Cada dia da minha vida escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 5
Capítulo 5 – Lembrança




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Capítulo 5 – Lembrança

                O que Rodolfo havia feito? Afonso não acreditava que seu irmão fosse capaz de atentar contra a vida de Augusto, mas discutir com o rei pouco antes do ocorrido lhe colocara como principal suspeito, e a as ameaças de guerra entre Artena e Montemor se tornavam cada vez mais firmes. Deveria encontrar as tropas para orientações no caso da cidade ser atacada, mas estava há dez minutos escondido entre as árvores observando a casa de Amália. Tivera um mau pressentimento ao acordar naquela manhã e rumou para a casa dela sem ao menos pensar. Decidiu finalmente se aproximar e tentar se convencer que estava apenas paranoico com as ameaças de guerra. Fazia duas semanas que haviam conversado.

                De repente lembrou que não devia haver ninguém em casa quando Constância abriu a porta por acaso.

                - Afonso – ela sorriu e o abraçou – Entre.

                - Achei que estivessem todos trabalhando agora. Eu passei porque...

                - Houve alguma coisa? – A mais velha o olhou com preocupação.

                - Não. Eu tive um mau pressentimento. Mas acho que são as ameaças de guerra me deixando paranoico.

                - Não quero nem pensar. Do jeito que as coisas estão... O torneio suspenso, Amália grávida com Virgílio à espreita, a amnésia, e agora uma guerra. Eu fiquei em casa com ela hoje porque não estava se sentindo bem quando acordou.

                - Chamaram o médico? – Afonso levantou da cadeira onde estava sentado por impulso, precisava vê-la.

                - Ele disse que é normal, ela logo completará o terceiro mês, precisa se alimentar ainda melhor. Estou cozinhando. Por que não tenta falar com ela?

                - Eu adoraria.

                Não foi preciso ir ao quarto de Amália, a plebeia entrou na cozinha ainda com uma expressão de fraqueza no rosto.

                - Minha filha, não deveria sair da cama nesse estado.

                - Estou bem, minha mãe. O que faz aqui? – Perguntou a Afonso.

                Antes que ele respondesse a plebeia fechou os olhos e ele conseguiu segurá-la por segundos. Ouviu Constância exclamar de susto e suspirar de alívio.

                - Afonso... Coloque-a na cama e não a deixe sair até que eu chegue ao quarto!

                O chefe da guarda assentiu e carregou a ruiva de volta para a cama, repousando-a com cuidado e sentando ao lado dela.

                - Amália! – Segurou a mão dela em desespero, ignorando totalmente o fato de ela ainda estar sem memória – Olhe pra mim.

                Os olhos verdes se abriram e ela parecia perdida como se tivesse dormido por horas, então tornou a fechá-los.

                - Amália.

                - Estou tonta... Só isso.

                - Não sei se estava acordada, mas o médico disse que é normal no terceiro mês, que está quase completo. Não pode sair andando nesse estado.

                Ela ficou em silêncio e a tristeza tomou seus olhos.

                - Ei... – Afonso falou gentilmente, usando todas as suas forças para não acariciar o rosto dela – O que foi? Quer que eu saia? Desde que você fique aqui descansando...

                - Não... – ela sussurrou com a voz mais triste que ele já ouvira dela – Você... Tem sido tão gentil, cuidadoso, eu vejo que você ama esse bebê. Mas eu não sei quem você é. A sensação de vasculhar minhas memórias por dias e dias e não achar nada é horrível. Essa confusão é horrível. Tudo sempre foi tão certo... Como fui chegar nisso?

                Os olhos de Afonso lacrimejaram quando lembrou do dia em que ela o agradecera por estar com ela, por impedir que ela fosse mulher de Virgílio, uma mulher muito infeliz. Inspirou fundo para impedir que as lágrimas deixassem seus olhos.

                - Você está bem? – Ela perguntou o encarando.

                - Estou.

                - E por que chora?

                - Eu me lembrei de uma coisa que você me disse uma vez. Em um momento difícil como esse.

                Amália piscou curiosa, e por alguns momentos pareceu tentar se lembrar de algo.

                - Eu já estava grávida?

                - Não.

                - O que eu disse?

                - Você me agradeceu.

                - Pelo que?

                - Sua mãe deve ter lhe falado que uma vez Virgílio tentou lhes tomar a casa.

                - Sim, falou... Mas não lembro disso também.

                - Ele queria a casa por vingança, Amália. Porque eu estava aqui. Eu me culpava, mas você disse...

                - Amália!!

                - O que você quer?!

                Ouviram Constância gritar para Virgílio que batia do lado de fora.

                - Na feira falam que Amália não apareceu porque está doente.

                - Essas pessoas não tem mesmo o que fazer... – Constância murmurou irritada.

                - Espero poder vê-la.

                - E vai esperar mesmo. Você mesmo disse, Virgílio. Ela está doente, dormindo. Apenas um mal estar porque andou trabalhando demais nos dias do torneio. Não pode falar com ela dormindo. Agora faça o favor de desaparecer daqui.

                Afonso entrou silenciosamente na cozinha e trocou um olhar preocupado com Constância. Por sorte todas as janelas da casa estavam fechadas. Um longo momento de silêncio se passou, e Afonso ficou feliz por Amália não manifestar nenhum sinal de querer que Virgílio entrasse. Ele estava certo, ela estava duvidando sobre o comerciante, não adiara o casamento só pelo torneio, alguma coisa da memória dela estava despertando.

                - Eu vou voltar ao trabalho. Mas diga a Amália que voltarei para vê-la depois.

                Os dois suspiraram aliviados quando os passos de Virgílio pararam e ouviram o galope de um cavalo se distanciando. Constância abriu um pouco uma janela para verificar se ele tinha realmente partido e tornou a fechá-la.

                - Tiago desconfiou que ele descobriria e nos aconselhou a manter tudo fechado, do contrário seria bem mais difícil mandá-lo embora – ela explicou.

                Os dois foram ao quarto de Amália, vendo-a ainda acordada.

— Eu preciso ir agora, mas não deixem de me chamar se algo acontecer ou se ele causar algum problema.

— Faremos isso – Constância garantiu.

— E você, por favor, não saia dessa cama até estar bem.

Amália o encarou. Apesar de não se lembrar dele podia ver claramente em seus olhos castanhos que não estava preocupado só com o filho, estava preocupado com ela, principalmente com ela. Não conseguiu evitar se lembrar da aparente satisfação de Virgílio quando ela lhe disse que perdera o bebê. As lágrimas nos olhos dele minutos atrás não deixariam seus pensamentos tão cedo.

— Afonso...

O Monferrato sentiu seu coração acelerar, ela o chamara de um jeito diferente, parecido com o tom que usava antes de perder a memória. Constância tinha um leve sorriso, também tinha notado.

— O que? – Perguntou se ajoelhando ao lado dela.

— Você não terminou de contar o que estava me dizendo.

— Você já passou por emoções suficientes nesses poucos minutos. Agora precisa se alimentar. Eu lhe contarei na próxima vez.

Amália hesitou, mas concordou com ele e observou sua mãe acompanhá-lo até a porta e voltar minutos depois com uma tigela de sopa.

— O que ele disse a você?

— Que uma vez Virgílio tentou nos tomar a casa por vingança, e que se sentiu culpado. Mas eu o agradeci. Foi quando fomos interrompidos pelas batidas na porta. Ele não me disse pelo que eu agradeci.

— Inúmeras vezes nós presenciamos você agradecer a Afonso por livrá-la do casamento com Virgílio, no qual certamente seria infeliz. Essa deve ter sido uma dessas vezes.

“Eu seria uma mulher muito infeliz”. A frase de repente ecoou na mente de Amália, mas não tinha a menor ideia de onde viera ou onde ou porque dissera aquilo. Mas junto a isso veio uma sensação de felicidade, do mais puro amor e proteção. Não saber por que a deixava louca.


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