Canto teu escrita por Nathymaki


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hellow!
Um shipp meio inesperado, mas que eu acho bem fofinho ♥
Tsuyu x Tokoyami
Boa leitura!



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O amor, quando decide nascer, escolhe o terreno que julga adequado, mesmo este parecendo inadequado, proibido. E, por culpa desse amor insensato, um jovem e bravo guerreiro se apaixonou pela esposa do cacique. Mas essa não é uma história de como o amor supera todas as barreiras e prevalece acima de todas as dificuldades. Ah, não. É a história de como a floresta ganhou seu mais belo pássaro cantor. E de como esse mesmo canto não foi suficiente para atingir um coração.

Tokoyami era o guerreiro mais destemido da aldeia. Bravo em batalha, não temia a escuridão, ágil, mas gentil. Destacava-se entre os demais, muito embora nunca os considerasse inferiores ou os diminuísse. Não. Eram iguais, irmãos de batalhas. O cacique, sentindo-se na obrigação de homenagear tal guerreiro, organizou um festival. Houve comida e bebida, canto e dança, e o guerreiro teve seu lugar honra a direita do cacique, bem ao lado de sua esposa que lhe sorria com gentileza. Tokoyami ficou encantado com os sorrisos, tudo o que estava acostumado a ver eram as expressões de medo nos rostos de seus inimigos ou a raiva que perdurava durante a batalha. Aquele olhar bondoso o deixou rendido. A pele dela brilhava sob o luar e os longos cabelos verdes trançados balançavam suavemente conforme eles se encaminhavam para o rio e ela se preparava para a dança em honra a Jaci.

Seu nome era Tsuyu, e seu marido, o cacique Midoriya, lhe sorriu enquanto a via entrar na água e começar o rito. As gotas voavam conforme ela fazia os movimentos, dançando, saudando a lua na graciosidade de seus gestos. A água batia nas coxas e corria suavemente seguindo o curso. O luar a deixava mais etérea, como uma deusa, e Tokoyami não conseguia desviar o olhar. A cerimônia chegou ao fim e Tsuyu saiu da água se dirigindo ao marido e enlaçando os braços nos dele. A dor que aquele simples gesto lhe causou o surpreendeu, tanto que precisou desviar o olhar. O coração palpitava e as mãos tremiam com uma energia nervosa, cerrou-as e tentou prestar atenção ao que o cacique lhe falava, mas era em vão. A comemoração chegou ao fim e todos se recolheram em suas ocas. A noite decorreu, porém, o jovem guerreiro não foi capaz de dormir, nem essa e muito menos as noites subsequentes.

— Você está diferente. - Shouji, um dos demais guerreiros mais próximo e fiel amigo de Tokoyami, comentou franzindo a testa em preocupação. – Não come nem dorme direito, se distraí nas incursões em busca de caça, mesmo sabendo o quanto a floresta pode ser traiçoeira com os que não estiverem atentos.

— Eu sei. Lamento por isso, é só que, ultimamente, tem sido difícil. - O inquirido baixou os olhos e fitou as mãos, sentindo-se impotente em sua luta contra os sentimentos que surgiam.

— O amor pode ser tanto uma benção quanto uma maldição. - O outro comentou com sabedoria, ciente do que poderia ter causado tal mudança. – Por que não pede orientação a Tupã? Se os sentimentos forem indesejados e o deus se compadecer, talvez ele possa retirá-los.

Tokoyami assentiu e garantiu que não seria necessário, que aquilo era apenas uma fase e logo passaria, mas, no fundo, sabia que o que falava era apenas mais uma das mentiras que contava a si mesmo. Sentindo a cada dia o amor crescer, Tokoyami acabou por seguir o conselho do amigo e refugiou-se na floresta, em busca de uma clareira que diziam ser sagrada para Tupã. Implorou ao grande deus que viesse em seu auxílio. Intrigado com tal pedido, o deus o visitou e, sensibilizado com o apelo do jovem, tendo compreendido seus sentimentos e sua decisão de mantê-los, acatou seu pedido. Transformou-o em pássaro para que assim pudesse ter uma chance de desenvolver aquele sentimento e saciar a tentação que sentia de se aproximar dela. O guerreiro mudou, um bico surgiu na face, os braços estenderam se nas laterais e o corpo cobriu-se de penas: vermelhas como o amor que sentia e negras como o buraco que existia em seu coração.

O pássaro guerreiro agradeceu e voou de volta para a tribo onde buscou sua amada. Encontrou-a descansando a sombra de uma árvore e pousou em um galho logo acima. Estufou o peito, lembrando das palavras de Tupã: "Seu canto será o mais belo de todos. Porém, os corações e amores são sensíveis, e apenas uma bela melodia não bastará para conquistar alguém." Ignorou o aviso e abriu o bico. Toda a floresta prendeu o fôlego quando as primeiras notas ecoaram, os animais calaram-se maravilhados, atentos, desejosos em escutar mais e mais daquela sinfonia que parecia ter vindo dos deuses.

Porém, o amor pode ser um sentimento traiçoeiro e doloroso e, por mais que se doe uma parte sua, mesmo que cantasse as mais belas melodias, sua amada não o notou. Seu peito pesava de tristeza, mas ele era um guerreiro, se não mais em aparência, sua essência permanecia determinada como tal.

No dia seguinte, ele retornou a mesma árvore e cantou ainda mais belamente que no dia anterior. A dor que sentia servindo de combustível para a melodia. Mais uma vez, a floresta se calou e seu canto ecoou por entre as árvores, chegando até o cacique que havia saído a procura da esposa. Midoriya ficou extasiado. Tal canto tão belo só podia ser uma benção dos deuses. Continuou andando pela floresta seguindo o som emitido pelo pássaro, encontrando a esposa a sombra de uma frondosa árvore, adormecida, e um pássaro negro e vermelho a cantar em um dos galhos. Ao vê-lo o pássaro cessou seu canto e fugiu. O cacique entristeceu-se. Precisava ouvir novamente aquela melodia tão bela e, para isso, capturaria aquele pássaro e o faria seu. Para tanto, aguardou até o dia que se seguiria e se escondeu em meio aos arbustos, esperando o momento certo para capturá-lo. O pássaro, tendo sido um exímio guerreiro, percebeu as intenções do cacique e fugiu, sendo perseguido. Atraiu o cacique cada vez mais para o interior da floresta, até que este já não mais soubesse o caminho de volta para a sua tribo e se perdesse para sempre.

Tokoyami retornou ao galho que sempre usava, sob o qual Tsuyu descansava e lamentava o desaparecimento do marido, e continuou a cantar as mais lindas melodias já ouvidas as quais calavam a floresta e os animais, no intuito de amenizar sua dor e sempre esperançoso que, por fim, sua amada o ouvisse. Ao final de cada dia, retornava à floresta, triste e derrotado, a cada nova tentativa falha, mas recusando-se a desistir, muito embora o amor que quisesse ter não estivesse marcado para si.


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