vejo como, não sei por onde começar.

E agora?

Agora, depois de ter batido àquela porta quando Felicity me chamou pelo nome, parece que realmente não há motivos para ser um cara melhor.

— Merda. — sussurro. Está escuro aqui fora, eu mal consigo enxergar o molho de chaves, tudo que se passa pela minha cabeça é o porquê do papai não ter colocado a porcaria de luminária aqui no jardim. Cadê a verdinha? Eu só preciso encontrar a verdinha...

Após trezentas tentativas consigo abrir a porta.

Está tudo escuro aqui dentro, nenhuma novidade.

Minha mão tateia o comando de luz mais próximo e quando o cômodo da sala acende por inteiro meus olhos acabam enxergando o que não deveriam. Thea e um carinha que não consigo reconhecer de início param qualquer coisa que estavam prestes a fazer, dirigindo a atenção para mim. Eu estou estático.

— Ollie? — Thea empurra o sujeito que reage assustadamente. Se não fosse algo surreal eu estaria rindo, claro, depois de acabar com a vida desse cara.

Speed, que merda você está fazendo? — continuo estático observando o sujeito vestir a blusa a abotoando de qualquer jeito. Ele é alto, tem o cabelo curto e espetado, olhos esverdeados e o corpo atlético, parece um daqueles modelos masculinos da Victoria's Secret.

— Você realmente quer saber? — Thea revira os olhos, vestindo a blusa.

— Roy, você não precisa ficar pálido feito um fantasma, esse é o Ollie, meu irmão.

Então o nome do carinha que estava montado encima da minha irmãzinha é Roy? Pelo menos agora já sei o nome que vou pedir para colocarem em sua lápide.

— Desde quando você faz essas coisas? O papai sabe disso? — gaguejo. Não são todos os dias que você pega a sua irmã caçula quase nua embaixo de um cara qualquer. Tudo bem, estou sendo um pouco dramático mais uma vez, mas é que eu realmente não estou acostumado, até ontem Thea me pedia para ler historinhas encantadas antes de dormir, não faz sentido o que eu acabei de encontrar por aqui.

— Oliver, eu posso explicar. — o tal Roy levanta estendendo uma das mãos na tentativa de um cumprimento.

— Não vem não, eu não vou tocar nas mãos de um cara que estava praticamente...

Thea me interrompe. Lógico.

— Roy, Ollie não precisa de explicação nenhuma! — o sorrisinho angelical rico em ironia é dado por Thea, ela sabe que o odeio com todas as forças. Minha irmã se levanta, desta vez, recomposta e abraça Roy por trás tentando amenizar um pouco o climão que se instaurou. — Ele parece que morde, mas até que é um cara legal...

— Eu não sou um cara legal! — rosno.

— Eu e sua irmã estamos... — Roy trava por breves segundos — Estamos juntos.

— Desde quando? Até ontem Thea não conseguia limpar a própria bunda e hoje aparece com você?

— Ollie! — aquele olhar de repreensão. Thea não suporta quando sou bronco, mas vale lembrar, não estou acostumado em encontrar minha princesinha enroscada nos braços de um valentão desconhecido.

— Sou Roy Harper.

Ele estende novamente uma das mãos para um cumprimento.

Thea me olha com aquele olhar:"Se você não for um bom garoto, as coisas vão ficar um pouco feias para você.", conheço bem esse olhar.

Então decido ceder.

— Queen. Oliver Queen! — faço menção ao James Bond. Nos cumprimentamos.

— Eu quero me desculpar, sei que não é certo estar aqui com a sua irmã nesses termos. A culpa é toda minha, não deve ser fácil trombar com um estranho a uma hora dessas dentro da própria casa. — Roy tem um português impecável, ele é formal e cheira bem, Felicity estaria tendo orgasmos com um cara desses, é bem típico delas escolherem um cara assim, que arrota flores campestres. Mas enquanto eu não souber o seu RG, CPF, endereço domiciliar, profissão e por qual time de basebol torce, ele vai continuar a porcaria de um estranho.

— Ele não é um fofo? — Thea suspira.

— Não há nada de fofo por aqui! Roy, preciso saber onde você mora, se você tem pais, a sua idade, as documentações, se tem ficha na polícia... Essas burocracias! — dou de ombros.

Roy engole a seco.

— Agora eu sou um carro? Uma propriedade? — Thea rebate. Enfurecida.

— A partir do momento em que você começa a fazer essas coisas, preciso saber quem são os caras!

— Oliver, eu posso responder o que for necessário! — Thea dá um beliscão no antebraço de Roy que reclama intimamente.

— Você não vai responder mais nada, Roy! — o tom de Thea tem propriedade, porque Roy fica pianinho, ele não volta a dizer nada deixando com que minha irmã tome o controle. Como sempre — Desde quando eu te devo satisfação sobre a minha vida? Você dormia com centenas de mulheres no quarto ao lado. Eu pedia sobre a ficha delas? Acho que não! Então é melhor que você enfie o rabinho entre as pernas e engula a porcaria do seu machismo!

Respiro fundo diluindo de vagar as verdades de Thea que me atingem como um soco na face. Minha irmã é inteligente o suficiente para saber que estou errado, mais um fato que não é novidade.

Já estou cheio de estar errado por hoje, então decido engolir meu orgulho e a cena que acabei de ver.

— Cadê o papai? — murmuro.

— Papai está ficando uns dias com Donna.

— Acho que vou deixar vocês a sós. — Roy sussurra ao pé do ouvido de Thea.

— Não precisa. Se Thea confia em você, vou te dar um voto de confiança! — me jogo no sofá, mas me arrependo logo em seguida. — Eu corro risco de engravidar me sentando nesse sofá?

Roy fica ruborizado de imediato.

Thea me joga uma almofada no rosto.

— Cala a boca.

Eu rio.

— Só precisava me certificar. — dou de ombros.

— Espera aí... — o seu tom de voz muda parecendo o de um detetive. — O que faz aqui em casa a essa hora? Pensei que estivesse com Judith.

É, acho que agora voltaremos a merda do caos que anda a minha vida.

Suspiro.

— Briguei com Felicity.

— Quando é que vocês vão parar com esses joguinhos? — Thea revira os olhos pela quinquagésima vez.

— Você não ficou sabendo? — a pergunto.

— Sabendo de que?

— Deixei Judith sob os cuidados de Dean e ele perdeu a menina em um Supermercado.

Lá vem mais uma carga gratuíta de esporro.

Passo no débito ou no crédito?

— Dean? Você estava com a cabeça na bunda quando decidiu deixar uma criança nas mãos de um irresponsável como o Dean? — agora Thea está um pouquinho histérica.

— Felicity já encheu os meus ouvidos por hoje, você não precisa ser mais uma!

— Baby, acho que seu irmão precisa de espaço. — Roy se manifesta.

— Você a chamou de baby? Eu vou vomitar! — uma ânsia sobe pela garganta.

— Eu acho fofo. — Thea arremessa um beijo no ar para Roy que o pega com um sorriso bobo nos lábios.

— Que traição! Pensei que fizesse isso só comigo... — o lance do beijinho no ar era nosso, de irmãos, cúmplices. Mas que merda de invasão é essa? Parece que estou perdendo as minhas garotas.

— Não tente mudar de assunto depois da merda que você fez! E Judith? Por que você não me ligou? Aonde você estava?

Quantas perguntas.

Já não me lembro mais da primeira.

— Ela já foi encontrada, o Conselho Tutelar da cidade encontrou ela. Mas a custódia de Judith agora pode ficar mais difícil...

— É claro, quem deixaria uma criança nas mãos de um idiota? Ollie, você é um adulto, já está na hora de crescer! Cada um de nós já temos a nossa própria vida, o papai com Donna, eu e Roy, nossos trabalhos fixos... Você vai ficar para trás se não decidir amadurecer. Felicity não é a mamãe, ela é uma mulher de negócios, a responsabilidade com a Judith não é só dela, você também precisa ajudar. Precisa tomar alguma atitude ou vai perder as duas.

De novo aquele gosto amargo.

Perder as duas?

— Parece que eu já perdi... — murmuro.

— Como assim? — Thea senta ao meu lado direito.

— Eu disse algumas coisinhas...

— Que coisinhas? — minha irmã está me pressionando contra a parede, ela sempre faz isso quando quer arrancar as coisas de mim. Desde os dez anos de idade.

— Eu a desse que ela era uma mulher sozinha, que nunca iria ser feliz enquanto não olhasse para as pessoas ao redor! Dei a entender que era uma egoísta... — mordo meu lábio inferior comprimindo meus ombros para dentro. Desde quando Felicity passou a ser egoísta? Outro dia mesmo ela estava correndo atrás de um projeto de Caitlin sobre recuperação ambiental para a cidade, essa mulher pode ser tudo, menos egoísta.

— Eu não acredito que você fez isso! — Thea grita, meu tímpano quase estoura.

— Cara, eu acho que você vai precisar disso... — Roy se joga ao meu lado esquerdo com um pote de sorvete de creme, por sorte, é o meu sabor preferido. — Quando Thea briga comigo, sorvete é uma boa proposta!

Até que Roy não é uma pessoa ruim.

Mas está sob teste.

É, sob teste.

— É light?

— Açucarado, mas não deixe Thea saber! — Roy sussurra.

— Não dê colher de chá a ele, Roy.

Minha irmã está o próprio capeta.

Ela continua com o tom triturador.

— Como você consegue ferrar as coisas logo com a Felicity? Você poderia tentar só um pouquinho deixar de ser burro? — a silhueta de Thea levanta, parando na frente de nós dois, Roy e eu encolhemos com a presença empoderada a deixando apenas continuar. Eu até que mereço. — Você sabe quem é Felicity Smoak?

— Ela começou a construir computadores aos sete anos...

Sou interrompido.

— Não estou me referindo a uma biografia do Wikipédia. Estou me referindo a pessoa que ela é... Uma menina que nasceu sem conhecer o pai, que teve a mãe como a única heroína, a mesma menina que fundou sozinha um império que alavanca a economia de Starling City! Ela não ajuda apenas a cidade, mas também algumas ONG's, inclusive as do Hospital de Starling. Crianças com cancêr, Ollie!

Estou envergonhado.

Mas Thea não para.

— Ela é uma das melhores pessoas que conheço, você foi um babaca!

Me perco durante os sermões de Thea, as palavras decidem apenas escaparem dos meus lábios sem que eu perceba.

— Felicity também tem um dos melhores sorrisos que já vi, os seus dentes são tão claros e definidos que me dá nervoso. E quando os seus lábios se abrem em uma risada divertida, se formam àquelas covinhas nas bochechas, sabe? Ela costuma rir assim quando os seus planos dão certo, eu geralmente não entendo, porque na maioria das vezes são números. Mas quando ela está brava, aparece àquela ruga. A que fica entre as sobrancelhas, ela não precisa dizer nada, porque a forma de respirar também muda, fica mais rápida, a própria fúria. — sorrio, sem querer — O cheiro dela também. É diferente. Tem dias que parece um jardim de flores, empesteia a casa toda quando chega da Smoak Technologies, eu não preciso ouvir o barulho da porta, nem a sua voz, porque o cheiro chega primeiro. E há também aquele quando ela acaba de sair do banho, ele é tão bom quanto à colônia que costuma usar durante o dia. — suspiro longamente — E tem a forma como ela trata Judith, com toda paciência do mundo mesmo querendo morrer por dentro! Porque, ás vezes, é isso que acontece — rio rapidamente ao me lembrar da última vez que Judith cospiu a papinha de legumes no rosto dela, ela ficou muito brava nesse dia — Na verdade, Felicity trata a todos que convivem com ela desse jeitinho, é único.

— Maninho... Você está bem? — Thea toca com as almofadas das mãos a minha testa verificando a temperatura.

— Você está apaixonado. — afirma Roy.

— Apaixonado? — gargalho. Alto. — Felicity não faz meu tipo.

— Felicity faz o tipo de qualquer homem. — Thea dá de ombros.

— Qualquer homem? — Roy ironiza.

— Exceto o seu, engraçadinho! — ela o acerta fortemente com uma almofada. Thea não sabe brincar.

— Vocês dois estão me deixando confuso.

Sou um grande caminhão de frustração.

— Ollie, você precisa acertar as coisas com Felicity. Não é todo dia que se esbarra com a pessoa de nossas vidas!

Levanto do sofá deixando com que Thea e Roy afundem.

Eles já foram longe demais por hoje.

Apaixonado?

Pessoa de nossas vidas?

— Felicity e eu somos apenas tutores da Judith, nada mais! Não somos colegas, não somos amigos, não nos gostamos. Apenas nos suportamos por um bem comum que é a Judith! — volto a suspirar. — Mas eu ferrei até isso.

— Deixa ele se enganar, baby. — Thea acaricia o antebraço de Roy.

— Vocês podem parar com isso? — volto a me sentar entre os dois, propositalmente.

— Manda flores para ela. — Roy dá de ombros.

— Flores? — pergunto atordoado. Eu nunca mandei flores.

— Isso, eu adoro receber flores. Qualquer mulher adora. Dê flores a ela!— os olhos de Thea brilham.

— Não. Eu não quero confundir as coisas.

— Você não vai pedir ela em casamento, só vai usar as flores como um pedido de desculpas. — Roy explica.

— Girassóis! — Thea bate palminhas em animação.

Alguém pode parar a minha irmã antes que seja tarde demais?

— Vocês são dois loucos, não vou embarcar nessa!

— Ollie, você vai mandar flores e vai dar um jeito na sua vida, entendeu? Ou vai ficar sozinho pelo resto da vida, porque ninguém vai ficar limpando a sua barra. — Thea finaliza.

A palavra sozinho não é animadora.

Talvez ela esteja certa.

Ah, o que estou dizendo? Thea sempre está certa.

— Eu vou pensar. — levando meu corpo exausto indo em direção ao meu antigo quarto. Saudade define — E vocês dois? Por favor, não me façam querer ser surdo durante essa noite, se é que me entendem.

— Outra coisa que precisa mudar. Deixar de ser inconveniente!

Minha irmã grita antes que eu entre no quarto.

Eu a ignoro.

Preciso dormir. Só isso.

~~~

Felicity Smoak

— Você pegou muito pesado com ele, querida. — diz Donna enquanto corta pepinos para o almoço, eu resolvi aproveitar meu dia com Judith junto da minha mãe, afinal de contas, não são todos os dias que posso curtir um tempinho com a minha única família já que a Smoak Technologies me suga toda a energia a maioria das vezes.

— Oliver ainda é um garoto, ele precisa de alguém que pegue pesado com ele. — Robert complementa. Sim, o papai Queen também está por aqui cortando os tomates, ele e minha mãe decidiram brincar de casinha ou qualquer coisa do tipo. Tenho que confessar que Robert mudou completamente a minha visão sobre ele, não há nada do que eu imaginava, ele não é arrogante, muito menos metido e passa longe de ser garanhão. Eu nunca vi mamãe sorrir assim para um homem, parece que ela está feliz e se isso está acontecendo estou feliz também.

E quanto a Oliver?

Quando ele passou pela porta eu só tive vontade de correr até ele e descontar toda a raiva que estava sentindo pelo que aconteceu a Judith, meus punhos poderiam ficar doloridos depois, mas eu ia ter lavado a minha alma.
No entanto, não foi o que fiz.

Eu apenas continuei parada por belos minutos naquele primeiro degrau da escada esperando que ele voltasse e me pedisse desculpa mais uma vez.
Oliver cumpriu a promessa, ele não voltou.

Mais cedo logo pela manhã enquanto servia o café para mim e para Judith recebi uma ligação do Conselho Tutelar de Starling City que nos chamava para uma conversa direta com a juíza responsável pelo caso de Judith, acho que a história do sumiço chamou atenção e, talvez, a guarda da nossa pequena fique em jogo caso não nos comportemos, o que fez me lembrar de Oliver, de novo.

Será que a partir de agora só vamos ser eu e Judith?

E a promessa que fizemos a Caitlin e Barry?

— Oliver não deu notícias desde ontem. — murmuro.

— Fique tranquila, docinho. Thea mandou mensagem dizendo que Oliver está em casa, na nossa casa. — Robert sorri. Ele está me chamando de docinho agora, eu não sei o porquê, mas tenho que confessar que soa terrivelmente fofo. Aff.

— Quer saber? Eu não estou nem um pouco preocupada! — dou de ombros. Não é uma mentira, não é mesmo, não estou mentindo, não quero saber dele. Não preciso saber dele, porque foi ele quem foi embora com aquela arrogância de sempre.

— Não seja malcriada. — mamãe me repreende.

— Oliver disse coisas horríveis, eu tenho o direito de querer que ele se exploda!

Robert gargalha.

— Posso te contar uma história? — o senhor de barba grisalha dá a volta no balcão da cozinha, sentando-se onde estou com Judith que brinca com pequenas panelas de plástico.

Uhum.

— Quando Oliver tinha nove anos pegou emprestado com Barry um boneco. Ele piscava luzes coloridas e fazia um barulho irritante! Até que um dia, Oliver decidiu trocar esse boneco pela bola do vizinho que morava ao lado. Ele só se esqueceu de contar a Barry! — Robert volta a rir baixinho, segurando singelamente as minhas mãos — Quando Barry descobriu que tinha perdido o boneco que tanto gostava para o vizinho, ficou muito furioso com Oliver. Ele parecia um homenzinho dizendo que não falaria com Oliver nunca mais, e não é que ele ficou mesmo emburrado? O meu menino ficou apavorado, ele tentava de todas as formas, do jeito dele, reconquistar Barry que não baixava a guarda!

— Barry era teimoso.

— É, ele era como você.

Eu nunca tinha reparado, mas nessas últimas semanas passando um tempo maior com Oliver e o conhecendo melhor pude perceber que ele era mais parecido com Caitlin do que imaginava. Com certeza os dois tinham mais em comum, ela era tão divertida, tinha um senso de humor que arrancava risadas de qualquer um, até mesmo daquelas estátuas humanas prateadas que ficam nas ruas pedindo uns trocados. E quanto a mim, bom, eu sempre me pareci mais com Barry. As camisas separadas por cor, o amor que tinha pelo trabalho e, claro, a teimosia.

Robert continua. — Se passou uma semana e nada de Barry ceder! Oliver decidiu trocar a bola pelo boneco novamente, mas o vizinho não aceitou. Então o meu garoto resolveu juntar todas as moedas que tinha no cofre de porcelana e foi negociar com o vizinho, mas novamente, ele não aceitou. Foi quando Moira me ligou desesperada do hospital que hoje ganhou o nome da cidade, a voz dela era descompensada e me fez voar para encontrá-la. Chegando lá descobri que Oliver tinha pulado o muro do vizinho de mais ou menos dois metros de altura para pegar o boneco que estava largado de baixo da chuva no jardim... E lá se foi uma perna, em plenas férias de um verão escaldante. Mas sabe o boneco? Ele conseguiu de volta. Naquele verão decidimos que não iríamos viajar para uma casa de veraneio que tínhamos em Los Angeles, e você não vai acreditar, Barry foi o único que decidiu ficar do lado de Oliver por todos aqueles dias.

Robert suspira.

Meu peito se aperta.

— Oliver me contou sobre o acidente... Mas não o motivo.

— Ninguém sabe dessa história, docinho. Se Oliver a contou, é porque gosta de você.

Engulo a seco.

Felicity, não me venha com essa.

Não agora.

Sem chances, não vou procurar por Oliver.

Argh, odeio sentir essa sensação.

— Você acha que devo ir atrás dele? — é o fim, eu sei. Mas essa sensação tem que acabar ou vou sucumbir.

— Não.

— Não?

— Espere por ele. — Robert aperta minha mão suavemente — Só não me ligue caso ele tenha quebrado a outra perna!

O tom é de brincadeira, mas entendo a mensagem.

O problema é que depois das coisas que o disse ontem, na verdade, das palavras que dissemos um para o outro, dificilmente vamos nos acertar. Oliver não voltou para casa na noite passada, ele não ligou e muito menos mandou alguma mensagem, porque sempre nos dias de jogo de basebol quando não passa a noite em casa, ele liga para saber sobre Judith ou se precisamos de qualquer coisa. E de uma forma tosca, acabamos nos acostumando com isso.
Ou será que foi eu que me acostumei?

— Felicity, não se mova... — minha mãe sussurra.

Sabem quando nos filmes de suspense um personagem sussurra para o outro pedindo para que não se mexa? Geralmente há algo de muito ruim para acontecer, sim, estou me referindo ao bote de cobras ou crocodilos.

É exatamente o que está acontecendo nesse exato momento.

Mas diferente dos filmes o que está prestes a acontecer são os primeiros passos de Judith, ela está com um dos briquedos nas mãos e as duas pernas firmes sobre o chão. Meu coração acelera, os olhos brincam de se encherem de lágrima, mas são as minhas mãos que correm para dentro da bolsa a procura do meu celular, eu preciso gravar esse momento, porque Oliver deveria estar aqui e assistir a primeira façanha da nossa garota junto comigo.

De novo.

Mais uma vez incluindo Oliver.

Por que tem que ser assim?

— Judith, calminha aí... — continuo o sussurro.

— Essa é a minha netinha. — Robert comemora.

Donna está toda ruborizada segurando as lágrimas o que é bastante estranho, porque geralmente ela só grita.
J

udith olha para os dois lados, ela sorri, deve estar se perguntando porque estamos parados feito uma plateia esperando para a grande jogada do ano. Então ela dá um pequeno passo, desequilibra, mas se mantém firme até que o outro pé a acompanhe. Mais uma vez há um pequeno desequilíbrio, mas o monstrinho continua, dando dois passos.

Três passos.

Lá estão as lágrimas, mamãe me abraça forte sentindo a mesma emoção que eu. Logo depois somos acalentadas pelos braços calorosos de Robert que está tão emocionado quanto nós duas. Esse momento não era para ser dessa forma, Caitlin e Barry deveriam estar aqui, eles esperaram isso tanto quanto nós, parece errado assistir esse momento tão particular que seriam deles. Cada lágrima que desce pelo meu rosto é de pura emoção, porque eu poderia estar em qualquer outro lugar, mas ela esperou para que eu estivesse aqui.

Eu a amo.

Amo Judith como se fosse minha filha.

— Que sorte a nossa. — Robert murmura.

— Como é linda a nossa menininha! — Donna diz ainda entre um pequeno choro.

O monstrinho continua com passos sem rumo.

O tempo que giro para pegar o celular dentro da bolsa é o suficiente para que escutemos um grunhido apertado que abre o bocão de imediato.

Judith!

Gritamos os três juntos.

Apavorados.

Pronto, o conto de fadas tem um final não tão encantado assim.

~~~

Oliver Queen

"Decidimos almoçar na casa da mamãe, até mais."

Felicity está brava.

Como sei disso?

Ela nunca deixa mensagens tão diretas, na maioria das vezes, sempre existem piadinhas que só ela entende, diferente de agora. Mas eu precisava passar essa noite na casa dos meus pais, esfriar a cabeça, diluir todas as palavras grosseiras que disse à Felicity.

Thea também não facilitou as coisas, mas eu merecia ouvir tudo aquilo.
E agora que acordei melhor, talvez eu precise de um banho de realidade, focar nessa nova oportunidade de emprego em Central City - não, não estou me referindo à proposta dentro de um vestido tubinho em tom vinho que me jogou naquele cubículo escuro para se aproveitar do meu corpinho sexy -, em Judith que precisa de mim e nas minhas obrigações por aqui.

A campainha toca.

Vocês pensaram mesmo que eu iria fazer isso sozinho?

— Caramba irmão! — ao abrir a porta Dean me abraça forte pela cintura.

— Qual é!

Me sinto sufocado.

— Eu pensei que você nunca mais fosse olhar na minha cara. — Dean está fungando na minha nuca, isso mesmo, ele está fungando.

— Você pode me soltar?

— Só se você disser que me perdoa.

— Como eu vou dizer alguma coisa se você está pressionando o meu diafragma?

— Tudo bem...

Dean me solta, os meus pulmões resgatam todo o ar que conseguem.

Estava ficando quente por aqui.

— Puta merda, Dean... — ainda respirando fundo meneio a cabeça. — Você não teve culpa, eu errei deixando a minha responsabilidade nas suas mãos.

— Mas amigos servem para isso...

— Não quando se trata de Judith.

— Como assim?

— Eu não deveria ter deixado Judith sozinha com você, esse nunca foi o trato. E nessa falha eu acabei vacilando com as minhas garotas...

— Suas garotas?

Dean agora faz aquela cara do emoji com óculos escuros, aquele mesmo, quando alguém está se achando.

— Pode parar com essa cara.

— Felicity é a sua garota agora?

— Por essas piadinhas que você me estressa!

— Você disse minhas garotas.

Ele dá de ombros.

— Foi força de expressão, você que tem mania de levar tudo ao pé da letra.

— Tudo bem, não está mais aqui quem falou.

— Melhor assim.

Desconverso.

Afinal, eu não chamei Dean aqui para falarmos sobre a minha vida sentimental e comermos chá com biscoitos. Já não basta Thea e Robert com aquele papo torto ou seria Troy? Roy? Não importa, esse não é o objetivo.

— Por onde começamos? — Dean pergunta animado.

— Pelo começo!

Resolvi chamar Dean para me ajudar a dar um toque mais particular a casa que era de Caitlin e Barry, porque desde que Felicity e eu resolvemos nos mudar para cá, não mexemos em nada. Eu tenho que parar de tentar encaixar minha vida em um padrão que era de Barry, se eu vou viver aqui tenho que parar de me preocupar como se meus amigos fossem voltar, porque eles não vão.

Então, mãos à obra.

Dean começa pelos porta-retratos presos às paredes, são muitos deles, decidimos deixar apenas alguns para que Judith possa ter lembranças de quem foram os seus reais pais. Eu estou na parte de cima, Felicity costuma separar as roupas por cor para serem colocadas dentro da lavadeira, mas confesso que isso é um enigma para mim. Não é mais fácil colocar tudo junto e rezar para que as forças superiores cuidem do restante?

— Esse cheiro é muito bom... — agora entendo o porquê de Felicity não me deixar chegar perto do amaciante que usa em suas roupas. O cheiro é magnifico. Um litro disso deve pagar a hipoteca dessa casa... Mas já que estou tentando amadurecer um pouco, ela não se importaria caso eu usasse um pouquinho. É, ela não vai se importar.

As roupas já foram.

Agora a louça é o próximo passo, mas Dean quem vai cuidar dessa parte.

Preciso cortar as gramas e molhar as flores do jardim.

Falar em flores...

— Cara, chegou uma encomenda. — Dean me grita.

— Girassóis, espero que Thea não tenha errado.

Os funcionários começam a deixar os caixotes com as flores dentro da sala.

Acho que exagerei.

Só um pouco.

— Desde quando você compra flores? — Dean pergunta com as mãos na cintura, as luvas amarelas no ombro e as mangas da camisa molhadas.

— Eu nunca comprei. — dou de ombros.

— E aí você decide comprar um caminhão inteiro?

— Thea disse que mulheres adoram ganhar flores.

— Mas não a floricultura inteira, parceiro.

Será que Dean está com a razão de novo?

Será que exagerei?

Posso não ter exagerado com as flores, mas o meu cartão de crédito foi para Marte, ele sim deve ter se sentido invadido com todo esse investimento.

Oliver, respire fundo cara, você sabe que vai valer a pena. Para que tanta cerveja nas noites de basebol? Eu sou um ser tentando evoluir, só são algumas... Flores!

Quanto vale ser perdoado?

Perguntem ao meu gerente!

— Dean? — os passos que dou até alcançar Dean são lentos e dolorosos, minhas mãos encostam nos seus ombros fazendo uma leve massagem por ali. Oh Dean, você está tão tenso, precisa relaxar um pouco. E o que são esses olhos arregalados? Eu sinto o cheiro do seu medo exalar por cada centímetro dessa casa, como um rato que foi pego no flagra. Então ele resolve dar um passo para trás, isso mesmo, bem digno de um medroso medíocre.

Ele engole a seco.

— Não vou contar a ninguém.

— Bom garoto!

O que acontece aqui? Morre aqui.

Posso apostar minha bunda para os cães do vizinho de como Dean iria explanar isso para todos os nossos amigos, ele é um fofoqueiro nato. Iria sair como a nota de um jornal "Extra, extra! O babaca Oliver Queen gasta toda a sua grana em flores para uma mulher que está pouco se lixando para a porcaria da sua existência!" e isso destruiria uma reputação que levei anos para construir.

— Posso dar uma dica?

— Deveria? — bufo.

— Se vai bancar o romântico, precisa fazer direito! — Dean lança àquela piscadela.

— Romântico? Romance? Homem, eu só quero acertar as coisas com Felicity... Restaurar a paz. Bandeira branca.

— E levar ela para cama também.

Uma vontade imensa de quebrar o nariz de Dean floresce, mas eu juro que estou tentando ser uma pessoa melhor, então eu apenas prendo-a na garganta e comprimo os olhos esperando que ela passe com louvor.

— Felicity não é como as outras.

Deixo Dean parado feito um poste.

Mas o idiota resolve me seguir.

— Vai me dizer que não acha ela gostosa?

Paro de imediato fazendo com quem Dean trombe no meu peito.

Talvez eu não sirva para ser um cara melhor.

— Se você se referir à Felicity como uma peça de carne que estar prestes a ser cortada pelos seus dentes afiados de um desesperado, eu esqueço a história de amadurecimento e acabo com você!

Sussurro.

Dean volta com aqueles dois olhões.

Ele respira fundo.

— Só estou...

— Você sabe quanto tempo demorou para que Caitlin e Barry conseguissem marcar um encontro entre eu e Felicity? Meses. Ela nunca tinha se quer uma noite livre, viva trancada naquele prédio de milhares de andares, laboratórios, esferas que voam, robôs que dançam! E quando conseguimos uma noite me atrasei por uma hora. A merda de uma hora. E quando a vi naquele vestido digno de se guardar dentro de uma caixa e não deixar que nenhum outro homem tivesse acesso além de mim, eu estraguei tudo. Estava em uma motocicleta, vestia uma camisa xadrez que ganhei de uma das mulheres que transei na noite anterior e àquela jaqueta de couro que uso até quando vou comprar pães.

Suspiro.

É, esse sou eu.

Ou o antigo eu.

— Àquela jaqueta? — Dean comprime dos olhos.

— Àquela jaqueta.

— Você fez tudo que não se faz em um primeiro encontro.

— Desde quando você entende de primeiros encontros?

— Desde quando passei a assistir comédias românticas, mulheres adoram esses filmes.

— Não adianta, Dean... Felicity não é mulher para mim.

E estou mentindo?

Felicity é a mulher que manda, ela entende de tudo e sabe o que fazer em qualquer momento. Ela quem troca as lâmpadas se for necessário, ela quem comanda um império, dando conta de uma série de números e funcionários. Ela consegue se manter linda mesmo de baixo de todo o caos, sem olheiras, unhas feitas, cabelos dourados e o cheiro incrível. E ainda sobra tempo para brincadeiras com Judith durante à noite, eu sei sobre o meu dia, mas meus caros, o dia de Felicity deve durar quarenta e oito horas.

Girl power.

Não há outra definição.

— Você quer que Felicity perdoe você?

Dean olha o relógio no pulso.

— As caixas de girassóis me custaram uma forturna.

— Oliver, você está com o cara certo!

Dean começa pelo meu quarto, tudo estava uma bagunça, as portas do armário quase não conseguiam se manter fechadas. Ah, e tem as caixas de pizza escondidas de baixo da cama, o cheiro de queijo estragado no quarto vem delas. O próximo passo é trocar os lençóis manchados e sabem essas manchas? Nunca me preocupei em separar as cores brancas das demais, mas quem se importa? Eu nunca me importei. Os lençóis trocados, as roupas do armário conhecendo cabides e a cama tão arrumada quanto a de um hotel caro.

Demos um jeito no banheiro, agora os ladrilhos brilham tanto que consigo enxergar o meu reflexo neles.
As flores foram espalhadas pela casa, o sol de um fim de tarde que entra pela janela dá um ar novo à casa. Ar vívido. As cores claras das paredes por todos os cômodos conversam bem com o amarelo dos girassóis, parecem àquelas casas do campo. Para completar, Dean resolveu que além das flores eu deveria preparar o jantar, mas meu dotes culinários não são os melhores, então resolvemos pedir a comida de um restaurante conhecido de Starling City a marca Holt manda bem. E lá se vai mais uma vez o meu cartão de crédito.

E tem os espumantes.

Eu nunca pensei que fossem tão caros.

— Por enquanto você tem tudo que uma garota gostaria! — Dean suspira satisfeito.

— Então é assim que conquista as garotas?

— Segredo de Estado! — outra piscadela.

— Mas você não acaba iludindo elas?

Três tapinhas são dados no meu ombro.

— Parceiro, vai por mim, elas adoram ser iludidas!

— Você é nojento.

Dean ignora.

— Sem camisa xadrez, o boné surrado de sempre e a jaqueta, não chegue perto dela!

Rimos.

Nada de jaqueta.

— Não acha que estamos indo longe demais?

— Aposte sempre todas as fichas.

— Mas é que...

O meu celular volta a vibrar dentro do bolso e se tem uma coisa que aprendi é nunca deixar de atender.

Em hipótese alguma.
Bom que você ligou Thea, acho que exagerei nas flores. Mas você não vai acreditar...
Sou interrompido.
Ollie? 555, Hospital de Starling!
Estou a caminho!

555 é um código que eu e Thea usamos desde quando éramos pequenos, ele significa que a coisa está feia ou que aconteceu algo grave. Então sempre que queremos resumir a merda prestes a ser jogada no ventilador usamos esse código. A vez em que Thea ficou presa no banheiro da escola, ela escolheu uma péssima hora para descobrir a claustrofobia e também teve a vez que pulei o muro de um vizinho cuzão e quebrei a perna, todas foram as vezes que usamos o nosso código secreto. Porém, dessa vez, alguma coisa me diz que não é uma bobeira.

Nunca é.

~~~


Felicity Smoak

Os primeiros passos de Judith vão ficar marcados na memória pelo impacto que sofreu quando deu de cabeça na quina da estante de livros seguindo de um tombo que a levou ao chão. O berreiro que abriu logo depois a queda nos deixou com os cabelos em pé, mas o que nos preocupou de verdade foi o galo na testa que cresceu depois de alguns minutos, o bastante para corrermos para o Hospital de Starling onde encontramos com o Dr. Harper.

— Pelo que eu vejo aqui só foi um pequeno susto. — o Dr. Harper diz enquanto avalia a radiografia que pediu para fazer assim que chegamos. Roy Harper é um dos pediatras do hospital, o conheci um dia desses quando estava com Thea, acho que os dois estão tendo um daqueles casos estilo Gray's Anatomy com direito a sexo nas macas escondida nos fundos, assim como Donna Smoak sempre me imaginou, mas Thea não costuma me contar os detalhes sórdidos e eu até agradeço, porque Roy parece ser tão certinho que se eu olhasse para ele e me lembrasse disso, não iria conseguir parar de rir.

— Tem certeza? — pergunto apreensiva.

— A radiografia não mostra nenhuma fratura ou luxação... O inchaço se trata de um trauma, mas eu pedi que Thea chamasse o nosso neurologia para dar uma última avaliação. — Roy sorri de forma simpática enquanto distrai Judith.

A porta se abre.

Meus olhos saltam.

A boca fica em forma de "O".

Me falta saliva.

— Thea disse que me chamou! — James responde ao entrar no pequeno consultório.

James?

Isso mesmo.

Meu Deus eu nunca quis tanto sumir.

— Essa garotinha aqui se empolgou com os primeiros passos. — Roy brinca.

— Me deixe ver a radiografia. — James também avalia o exame, ele ainda não me notou, mas a vontade de desaparecer continua martelando minha cabeça. A última vez que nos vimos eu estava quase engolindo o pobre coitado dentro da sua ervilha automotiva e no final ainda fui uma grossa. Só de me lembrar daquela noite meus pés voltam a formigar de nervosismo, na verdade, de pura vergonha alheia.

— Podemos liberar a pequena? — Roy torna a perguntar.

— Com to-toda a certeza! — James gagueja. Meu coração vibra.

— Felicity, Judith está liberada e pronta para outra. — Roy brinca pegando Judith nos braços.

— Felicity? — a voz de James me encontra assim que se vira, parece que a técnica de teletransporte pela força do pensamento não funciona, porque acabo de ser descoberta pelo Dr. Sei lá o que.

Paraliso.

E lá está o sorriso de James ao me enxergar.

— Oi... — ruborizo.

— Eu não sabia q-q-que... — James não termina a frase restante, porque a porta volta a se abrir em um novo rompante.

— Ollie! — Thea entra logo atrás na tentativa de conter Oliver.

— Então vocês decidiram fazer uma festinha sem me convidar? — o idiota está novamente com aquele ar de arrogância. Parece que as coisas vão ficar feias, tenho de baixo do mesmo teto o meu ex de apenas uma noite e o cara que cuida de Judith junto comigo espumando pela boca como um cão raivoso, não parece uma boa combinação. Definitivamente não é uma boa combinação.

— Quem é esse cara? — James pergunta.

— Eu quem deveria fazer essa pergunta! — Oliver faz uma feição incrédula.

— Oliver, tudo já está sob controle... Judith está pronta para outra aventura. — Roy tenta amenizar a situação.

— Você aqui de novo? — Oliver pergunta bufando.

— Ollie, Roy é o nosso pediatra. Ele faz parte da equipe de residentes na qual eu também faço parte, agora você poderia parar com o show? — Thea revira os olhos.

— Dr. Harper! — Roy estende a mão para Oliver que respira fundo a apertá-la, eu até sinto vontade de rir, mas mantenho a postura.

— Concordo com Thea sobre você parar com o show. — murmuro.

— Parar com o show? Judith sofre um acidente e se Thea não me liga você ia me deixar fora dessa! — Oliver agora dirige a atenção para mim, bufando, espumando pela boca, alguém pode aplicar um calmante nesse homem? Pode ser um derruba leão mesmo.

— E você se importa? Se importa com Judith? Não pareceu quando passou pela àquela porta na porcaria da noite anterior! — eu grito. Todos paralisam em silêncio, inclusive Oliver que dá um passo para trás, ele coloca as mãos na cintura e tenta por mais de uma vez rebater o que acabei de dizer, mas da sua boca não sai nada.

— Roy, você me ajuda a levar Judith? Papai e Donna estão esperando por notícias lá fora... — boa garota, Thea acaba de inventar uma desculpa qualquer para deixar com que eu e Oliver nos matemos aqui dentro.

— Claro! — Roy segue Thea, indo para fora.

James pigarreia.

Ele se prepara indo em direção a porta, mas encosta o dedo polegar no meu ante-braço que arrepia. Traidor.

— Você quer que eu fique? — James pergunta.

— Espera aí... Vocês se conhecem? — agora é a vez de Oliver se meter.

— Desde quando é da sua conta? — sou ríspida.

— Felicity! — Oliver responde batendo os pés como uma criança mimada.

— A gente conversa em casa. — sussurro a Oliver que cruza os braços. Ele parece que não vai sair do lugar enquanto James não se afastar. O que está acontecendo aqui? O que deu nele para achar que sou uma árvore? Daqui a pouco vai querer mijar em mim como um cão que demarca território, pelo que eu sei somos apenas tutores de Judith, é o único motivo que temos em comum e ontem Oliver não pareceu se importar muito com isso. Merda, Felicity você precisa aprender a canalizar esse rancor, porque hoje mais cedo depois da história que Robert contou, juro que fiquei emocionalmente mexida, mas só foi encontrar Oliver de novo para todos os sentimentos voltarem como uma avalanche.

— Você não ouviu a moça ra-ra-rapaz? — James se enfia na minha frente, tudo bem, não estou gostando do que está prestes a acontecer aqui. Parece que eu preciso de uma armadura para tomar as dores por mim? Não, não mesmo.

— Eu te conheço? — Oliver fixa bem seu olhar nos de James.

— Os dois podem parar? — me enfio entre Oliver e James os empurrando em direções opostas. — Oliver, pegue Judith e vá para casa. Eu não vou repetir!

— Está falando sério? — Oliver enruga as sobrancelhas.

— Nos vemos lá!

Oliver meneia a cabeça suspirando em seguida.

Ele mira James pela última vez até bater a porta.

Ufa.

— Você e a bebê tem cer-certe-certeza que estão seguras com esse cara? — James pergunta ao esperar que Oliver nos deixe a sós.

Eu rio.

Parece que James está com mais medo de Oliver do que qualquer outra pessoa.

— Fique tranquilo, Oliver tem medo de baratas... Ele só engana com a voz grossa e o peito inflado. — dou de ombros.

— Parece que você o conhece bem.

— É, eu acho que o conheço!

Não deixem com que Oliver descubra que eu sei sobre o medo de baratas.

Ah, e ele também liga a TV do quarto até pegar no sono, acho que é para não se sentir tão sozinho.

Ele leva sustos quando encontra gambás no jardim, mas finge que foi o reflexo.

É engraçado.

— Vocês dois...

— Não! Não mesmo!

James sorri.

— Desculpa por aquela noite.

Por que James tem que ter esse bendito sorriso?

E por que não está gaguejando? Ajudaria a quebrar o clima.

— Não foi nada. Na verdade, eu fui um pouco histérica! — rio ao me lembrar.

— Thea me contou sobre Judith, meus reais sentimentos.

— O tempo está ajudando...

Silêncio.

Ah não!

Os olhos de James se perdem nos meus por poucos segundos até que ele resolve quebrar o silêncio com um novo pigarreio. Eu quase levanto meus braços para os céus agradecendo pelo fim da torta de climão.

— Felicity?

— Sim! — o respondo rapidamente.

Que interesse é esse?

Ele volta a rir.

— Janta comigo qualquer noite dessas?

— Você tem o meu número.

Foda-se se estou parecendo uma vadia no cio.

E lá vamos nós, de novo.

Que os deuses da gagueira possam me ajudar.

~~~

 


Oliver Queen

James?

Desde quando existe um James na história?

Felicity parecia bem confortável com o sujeito e também tem a forma com que ele a tocou, com toda a certeza do universo esses dois já se conheciam. Mas desde já deixo bem claro que não fui com a cara dele, mesmo que ninguém se importe além de mim. Mas por que eu deveria me importar? Felicity é livre para se envolver com quem quiser, afinal, tudo indica que James é bem sucedido, ele cheira bem, parece separar as camisas por cor e o colarinho da camisa social é o mais passado que já vi.

Ele é perfeito.

Inferno.

— Mais calmo? — Felicity pergunta assim que encosta a porta, jogando a bolsa sobre o sofá. Os cabelos estão presos em um rabo de cabelo um pouco bagunçado, eu gosto muito quando ele está assim, despojado.

— Sim.

— E Judith, como ela está?

— Medicada e dormindo profundamente lá encima.

— Sobre ontem...

A interrompo.

Chega de toda a merda, não é mesmo?

— Eu fui um babaca, não deveria ter deixado você e Judith sozinhas depois de tudo o que aconteceu. Mas eu precisava respirar um pouco longe dos erros que cometi. — aproximo-me de Felicity que se mantém parada prestando atenção em cada palavra que sai da minha boca. Minhas mãos encontram seus cotovelos e os seguram com delicadeza, nossos olhos se desencontram apenas para que ela possa sentir a maneira como estou a segurando, depois eles se voltam para mim. Estamos tão próximos que sou capaz de sentir a ponta dos nossos pés encostados, minha voz diminui o tom devido ao quanto estamos perto — Você tinha razão. Sobre cada palavra que me disse... Eu quero melhorar, me tornar um homem melhor para Judith, quero que ela sinta orgulho de mim. Na noite em que eu soube que ela havia sumido eu nunca senti um gosto tão amargo na boca, só que foi você aparecer para que àquela sensação desaparecesse. Talvez eu tenha que pedir perdão pelo resto da minha vida, mas eu não vou me importar se for para estar com vocês mais uma vez! Eu nunca mais vou cruzar a linha Felicity, nunca mais...

Ela engole a seco.

Os olhos se quebram.

Mas quando se prepara para dizer algo, um espirro forte vem.

Um espirro?

E mais outro.

Outro.

— Desculpa, acho que é a minha alergia! — Felicity coça o nariz, voltando a espirrar.

— Está tudo bem? — pergunto preocupado, as bochechas de Felicity estão vermelhas como tomates.

— Girassóis? — ela pergunta ao encontrar o vaso com as flores sobre a mesa de centro.

Jesus Cristo.

Felicity é alérgica a girassóis.

Logo a girassóis?

— É uma longa história...

— Longa história? — Felicity pega dentro da bolsa um spray, ela o suga três vezes soltando um suspiro de alívio.

— Você é alérgica a girassóis?

— Muito.

— Thea me falou para comprar girassóis, ela disse que mulheres adoram receber flores! — dou de ombros.

— E você achou que comprando a floricultura inteira iria me impressionar?

Na mosca!

Felicity morte o lábio inferior.

A ponta do nariz está vermelhinha.

É o meu fim.

— Há girassóis por toda a casa... — murmuro.

— Oliver! — ela ri.

Está gargalhando.

Se divertindo.

— Tulipas. Você gosta de tulipas?

— Eu amo tulipas. — ela sussurra como se estivesse contando um segredo. É cômico.

— Anotado!

Lanço àquela piscadela.

— Que cheiro é esse?

— Gases, estou com gases. — brinco.

— Hey! — Felicity me empurra com um pequeno soquinho no peito, ela continua sorrindo. — Estou me referindo ao cheiro da comida que parece ser do meu restaurante preferido...

— Além das flores, um passarinho verde me deu a dica sobre a comida e os espumantes... Espero que não seja alérgica ao filé com purê de batatas ao molho de provolone que encomendei do Holt.

— Oliver Queen, você não falhou com essa cidade! — ela acaricia a superfície do ventre fazendo um leve biquinho — Estou faminta!

— Senhorita? — a ofereço meu ante-braço como quem corteja uma princesa e Felicity o abraça com as duas mãos suaves.

— Você deixou a carruagem em boas mãos?

— Claro que sim, os cavalos brancos estarão nos esperando após o jantar.

— Espero que a côrte não nos atrapalhe, ouvi dizer que o duque é um inconveniente!

— Farei de tudo para que a senhorita tenha o melhor jantar de toda a sua vida.

— Nunca estive tão ansiosa.

Resolvemos trazer a comida para a mesa de centro da sala, é claro, depois de nos livrarmos de todos os vasos de girassóis por perto. Felicity e eu nos sentamos em almofadas confortáveis, trocando conversas aleatórias sempre ricas de bom humor, nem parecemos duas bombas relógio dispostas a explodir como costuma acontecer. Agora seus cabelos estão soltos, as madeixas douradas brincam ao escaparem detrás de uma das orelhas, as bochechas estão avermelhadas devido a segunda garrafa de espumante que decidimos abrir. A risada de Felicity é fácil, os olhos azuis transparentes como bolas de gude, as pupilas estão dilatadas e escuras e meu reflexo resvala sobre elas.

— Estou com inveja do seu amigo, o tal de Curtis!

— Curtis?

— Paul Holt cozinha perfeitamente até eu me casaria com ele. — dou de ombros.

— Entra na fila, estou na sua frente. — Felicity empurra meu ombro, ela continua com a risada fácil.

— Andei malhando o bíceps, estou irresistível... Essa você vai perder senhorita Smoak.

Lanço mais uma piscadela.

Felicity toma mais um gole do espumante, a forma com que os lábios abocanham com cautela a boda da taça frágil de vidro me faz vibrar desde o dedão do pé até o último fio de cabelo. Ela faz um grande "O" com a boca e espreme os olhos na minha direção, a mão deixa a taça sobre a mesa e lá vem um sussurro baixo.

— Será que eu deveria ligar para o seu pai?

— Robert? — pergunto confuso.

— Avisar sobre a outra perna quebrada!

Novamente a risada gostosa, agora uma das mãos encosta meu ombro direito, ela é quente e as unhas se fixam para não escorregar. Não Felicity, não faça isso, não fique próxima demais ou não vou conseguir responder sobre meus atos.

Engulo a seco.

Ainda confuso.

— Como é?

Ops! Piada interna.

A ponta da língua risca a linha perfeita do lábio inferior.

De forma insana.

Oliver, pare com isso! Junte toda a bagunça, leve Felicity para o quarto e vá tomar um banho gelado. Ela está bêbada, a história do jantar não tinha a intenção de levá-la para cama! Lembre-se, Felicity não é como as outras garotas.

Senhores, essa é a minha consciência.

Droga.

— Acho que as taças de espumante já estão fazendo certo efeito. — mumuro.

— Sabe por que o espumante é a minha bebida favorita? — faço que não com a cabeça e Felicity continua — Porque parece grosseira quando estoura a rolha, mas quando você coloca o líquido na boca, quando deixa ele invadir a garganta e explorar o seu mais íntimo dá para sentir o quanto é suave...

Não, não, não...

Não me olhe assim.

Seja forte Oliver.

— Vou te levar para cama. — mordo a língua antes de continuar, me retratando de imediato — Para o quarto — engasgo — Para o seu quarto!

Em uma tentativa falha tento me levantar, mas Felicity desliza a mão que estacionava no meu ombro até a gola da minha camisa impedindo que eu me mova. A testa da sua cabeça encosta da minha, nossos narizes roçam um no o outro rapidamente em um beijinho de esquimó. Deixo com que meu olhos se fechem por leves segundos apreciando a sensação que é estar mais uma vez tão perto, mas quando volto a abri-los percebo que os de Felicity já estão fechados.

— Eu quero...

O sussurro me faz arrepiar.

Inteiramente.

— Não quero ferrar com tudo Felicity, você não é como as outras garotas.

Shhhhiu.

O dedo indicador toca a junção dos meus lábios deslizando com tamanha lentidão, deixando com que eu sinta a unha riscar meu queixo até estagnar por ali. Felicity abre os olhos mais uma vez dando uma risada que faz sua cabeça pender para um dos lados, apoiando a mesma no seu próprio ombro. Eu suspiro longamente, enchendo meus pulmões e ela acaba de perceber o quanto estou nervoso como um adolescente prestes a dar o primeiro beijo. Agora, ela apruma o corpo deixando-o ereto, volta a massagear nossos narizes permitindo que eu feche meus olhos apenas para regozijar do seu hálito perfeito.

O dedo indicador estacionado no meu queixo volta a deslizar até a metade da camisa onde ela trava as unhas pegando o impulso necessário para subir na base das minhas pernas se aconchegando sobre meu colo. A bunda encosta propositalmente no meu membro que acorda como se estivesse sido ligado a uma tomada 220, mas tudo que recebo é uma risada baixinha à medida que descansa os cotovelos ao redor da minha nuca. Os lábios voltam a se abrir, a língua escorrega pelo meu lábio inferior, a cintura fina se mexe para garantir que esteja no lugar certo e eu urro com a fricção que ela faz, arrancando mais uma risada baixa.

Meu coração está ultrapassando os limites da normalidade.

O cheiro de Felicity é alucinógeno.

Meu braços são guiados pelo instinto, agarrando a pequena cintura com certa firmeza, agora quem deixa escapar um grunhido é a garganta de Felicity. O grunhido é manhoso, capaz de preparar a linha de pólvora, mas ela só é acesa quando o seu tronco volta a se manter ereto, friccionando nossos corpos quentes mais uma vez, ela agarra minha nuca riscando o fósforo no caminho de pólvora. É quando nos impactamos, nossos lábios voltam a sentir o gosto conhecido.

É lento.

As respirações profundas.

Estou duro como uma pedra.


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Notas finais do capítulo

POR QUE PAROU? PAROU POR QUE?

SERÁ QUE VAI BRASIL?

As espero nos comentários, beijos florzinhas. ♥



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