Poliana Moça escrita por esterjuli


Capítulo 1
A Volta de Poliana


Notas iniciais do capítulo

Oláaa! Estou começando essa história, porque a história de Poliana me cativou, primeiro pela novela e depois pelos livros! Depois que li "Pollyanna Moça" fiquei imaginando como seria uma versão brasileira, meio que pensando em uma mistura entre a novela e o livro, com direito a algumas pequenas mudanças feitas por mim. Bom, espero que gostem, eu achei bem divertido escrever, então espero que se divirtam tanto quanto eu!



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Pov. Poliana

À medida que o avião chegava mais perto do chão, meu coração se enchia de alegria e ansiedade! Depois de quatro anos longe de São Paulo, não conseguia conter minha emoção diante da visão da enorme cidade que eu já conhecia bem. É inevitável lembrar que passei por uma sensação muito parecida há alguns anos, quando pela janela de um ônibus, conheci essa cidade. A grande diferença é que quando cheguei aqui, estava extremamente apreensiva com meu futuro e agora só estou transbordando de saudade de todos que deixei aqui.

Depois que o Tio Marcelo e a Tia Luíza se casaram, tudo ficou mais contente, somos uma família muito feliz, principalmente agora que a tia Luíza está esperando mais um integrante! Há quatro anos nós fomos para a França para que meus tios pudessem estudar e aprimorar seus talentos, afinal eles são artistas! A tia Luíza finalmente voltou a pintar e está seguindo seu sonho, que, aliás, tem tido ótimos frutos, ela tem se tornado uma artista conhecida lá fora. Mas decidimos voltar, até porque não há melhor lugar do que o nosso lar. Ah! E como eles estão numa nova fase, queriam estar mais perto da família. Bom, só sei que voltar pra casa me deixa tão contente, contente, CONTENTE! A França é incrível, mas faz tempo que quero voltar pra casa, pra rever todos os meus amigos e minha família!

Assim que o avião pousou, fiquei até sem respirar por um momento de tanta emoção! Tia Luíza, como sempre, me pediu pra ficar mais calma, mas é difícil! Não consigo controlar minha felicidade. Peguei minha mala e desci depressa as escadas do avião, acho que devo ter dado uma pequena dor de cabeça à titia. Ao chegar à área de desembarque a festa foi imensa, todo mundo nos aguardava com grande entusiasmo e euforia! Cada rosto conhecido que eu encontrava mais emocionada ficava de poder reencontrá-los. Na frente estavam Nancy, tio Durval, Lorena e Raquel, aos quais abracei calorosamente, era estranho ver que em tão pouco tempo, Lorena já era uma adolescente da idade que Raquel tinha quando cheguei aqui, enquanto Raquel já tinha se tornado uma adulta! Tio Durval e Nancy não paravam de exclamar sobre como eu tinha crescido e como o tempo voa, eu, entretanto, respondi a eles - Só cresci por fora mesmo, ainda tenho espírito de criança.

— Graças aos Céus - disse tio Durval, com seu característico sotaque português.

Em seguida, abracei o Sr. P que já não era mais aquela figura carrancuda de antes, mas um homem de semblante iluminado! Como continuei me comunicando por mensagem com ele depois da mudança, soube que tinha se casado e que estava muito contente! Falei com a Dona Branca depois e apesar de ter envelhecido, parecia mais jovem do que nunca, por um momento ela chegou a reclamar de estar presa a uma bengala, pois já não podia andar sem ela, então eu disse: - Bom, pelo menos você ainda pode andar, Dona Branca! Imagine se não tivesse essas bengalas? - assim que terminei a frase, estranhamente, todos gargalharam.

— Essa é a nossa velha e boa Poliana! - disse o Sr. P, não entendi, mas ri junto com ele.

Depois disso, abracei mais um monte de pessoas: Tia Cláudia, Yasmin, Gael e Benício (que depois que o tio Durval se casou com a tia Cláudia, se tornaram meus parentes), Guilherme, a professora Sophie, o professor Iuri, a Joana, o Sérgio, o Mário, a família da Kessya e claro, a Kessya e o Luigi!

— A gente quis esperar você falar com todo mundo, que aí a gente tinha mais tempo pra matar a saudade - disse o Luigi, depois de me abraçar.

— Que saudade de vocês dois!!! Apesar de ter continuado a falar com vocês pela internet, nada se compara com estar perto e conversar pessoalmente - falei. Eles também tinham crescido (claro), mas era notável que continuavam os mesmos de quando me mudei. Demos um abraço coletivo, então olhei em volta à procura de alguém muito importante.

— Mas... e o João? Cadê ele?! - perguntei aos dois.

— Não vimos ele ainda - Kessya respondeu.

— Ele ficou sabendo que eu iria chegar hoje? - perguntei aflita.

— Sim, liguei pra ele e ele respondeu que ia voltar das férias em Fortaleza mais cedo, só pra te ver - respondeu Luigi.

Fiquei mais calma, mas a saudade era tanta que a ansiedade tomava conta, a última vez que estive aqui, foi quando vim para passar férias há dois anos e quando cheguei o João já tinha se mudado pra Fortaleza com os pais. Depois que a mãe dele veio para São Paulo viver com ele, o pai dele resolveu mudar de vida e procurou um emprego em Fortaleza, depois veio para São Paulo em busca da família. Como ele nunca gostou muito da ideia de morar longe do Ceará, foram todos de volta pra lá e segundo as notícias que o João manda nas cartas (já que o celular que ele tem só faz ligação e ligação internacional é muito cara), o pai dele está realmente mudado.

Bom, só sei que estou com muita, muita saudade do João e parecia que ele só estava demorando pra me deixar mais ansiosa. Tentei distrair minha mente conversando mais com o pessoal, afinal também estava com muitas saudades de todos. Fiquei muito contente de saber todas as novidades e acontecimentos que perdi durante esses quatro anos e depois de algum tempo de conversa, meus tios disseram que já era hora de ir, pois iríamos pra um almoço na padaria do tio Durval. Fiquei mais aflita, porque até então o João não tinha chegado, queria tanto ver ele logo, mas depois pensei que quanto mais tempo eu demorar para ver ele, mais feliz vou ficar quando reencontrá-lo. Quando estávamos prestes a sair do desembarque ouvi um: - Polianaaaa!!! - que eu sabia muito bem de quem era.

Me virei e por alguns momentos, pensei que tinha me enganado e que aquele não era o João, pra mim não tinha como ser, certamente era outro rapaz, alto e bonito que estranhamente gritava meu nome, mesmo que eu não o conhecesse. Mas não, era ele mesmo, soube quando eu vi que carregava um violão e corria desgovernado feito um menino pra me encontrar. Quando chegou na minha frente ele parou pra recuperar o fôlego.

— Peraí, que agora... eu... cansei - ele falou ofegante e então finalmente olhou pra mim, sorriu do mesmo jeitinho de sempre e disse - Eita, se não é a menina mais arretada que eu conheço! Quase não te reconheço se num fosse pelas roupa apapagaiada que tu usa - é, sem dúvidas era o velho João.

— Ai João!! É você mesmo!!! - disse correndo pra abraça-lo, ninguém podia imaginar quanta saudade senti de abraçar ele, afinal por muito tempo foi  o João que me consolou nos piores momentos.

— Oxe, claro que sou eu, quem mais poderia ser esse moreno galante com um violão na mão? - ele disse com cara de deboche, fazendo todos gargalharem. Agora que a nossa turma estava completa, fomos todos para a padaria do Tio Durval. Ao chegarmos encontrei mais um monte de gente conhecida, o Vini, a Mirela, a Brenda, até o Afonso estava lá, já preparando um churrasco pra gente.

— Mas olha só se não é a menina Poliana! Me sinto um velho de pensar que aquele pingo de gente, já é quase uma adulta! - disse o Afonso, me cumprimentando com sua animação de sempre. - Você certamente herdou a beleza da sua tia - ele disse sorrindo e olhando pra tia Luíza, o tempo passa, mas algumas coisas nunca mudam.

Enquanto isso, o almoço estava um sucesso, a banda de samba dos meninos se reuniu pra tocar um pouco pra gente, o que só fez animar ainda mais. Eu não parava de falar com um monte de conhecidos e conhecer desconhecidos que só estavam lá pelo samba. Chegou um momento que parecia que eu finalmente já tinha falado com todo mundo, então resolvi curtir um pouco. Procurei meus amigos para que pudéssemos conversar, mas para minha surpresa estavam todos dançando, até o Luigi! Não consegui conter a risada quando vi os passos desengonçados do Luigi, que tentava desastradamente imitar a Kessya. Bom, minha risada só durou até o momento em que o João veio dançando até mim e estendeu a mão, me convidando a me juntar a eles. - Não, não, não, não... Você sabe que eu e dança não nos damos muito bem, eu prefiro ficar aqui mesmo - respondi envergonhada.

— Oxe, muié! Deixe disso que já te vi dançar e sei que não é tão ruim assim! E tem mais, a Poliana que eu conheço nunca deixaria de se divertir com os amigos só porque tá com medo do que os outros vão achar de seus passos desengonçados - ele falou e deu um riso travesso - E outra, olha pro Luigi, garanto que pior do que ele tu não vai se sair, bora quero minha parceira de dança na pista pra já - ele segurou minha mão e me levou pro meio da “pista”. Ser desinibida e despreocupada com o que os outros vão achar é muito mais fácil quando se é uma criança, mas resolvi deixar a vergonha de lado e incorporar a pequena Poliana que há em mim.

Comecei a dançar, desengonçada mesmo, mas vi que era muito mais divertido assim, era ótimo poder rir a cada vez que eu acabava pisando no pé de alguém, mais ainda quando eu conseguia a proeza de pisar no meu próprio pé.

— Tá vendo, eu num disse que você não era tão ruim assim, pra dançar com você é só arranjar uns sapato de chumbo que todo mundo sai ileso - disse o João,

— Mas aí ninguém ia sair do lugar - eu respondi.

— É mermo né? Errei no cálculo na hora de fazer essa piada, confesso que foi ruim - ele disse levantando as mãos em sinal de rendição, não tive como não rir com as palhaçadas do João.

Continuamos a dançar e era tão legal ver como todos estavam felizes aproveitando o momento. A banda tocou mais algumas músicas e então disseram que iam dar uma pausa.

— A gente vai parar por uns instantes, enquanto isso o Vini vai ficar de DJ e vai estar aberto a sugestões de músicas - o Jeff falou, enquanto descia do palco pra ir encontrar a Brenda. Assim que o Jeff falou isso, o João pediu licença e foi correndo falar com o Vini. Eles conversaram um pouco e aí o Vini começou a procurar uma música.

Quando a música começou a tocar, não tive como conter a emoção, era justamente um forró que meus pais costumavam cantar nas apresentações deles. O João voltou pra onde eu estava e eu não conseguia parar de sorrir diante de tantas lembranças boas que essa música me trazia.

— Me concede mais uma dança? - ele perguntou estendendo a mão. Eu assenti, apesar de não estar muito segura quanto a essa decisão.

— Er.. O problema é que não sei dançar forró - eu disse - Nem se preocupe, que forró é fácil demais - ele disse. - Me dê sua mão esquerda - fiz como ele disse - Pronto. Agora é só colocar a mão direita no meu ombro. - segui sua instrução e agora mais do que nunca percebia a diferença de altura entre nós, que tinha se acentuado com o passar dos anos - Tudo certo, agora é só sentir a música - ele falou fechando os olhos, ele leva a sério isso de sentir a música. Eu tentei, mas estava tensa demais pra sentir a música, minha falta de coordenação não me deixava sincronizar os meus passos com os dele.

— Ói, já vi que tu tá aperreada com o tempo da música. É simples, dois pra lá, dois pra cá - enquanto ele dizia, ele me conduzia de um lado pro outro, até que chegou um momento em que finalmente consegui acertar os passos. Não consegui me conter e dei um gritinho de felicidade - Menina arretada! Eu sabia que tu ia conseguir, mas agora se concentre na música, sinta. 

Então, fechei os olhos e senti a música, e nesse momento lembrei de como aquela música tinha me acompanhado durante a vida, tinha até sido a música da audição que me possibilitou entrar na Ruth Goulart. Lembrei também que tinha sido a música que meus pais cantaram na apresentação que conheci o João, lá em Quixadá e em um instante, me veio em mente todos os momentos pelos quais já passamos. Não consegui conter a emoção e lágrimas de felicidade escorreram pelo meu rosto. Percebendo que eu estava chorando, João parou de dançar e com olhar preocupado perguntou se eu estava bem, eu assenti sorrindo.

— Ói, tu não precisa mentir não, se essa música tiver te fazendo lembrar de coisas tristes, pode me dizer que eu vou trocar num instante - ele disse, ainda preocupado.

— Nada disso, muito pelo contrário. Essa música me traz lembranças muito boas, acabei me emocionando justamente por ter percebido quantas coisas boas já me aconteceram! - eu disse e em seguida, o abracei pra fazê-lo sentir quão grata eu era pela sua amizade.

— Muito, muito obrigada, João. Por sempre ter sido esse amigo especial, que nunca deixou de estar ao meu lado nas situações mais complicadas e por sempre procurar me ajudar a jogar o jogo do contente, mesmo sem ao menos mencioná-lo. Você sempre jogou, mesmo sem conhecer e é uma das coisas que mais admiro em você, esse jeitinho diferente de encarar a vida - eu disse, ainda em meio ao abraço, ele me apertou mais forte e disse:

— Tu não faz ideia de quanta saudade eu senti de você, por vezes me deu até vontade de ir lá pras Europa pra te encontrar, mas aí eu lembrava que não tinha um tostão furado no bolso - ele riu e continuou falando - Sabe que... quando eu soube que tu tava voltando, rapaaaz eu fiquei feliz demais, já comecei a planejar a viagem de volta pra cá. Cheguei aqui ontem, passei o dia todo esperando por hoje, mas aí quando eu já tava pra sair, eu fiquei meio encucado... - ele disse.

— Encucado com o que, João? - perguntei me desfazendo do abraço pra olhar pro seu rosto com curiosidade.

— Ah... é que... ói deixe pra lá, é besteira - ele disse, envergonhado.

— Nada disso, Sr. João. Nem pense que vai parar de falar no meio da frase, agora que começou termine, não me deixe curiosa! - eu disse, um pouco aborrecida com sua demora. Ele continuou calado olhando pra mim, que nesse momento lhe lançava um olhar ansioso e um pouco irritado.

— Tá bom, eu vou continuar. Eu fiquei encucado porque só nesse momento eu percebi que... que tu não ia ser mais a velha Poliana, que você tinha crescido e... e que talvez a distância tivesse afetado nossa amizade. - ele disse e minha expressão se suavizou de imediato, senti meu coração apertar só de pensar que, enquanto eu mal passava um minuto sem pensar nele lá na França, ele estava aqui pensando que eu o tinha esquecido. Fiz menção de falar, mas ele quis continuar - Isso pode até ser meio doido, mas acho que quando soube que tu tava voltando, minha esperança era que você continuasse a mesma menininha que vi pela última vez, anos atrás. Achei que de alguma forma, a gente se encontraria e nada teria mudado, nós seriamos a mesma dupla dinâmica de anos atrás.

Levantei uma das sobrancelhas e perguntei - Ué, mas não foi exatamente isso que aconteceu? - ele balançou a cabeça.

— Nada disso, você mudou - ele respondeu.

— Mudei é? Pra mim eu continuo a mesma de sempre. Me diga então o que mudei! E não me venha falar que eu cresci, porque isso é fato. Estamos falando de mudanças interiores - disse, cruzando os braços.

— Ah, mas isso é fácil! Pra começo de conversa, a gente veio conversando do aeroporto até aqui, conversamos mais quando chegamos na padaria e durante todo esse tempo, a única vez que tu falou do jogo do contente foi nestante - ele me olhou com olhar de vencedor e eu corei por perceber que ele tinha notado que eu não falava mais do jogo com tanta frequência quanto antes.

— Tá bem, você está certo. Eu deixe de mencionar tanto o jogo. - ele me lançou um olhar interrogativo.

— Oxe, mas por que? - puxei uma mecha solta do cabelo para atrás da orelha e disse:

— Ah João. As pessoas não gostam de quem fala demais e muito menos de quem fica dando lição, aprendi isso a duras penas - eu disse e ele riu.

— Tá vendo, mais uma diferença em você, agora tu se preocupa com o que os outros pensam. Antigamente, tudo que você fazia era ajudar os outros, mesmo que eles reclamassem. E era certo, porque o jogo  mudava a vida deles, mesmo que eles dissessem que não gostavam da sua insistência.

Ele estava certo, mas eu não conseguia mais ser assim - Mas tu ainda faz o jogo, num faz? - ele perguntou com o rosto um pouco apreensivo. O olhei com surpresa de ele ter pensado o contrário.

— Mas é claro né, João. Não sei como teria sobrevivido por 4 anos em um país distante de todos que conhecia sem jogar o jogo. Eu só não o divulgo tanto quanto antes, nem fico repetindo pra mim mesma, coisas como "Ah tudo bem se acabei de perder o ônibus da escola, pelo menos posso ficar aqui olhando para a paisagem por mais tempo" ou "É uma pena que eu não seja tão boa dançarina, mas melhor assim, porque quanto mais difícil for aprender, mais feliz vou ficar quando aprender" - eu falei, enquanto imitava a pequena Poliana, João gargalhou.

— Ah, eu duvido que tu não fale mais isso, nem que seja de vez em quando. - ele disse com um sorrisinho acusador na cara.

— Tá bem, às vezes eu digo. Mas me diga, João. Eu tenho quase 18 anos, diga com sinceridade, você não acharia cômico alguém desse tamanho falando desse jeito?

Ele abriu a boca pra falar, mas provavelmente lembrou que eu havia pedido sinceridade e tentou segurar o riso - Ói, eu confesso que tava um pouco aperreado com a possibilidade de tu ainda falar daquele jeito de antes. - ele falou e eu gargalhei.

— Viu só, até você que estava com tanto medo que eu crescesse, estava com receio de que eu fosse aos 18 anos como eu era aos 12 - ele pareceu um pouco preocupado com a possibilidade de isso me magoar.

— M-mas, não pense que isso me incomoda, na verdade, eu achava uma graça toda vez que tu falava daquele jeito, eu nunca pensaria daquela forma e quando tu me falou do jogo,  por muitas vezes me peguei falando comigo mesmo desse jeito. Se não fosse por você e pelo jogo, acho que também não teria sobrevivido as dificuldades que passei. Não sei se já te agradeci por isso, mas obrigado, obrigado por tudo. - ele deu um sorriso sincero e percebi seu rosto ficar um pouco vermelho. Sorri e não tive como evitar a emoção por perceber que o jogo realmente tivera um papel importante na vida de outra pessoa. O abracei novamente e foi tão bom quanto todos os outros, pouco tempo depois, a banda dos meninos estava de volta.

— Rapaz, eu tô é com o bucho roncando, bora lá na padaria pegar alguma coisa pra comer? - ele perguntou, com a mão esfregando a barriga. Eu sorri e disse:

— Vamos.

No caminho para a padaria eu disse - Você fica aí falando sobre como eu mudei, mas você mudou também viu? - eu sorri.

— Eu mermo não! Continuo o mesminho de antes - pelo jeito que falava ele parecia ter plena certeza de que não tinha mudado mesmo, olhei pra ele e se não fosse pelos olhos brilhantes, o sorriso cativante e o cabelo encaracolado, não diria que era a mesma pessoa. O João tinha mudado tanto, mas não achei que ele iria aceitar as mudanças físicas como resposta.

— Primeiro que você tá mais sério do que antes, por mais que ainda seja meio palhaço, você não faz mais brincadeiras a todo o momento - ele riu, aparentemente aceitando aquilo como resposta.

— Seu jeito de falar também mudou um pouco, sinto até falta de algumas gírias que você costumava usar e que até agora não falou - ele pareceu surpreso por eu ter notado.

— Arre-égua! Mas isso aí não vale, eu ainda uso todas, mas não com tanta frequência. Quando cheguei no ensino médio os professores ficavam dizendo pra eu falar que nem gente, senão ninguém ia me entender, eu claro, não parei de falar, mas num é por isso que eu vou falar direto - ele disse, senti pena por ele ter que se conter pra não falar do jeito que ele sempre falou.

— Que horror, João! As gírias já fazem parte de quem você é, você não pode deixar de usá-las só por causa de uns professores que não sabiam apreciar os diferentes dialetos do nosso país - ele sorriu.

— Eita que tu falou bonito agora! Não se preocupe não que eu num vou deixar de falar assim. Mas me diga uma coisa, esse seu discurso bonito aí, também podia se aplicar ao jogo do contente, não acha? - ele sorriu com expressão vitoriosa e eu me rendi.

— Tudo bem, você venceu. Vamos fazer assim, eu nunca vou deixar de jogar o jogo do contente e você nunca vai deixar de usar as suas gírias, certo? - estendi a mão para fechar o acordo, ele fez o mesmo e apertou minha mão.

— Tá certo. Eu nunca vou deixar de ser eu e você nunca vai deixar de ser você - nós gargalhamos diante da afirmação óbvia que ele tinha feito.  

A noite rapidamente chegou, aproveitei bastante a festa, matei a saudade de todos aqueles que tanto senti falta. No fim do dia estava exausta, acabei ficando pra dormir na casa do Tio Durval e da Tia Cláudia. O Luigi e o João foram os últimos a sair da festa, a Kessya iria ficar com a gente na casa dos meus tios. Transformamos a sala em um dormitório, espalhamos colchões por todo lado e fizemos a nossa própria festa do pijama. Depois de jantarmos, fomos todas (eu, Kessya, Lorena, Raquel e Yasmin) para os colchões e colocamos algum filme pra assistir, mas é claro que o filme iria ser deixado de lado, porque a gente queria mesmo era conversar.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Espero que tenham gostado! Agradeço se puderem comentar o que acharam e qualquer sugestão será considerada! Obrigada por lerem! E até o próximo capítulo.



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