A arte de se expressar escrita por TMfa
Inasa estava ansioso e impaciente. Ele realmente tentou não se preocupar com isso, porém não conseguiu e gastou tempo demais arrumando suas roupas, por sorte, a Shiketsu fez como obrigação caminhar com o uniforme da escola pelo campus da UA, do contrário, ele ainda estaria fritando seu cérebro sobre quais roupas usar.
Quando Yaoyorozu abriu a porta, Inasa ergueu uma sobrancelha, ele espera tanto ver Jirou que por um momento esqueceu que o restante da turma 1-A vivia no mesmo dormitório.
— Boa noite, Yoarashi-san – cumprimentou Yaomomo ao perceber que o garoto parecia estagnado – Veio ensinar Jirou-chan a desenhar, certo?
Abençoada seja, Momo. Pensou Kyouka ao perceber que a amiga estava lhe dando a desculpa perfeita. Jirou estava estranhamente calma, era como nas suas apresentações em público, todo o nervosismo e ansiedade a atacam com força momentos antes e, na hora, tudo some e ela curte ao máximo.
Inasa pareceu não perceber a intenção de Momo e inclinou a cabeça para o lado, confuso.
— O gato comeu sua língua, dos ventos? – brincou Kyouka cruzando os braços.
— Ahn... N-não?
— Vocês deviam começar logo – apressou Momo pondo-se atrás de Inasa e o guiando com Jirou para o elevador – Teremos aula amanhã e Yoarashi-san precisa voltar antes do toque de recolher – continuou ela docemente deixando-os na porta do elevador. Então ela apoiou uma mão no ombro de cada um e sussurrou – Vocês tem uma hora, não façam eu me arrepender de ajuda-los.
Yaomomo os deixou e voltou para o sofá, onde Todoroki a esperava com duas xícaras de chá. Kyouka piscou. Às vezes, não sei você é um anjo ou pequeno demônio, Yaoyorozu-sama. Debochou Jirou mentalmente estreitando os olhos e sorrindo travessa para a amiga caminhando tão cínica.
Os dois subiram pelo elevador Inasa balançando-se na ponta dos pés e Jirou rindo silenciosamente do garoto. Eles caminharam em silêncio até o quarto de Kyouka, sendo ela a entrar por último e fechar a porta calmamente. Então ela virou-se para ele, parado, lívido, no meio do cômodo, tamborilando os dedos na lateral das pernas.
— Você pode relaxar, sabe. – ironizou Kyouka sorrindo sarcástica.
— Desculpe – suspirou ele exageradamente – Nunca fiz isso antes, e estou tentando não estragar tudo sendo impulsivo – confessou ele com um ar determinado, tão sério que fez Kyouka rir.
— Está tudo bem, eu nunca fiz isso antes também. - Ela caminhou até a cama e sentou-se na ponta, com os braços paralelos ao corpo e balançando-se lentamente. – Eu admito que estava um pouco nervosa, mas... estou feliz que tenha vindo hoje.
— Eu também – sorriu ele sentando-se ao lado dela – Eu teria vindo ontem, mas seu sensei só me liberou do treino extra na hora do toque de recolher.
— É... me desculpe por isso – pediu Kyouka com uma careta arrependida e enroscando as próprias mãos – Eu meio que esqueci de avisar o Bakugou sobre nós.
— Qual o problema dele?! – perguntou Inassa erguendo as mãos – Eu tentei conversar com ele durante o treino e ele só falou duas vezes, as duas me mandando morrer.
— Eu sei, eu sei – gemeu Kyouka culpada – Mas, por favor, não o odeie, ele é importante para mim.
— Por que você se importa com ele, de qualquer forma? – insistiu Inasa suspirando.
— Ele é um idiota, eu sei, mas ele é meu amigo, talvez até um pouco mais – ponderou ela pensando alto. Inasa ergueu uma sobrancelha, uma pontada de ciúme? – Nós dois somos filhos únicos, então não sei exatamente como é ter um irmão, mas ele e Kaminari são o mais próximo que eu tenho disso. Ele é uma droga fazendo isso, mas só está preocupado. – explicou ela antes de assumir uma expressão irônica – Então não se assuste se ele aparecer por aqui. Eu aviso quando ele estiver perto.
— Sobre isso! – Lembrou ele entusiasmado - Como você faz isso? Como sabia que o sensei estava chegando tanto tempo antes?! - Kyouka ergueu uma sobrancelha e apontou para seus fones, destacando o óbvio. Inasa gemeu em compreensão. – Timbres e Sons.
— Timbres e Sons – repetiu Kyouka rindo – Agora mesmo, sem querer, eu posso ouvir o andar inteiro, até o elevador e o início da escada. Mas se eu plugar meus fones em qualquer lugar do chão ou nas paredes eu posso ouvir o prédio todo, o lado dos garotos, inclusive – contou ela enrolando o indicador em um dos fones.
— Incrível – comentou ele fascinado.
Yoarashi estendeu uma das mãos lentamente para tocar um dos fones de Kyouka. A garota, por instinto, estapeou-o quando percebeu sua intenção. Inasa recuou surpreso, Jirou cobriu a boca com a mão ao perceber o que fez.
— D-desculpe, foi sem querer – desculpou-se ela segurando a mão dele com receio de afastá-lo.
— Foi minha culpa – perdoou ele calmamente – Eu devia ter pedido permissão.
— Não, está tudo bem, você pode tocá-los – disparou ela – É só... eles são um pouco sensíveis – explicou Jirou corando.
— Eu vou ter cuidado.
Yoarashi aproximou-se como que atraído magneticamente, ele roçou os dedos nos fones de ouvido de Jirou e tomou um deles na mão, tão delicadamente que Kyouka prendeu a respiração. Inasa encarou os olhos de Jirou, tudo isso começou por causa do seu jeito impulsivo, o qual ele ainda estava aprendendo a dosar. Quando Kyouka lambeu os lábios, Yoarashi dispensou o autocontrole a beijou com toda a intensidade que tinha.
Kyouka não deixou por menos, puxando-o para mais perto e beijando-o como se sua vida dependesse disso. Se ela pudesse pensar normalmente nesse momento, acha ria realmente engraçado o quão nervosos e assustados os dois ficam antes de se beijar sem nenhuma inibição.
Eles não sabiam por quanto tempo estavam fazendo isso. Eles nem sabiam quando deitaram na cama! A mente estava muito nublada pelo calor (não era inverno quando eles começaram?).
— O elevador – Grunhiu Kyouka contrariada.
Ela sabia que tinha que parar, mas honestamente? Não é como se Bakugou pudesse fazer alguma coisa, bem, talvez delatá-la para Aizawa-sensei. Mas quem se importa com uma punição ou duas?
— Hm? – Gemeu Inasa aturdido.
— ah, merda, ele está na porta! – informou Jirou empurrando Inasa para longe.
Agora Kyouka estava se recompondo freneticamente. Depois de recuperar o senso de realidade, seu cérebro voltou a se xingar em defesa contra o desespero. Yoarashi sentou-se encostado na parede, esticou um pouco suas roupas e puxou um travesseiro sobre as pernas, por sorte, seu cabelo curto não podia trair a bagunça que Kyouka fez nele, ao contrário da garota, que ainda estava alisando o cabelo quando Katsuki entrou.
— Essa porcaria é sua? – perguntou Bakugou mostrando um par de luvas vermelhas – Está no meu quarto a um século e o dono não veio buscar.
— Isso é do Kiri, e você sabe disso – respondeu Kyouka incrédula. Era obviamente uma desculpa de Katsuki para invadir seu quarto.
- O que vocês estão fazendo?
— Conversando – rebateu ela irritada.
— Rabo de cavalo disse que alguma coisa sobre desenhar – continuou Katsuki aproximando-se de Inasa imperiosamente – Não vejo nenhum papel.
— Como eu disse – insistiu Jirou com tom de ameaça – Nós. Estamos. Conversando.
— Então por que só você está falando?! – rosnou ele baixando para encarar Kyouka.
— Talvez por que você está falando comigo? – debochou ela cruzando os braços e franzindo o cenho.
— Esse é o quarto da Jirou-san – Manifestou-se Inasa – Você não veio aqui por mim, por isso não falei antes. É o quarto dela, ela deve tomar as decisões.
— Então, se você não tem mais nada a fazer por aqui – satirizou Kyouka com uma cordialidade fingida – você pode, por favor, se retirar?
Bakugou soltou um “tch” antes de relaxar a expressão e enfiar as mãos no bolso. Ele deu meia volta e saiu do quarto arrogantemente. Kyouka e Inasa permaneceram quietos, encarando a porta por alguns segundos para ter certeza que Katsuki não iria voltar.
— Minha nossa – suspirou Jirou caindo na cama com o alívio.
Inasa soltou uma risada também aliviada e Kyouka olhou para ele, consequentemente rindo também.
— Como você faz isso?! Em um segundo eu podia ver suas mãos tremendo e no outro você estava completamente calma! – Riu Inasa ainda encostado na parede.
— Oh, eu não estava calma – contrariou Jirou sentando-se novamente – Eu estava desesperada por dentro.
— Desculpe por não responder antes. Eu não sou bom em fingir, por isso é melhor ficar calado.
— Está tudo bem – concordou Kyouka ainda sorrindo – Bem..., o elevador já está vazio – informou Kyouka enrolando um dedo indicador no fone.
— Então, estamos sozinhos novamente – Yoarashi desencostou da parede tranquilamente.
Jirou prendeu um sorriso quando se aproximou de Yoarashi novamente. Ele não se moveu vendo Kyouka de joelhos na cama, engatinhando até ele. Ela o beijou delicadamente e Inasa afastou-se como se levasse um choque.
— Eu acho melhor só conversarmos mesmo – sugeriu ele rapidamente. A mandíbula lívida e os olhos assustados.
— Quê? Por quê? – Kyouka piscou surpresa.
— Eu... Ahn... – Inasa remexeu-se onde estava sentado e limpou a garganta, sempre garantindo que o travesseiro permanecesse entre as pernas – Eu... meio que... tenho um problema aqui. – confessou ele corando e apoiando a mão no travesseiro.
— Oh – soltou Jirou um pouco desapontada – Oh! – ofegou ela percebendo do que se tratava.
Kyouka afastou-se de Inasa, sentando-se ao lado dele na cama, o rosto baixo para esconder o rubor no rosto. Esse era certamente um detalhe que Yaomomo não precisava saber. Não que Jirou estivesse diferente, mas saber que ela teve o mesmo efeito em Inasa a fez perceber que, talvez, as regras sobre garotos no quarto das garotas e vice versa tivessem um bom motivo para serem criadas.
— Então... Ahn... Você quer dar uma volta? – sugeriu Kyouka tentando dispersar o silêncio constrangedor.
— Claro! – concordou Inasa animadamente, então ele encolheu-se novamente – Podemos esperar um pouco? – pediu ele envergonhado.
— Claro.
Depois de alguns minutos em silêncio, com Kyouka prendendo o riso e com a cabeça baixa, os dois desceram para o salão comum. Ainda tinham um quarto de hora até o toque de recolher, então apenas Kaminari, Ashido e Sero ainda conversavam no sofá.
Depois de fugir de um ou dois comentários de Ashido, Jirou e Inasa saíram do prédio para o frio da noite. Mesmo com o casaco, a diferença de temperatura fez Kyouka se remexer em sua roupas para poupar o calor do corpo.
Eles deram alguns passos antes de Yoarashi oferecer sua mão enluvada para segurar a dela. Eles caminharam por alguns minutos, conversando sobre futilidades. Inasa contou sobre alguns amigos fora da escola, uma casa na árvore que ele construíra quando criança e sua primeira viagem com os pais. Kyouka contou sobre as turnês que os pais a levavam quando era mais nova, da tia Kyoshi que cuidava dela depois que começou a escola e os pais não podiam leva-la sem prejudicar os estudos, da primeira vez que seus pais lhe negaram comprar um instrumento (uma terceira guitarra) e como ela criou sua primeira linha de instrumentos para pagar por ele.
O toque de recolher havia começado há poucos minutos quando Kyouka voltou para o 1-A High Aliance, ela insistiu para voltar sozinha, pois Inasa também precisava chegar a tempo no dormitório provisório da Shiketsu.
Ela dormiu bem rápido, o dia tinha sido bom, porém, cansativo. Jirou não se importaria se amanhã também fosse assim. Se todas as vezes que os treinos fossem tão puxados e no fim do dia Inasa estivesse lá, teria valido a pena.
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