The Bride escrita por Lady Nymphetamine


Capítulo 1
Despedida de Solteira




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Todas as despedidas de solteiro são iguais. Os homens seguem para os bordéis, para boates, ou para casa dos amigos, acompanhados de seus padrinhos, para lugares em que chamam belas garotas, muitas vezes prostitutas, para vê-las tirar as roupas e dançar de forma sedutora, para alugar os seus corpos por uma noite. As mulheres, por sua vez, têm o dever de serem mais recatadas, menos ousadas, contentando-se, no máximo, com um rapaz que vai tirar apenas parte da roupa, nada muito revelador, pois, se o noivo vier a descobrir, não pode ser algo que vá acabar com o casamento. O homem pode trair a esposa nesta noite, é socialmente aceito, mas a mulher jamais, ela deve se preservar pura para o seu marido. Tradição idiota, criada por pessoas idiotas e mantida por casais mais idiotas ainda.

Talvez por isso tenha achado tão estranho quando esta garota chegou em uma casa, um local muito bonito e imponente, de pessoas claramente ricas. Sentia-se destoando brutalmente de tudo aquilo, a começar pelo carro, que só falta desmontar cada vez que o dirigia. Ainda assim, ela fora contratada e tinha que atender ao cliente, logo ia entrando na propriedade, levando sua maleta com as roupas e os apetrechos. Chegando à porta, uma jovem, deviam ter a mesma idade, a recepcionou.

— Nico? - Teve um aceno positivo de cabeça em resposta. - Ela chegou!

Gritou para os que estavam do lado de dentro da casa. A moça então conduziu a visita através da entrada, até um quarto privado que poderia utilizar para se arrumar para o seu número.

— E o noivo? Qual o nome dele?

A contratada perguntou enquanto ia abrindo a maleta e tirando a roupa que pretendia usar para o seu show, porém suas palavras fizeram a garota que a havia recepcionado rir.

— O noivo está em outro lugar com os amigos fazendo a despedida dele. Aqui é a festa da noiva, Amy.

Estas palavras fizeram Nico erguer uma sobrancelha, demonstrando confusão, porém logo pareceu entender:

— Ah sim…

A noiva deveria ser bissexual ou ao menos bi-curiosa, por isso havia contratado uma mulher para sua última noite solteira. Mas a outra erguia as mãos e balançava de forma frenética:

— Não, não! Temos um stripper homem para a noiva e para as damas! Você é para os rapazes que são amigos da noiva e que estão aqui.

Esse tipo de festa lhe era novidade. Estava acostumada a fazer despedidas de solteiro para homens, para lésbicas, mas nunca para uma noiva heterossexual. No entanto, não havia dinheiro que recusasse neste mundo. A jovem continuou:

— Um dos garotos te recomendou, disse que você era stripper e atriz pornô. Acho que todos eles já viram os seus filmes. Acho que até meu namorado já deve ter visto os seus filmes. Foi caro, espero que valha a pena.

— Pelo valor que estão me pagando, também está incluso sexo - Nico acrescentou.

— Isso, caso alguém queira. Quando estiver pronta, vou estar te esperando do lado de fora.

Com estes dizeres, deixou a stripper no quarto. Esta não demorou para ficar pronta, trajando um apertado corpete vermelho que fazia os seus seios saltarem, além de uma calcinha da mesma cor, ligas e meias pretas, comprida bota de couro, luvas negras. Somado a tudo isso, uma maquiagem forte, lindos cabelos loiros e parcialmente presos para não atrapalhar na sua performance no pole. A garota a levou para o que parecia uma boate dentro da casa, um espaço bem equipado com acústica, caixas de som, iluminação de festa, muitos espelhos e, o principal, um palco com um poste para se apresentar. Havia também outras pessoas ali presentes, convidados, presumia, devido às roupas boas, ao vinho e uísque de marca que bebiam. Várias moças com cara de endinheiradas e poucos rapazes. Um homem forte a esperava junto ao pole, deveria ser o seu colega de profissão.

— Nico!

Ela escutou chamarem o seu nome da platéia, ao que apenas acenou com um sorriso. Sabia que deveria ser minimamente simpática com quem estava lhe pagando e um serviço deste tipo era muito mais agradável do que trabalhar num bar com homens velhos e nojentos pegando-a, tocando-a a todo momento. Ao menos aqui eram jovens. Uma vez que os dois dançarinos já se encontravam prontos e a postos, os amigos da noiva iam se aglomerando em sofás e poltronas. A dona da festa era trazida vendada, diferenciada por um véu branco que usava nos cabelos ruivos representando o matrimônio. Ela foi sentada e uma das madrinhas colocou uma música sensual. Agora sim o show tinha o seu início.

O rapaz stripper foi para perto das moças e tirou a venda da noiva, dando início à sua performance, que incluía tirar as roupas e ficar com uma cueca bem apertada. Nico escutava os gritos das mulheres, deveria ter também algum homem no meio, mas não dava muita atenção. Ela estava mais ocupada com os jovens que vinham para perto de seu palco, segurando as notas de valores baixos. O chicote em suas mãos estalou uma vez no chão, então foi usado para enlaçar um deles e puxá-lo para perto. Ela pegou a nota com a boca. Deu continuidade à sua dança, ao que o corpete ia parar no chão. Sua platéia a desejava, queria tocá-la, ela sabia, mas também sabia que deveria manter uma distancia e que isto instigava a mente e fazia com que pagassem ainda mais. Subiu então no pole e, enquanto deslizava lentamente para baixo, os seus olhos cruzaram com os da noiva.

Era uma moça jovem, como os demais ali, com certeza não tinha ainda trinta anos. Ela olhava com grandes olhos e Nico conhecia este olhar não apenas de curiosidade, era algo que beirava fascínio. O stripper dançava quase nu perto dela e entretinha muito bem as amigas, mas o foco da noiva ia mais além, atravessando o salão. Não era algo exatamente incomum, mas certamente não era algo para se esperar em uma despedida de solteira, a não ser que seu primeiro palpite estivesse certo.

Depois de mais algum tempo, a performance acabou e Nico havia juntado algumas notas de valores altos o bastante para fazer valer a noite trabalhada. Ela retornou para o quarto em que havia se arrumado e trocou de roupa mais uma vez, tornando a parecer não mais um objeto de consumo, mas uma mulher. Uma das madrinhas a pagou o valor acordado anteriormente por telefone e a stripper foi saindo da casa bastante satisfeita com o seu resultado.

A porta mal havia batido atrás de si quando escutou que alguém andava por perto, falando com uma voz baixa. Nico sabia que não era problema seu, nem queria que fosse, mas então escutava um ruído, era algo que parecia um choro. Anos em clubes a ensinaram quando deveria e quando não deveria ignorar tais chamados, ao que se aproximou de onde vinha o som. De longe, ela viu a noiva, sentada em um banquinho, no jardim da casa, falando ao celular:

— Eu sei, eu sei, mas é só uma festa com os meus amigos! Você está numa festa com os seus amigos e nem venha dizer que não está cheio de mulher nua aí! - Ela parava por um instante para escutar a resposta. - Eu sei que está, não minta! - Outra resposta. - Se você pode, eu posso!

Desligou o celular e o jogou pelo gramado, bastante irritada, abaixando o rosto nas mãos e continuando a chorar. Não era como se essas coisas comovessem Nico, porém, era difícil ser tão fria quanto seria bom numa situar em que sentia uma pontinha de responsabilidade, pior ainda no caso de uma garota que não lhe fizera nada e provavelmente nem sabia que ela havia sido contratada. Assim, acabou por se aproximar:

— Posso sentar?

A noiva se assustou ao escutar a voz, poderia jurar que estava sozinha. Ergueu o rosto e, mesmo no escuro, poderia ser visto que estava vermelha e bastante constrangida.

— Desculpa - ela disse. - Não achei que alguém fosse escutar.

Mas a stripper parecia se importar muito pouco com isso:

— Amy, certo? - Confirmou o nome da jovem.

A noiva, cujos longos cabelos vermelhos estavam bagunçados sob o véu improvisado feito por suas amigas, os jogou para trás em uma tentativa de parecer menos patética, enquanto confirmava com um aceno de cabeça:

— É. Desculpe, eu não sei seu nome.

— Tudo bem, nem eu mesma lembro - falou rindo. - Todos me chamam de Nico.

— Nico… - Amy repetiu lentamente. - Sinto por ter presenciado esta cena patética. Aposto que sou a única noiva que briga com o futuro-marido na véspera do casamento.

— Não, não é - foi bem sincera em dizer. - Ficaria surpresa com quantos maridos e esposas brigam pelos mesmos motivos que vocês. Uma noite não definem quem vocês são. Eu já transei com noivos horas antes dos casamentos e ainda assim as cerimônias aconteceram e todos ficaram bastante felizes.

Amy fez um som que foi algo entre um soluço e uma risada:

— Parece tão fácil pra você.

— Deve ser porque eu não tenho um alguém para me preocupar.

— Ainda parece fácil - a noiva alargou o sorriso.

— Devia ver o meu carro, veria que nada é fácil - e indicou o que restava de um veículo antigo e castigado.

Finalmente Amy pareceu abrir um sorriso mais genuíno, mas logo essa felicidade parecia se esvaecer, sendo substituídos por um tom sombrio:

— Eu não quero ficar aqui e não quero voltar para casa para pegar as chaves do carro, ou ninguém vai me deixar ir e vão começar com as perguntas… Você me daria uma carona? Quero ir pra qualquer lugar, qualquer lugar menos aqui.


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