As Prattis escrita por fdar86


Capítulo 28
[Capítulo 27]




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Jessica saíra do banheiro com batidas na porta. Ao mesmo tempo, Sra. Perez encontrara alguém no corredor e falara alto, parecendo aflita.

— Minha filha, uma bomba estourou nos leitos dessa família. Por favor, vá até a sala de estar imediatamente, a Dona Mônica está muito nervosa! Temo que afete sua pressão. Vá, vá, por favor! - A senhora apressara uma pessoa que, preocupada, partira até a sala sem dizer uma só palavra.

Ouvira outra batida na porta, e agora já estava vestida, já que diante da agonia teria se arrumado em um instante. Jéssica abrira-a de imediato, após o segundo ruído.

— Minha filha, por favor vá à sala de estar, Dona Mônica está muito nervosa e solicitou a presença de todas. - Sra. Perez repetira sua inquietação em outras palavras, porém tocara de leve no ombro de Jessica no fim, como se lamentasse um fato, e a mais nova suspirou, sentindo os ombros pesarem aquele sentimento de culpa que há dias atormentava-a.

— Angelina está lá? - Fora tudo o que perguntou. Mas naquele instante não era por apreensão de vê-la novamente, mas sim medo do que poderia ter acontecido naquela sala, para Mônica estar tão nervosa, e mandar chama-las dessa forma. Teria a mais velha descoberto o que acontecera entre as duas? Angelina teria contado? Ou a Gabriela?

— Sim. – Respondera, de forma apressada, adiantando-se à saída, e a jovem a acompanhara à passos largos.

Segundos depois, Jéssica entrara na sala de estar, transparecendo o olhar aterrorizado, e reparara automaticamente em Mônica, que estaria sentada no sofá como se passasse mal, e Gabriela estaria tocando-a nas costas, acalmando-a da revelação. Seus olhos logo desviaram para os de Angelina, que pareceram tensos em revê-la, mas ao mesmo tempo aliviada.

Luísa aparecera de repente, saindo da cozinha onde seguira por um grande corredor que dava acesso à sala de estar com um copo de água na mão. Ao girar o corpo em percepção do súbito movimento à sua volta, Jéssica conseguira avistar mais um elemento daquela estranha aglomeração familiar.

Era Mário, que estaria apoiado à parede da sala de estar que dava acesso ao corredor, que levava a cozinha. E ele parecera pálido, angustiado com toda a agonia beirando insanidade que presenciava sempre que entrava naquela casa. Coitado, pensara. Geralmente a Jéssica iria rir da cena que testemunhara, e do seu próprio pensamento, mas ao vê-lo logo lembrara-se de outra bomba que poderia abalar aquela família. Uma verdade que teria guardado por mais de uma semana, a pedido de Luísa. Mas mesmo diante de todo o caos prenunciado, Jéssica não conseguira ignorar o fato do sentimento de culpa interno que sentira ter sido tão grande, que a jovem esquecera-se por completo da gravidez da irmã de coração.

Curiosa, observara todo o trajeto de Luísa, que passara o copo de água à Gabriela, incumbindo-a de tranquilizar a mais velha, retornando ao lado de Mário, para o qual estendera sua mão, acompanhando-o até o sofá defronte ao recém ocupado pelas duas mulheres e Angelina. Jéssica, ainda de pé, decidira fazer o mesmo, sentando-se na poltrona de leitura que localizava-se no canto da sala, e de onde teria visibilidade privilegiada de ambos os lados.

Minutos se passaram, e Mônica teria finalmente se recomposto do choque, e Gabriela finalmente parara de alisar as costas da mais velha, tentando acalma-la. De repente, desviara sua atenção para Jéssica, que logo notara a expressão preocupada evidenciar-se no olhar distante e testa franzida da Lopes mais velha. Imaginara que Angelina teria contado a ela toda a verdade. Contudo, a irmã não transparecera zanga ou decepção, mas sim dúvida.

— Dá para alguém dizer o que está acontecendo aqui? - Indagara Gabriela, rompendo repentinamente com o temeroso silêncio que se instalara no local, e todas encararam Luísa.

— Isso. Por que você não repete para suas irmãs mais novas o que você me disse? - Provocou Mônica, evidenciando sua irritação. - Diga pra elas como você está afundando o nome de nossa família na lama.

Luísa sorrira, em ironia ao drama da mais velha, mas sentira a tensão tomar conta de seus ombros, e repousara sua mão esquerda nas pernas do rapaz em sinal de apoio, que segurou reativamente, intercalando-a entre seus dedos.

— Eu estou grávida. - Soltara a informação novamente (para Mônica), que suspirara pesadamente, como se sonhasse com um possível “Estou brincando” da irmã biológica.

Todos se entreolharam apreensivamente, e exceto Jéssica e o casal, o restante mostravam-se perplexos com a notícia. Todas sabiam o que aquilo significaria para Mônica, e agora ficara claro que períodos tensos aproximavam-se do casarão das Prattis Lopes.

Até mesmo Gabriela não soubera o que dizer naquele momento. Como pacificar uma revelação bombástica daquela, vivendo naquela cidadezinha e debaixo daquele teto com tantas pré-expectativas moralistas e religiosas?

— De quanto tempo? - Perguntara Angelina que recebera um olhar surpreso de Gabriela, por ouvir a voz de alguém naquele momento.

— Segundo o médico, cerca de dois meses.

Considerando as mulheres daquele cômodo, duas já conheciam a verdade. E Angelina logo concluíra isso, ao ouvir sobre o médico e lembrar-se do desaparecimento de Jéssica e Luísa na semana passada, e a conversa que teria presenciado enquanto aproximava-se do carro. Teria ficado tão preocupada e saudosa, com a falta de notícias, que nem mesmo indagara Jéssica incisivamente sobre o que fizeram na rua, e que exames a jovem teria feito. Angelina simplesmente acatara a desculpa fajuta à qual fora apresentada. Encarara Jéssica repentinamente, que sentira o desconfortável olhar e fitara a jovem em retorno. Por mais que compreendesse as possíveis razões de Jéssica ter omitido aquela verdade, saber que não haviam confiado nela para guardar aquela informação a incomodara. Ficaram se observando por alguns instantes, à distância, até serem interrompidas por Mônica.

— Agora vocês entendem minha decepção? - Perguntara dirigindo-se para as outras irmãs que transpareceram perplexidade com a discussão. - O que vai ser de nossas almas, meu Deus? Que tipo de provação é essa? - Olhou pro teto, como se mirasse o céu, enquanto começava a rezar baixinho as orações que saberia de cor. Luísa virou os olhos, em repúdio ao drama que observava na mais velha.

— Pra que isso tudo, Mônica. Nós já decidimos o que fazer pra resolver o problema. - Declarara Luísa, que recebera um olhar fuzilante da mais velha.

— “Resolver” o problema? O problema, Luísa, é que você desobedeceu todos os ensinamentos de nossos antepassados e cometeu um pecado que não tem volta! O pecado da luxúria de se acostar pelos cantos com esse senhor – dissera apontando para Mário que arregalara os olhos à Mônica, visivelmente intimidado. – antes do casamento, e engravidou. Isso que foi o problema e ISSO não pode ser resolvido!

— Está bem, já chega. - Levantara Gabriela, em um tom de voz taxativo. Todos silenciaram em atenção reativa à sua atitude. Instantes de mudez depois, ela continuara em tom normal - Mário, a julgar pela sua presença nessa casa eu posso supor que você não fugirá de suas responsabilidades frutos desse ato imprudente de vocês... - Dissera, recebendo um balançar positivo de cabeça em resposta, e continuação do silêncio por parte de todos - Ótimo, mas por favor eu peço que você se retire dessa casa agora, porque nesse momento a conversa que precisamos ter é entre nossa família. - Concluíra Gabriela, e Mônica permanecera emudecida, em concordância. Um escândalo daquela proporção na frente de pessoas externas àquele lar só piorava ainda mais a situação que já parecia crítica o suficiente.

Enquanto isso, Mário encarara Luísa apreensivo, afinal só sairia daquele lugar, se ela o permitisse. Ao mesmo tempo que não queria deixa-la sozinha, estava bem assustado com toda aquela confusão. Mônica o assustava muito, especialmente porque o lembrava do pai dele. Enfim, recebera uma piscada atenciosa de Luísa em aprovação e um seguido selinho nos lábios de despedida, que garantiram ao rapaz sair às pressas praticamente trocando os pés pela sala, perceptivamente nervoso, e só parecera recompor-se nos jardins do terreno, já em direção à seu carro.

Gabriela sentara-se mais uma vez, aonde estivera instantes atrás, e a mais velha tocara na mão dela, em íntimo agradecimento. As duas entreolharam-se cúmplices em preocupações.

— Obrigada, Gabi. - Agradecera Luísa, de repente, atraindo a atenção das duas mais velhas que a encararam zangadas.

— Eu fiz isso pelo escândalo que estava sendo feito na frente de um estranho, Luísa. Mas não pense nem por um momento que estou de acordo com a sua inconsequência! - Afirmara Gabriela, apoiada por um olhar de concordância da Mônica.

— Mas eu já disse que iremos resolver tudo isso. - Disse dando de ombros, sem realmente conseguir compreender a preocupação que todas estampavam em seus rostos.

— E posso saber qual será a resolução que vocês pretendem dar a essa situação? - Perguntara Mônica, irônica.

— Vamos nos casar o quanto antes. Semana que vem no máximo. - Respondera, simplesmente, e depois de uma pequena pausa em silenciosa absorção das palavras pronunciadas, Mônica gargalhara em visível nervoso:

— É claro que vocês irão se casar!! Você achou mesmo que eu fosse permitir o contrário?

— Então...? Aonde está o problema, afinal? Não já resolvi o problema? - Indagou Luísa, aflita.

Mônica respirara fundo parecendo ofender-se com tal questionamento, especialmente por Luísa tratar um inocente bebê que já iria nascer de um ato pecaminoso por causa de inconsequência dos pais, como um “problema”. Gabriela reparara na revolta que logo explodiria na outra, e decidira responder à mais nova de forma que ela compreendesse o que estava em jogo naquela situação, e em que teria errado.

— Luísa, você já parou para pensar se esse rapaz não quisesse comprometer-se com um filho agora, ou até mesmo vocês brigassem e ele desistisse de casar, e deixasse você sozinha para criar uma criança? Você tem noção do quanto ainda é difícil para mulheres serem mães solteiras nesse fim de mundo? Os cidadãos de Catedral do Norte são doutrinados por uma igreja católica ortodoxa. Somos uma cidade pequena ainda atrasadas em comparação às feministas progressistas das cidades grandes. Como você não raciocinou sobre isso antes de dormir com aquele rapaz, e já que quis fazer, porque não usou preservativos? Você arriscou o seu futuro, e do seu filho...

— E o nome da família. - Acrescentara Mônica, e Gabriela a encarara de súbito, e logo desviara o olhar para Jéssica, que permanecera em silêncio e imóvel por todo aquele tempo com medo da discussão alertar a sua cumplicidade dos fatos. Sempre chocava Jéssica perceber que estivesse em jogo o que estivesse, a perpetuação do bom nome da família Prattis naquela cidade sempre era uma das preocupações de Mônica, mas naquele momento Gabriela também dera-se conta disso.

— Então, Luísa, suas atitudes foram de uma irresponsabilidade decepcionante! - Concluíra Gabriela, e Luísa suspirara pesadamente, finalmente compreendendo os riscos que teria corrido. Gabriela tinha razão. Mônica também, talvez, mas a mais velha por causa de sua religiosidade, às vezes parecia falar em outro dialeto, um que Luísa não era capaz de compreender.

— Vocês estão certas, isso foi impensado da minha parte. - Admitira, com pesar. Odiava admitir que estava errada. Especialmente quando estaria competindo contra a opinião de Mônica.

Mônica rira com desdém.

— Você fala como se tivesse cometido um pequeno deslize. Você ficou grávida, Luísa, não se desequilibrou e quebrou uma relíquia de sua casa! Você teve momentos suficientes para refletir e analisar o que estava fazendo antes e durante a consumação do ato.

— Não seria melhor nós interrompermos essa discussão por aqui? Depois voltamos a discutir. - Perguntara Angelina, iniciando o discurso enquanto Mônica ainda falava, já prevendo que os ânimos se exaltariam mais e mais se continuassem forçando a reunião familiar naquele momento. Encarara Jéssica como se pedisse apoio, e a jovem fora receptiva:

— Boa ideia. Luísa, o que você acha de me ajudar com aquele trabalho que eu te falei? - Perguntara em vão, já que a jovem estava mais interessada em debater a fala da irmã mais velha; e assim, sua tentativa fora ignorada por completo.

— Está bem, Mônica, eu já entendi que você está certa. Estou arrependida, mas agora não há muito o que fazer né? De qualquer forma, teremos mais um Prattis no mundo.

Após alguns minutos de ponderação, em uma atmosfera familiar bastante pesada, Mônica finalmente cortara o silêncio.

— Precisamos casar vocês o quanto antes, e preparar a viagem.

— Que viagem? - Perguntara Angelina, que finalmente se pronunciara na conversa, traduzindo o pensamento de Luísa em palavras.

— Eles precisam viajar. Ela e Mário. - Respondera simplesmente.

— Por que? - Perguntara Luísa, em completo aturdimento.

— É a única forma de evitar os boatos e falatórios do povo quando sua barriga começar a aparecer após seis, sete meses de casados. - Concluíra Mônica, deixando todas chocadas à sua volta.

— Nossa, é impressionante! Você é incrível, Mônica! Tudo o que te importa é o que a sociedade vai pensar, o que as beatas sem vidas próprias da igreja, iguais a você, vão dizer sobre nós.

— Não fale assim da sua irmã. - Repreendera, Gabriela, e Luísa fez um sinal com o jogar de mãos como se desistisse daquela discussão, levantando-se em seguida na direção da saída da sala.

— Luísa, volte aqui que eu ainda não terminei. - Chamara Mônica, em vão, enquanto a mais nova a desobedecia à passos largos pelos corredores da casa em direção ao quarto e assim que conseguira entrar, batera a porta às suas costas, exigindo sua privacidade. – Que Deus ajude essa família! - Suspirara Mônica, enquanto lembrava-se das outras mulheres na sala, que também pareciam surpresas pela desobediência de Luísa.


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