— Lene, juro que não faço ideia do que levar – Lily disse exasperada, desarrumando seu guarda roupa.

Marlene estava no quarto da ruiva, ela havia dormido na casa da amiga na noite anterior. Agora Lily estava arrumando suas coisas, pois tinham combinado de passar a virada do ano com os amigos em uma casa no lago dos pais de Marlene. A loira, que já tinha ido para a casa da amiga com as suas coisas prontas, achava graça do descontentamento da outra.

— Lily, você sabe que estaremos no meio do mato. É só levar umas roupas confortáveis e a roupa que vai usar hoje à noite.

— Eu sei, mas é a primeira viagem que eu e James fazemos como um casal e minhas roupas parecem todas sem graça agora.

Marlene riu.

— Relaxa ruiva, essas roupas que você separou estão lindas! Além do mais, James te acharia maravilhosa mesmo que estivesse enrolada num saco de lixo.

Lily riu e empurrou de leve o braço de Marlene.

— Eu falo sério McKinnon.

— E eu também! Eu tenho certeza que James vai babar quando te ver assim – Marlene apontou para a roupa que a amiga usava, que se tratava de um vestido soltinho, em um tecido brilhoso e escuro.

— Você acha mesmo? – quando Marlene acenou positivamente, Lily se deu por vencida e foi retirar a roupa que usaria mais tarde, para guardá-la junto com o resto das coisas que levaria.

— Agora se apresse, porque James insistiu que era para chegarmos antes do almoço, já que queria que passássemos a tarde juntos.

— E quem é que vai cozinhar? Ele? – Lily perguntou a olhando desconfiada.

— Merlin não deixaria uma desgraça dessa acontecer – Marlene fez uma careta. – Ele e Sirius disseram que iriam atrás de algo, não sei se isso me alivia ou me deixa com mais medo. Pelo menos para o jantar já está tudo certo...

Lily deu risada confirmando com a cabeça.

— Ainda bem que você e sua mãe quem viram nosso jantar de Ano Novo, porque se estivesse na obrigação de James e Sirius sabe-se lá o que eles iriam arrumar para gente.

Marlene murmurou em concordância enquanto ajudava Lily a terminar de organizar as coisas que levaria. A loira havia rido da preocupação de Lily em estar bem e bonita para o James, mas o que a amiga não sabia é que Marlene esteve tão ou mais preocupada quando arrumava sua própria mala.

Ela e Sirius haviam se visto durante toda a semana que se passou desde o Natal ao Ano Novo, e ela sequer conseguia esconder a felicidade que estava por ter tais momentos com o garoto. Desde a troca de presente entre eles, em que ficou explicito para ambos que as caricias e beijos trocados não se tratavam apenas de um simples fingimento, mas que o desejo dos dois por mais contato era bem real e recíproco, eles não perdiam a oportunidade de aproveitar desses momentos a dois. Porém, aquele dia também parecia ter sido selado um acordo mudo de que não discutiriam ou tentariam entender sobre o que de fato estava rolando entre eles.

Para Marlene, tal acordo estava mais do que bom. Ela estava adorando o que quer que estivesse acontecendo entre ela e Sirius, e não queria gastar sua energia pensando a afundo sobre o que estavam fazendo, quando poderia usar essa energia para beijá-lo. Era uma troca bem simples para ela. Marlene não sabia se era por causa do clima de férias ou pelo fato de estarem fora da escola e longe de todo o resto que o cercavam, mas as coisas pareciam estar funcionando bem do jeito que estavam, talvez quando voltassem a Hogwarts ela parasse para analisar de verdade toda a situação.

Quando Marlene e Lily chegaram à casa, os Marotos já estavam no local, muito bem adaptados, Marlene diria. A loira viu Lily corar da cabeça aos pés quando um James sem camisa, foi muitíssimo animado cumprimentá-la. Marlene não pôde deixar de rir da cara da amiga.

— A ruiva não se acostumava, né? – Sirius disse risonho.

— E eu acho que nunca vai – Marlene completou.

Sirius sorriu e em seguida colou os lábios nos dela, num longo selinho.

— Vocês demoraram! – ele acusou.

— Dessa vez não foi minha culpa – a garota se defendeu e Sirius apertou os olhos em sua direção. Marlene suspirou irritada, sabia que não tinha moral para reclamar, porque de fato sempre se atrasava, mas odiava a fama que tinha. – Falo sério, Lily não estava gostando de nenhuma das roupas.

Sirius deu uma risadinha, que Marlene julgou muito irritante, e beijou-a novamente,

— Eu adoro quando você faz essa sua cara de emburrada! – ele disse, ainda com o rosto dela envolto em suas mãos. – Agora desfaz esse bico, vou te ajudar a levar suas coisas para cima.

Marlene apenas o seguiu, já que o garoto pegou tudo o que ela tinha de bagagem, e o acompanhou até o piso superior, cumprimentando Remus e Peter no caminho. Sirius adentrou o quarto da garota e deixou as malas dela no chão ao lado da cama, para em seguida se jogar na cama.

— Como você sabia que esse é meu quarto? –  Marlene perguntou desconfiada.

— James fez um tour pela casa com a gente! Mas ele também tem a sua cara – Sirius respondeu e esticou as mãos na direção da garota – Vem cá!

A loira aceitou o convite mais do que satisfeita e se deitou na cama ao seu lado, mas Sirius a puxou para que ela apoiasse a cabeça em seu peito.

— Como foi na casa da Lily?

— Foi legal! Mas não fizemos nada demais, Lily colocou alguns filmes trouxas para assistirmos. Petúnia, a irmã da Lily, estava lá com o noivo esquisito dela, sendo desagradável como sempre. – Sirius deu risada. – Sério, ela age como se eu fosse uma bomba prestes a explodir!

— Não que ela esteja de tudo errada também, não é? – o garoto respondeu risonho e Marlene deu um tapa em seu ombro. – Estou brincando! Mas pelo que já ouvi a respeito dela, me parece que não lida muito bem com o nosso mundo.

— Nada bem mesmo! E Lily ainda contou que elas ficaram de marcar um encontro de casais no próximo feriado, para que James possa conhecer o cara. Se ela pega no meu pé e eu nem faço nada, imagina quando passar algum tempo com James.

— Coitada da ruiva, que vai ter que ficar no meio disso tudo.

Marlene concordou com a cabeça.

— Mas e vocês, o que fizeram?

— Ah, nada muito diferente do habitual. James estava empolgado planejando as coisas para hoje. Inclusive, essa casa dos seus pais é muito legal, hein?!

— Sim, eu amo vir para cá. James e eu sempre ficava enchendo o saco dos meus pais durante as férias.

— Se eu soubesse que o que eu poderia encontrar aqui era tão interessante, teria forçado James a me trazer em outras oportunidades! – Sirius encarou a garota com um olhar sugestivo. Marlene deu risada.

— Quem você está querendo enganar? A gente teria se matado em outras oportunidades!

— Não estrague minha tentativa de flerte, McKinnon!

Sirius e Marlene continuaram entre conversas e beijos, (muito mais beijos que conversas), até que James irrompeu pelo quarto da garota os convocando para o almoço, recendo em troca um travesseiro na cara de Sirius, que não ficou muito contente em ser interrompido.

Marlene e Lily descobriram mais tarde que o almoço que James e Sirius haviam reservado para eles, era na verdade alguns sanduiches. Marlene até teria reclamado, mas não se sentia em posição para tal, porque qualquer coisa comível era melhor do que algum especiaria preparada pelos dois.

Eles passaram o restante da tarde juntos no quintal da casa dos McKinnon. Sirius, James e Marlene insistiram incansavelmente para que Remus se juntasse a eles em uma partida de quadribol improvisada, que acabou se dando por vencido e aceitou o convite. Peter observava atentamente os amigos, sempre rindo do que James e Sirius falavam, enquanto Lily lia um livro e vez ou outra prestava atenção no jogo, quando os ânimos ficavam mais exaltados entre Marlene e James, que estavam em times diferentes.

***

Quando o fim da tarde foi se aproximando, Marlene e Lily se trancaram no quarto da garota para que pudessem se arrumar. A loira fez tudo o que tinha direito. Passou uma maquiagem para realçar seus traços, escovou os cabelos e colocou o vestido brilhoso que havia separado para a ocasião, que era para ela muito especial, pois adorava o clima de ansiedade e esperança dos quais eram envoltos na virada do ano.

Ao conferir seu visual no espelho pela milésima vez, ela deu um sorriso satisfeito. Marlene não fazia o tipo convencida, mas ela não poderia negar que estava muito bem.

— Está tão bonita que nem você consegue resistir, é? – ela deu um pulo ao ouvir a voz de Sirius.

Marlene se sentiu mais quente que o normal por ter sido pega se admirando e teve que controlar-se para não corar. Mirou o garoto que estava encostado na porta de seu quarto e suspirou.

— Quer me matar de susto?

— Jamais! Seria até pecado fazer uma coisa dessa. – ele se aproximou de Marlene e colou seu corpo com o dela, a abraçando por trás e olhando-a pelo espelho. – Só vim saber se estava tudo bem... Alice e Frank já chegaram.

— Eu já ia descer, só estava passando um perfume.

— Está muito cheirosa, por sinal! – ele sorriu de lado e quebrou o contato visual através do espelho e deslocou sua atenção ao pescoço da garota. Marlene assistiu a Sirius umedecer os lábios para em seguida depositar alguns beijos em seu pescoço.

Marlene sentiu o corpo inteiro arrepiar e arfou com o contato. Sirius soltou uma risada baixa, contra a pele dela.

— Inclusive, se não estiver com pressa podemos perder um tempo aqui. O que acha?

As pernas da garota falharam e um calor irradiou por todo seu corpo. Ela até cogitou a proposta, mas sabia que James não daria um pingo de privacidade se notasse que eles levaram mais tempo do que deveriam sumidos.

— Eu adoraria! Morgana bem sabe o quanto – Marlene mal terminara de falar e Sirius a virou para que pudesse beijá-la, mas ela desviou o rosto sorrindo marota. – Mas não posso fazer desfeita com o pessoal.

Ela completou e deixou um selinho nos lábios do garoto. Quando Sirius tentou aprofundar o beijo, ela se afastou sorrindo.

— Quem sabe mais tarde, se você estiver merecendo... – ela soltou a frase com um ar malicioso.

Marlene teve que correr para fora do quarto, pois Sirius tentou puxá-la de volta para os seus braços. Ela chegou na sala levemente ofegante.

— Alice e Frank! – ela cumprimentou sorridente o casal – Que bom que vieram!

— Está feliz, hein amiga – Alice falou risonha, desviando seu olhar para Sirius que também se aproximou para cumprimenta-los, ao mesmo tempo em que ele passava os braços envolva da cintura da loira, apertando levemente.

— Cinco minutinhos perdida em algum canto com o Sirius e ela fica assim, sorrindo até para os duendes do jardim – Lily disse.

Marlene revirou os olhos, mas não negou. Sirius soltou uma risada aberta.

— Ah, Lily. Cala a boca! Sabe que ele não precisa de muito para ter o ego inflado e você ainda contribui.

O grupo de amigos passaram uma noite tranquila juntos, todos se divertiram muito. Quando estava chegando perto da meia noite, eles foram para a parte externa da casa para que pudessem observar os fogos.

Sirius envolveu a cintura de Marlene com as mãos e sorriu para ela. Marlene sorriu de volta. Sentiu seu coração se contorcer em seu peito com a visão que estava tendo, Sirius Black a olhando com uma intensidade da qual ninguém jamais havia a olhado, os olhos cinzentos brilhando entre a luz da lua e dos fogos, com um sorriso amplo e verdadeiro que fez suas pernas bambearem. Quando o barulho dos fogos se tornou quase ensurdecedor, apontando havia virado meia noite, o garotou colou seus lábios por um longo momento.

Marlene não gostava dos clichês, mas sentiu-se verdadeiramente feliz por estar com Sirius naquele instante.

— Sabe, neste ano que se passou eu me sinto grato por termos inventado essa loucura, porque assim tive oportunidade de te conhecer de verdade e te ter por perto – ele confessou baixinho. Marlene sorriu, se sentindo muito sortuda.

A garota aproveitou o resto da noite com Sirius, que não pôde deixar de cobrar sobre a promessa que ela deixara implícita mais cedo naquela noite. A loira, nenhum pouco contrariada, acabou se desculpando com Lily e avisando a amiga que não poderia mais dividir o quarto com a mesma, pois tinha outros planos.