One in a Million escrita por sayuri1468


Capítulo 6
Finalmente, as pazes.




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Arnold acordou no dia seguinte com a cabeça latejando. Novamente, não havia conseguido dormir direito. Helga o amava, ela o amava. Esse pensamento por si só já era motivo para uma felicidade extasiante para ele. Porém, sempre que pensava no que as pessoas iriam achar deles voltarem depois de tudo o que aconteceu. Será que seus pais a aceitariam de novo? E Gerald e seus colegas de escola também aceitariam? Depois que Helga sumiu, Arnold foi consolado por todos e a ex namorada passou a ser considerada uma espécie de pessoa non grata nos primeiros anos. Depois que as teorias da conspiração começaram e Arnold e Lila começaram a namorar, as pessoas meio que perdoaram Helga. Mas o que elas achariam se assim que Helga reapareceu, eles voltassem?

Ele sabia que uma parte dele - uma grande parte - queria voltar com Helga e estar ao lado dela. Beijá-la, cuidá-la, amá-la. 

 

Outra parte dele achava aquilo loucura. Helga tinha acabado de voltar. Ela era uma pessoa totalmente diferente agora. Tinha vivido anos em outra cidade, namorado um cara mais velho que até tinha uma noiva. Fora ela ter fugido e passar anos sem se comunicar com ele. Por anos, Arnold achou que era culpa dele. Não que a família inteira tivesse se mudado por culpa dele, mas era culpa dele que Helga não tivesse entrado em contato todos esses anos. E apesar da explicação que recebeu, Arnold ainda sentia que era culpa dele que Helga o deixasse de fora da vida dela.

 

Arnold sabia que, se a decisão dependia dele, como Helga havia dito, ele precisava pensar a respeito do que era melhor pros dois. Ele não queria que os dois se magoassem novamente. 

 

Por isso, e só por isso, Arnold não correu para a casa de Helga e a encheu de beijos. Pelo contrário, apesar de tentar manter a relação mais amigável possível, porém, sem deixar nenhuma abertura para momentos em que eles ficassem sozinhos. Evitando assim novas confissões e amassos por parte deles.

 

Embora, Arnold assumisse, não era uma tarefa fácil. 

 

Só de ver Helga, só de ver seu sorriso, de ouvi-la cantar, de conversar com ela, rir das suas piadas, fazia Arnold querer abraçá-la. Todas as vezes que observava a amiga de esguelha na sala de aula, lembrava-se dos momentos que os dois compartilharam, dos beijos que trocaram e do momento em que quase...se não fosse pelos pais de Helga chegarem antes das carícias entra eles aumentarem, será que eles teriam ido mais longe? Arnold assumiu para si, com certo embaraço, que sim. Ele teria ido mais longe. 

 

Helga, por outro lado, manteve sua palavra com Arnold. Ela continuou a tratá-lo apenas como amigo. E Arnold notou que ela também evitava qualquer situação que deixassem os dois sozinhos. Todas as vezes que eles se encontravam, Phoebe ou Gerald estavam sempre presentes, e, pra surpresa de Arnold, muitas vezes com Rhonda e Sid. 

 

— A Rhonda me levou pra ver a banda rockabilly dele! - explicou Helga sobre Sid para a Phoebe, e Arnold ouviu de esguelha.

 

— Parece divertido! Ouvir dizer que eles são muito bons! - respondeu a amiga.

 

— Eles são mesmo! - respondeu empolgada - Vão arrasar no show! E olha é difícil entrar no meu gosto!

 

Phoebe riu.

 

— Bom, talvez um dia eu devesse assisti-los! Afinal, como curadora do show, eu deveria avaliar tecnicamente a capacidade musical deles! 

 

— Juro que você vai gostar! - respondeu Helga entre risos - Nem precisa usar uma desculpa tão esfarrapada como justificativa.

 

Arnold ficou aguardando se Helga iria se virar para ele e convidá-lo também, mas, para a sua decepção, isso não ocorreu. 

 

Helga realmente estava mantendo a distância que prometera.

 

E não era só ela que estava um pouco mais distante de Arnold, Gerald também. Embora, diferente dele e Helga que havia sido em comum acordo, Gerald havia brigado com Arnold, sem que o garoto entendesse o motivo. 

 

Uma tarde, após a escola, Arnold tentou esperar pro Gerald no portão, mas este assim que avistou o amigo esperando por ele, desviou sem dar uma segunda olhada. 

 

Depois de mais de dois dias desse distanciamento, Arnold finalmente conseguiu encurralar Gerald após o intervalo, no banheiro.

 

— Se você vai deixar de falar comigo, eu pelo menos posso saber porque? - falou enquanto Gerald lavava as mãos.

 

Gerald suspirou.

 

— Olha, Arnold...não é nada com você! Eu só não quero conversar agora!

 

Arnold pareceu confuso com a resposta do amigo. Como não era nada com ele? Gerald o estava ignorando há quatro dias inteiros. 

 

— Gerald, isso não faz nem sentido…

 

— Faz sim, Arnold! Eu sei que você vai me perguntar coisas que eu não quero responder agora! Então, me deixa quieto por enquanto...

 

E sem dar chance de resposta, Gerald saiu do banheiro. 

 

Se não fosse pelos preparativos pro show, Arnold se sentiria terrivelmente solitário. Conversava apenas amenidades com Helga e, muito raramente trocava um “oi” com Gerald. Situação essa que, independente da vontade de Gerald, Arnold sabia que iria acabar, já que os dois precisavam ensaiar a parte deles no show. 

 

Embora, esse momento estava demorando pra chegar, e a data do show estava cada vez mais próxima.

 

— Eu estou tão empolgada! - falou Phoebe enquanto ela, Helga, Arnold e Gerald distribuem convites para o show do bairro.

 

— Eu nem acredito que já está chegando! - comentou Helga empolgada. 

 

Quando terminaram de distribuir todos os convites, já estava quase anoitecendo. Gerald e Phoebe se despediram dos outros dois e foram em direções opostas. Arnold já ia se despedir de Helga também, mas ela se adiantou.

 

— Arnold, você está bem? 

 

O garoto demorou algum tempo pra entender de onde a pergunta repentina veio.

 

— Sim...eu estou…- respondeu, embora sem muita convicção.

 

Helga o olhou sério.

 

— Olha Arnold, somos amigos! Se quiser conversar e falar o que está te incomodando, eu estou aqui pra te ouvir! Sou sua amiga, é pra isso que amigos servem! Use-os!

 

Arnold notou o uso excessivo da palavra “amigos” na frase de Helga, e entendeu o que ela quis dizer. E embora isso tenha o magoado um pouco, ele sabia que ela fez isso para deixá-lo mais tranquilo. Por isso, ele aceitou o convite da amiga e decidiu seguir com ela para o parque.

 

— É o Gerald…eu não sei o que está acontecendo ultimamente, mas ele tem me ignorado! - falou enquanto passava pela ponte do pequeno rio que cruzava o parque.

 

— Você e o Cabelo de Poste não estão se falando? Mas vocês estavam juntos hoje! - rebateu um pouco surpresa.

 

Arnold assentiu.

 

— Sim, mas...fora “oi” e coisas muito necessárias, ele tem me evitado! Disse que vou fazer perguntas que ele não quer responder…

 

A amiga não respondeu. Arnold notou o tom pensativo que ela assumiu e então, de súbito, lembrou que ela tinha algumas respostas que poderia dar no lugar de Gerald.

 

— Aquele dia...que ele chegou atrasado porque a Kimberley estava doente...por que vocês se ligaram?

 

Helga encarou Arnold. Seu semblante mostrava algum tipo de surpresa pela pergunta.

 

— Era isso que ele não queria te contar?! - exclamou. 

 

Arnold assentiu. Após a confirmação do amigo, Helga riu. O que deixou o garoto ainda mais confuso.

 

— Bom, a culpa é minha, eu suponho! O dia que você e Phoebe foram nos encontrar na sorveteria, Gerald e eu chegamos mais cedo e ficamos conversando…

 

Helga viu um banco e se adiantou para sentar nele. Arnold a seguiu.

 

— Inicialmente, ficamos conversando sobre amenidades, dai ele começou a falar sobre meu sumiço e eu...entrei na ferida! Perguntei sobre ele e a Phoebe!

 

Arnold travou a respiração nessa hora. Se Gerald já teve uma reação tão extrema com ele,nem conseguia imaginar como tinha sido com Helga.

 

— Para a minha surpresa, Gerald se mostrou….vulnerável! Ele até deixou algumas lágrimas caírem, eu juro! Disse que estava arrependido, que tinha sido o maior erro da vida dele e que fazia muito tempo que ele queria fazer as pazes com a Phoebe e conversar normalmente com ela, voltar a ser amigos, sabe!

 

O garoto ouviu boquiaberto. A imagem de Gerald quase chorando, ou mesmo chorando, era algo muito difícil de imaginar. Ele nunca havia presenciado esse lado do amigo, por isso, exclamou surpreso:

 

— Gerald? Gerald falou isso?

 

Helga sorriu.

 

— É, eu sei! Como amiga da Phoebe, fiquei muito satisfeita por ele ter percebido a babaquice que fez! Por outro lado, sei como é magoar alguém que a gente gosta - Arnold sabia ao que ela estava se referindo -  e decidi ajudar, e quando me ofereci, ele aceitou e segundos depois, vocês entraram!

 

— Isso explica o comportamento estranho, logo em seguida! - concluiu Arnold.

 

A garota assentiu.

 

— Ficamos no telefone com ele falando sobre as coisas que ele imaginou pra voltar a falar com a Phoebe, se elas iriam funcionar ou não! Mas, não importa o quanto eu o encoraje, ele sempre dá um passo e recua dois! Está com medo do que a Phoebe vai fazer ou dizer! - acrescentou.

 

— Você já conversou com a Phoebe a respeito? 

 

Arnold sabia que o amigo era mais do tipo “falar do que fazer”. Desde crianças, Gerald sempre se apresentou como o garanhão conquistador, mas no fundo, sabia que o amigo era inseguro e que, se Phoebe não tivesse tomado a iniciativa, eles nunca teriam namorado. 

 

— Não...se eu falar, eu sei que ela vai facilitar as coisas! E eu acho que ele precisa se expor mais! 

 

O garoto assentiu. De fato, Gerald foi quem cometeu o erro. Ele deveria correr atrás para consertá-lo, se aquela era a vontade dele.

 

— Só não entendi por que ele achou que não podia me contar?! - retrucou Arnold - somos amigos há anos!

 

Helga deu de ombros.

 

— Eu acho que isso não é uma justificativa pra contar tudo um pro outro! Phoebe e eu somos amigas há anos também, e eu não conto tudo pra ela e nem vice e versa! Somos amigas e se precisamos de ajuda, até vamos pedir, mas eu não cobro isso dela, nem ela de mim!

 

Arnold não soube bem como deveria responder a esse pensamento.

 

— E no mais - continuou a amiga - acredito que o Cabelo de Poste tenha vergonha! De assumir que errou e tal! No instante em que ele der o primeiro passo para fazer as pazes com a Phoebe, ele vai assumir pra todo mundo que ele era o errado da história, e isso deve aterrorizar ele! 

 

— Mas isso não faz sentido! - indignou-se Arnold.

 

Helga deu de ombros.

 

— Eu sei que não faz! Mas às vezes a gente se importa demais com o julgamento dos outros e acabamos deixando que isso afete nossas decisões! 

 

Assim que Helga terminou sua sentença, Arnold lembrou-se dele próprio considerando o julgamento alheio como fator dominante para sua volta com Helga. Ele não era tão diferente de Gerald, concluiu. 

 

— Bom, eu acho que vou indo agora! - anunciou a amiga se levantando -  Espero que você esteja melhor!

 

Arnold assentiu.

 

— Sim, muito obrigado, Helga! Quer que eu te acompanhe? - ofereceu, torcendo para que ela aceitasse.

 

 

— Não precisa! Como eu disse, eu ainda sei onde eu moro! - respondeu em tom de brincadeira.  - Nos vemos depois, Arnold! 

 

Arnold se despediu e viu ela partir. Um aperto em seu peito pulsou de repente enquanto via as costas dela se afastando. Tinha alguma coisa que ele ainda queria dizer à Helga. Apesar deles estarem conversando normalmente, parecia que tinha alguma coisa errada, que o estava incomodando. Alguma coisa estava faltando. Depois de pensar muito, ele percebeu o que estava estranho e gerava tanto desconforto nele. Desde a conversa em que Helga havia se declarado, ela nunca mais o havia chamado de “Cabeça de Bigorna”. E, perceber isso, fez Arnold sentir um medo profundo. Será que Helga havia presumido que o silêncio dele era uma forma de rejeitar ela? 

 

“Você sempre será meu amado Cabeça de Bigorna”

 

Será que chamá-lo apenas de “Arnold” significaria que ela estava tentando esquecer dele e superá-lo? 

 

Seguido por um impulso, Arnold se levantou rapidamente e foi em direção a casa de Helga.  Ele não sabia o que ia falar ou fazer, mas queria provar a si mesmo que estava errado. Queria alcançar ela no caminho só pra fazê-la olhar para ele e dizer: “Eu disse que sabia o caminho, Cabeça de Bigorna!”, “Você é teimoso mesmo, hein Cabeça de Bigorna!”. Qualquer coisa desse tipo. 

 

Ele só precisava alcançá-la.

 

Mas quando saiu do parque e avistou a amiga ao fim da rua, parou imediatamente. Helga não estava mais sozinha e Arnold reconheceu imediatamente a figura de Sid ao lado dela. Os dois conversavam animadamente enquanto atravessavam a rua. 

 

Arnold sentiu uma pontada tão forte no peito, que sua respiração parou por alguns segundos. Helga estava mesmo tentando esquecê-lo e a culpa do afastamento dela era dele. Ele ignorou a confissão dela porque não havia conseguido se decidir e, agora, ela estava seguindo em frente pois achou que ele a havia rejeitado. Ele deu meia volta. Só tinha um lugar para onde ele podia ir agora.




Por isso, ele não se importou com a cara de espanto que Gerald fez assim que abriu a porta e o viu parado em frente a ela.

 

— Arnold? Eu não disse que…

 

Mas Arnold não o deixou terminar.

 

— Eu a amo, Gerald! Eu a amo e não sei o que fazer! - desabafou o garoto.

 

Gerald olhou pros lados, confuso. 

 

— Entra ai, cara! - falou dando espaço para Arnold entrar.

 

Assim que Arnold entrou no quarto do amigo, Gerald fechou a porta e virou-se para o outro.

 

— Estamos falando da Helga Pataki, eu imagino! - começou.

 

Arnold assentiu.

 

— Desde que ela voltou, todos os sentimentos voltaram de uma vez! Eu fiquei confuso: estava apaixonado pela ideia da velha Helga ou da nova Helga? Depois fiquei pensando “se a gente voltasse, o que as pessoas pensariam?”, sabe...depois de tudo o que aconteceu…

 

Gerald parecia mais sério após essa confissão de Arnold.

 

— Ela disse que ainda me ama, mas eu a ignorei...agora, eu acho que eu a rejeitei….e se ela...estiver tentando me esquecer? E se eu perder ela de novo?

 

— Oh, calma aí Romeu! Ela disse que ainda te ama? - repetiu Gerald surpreso.

 

Arnold confirmou.

 

— Caramba! Agora eu tô chocado! Quando foi isso?

 

— Quatro dias atrás, quando fui jantar na casa dela! 

 

Gerald andou um pouco pelo quarto, visivelmente pensativo.

 

— Escuta Arnold, quatro dias é muito pouco tempo pra alguém que ama esquecer alguém! Eu acho que você tá surtando um pouco! 

 

De fato, pensou Arnold após a colocação de Gerald, ele estava exagerando um pouco. Se Helga mesmo disse que o amou por doze anos, não seriam quatro dias que fariam diferença…

 

...mas ainda assim…

 

— Segundo - continuou Gerald - Se você gosta dela e ela gosta de você, qual o problema? Fiquem juntos!

 

— Eu não sei se daria certo… - confessou - tenho medo que a gente se magoe de novo e isso acabe de vez com os termos amigáveis em que estamos!

 

Gerald suspirou e sentou-se na cama ao lado de Arnold.

 

— Arnold, eu vou te contar uma coisa, então, me promete não ficar nervoso…

 

O garoto concordou.

 

— Eu ainda amo a Phoebe! - falou Gerald com certa relutância - Eu, na verdade, nunca deixei de amá-la! Mas sei que se, por algum milagre, ela ainda gostasse de mim e a gente voltasse, a chance da gente ter os mesmos problemas seria grande…

 

— Porém - continuou após um tempo - se existisse uma chance da gente voltar, eu voltaria! Por que por mais que os problemas fossem os mesmos, eu sou uma pessoa diferente! Agora, eu conseguiria resolvê-los ou levá-los de uma forma muito melhor do que antes! Os problemas sempre vão estar lá, Arnold, em qualquer relacionamento! E sim, tem chances de vocês se magoarem no processo...e isso é com qualquer relacionamento, não só você e a Helga!

 

Arnold ficou pensativo. Quando ele e Helga namoraram, tinha nove e dez anos. Claro que eles iam cometer erros, eles eram apenas crianças.  Eles eram mais velhos agora. Estavam em outra etapa da vida e mais maduros. E ainda assim, poderiam cometer erros. Parando para lembrar, seus avós e pais cometem erros o tempo todo, e ainda assim, continuam com seus relacionamentos porque sabem como resolvê-los. 

 

— Agora, Arnold, me diga...você prefere ser amigo dela e só isso? Seria tudo bem se você a visse saindo com outros caras? Se ela se casasse e você fosse apenas mais um dos convidados?

 

Helga o havia perguntado isso há quatro dias. E agora Arnold entendia o motivo. 

 

— Não...não estaria tudo bem…- respondeu.

 

— Então pare de se torturar e de torturar a Pataki e façam logo o que querem fazer! - disse Gerald como quem ponto final na conversa.

 

— E você vai fazer isso com a Phoebe? - perguntou Arnold.

 

Gerald ficou mais sério agora.

 

— É uma situação diferente...Phoebe me odeia, e eu não a culpo! - falou visivelmente de coração partido. 

 

— É a Phoebe, Gerald! Ela pode estar brava com você, mas nunca te odiaria!

 

— Você não sabe, Arnold! Os olhares de desprezo que ela já me deu...a maioria das vezes eu ignoro ela só pra não ver a forma como ela me olha! E eu sei que mereço! Ela me acha desprezível, eu sei! Eu não tenho nem ideia se um dia a gente vai poder sequer conversar normalmente, quanto mais ser amigos ou voltar a ficar juntos!

 

Finalmente Arnold viu o lado vulnerável de Gerald. 

 

— Você estava passando por isso todo esse tempo e eu nunca percebi? Eu devo ser um péssimo amigo… - começou Arnold.

 

— O problema não é você, Arnold! Não é fácil pra mim falar sobre isso! Helga foi a primeira que conseguiu cavar isso de mim! E juro que não é porque me dou melhor com ela do que com você! Ela só soube apertar os pontos certos!

 

— Eu entendo! De verdade!

 

Gerald e Arnold sorriram. Apesar de tudo, eles eram os melhores amigos.

 

— Fala com ela, Gerald! Tenta aos poucos, mas tenta! Apesar desses olhares que você diz que ela te dá, ela não rejeitou nenhuma das suas aproximações!

 

Agora foi a vez de Gerald ficar pensativo.

 

— Isso é verdade…- falou após um tempo.

 

Arnold levantou.

 

— Eu sei o que vou fazer agora! E você?

 

Gerald olhou para Arnold surpreso

 

— Agora? - repetiu - Arnold, são quase onze da noite!

 

Arnold deu de ombros.

 

— Eu to esperando seis anos, Gerald! Além do mais, eu sei que ela ainda deve estar acordada! 

 

Gerald sorriu.

 

— Ok! Mas eu conheço a Phoebe! Ela certamente já está dormindo! Vai lá, amanhã de manhã eu inicio o meu...plano, por assim dizer!

 

Os dois se despediram com seu cumprimento habitual e, certo do que tinha que fazer, Arnold foi em direção a casa azul com cortinas rosas tão familiar para ele. 



 

 

Helga estava largada em sua cama assistindo ao seu programa de comédia favorito. Em dias escolares, normalmente, ele já estaria dormindo, mas era sexta à noite, e ela merecia esse momento. Depois de todo o drama com Phoebe e Gerald e os preparativos para o show beneficente, ainda tinha Arnold. Ela sabia que a chance dele aceitá-la de volta era mínima, apesar dos beijos que eles compartilharam. Mas não imaginou que fosse tão doloroso ter que aceitar isso, e ainda mais vê-lo todos os dias e fingir que estava tudo bem.

 

“Tudo bem”, pensou Helga consolando a si mesma, “é só seguir em frente”. “Só seguir em frente”, essa frase que ela repetiu tantas vezes, como se fosse um mantra. Durante sua mudança, durante a recuperação de sua mãe, durante sua própria evolução. Em todos os momentos difíceis, Helga respirava fundo e dizia “é só seguir em frente!”.

 

Não era como se ela já não tivesse perdido Arnold antes. Não era como se ela esperasse que eles de fato fossem voltar a ficar juntos. Tudo o que ela havia dito pra ele aquela noite era verdade, por isso, não havia arrependimentos. Não havia mais nada que ela poderia fazer.

 

Ainda assim, Helga suspirou tristemente quando o pensamento a levou por esse caminho. Ver Arnold todos os dias, rir com ele, compartilhar momentos com ele, e ainda assim, não poder tocá-lo, não poder abraçá-lo, e correr o risco de vê-lo com outra pessoa. Helga sabia que tinha que se preparar pra isso. 

 

Mas não hoje. Não essa noite. Essa noite ela ficaria deitada em sua cama, vestindo sua camiseta gigante para dormir, enquanto assistiria ao seu programa de comédia favorito de todas as sextas. Riria até cansar, e com a alma um pouco mais leve, iria dormir e tentaria ter sonhos agradáveis. E claro, evitaria que Arnold aparecesse neles. 

 

Helga se afundou ainda mais em seus cobertores, quando ouviu o “bip” de seu celular apitar, avisando que a garota recebeu uma mensagem. Em um movimento automático, ela alcançou seu telefone e verificou quem a estava tentando contatar tarde da noite. 

 

Sua respiração deu uma leve travada ao ler o nome “Arnold” no visor.



Oi, tá acordada?”

 

Curiosa pelo contato repentino, Helga respondeu:



“Tô sim! O que foi? =)”

 

Helga viu no visor “digitando” e esperou ansiosamente pela resposta. Mas o que Arnold escreveu, deixou a garota perplexa. 

 

“Pode abrir a janela pra eu entrar?”

 

Helga digitou no mesmo segundo.

 

“OI???!!!!”

 

Helga correu e abriu a janela do seu quarto. Assim que olhou para o lado de fora, viu Arnold parado na escada de incêndio. 

 

— Você tá doido, Cabeça de Bigorna? - sussurrou em tom de bronca.

 

Arnold não pode deixar de sorrir com a volta do apelido. 

 

— Posso conversar com você? É importante! - falou no mesmo tom sussurrado que a amiga.

 

Helga olhou pros lados, pra se certificar que a luz do quarto dos pais continuava apagada. Com um gesto silencioso, Helga chamou Arnold para dentro do quarto dela e fechou a janela. 

 

Uma vez, lá dentro, Helga se certificou que a porta do quarto estivesse trancada, para evitar que seus pais entrassem de surpresa. 

 

— Ok, Arnold, a barra tá limpa!- falou voltando ao seu tom de voz normal - Agora me conta o que é tão importante que não pode esperar até…

 

Mas Helga parou de falar no momento em que sentiu os braços de Arnold enlaçando seu corpo. 

 

— A...Arnold??! - exclamou surpresa.

 

Arnold a apertou ainda mais firme em seus braços.

 

— Eu te amo, Helga! - falou com o rosto deitado nos ombros da garota. - Eu te amo tanto que dói! Eu te amo tanto que não quero nunca mais que você me por outro nome que não seja “Cabeça de Bigorna”! 

 

Arnold levantou o rosto para olhar diretamente nos olhos de Helga. Sentiu seu corpo fraquejar ao encontrar aqueles diamantes azuis brilhando em sua direção. A pele dela rosada de vergonha aqueceu o coração do garoto. Seu peito ainda doía. Ele a amava tanto, desejava tanto...e ele quase a perdeu. 

 

— Por favor, me diz que você ainda me ama também! Que ainda não me esqueceu… - pediu Arnold, quase como se estivesse implorando.

 

Helga não pode deixar de soltar um riso abafado perante a frase dita pelo garoto. 

 

— Doze anos, Cabeça de Bigorna! - refrisou com obviedade - Doze anos e você realmente acha que menos de uma semana seria o suficiente pra eu deixar de gostar de você? Sério mesmo?! 

 

Arnold respirou aliviado. Realmente, pensou, podia não fazer o sentido o medo que ele tinha. Mas, concluiu, que medo não é irracional?! 

 

Ao perceber novamente Helga em seus braços, ele se lembrou de todas as vezes que tentou convencer a si mesmo que eles não deveriam voltar a ficar juntos. Que deveriam ser amigos e nada mais. Quanta besteira. Ele a amava e começava a suspeitar que nunca deixou de amá-la, nem durante o tempo que estavam separados.

 

— Será que a gente pode só...ficar juntos pra sempre agora e nunca mais se separar? - Arnold perguntou como se fosse simples.

 

Helga assentiu, enquanto enlaçava seus braços em volta do pescoço de Arnold.

 

— Eu ia propor uma coisa parecida… - provocou a garota com seu sorriso malicioso.

 

Aquele era o convite que ele estava esperando.

 

Ele levantou o rosto dela gentilmente com sua mão e provou novamente a maciez daqueles lábios rosados. O cheiro de baunilha que ela exalava o intoxicava, e ele aprofundou ainda mais o beijo. Helga correspondia com desejo, enquanto seus dedos brincavam na nuca de Arnold. O garoto sentiu um choque percorrer pelo corpo assim que os dedos de Helga deslizaram pelo seu cabelo.

 

Ele a apertou forte, passando as mãos sobre as costas de Helga, ele percebeu a falta de sutiã, e isso o estremeceu. Ele precisava parar antes que fosse tarde demais. Porém, assim que seus lábios abandonaram os de Helga, a garota decidiu que beijaria o pescoço dele. Arnold soltou uma respiração mais pesada.

 

— Helga…- chamou um pouco rouco.

 

— Hm? - murmurou, continuando a beijar o pescoço de Arnold.

 

Antes que Arnold pudesse continuar, os lábios de Helga chegaram nas orelha dele e a garota mordiscou de leve, arrancando mais um suspiro profundo do garoto.

 

— O que estamos fazendo? - perguntou Arnold ainda com a voz fraca.

 

Helga deu mais uma mordiscada no lóbulo da orelha de Arnold antes de responder com a voz baixa próxima ao seu ouvido.

 

— O que quisermos...o quanto quisermos…

 

Aquilo era demais. Não havia mais como resistir as provocações da nova namorada. Arnold voltou a beijar a boca de Helga, dessa vez com mais ardor. E, ao mesmo tempo, com cuidado e urgência, a guiou para a cama, onde desfrutaram do corpo um do outro até adormecerem de exaustão.


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