Venha Comigo. vol 2: Onde Está o Doutor escrita por Cassiano Souza


Capítulo 4
Lutando


Notas iniciais do capítulo

Está sendo bem fácil escrever esta história, são capítulos mais curtos, então tem plots mais compactos e simples para mostrar. Gostei do capítulo, foi o mais rico em conteúdo até agora. Espero que goste, boa leitura.



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Em fuga de uma grande e ameaçadora nave armada até os dentes, em um sistema cósmico distante, a TARDIS corria furiosa, enquanto tentava não ser abatida por seus disparos mortais, e passava raspante por entre alguns enormes emaranhados de asteróides. Lá dentro, o Doutor e Grace tentavam conter aquela situação, com o Doutor operando os controles do console, e Grace lhe dando mãos extras.

— Essa alavanca não, Grace!

— Qual então? Essa aqui? - Operava do outro lado do console.

— É, bom trabalho!

— Já podemos nos desmaterializar agora?

— Não. Eles estão linkados à TARDIS, por onde nós formos eles também irão!

— E agora? Viajaremos até a morte?!

— Possivelmente. - Continuava a manusear.

— "Possivelmente"?! Este é o momento para tentar me confortar!

— Grace, eu não sei exatamente o que iremos fazer! Mas acalme-se, já posso estar pensando em algo.

Diversos disparos passavam de raspão à cabine.

— E você poderia definir este “algo”?

— Grace, você confia em mim?

— Não tenho outra escolha, e você já sabe, é claro que eu confio em você!

— Ótimo, pois você terá que fazer uma coisa. Aperte aquele botão!

— Esse aqui? - Grace, então cumpria a ordem.

— Não! Nunca os verdes.

E dois projéteis enormes a laser atingiam a pobre cabine. Grace, se desperta assustada, havia tudo sido um sonho. E respirando ofegante enquanto encarava o despertador, notava que já era a hora de mais um plantão. Enquanto Grace se preparava, e logo ia trabalhar continuando a pensar no Doutor, Sophie já no café da manhã também continuava a pensar em quem havia perdido:

 — Não havia um quadro naquela parede, Eddie? - Pergunta ao marido lendo jornal.

— Claro que não, por que haveria um quadro ali?

— Fotos de família.

— Família?! Da de quem? - Sophie, apenas dá um leve gole em seu café.

E de sua banca, Mark, também pensando em que havia perdido continuava a vender revistas e jornais com um sócio. De olhar distante, ele admirava uma aliança.

— O que é isso aí Mark? - Pergunta o sócio, ajeitando os jornais. – Vai pedir alguém em casamento? Espero que não seja eu.

— Não, só se o seu nome for Jenny Faustin.

— Nunca ouvi falar. É nova no bairro? 

***

Pessoas diferentes, vidas deferentes, e problemas iguais, o que faria isso? Era em busca desta resposta que voltando agora do plantão já quase anoitecendo, Grace preparava o carro para mais uma caçada.

— Oi, Grace. - Era Tim vindo até ela, com as mãos tímidas nos bolsos da calça.

— Oi. Tudo bem? 

— Tudo ótimo. Eu... Eu estava pensando, aquele dia acho que o nosso jantar não foi tão legal. Então... Que tal a gente sair outro dia? Hoje, ou amanhã, ou qualquer outro dia, se... Você quiser.

— Tim, realmente terei que dizer que... Não vai dar. Sou a senhora sem tempo.

— Eu sei, e eu o senhor. Mas está preparando o carro, você vai... Sair com alguém?

— Vou viajar, tenho folga amanhã. Vou eu e uns amigos do... Umas amigas da biblioteca.

— Acho que será legal. O jantar pode ficar pra próxima então. - Disse, tentando não parecer desmotivado.

— É.

— Boa viagem. - Acenou tristonho.

— Obrigada, a gente se vê por aí. O hospital é todo seu.

— Nem me fale. Tchau.

E fechando a garagem, partia Grace em seu carro, ao encontro de Mark e Sophie. Tim, apenas encarava o distanciamento do veiculo:

— Tudo bem, pelo menos ela dispensa com gentileza.

Vindo lentamente, um carro preto aproxima-se dele, e da janela do motorista, um sujeito careca e de óculos escuros encarava a casa da doutora.

— Posso ajudar, amigo? - Pergunta Tim.

— Por acaso esta é a casa da doutora Grace Holloway?

— Sim, é essa. Mas ela acabou de sair.

— Sair? E para aonde ela foi?

— Não sei. Ela só disse que iria sair com uns amigos. O que queria?

— Digamos que... Ela possui algo que nos interessa.

— Bom, eu posso então deixar algum recado se quiserem, nós nos vemos quase todos os dias.

— Neste caso, acho que até você possa ter o que desejamos.

— "Algo que desejam"?! Eu não estou entendendo essa conversa.

— Ok, explicaremos melhor.

Tim continuava desentendido.

***

E já seguindo viagem junto com Mark e Sophie, Grace partia para a região agrícola de Sausalito, uma cidade localizada na área da baía de São Francisco. Havia sido em uma plantação de trigo naquela área que o grupo Os Que se Lembram havia encontrado o objeto desconhecido, que guardavam acreditando ser uma prova da existência dos seus inimigos. Mas, agora já não existia trigo plantado, o que havia ali agora era um milharal enorme, e, com um enorme agro-grifo sobre ele. Esses três amigos investigariam esta área, e os outros membros vasculhariam por outras, pela Califórnia afora. E pondo alguns refletores de luz envolta do ambiente, iluminavam a área. Sophie e Mark, preparavam alguns equipamentos estranhos sobre uma mesa dobrável, e Grace apenas encarava admirada a dedicação daquele vendedor de banca e da dona de casa, haviam se tornado ufólogos praticamente.

— Vocês parecem os caça fantasmas. - Comentou a médica. – Onde conseguiram tudo isso?

— Talvez sejamos amigos do pessoal da Área 51. - Blefa Mark.

— Engraçado.

— Ou talvez... Nós tenhamos economizado bastante e nos tornado amigos dos malucos da ufologia.

— Mais convincente agora.

— Venha aqui, Grace. - Chama Sophie. – Eu vou te apresentar aos nossos camaradas.

— Os alienígenas?!

— Os equipamentos. Veja este. - Apontava para cada um. – Este é o nosso medidor de radiação, se ela oscilar por alguma atividade desconhecida então já é uma grande evidencia. E este, é o medidor eletromagnético, capta possíveis interferências no campo.

— O Doutor gostaria disso. Ficaria babando na verdade.

— E isto que o Mark está preparando é o sensor a laser, vamos por envolta do círculo.

Mark começava a instala-los.

— Sei que acharam aquele objeto aqui, mas e se este novo círculo for uma fralde, já pensaram? Muitos deles são. - Propõe Grace.

— E se alguém parasse a cada problema e nunca mais resolvesse seguir em frente? - Indaga Mark.

— Tudo bem, eu sei, é só o que temos. Me desculpem pelo meu ceticismo.

— Eu também pensava assim no inicio. - Dizia Sophie. – Eu não imaginava e nem queria pensar em alienígenas, eu achava que seriam apenas pessoas de mal caráter que haviam levado a Suzane.

— Sim, este mundo já tem as suas próprias ameaças.

— Mas neste caso é totalmente alienígena. - Diz Mark. – Afinal, como explicar as pessoas sumindo e levando toda a história que viveram junto com elas?

— Então temos que discutir isto de uma forma mais exata, por qual motivos vocês acham que os alienígenas fariam isso?

— Experimentos. - Propõe Sophie.

— Experimentos? E fazendo isto durante décadas? Não, são avançados, já teriam encontrado o resultado esperado.

— Então acham que nós somos alguma ameaça, já fomos até a lua.

Grace tentava não rir:

— Sophie, muitos alienígenas lá em cima são simpáticos, e muitos são terríveis, mas todos tem algo em comum, são arrogantes. Somos ameaças apenas para nós, e somos um bando de macacos primitivos para eles.

— Isso é humilhante.

— Pois é, você se acostuma.

— Acho que querem nos colecionar. - Coloca Mark.

— Essa é nova. Conte mais.

— Pegam alguém aleatório e levam ele, e então mudam as nossas vidas, para acharmos que tudo está normal, e acabarmos ignorando.

— Não, se for assim por que também não apagam as nossas memórias? Sabem que procuraríamos pelos outros.

— Porque querem nos ver caça-los, acho que isto também é um jogo.

— Faz sentido pra mim. - Diz Sophie.

— Um jogo? - Indaga Grace. – Não, não pode, porque... Como alguém seria o vencedor? Como isto aconteceria? Encontrando o desaparecido? Eles deixaram de existir! Não é nada disso.

— Tudo bem, Grace, isso é tudo o que eu acredito, mas... Eu não sei responder, nós não sabemos! E na verdade, você é quem devia ter as respostas.

— Eu?! Por que eu deveria? Eu estou tão perdida quanto vocês!

— Porque não foi você quem já saiu por aí viajando com um ET em seu disco voador?!

— É uma cabine de policia! Mark, o que você tem?

— Eu já estou cansado do menosprezo de todos, o que acreditamos pode ser loucura para muitos mas é só o que temos para nos apoiar. Me desculpe se eu te ofendi, mas sou só um vendedor de jornais e não aguento mais isso, eu só quero a minha antiga vida de volta, então não me importo com quantas teorias malucas irei ter de acreditar.

— Eu sei, todo mundo quer a sua antiga vida de volta, mas, para isso, teremos que confiar no que já desprezamos. Como era a sua antiga vida?

— Não importa.

— Importa. Mas é pessoal, eu entendo, não precisa me contar. 

— Era difícil, se quer saber.

— Hum... Defina “difícil”.

— Você já amou?

Grace suspira pensativa, era uma pergunta que ela não imaginava receber assim.

— Bem... Talvez, possivelmente. Já passei por muitas experiências.

— E você sempre foi aceita na família de quem amava? Eu não.

— E por que alguém não te aceitaria? Você é um rapaz incrível!

— Mas não sou bem sucedido.

— Não acredito que eu ouvi isso. Alguém bem sucedido para você é o que então? Necessariamente alguém com um carro ou uma casa legal? Saiba que quem te maltratou por isso é um belo e grande idiota.

— Você é médica, não sabe o que é ser olhado de cima até em baixo com um olhar cheio de repudio!

— Sei, eu sei sim o que é isso. Mas não sou médica por que queria uma bolsa chique ou uma super conta no banco, sou médica porque queria ajudar pessoas que talvez já tivessem passado pela mesma dor que eu senti.

— E que dor você sentiu?

Grace não consegue responder, algo muito doloroso em seu passado havia acontecido, e seria este o principal motivo da escolha de sua carreira. Com os seus olhos, apenas tristeza era vista.

— O que é isso? - Sophie apontava para o chão, e Mark recolhe depressa a sua caixinha de aliança.

— Não é nada. - Responde o rapaz. 

— Foi a pessoa que usaria isto que acabou sumindo da sua vida, não foi? - Pergunta Grace.

— Talvez.

— Eu sinto muito.

— Era para a Jenny.  

— Você é muito jovem. Já eram casados?

— Íamos, somos noivos. Já foi tão difícil noivar, e depois...

—  Não fique assim. Mas e a família dela, não se lembra de nada?

— Nada, e me odeiam muito mais agora. - Tentava sorrir.

— Ok, sorrir faz bem, vamos mudar de assunto.

— Tem alguma coisa aqui! - Diz Sophie olhando assustada para o milharal.

— Se tiver não pode ser alienígena, não há alterações nas medições eletromagnéticas e radioativas. - Mark analisava os instrumentos.

— Mas tem algo aqui! Não estou mentindo. - Luzes se aproximavam pela plantação.

— Acalme-se, Sophie. - Pede Grace - O Doutor me ensinou que para 95% das raças extra-terrestres existe uma saudação de paz muito simples.

— E qual é?!

— É... Hanahehoza!

As luzes já estavam bem em frente:

— Sei, mãos para o auto. Aqui é a polícia.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Era para este capítulo ser algo bem didático na verdade, mas acabou sendo mais dramático. Eu estava pensando em apresentar um monte de teorias malucas daqui da vida real, e explicar um monte de coisas sobre círculos nas plantações, mas vi que não teria nada a ver, ficaria maçante talvez.
Mas aqui estão algumas coisas que seriam citadas:
( 60% dos círculos surgem após uma noite chuvosa, mas não são encontrados rastros de pessoas ou carros.)
( Doug Bower e Dave Chorley afirmaram para a mídia inglesa em 1991 que os círculos de Yorkchare de 1978 até 1991 foram feitos por eles, usando uma ferramenta de taboas e cordas, mas fizeram isso inspirados nos círculos australianos de 1966.)
E muitos ufólogos dizem que apesar de muitos serem fraudes, muitos também são impossíveis de terem sido feitos por pessoas, devido a forma que a plantação foi afetada, como até a mudança do estado do solo, vegetação, substancias improváveis de serem locais, e o formato calculado milimetricamente de diversos formatos sofisticados dos agro-grifos.
Porém, praticamente todos estes casos de círculos de agro-grifos até hoje só apareceram em plantações com uma má segurança, ou seja, muitas até sem cercados, dependendo da localidade. Isto sugere então que seriam fraldes mesmo.
O capítulo terminaria em outra versão com ao invés de policiais o exercito aparecendo, e capturando os três. Então muitas coisas aconteceriam e seria até legal em alguns pontos, mas me atrapalharia em outras coisas, e estragaria um certo fundo que quero dar a uma personagem que ainda vai aparecer.
E espero que a carga emocional da história esteja sendo pelo menos OK até aqui.
O Hanahehoza foi uma mistura das iniciais de algumas palavras em várias línguas como, hello, hallo, zaijian, namaste, hola e olá, é que eu não gosto de tirar as coisas do nada, gosto de sempre retirar aquilo de algum fundo. E Sausalito também existe de verdade.
Outra coisa sobre o capítulo é que ele seria apenas uma pequena cena contada em narração, e o seu resto seriam as partes do que será o capítulo 5, mas mudei de ideia pois achei que existia sim muita coisa para ser mostrada aqui.