Visão de Calor escrita por Golden Boy


Capítulo 2
Batman


Notas iniciais do capítulo

Oi! Desculpem a demora. Espero que gostem desse capítulo, no PDV do Batman, e a continuação da história.



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Não posso esperar que Clark volte. Ele sabe exatamente onde estou, e confio que irá aparecer caso seja necessário. Deixo meu corpo ser levado pela gravidade enquanto guardo o binóculos no bolso traseiro da calça, e meu gancho já está posicionado na outra mão. O carro-forte que levará a kriptonita está estacionando. Preciso me apressar.

Nessas horas, sinto falta de ter um ajudante. Dick Grayson pode ser tudo, menos inútil. Sinto uma fisgada no pâncreas quando desço o prédio, num só salto, até o telhado da delegacia. Se o mapa está correto, o carregamento está no subsolo. Viro na primeira esquerda e desço a escada de emergência, com um batarangue na mão e preparado para arrombar qualquer porta que me impeça de chegar até o carregamento. Só tem três policiais de serviço, para não chamar atenção.

A maioria dos vilões está preso, mas temo que não seja por muito tempo. Eles pecam por um descuido desses, mas não dá pra reclamar. Selina está no esgoto, armando a bomba que abrirá a passagem de fuga. “Se Metrópolis tem dinheiro pra reconstruir cada prédio que o Superman derruba, uma bomba no subsolo da delegacia não vai ser nada demais.”

Dou sorte, e não cruzo com nenhum policial no caminho até o subsolo. Uma porta de grade, como a de uma cela, está entre mim e o carregamento. Pego a chave mestra da cidade,que Clark me emprestou, e bam. A bomba explode, um buraco pequeno no chão da delegacia, mas o barulho foi alto o suficiente para alertar os policiais no andar de cima, assim como os guardas do carro-forte. Com certo esforço, jogo a caixa com toda a kriptonita por cima do ombro e a passo pelo buraco, para que a Mulher Gato o receba. Com uma moto bem discreta, e provavelmente roubada, ela vai levar o carregamento para Gotham. Não posso me preocupar com isso, agora eu só preciso fugir. O buraco que a bomba produziu é menor do que o esperado, e não consigo me esgueirar com ele.

Meu quadril entala, deixando meu tórax e cabeça expostos no subsolo da delegacia. Quando tudo parece perdido, e todos os policiais estão descendo as escadas, sinto algo em meu tornozelo. Não pode ser Selina, ela não descumpriria minha ordem de fugir imediatamente.

Ou descumpriria? Clark me puxa pelo tornozelo, abrindo o buraco ainda mais. Num vulto azul e branco, a delegacia fica pra trás e estamos muito acima do nível do mar.

 

O Superman, de queixo erguido, me segura pelos joelhos e pelas costas. Me sinto uma criança, mas não posso me desvencilhar. Talvez eu goste disso. Viro o pescoço apenas para ver que não estamos mais sobre Metrópolis.

— Onde está Selina? — ele pergunta, olhando no fundo dos meus olhos.

— Levando a carga embora, pedi para que ela a deixasse na Batcaverna. — respondo, tentando não gaguejar. Minhas costas, meu pescoço e minha bunda estão suando.

— Bom. — responde.

— Pode me deixar no chão? Nem todo mundo consegue respirar tão bem no ar rarefeito. — ele tem um estalo, e começa a se aproximar do chão novamente. Tenho vontade de socar aqueles olhos perfeitos. Seus braços são firmes, e não ousam hesitar enquanto estou sobre eles. Ele olha para o horizonte, e eu penso em beijá-lo. Jogo essa ideia para longe enquanto pulo para longe dele, três metros antes dele encostar no chão. Caio com um rolamento, e fico de pé. Meu uniforme tem poeira branca, provavelmente por ter atravessado uma parede de mármore. Eu puxo a máscara e a solto na grama. Não faço ideia de onde estou, e ainda assim me sinto protegido. Que se dane.

 

Os lábios de Clark são quentes e macios, como era de se esperar. Meus dedos, coberto pelas luvas, passam delicadamente pela pele perfeita de seu rosto, e por seu cabelo bem aparado. Línguas tímidas se encostam e trocam carícias. Ele se afasta.

— Lois… — ele diz, com pesar, e mostra a aliança na mão direita.

Uma mensagem de Selina soa no meu celular. “Já saí de Metrópolis, logo estarei em Gotham.” Seguro o aparelho com firmeza, e o lanço o mais longe que posso. Algo sempre nos impediu, alguma guerra, alguma revolta, algum plano para dominar o mundo. Hoje não há nada, senão os problemas que nós mesmos criamos.

— Você é perfeitinho demais para me amar enquanto casado com ela, não é? Então decida. — disse, com a voz rouca. Uma lágrima dançou pela minha bochecha esquerda, e caiu, ao fim, sobre minha clavícula. Meu GPS diz que estamos numa ilha perto de Cuba. — Faça sua escolha, e eu farei a minha. — Mostro a ele o botão que preciso apertar para trazer a Batwing até aqui.

— Eu te quero, Bruce. Sempre quis, e você sabe disso!

— Mas eu sou um passatempo pra você. Senão, por que casaria com ela? — digo a palavra com desgosto, cuspindo-a para fora. Quero socá-lo. Quero socá-la também. No fim, eu queria dar um soco em mim mesmo e no mundo inteiro.

— Porque eu precisei! — Sua voz ecoa no mar, e ele parece ter dito isso bem mais alto do que realmente disse. — Se você olhasse pra qualquer coisa além de si mesmo e esse conto infantil de vingança, você saberia.

— Cale a boca. — remôo.

— Seus pais se foram, Bruce! Nada vai trazê-los de volta. Me machucar não vai trazê-los de volta. Você brinca de vigilante, acha que é invencível, e hoje quase morreu naquela delegacia. Eu sempre te salvei.

— Do que você está falando?! Você muda o assunto quando quer, e quando não consegue, simplesmente voa pra lua ou pra Fortaleza da Solidão. Pare de fugir de seus problemas, pare de fugir de mim!

Os olhos dele brilham em vermelho, e eu considero aquilo um blefe. Ele não iria… um raio de calor atravessa meu tórax e me derruba. A adrenalina pulsa por minhas veias, e uma poça de sangue gruda o uniforme na minha pele.

É isso o que o Superman faz? Ele se apaixona por duas pessoas e mata a primeira que o irritar? É risível alguém com tanto poder ser tão idiota.

Não consigo falar. Ele se aproxima, mas já é tarde demais.


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Notas finais do capítulo

O Batsy não morreu. Mas tá perto.
Talvez o final fique confuso, mas é basicamente o Clark se confundindo com os próprios pensamentos e tentando achar algo para se irritar com Bruce. E a visão de calor...