When Night Comes escrita por Bia


Capítulo 7
Capitulo 7


Notas iniciais do capítulo

HEEEYYYY. QUANTO TEMPO GENTEEE?
Peço desculpas pela demora e-e Espero que tenham tido um ótimo dezembro e um ótimo natal!
Boa leitura!



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Pov Brenda

Ouvi o despertador tocando de maneira alta, fazendo sua função, despertando-me. Bocejei enquanto piscava os olhos e levantei-me, esticando meu corpo como a maioria dos gatos faziam quase sempre. Saltei da cama e dirigi-me ao banheiro, porém quando ia adentra-lo, ouvi meu celular tocando, era Jessie.

Coloquei no viva voz e fui tomar meu banho de sábado de manhã.

—“Se você se atrasar eu te mato. Sem chances eu ir de ônibus hoje.”

Ri terminando de tirar a roupa, já ligando o chuveiro.

—Vou começar a tomar banho, quando sair pego algo para comer e já vou para sua casa. – Anunciei, esperando a água esquentar enquanto admirava meu corpo com poucas curvas pelo espelho. Não que eu o odiasse, mas também não o achava perfeito, muitas sardas, seios medianos e um bumbum caído demais, além das estrias, marcas de sereia, diria Jessie. – Já está pronta?

Entrei no chuveiro, molhando-me e sentindo meu corpo arrepiar pelo contato suave da água quente com meu corpo já gelado pelo ar frio que fazia hoje.

—“Estou, esperava que já estivesse vindo para cá, mas vou esperar né, fazer o quê?” – Sua voz soou irritada, mas ainda sim ri, começando a ensaboar-me.

—Para de reclamar. Já que está sem fazer nada, faz algo para eu comer no caminho, assim vou mais rápido para sua casa. Chegamos mais cedo.

—“Você quer dizer em cima do horário, né Brenda” – Ri, mas não respondi nada. Sabia que isso foi mais uma afirmação dela do que uma pergunta. – “Vou fazer algo. Vem logo! Tchau!”

—Tchau sua chata.

A chamada foi encerrada com um ralhar seu para mim, mas continuei a tomar meu banho, lavando os cachos acobreados de maneira suave e calma, senão ficaria uma juba só. Quando terminei sai enrolada na toalha e escolhi uma calça de moletom cinza, um tênis branco, uma blusinha azul marinho e uma jaqueta preta por cima, afinal, o clima aparentava apenas piorar no decorrer do dia e não seria eu a desprevenida.

Passei uma leve maquiagem e massageei meus cachos com creme, deixando-os volumosos, do jeito que gostava. Bocejei, olhando para minhas olheiras ainda visíveis por cima da maquiagem, suspirei. Esses dias realmente não andavam fáceis.

A Universidade ainda não havia lançado o gabarito e muito menos a lista de aprovados, tampouco recebi alguma notificação deles por e-mail ou mensagem, então realmente estava no escuro e isso me perturbava um pouco, odiava fazer coisas cujo não tinha o mínimo controle ou explicação, entendimento, nem que seja mínimo do que poderá ocorrer. Meus pais já avisaram-me que eles podem me ajudar no começo, mas pelas situações financeiras dessas Universidades que sempre aumentam o valor de maneira anual, senão semestral, não aguentariam muito tempo e de duas uma, ou eu sairia, ou teria de ajuda-los a pagar; a última não seria ruim, mas ainda sim precisaria de um emprego, o que eu já teria por causa da Senhora Boyne, mas ainda sim... Eu ouvi que ela me ajudaria com um estágio, mas isso ainda não é algo exato, é mais uma possibilidade ainda para mim, então teria de esperar, de qualquer forma, o resultado publicado pela Universidade.

Sai do quarto com a mochila de sábado no ombro, deixava separada apenas pelo comodismo de não desfazê-la, afinal sempre eram as mesmas coisas que eu tinha de levar para ministrar a aula de Arte e Cultura.

A casa estava um silencio, então deduzi que meus pais ainda dormiam, não os culpava, trabalhavam muito e hoje era sábado de manhã, mais precisamente, seis da manhã, eles não trabalhavam hoje então nada mais justo que dormirem muito. Peguei uma fruta na cozinha e a comi, sentada no sofá, mexendo em meu celular, vendo as inúmeras mensagens de Jessie e do grupo do colégio, anunciando algumas informações prévias d Baile de Formatura, algo que eu gostaria de ir, mas odiava esse tipo de amostra adolescente de liberdade ilimitada, algo inútil e irreal.

Terminei de comer e fui escovar os dentes, passando um leve perfume para enfim pegar a chave do carro e sair rumo a casa de Jessie, felizmente ela morava próxima a mim e em menos de dez minutos eu chegaria.

Tranquei a casa e sai com o carro, liguei o rádio e comecei o caminho calmamente, pensando na vida. Não sabia o que faria senão passasse nessa Universidade, algo que comecei a me punir por não ter pensado em um plano B, mas acho que é normal, nunca fiz esse tipo de coisa e estava nervosa, acho que é normal não pensar direito. Jessie e Mota ainda nem começaram a ver as possibilidades de Universidades, até sabem o curso, mas o local não, o que não sai da minha mente que ambos vão acabar tentando entrar na que eu passar ou em qualquer uma mesmo. Queria ter esse nível de despreocupação, pois a minha era sem igual, em um nível bem alto e forte.

Notei que havia começado a chover e que poucos carros passavam por mim, cheguei a casa de minha amiga mais rápido que o esperado e buzinei para que ela viesse rápido. Dito e feito, Jessie praticamente saiu correndo da casa até o carro, entrando nele e tirando a touca para proteger o cabelo de alguma química qualquer.

—Bom dia, flor do dia. – Saldei sorrindo, já virando o volante e indicando que iria entrar na pista para o carro que estava vindo.

Esse carro não parou para eu passar e muito menos ultrapassou-me em alta velocidade, ele apenas diminuiu e passou rente ao meu carro. Olhei para dentro e senti meu corpo arrepiar com os olhos claros e acinzentados que encontrei lá, pisquei e realmente constatei que era Lumía, mas a mesma estava acompanhada por alguém no que não identifiquei, ela sorria para mim.

—Está me ouvindo? – Sobressaltei-me de susto ao sentir meu braço ser apertado, fazendo-me virar. – Nossa, o que foi? Está passando mal?

—Não. – Pisquei algumas vezes, olhando para o volante. Por que eu me sentiria mal ao tê-la olhando para mim? – Não, tudo bem. Estou bem, vamos para o instituto.

—Uhum... Tudo bem. – Seu tom era desconfiado, mas apenas sai com o carro, começando o caminho para lá. – Trouxe seu lanche, quer comer agora? Pão com geleia de goiaba e pasta de amendoim.

Sorri, assentindo. Começamos a conversar enquanto eu comia nos intervalos que dava ao dirigir. Jessie sempre fora boa em me distrair, principalmente constando-me sobre suas histórias doidas, fofocas e tudo mais, mas não conseguia tirar meus problemas da cabeça, não hoje, acho que o estresse andava me dominando bastante, principalmente a ansiedade.

Chegamos no instituto e não prestei atenção em metade do que ela falava sobre um garoto da nossa sala dar em cima dela, acho que era isso, apenas fazia comentários normais e seguíamos rumo a sala. Agradeci pelo café da manhã reforçado e ela sorriu carinhosamente para mim, abraçando-me apertado o que eu não entendi, mas me confortou de maneira absurda, como se ela tivesse percebido que eu estava com a cabeça em outro lugar e esse abraço soasse como: se acalma, tudo vai ficar bem. Realmente agradeci internamente por isso.

Nos despedimos e combinamos de sair depois que acabarmos o período, almoçarmos juntas era uma boa ideia e algo que não fazíamos faz tempo. A vi entrar na sala designada ao seu ensinamento de música e me virei para a minha, suspirando por lembrar que o carro que vi passar por mim, com Lumía dentro, não estava no estacionamento, mas ao entrar na sala, vendo que já havia passado dois minutos do meu horário, a vi sentada em uma das carteiras mais afastadas de todos, na janela.

Engoli em seco e fechei a porta atrás de mim.

—Bom dia, gente. Desculpem o atraso. – Sorri minimamente e alguns corresponderam, falando que só se passaram poucos minutos. – Bom, hoje será uma aula de pintura a óleo, mas quero todos pintem pensando e utilizando técnicas do estilo barroco, tudo bem? Podem ser uma tela do tamanho que quiserem, podem pega-las no fundo da sala como sempre, mas sigam estas duas linhas de pensamento, tudo bem? – Vi cabeças assentindo e entendi como um consenso. Eu olhava para sala, mas ao mesmo tempo evitava completamente olhar para a menina de olhos claros no canto da sala, mesmo sentindo seus olhos em mim. – Qualquer duvida podem me chamar e eu ajudo vocês. Quem sabe no final posso convencer a Senhora Boyle de utilizar a pintura mais bonita em algum evento ou sala do instituto? Vamos lá então! – Todos riram e sorriram, começando a ir para o fundo escolher suas telas.

Enquanto eles começavam a fazer se agitar para tal aula, peguei meu celular e avisei minimamente meus pais sobre almoçar com Jessie fora e aproveitei para mandar uma mensagem breve, agradecendo-a sobre o abraço e que queria conversar mais com ela, sobre eu andar estressada e distante... Eu digitei isso, mas parei... Fiquei olhando para a tela, pensando que esse meu “jeito distante” também foi por causa dos acontecidos com Nevena... Com os lobos e os ataques. Suspirei, fechando os olhos minimamente, apagando a última frase, deixando apenas o agradecimento e confirmando almoçarmos mais tarde.

Arfei e puxei o ar com força, suspirando logo depois. Passei a mão pela testa, voltando meus pensamentos para a morena de olhos verdes, seu sorriso torto e jeito contido. Fazia tempo que não nos falávamos, nem nos encontrávamos... Não tinha o contato dela, então não tinha como entrar em contato com ela e... Eu deveria? Acho que sim, realmente confio nela depois de ter salvo minha vida duas vezes e ser tão gentil e atenciosa até, em momento algum ela me desrespeitou ou se aproveitou de algo, fora deveras cavalheira.

—Pensamentos em outro mundo, professora?

Sobressaltei-me, virando e encarando quem eu menos queria, Lumía, que sorri para mim com sua tela retangular em baixo do braço.

—É, sim. Desculpe, ando pensando bastante ultimamente. – Ri fraco e comecei a me afastar, indo para os outros alunos, afim de distanciar-me com a desculpa silenciosa de supervisionar os alunos.

—Onde anda com seus pensamentos?

Quis suspirar ao percebê-la me seguindo, porém caminhei entre os alunos com suas telas e as tintas sendo escolhidas por eles aos poucos.

—Minha vida, digamos que ela está cobrando mais coisas de mim agora. – Não sou uma pessoa de ficar falando, quer dizer, até que sim, mas não quando eu não me sentia confortável. Resolvi inverter a situação. – Mas me conte mais sobre você! Uma aluna de outra escola que só vem para minha aula de sábado de manha. – Ri fraco para disfarçar. – Curioso.

—Curioso gostar de arte e apreciar as culturas tanto nossa quanto outras?

—Curioso você se disponibilizar para ir a um outro local sem ser os próximos a você para estudar isso. – Comentei, vendo alguns alunos já começando. – Mas a arte e cultura realmente valem a pena! Porém me diga, onde você mora?

—Um pouco longe daqui. – Se limitou a falar, parando em seu cavalete. – Perto da floresta.

—Entendo. Você vê muitos lobos por lá? – Ela me olhou de maneira demorada e intensa. – Afinal você só faz arte com eles, seja esculturas, desenhos ou pinturas.

Seus olhos desgrudaram-se do meu, mas ainda sim podia sentir minha pele queimando pela intensidade daquele olhar.

—Sim, muitos. Faz parte de mim.

Levantei uma sobrancelha, curiosa.

—Como assim? – Instiguei, mas ela sorriu e eu mordi o lábio, torcendo para que ela não corte o assunto.

—É complicado, mas quem sabe um dia você descubra não é? – Seus olhos voltaram a queimar minha pele, olhando-me com intensidade e fixação. – Anda mexendo onde ninguém como você ousou ficar fuçando, não a pouco tempo, pelo menos.

Engoli a saliva em minha boca, encarando seus olhos azul acinzentados, mas que também pareciam verdes e foi como um deja vu, o calafrio percorreu meu corpo e o rosnado pareceu totalmente audível em minha mente, os caninos afiados no focinho longo, a pelagem acinzentada, quase como seus olhos claros e o olhar intenso, predatório.

Meu coração disparou e eu me distanciei. Sentia meu corpo fraco, me senti tonta. Sai da sala e andei até o bebedouro mais próximo que ficava perto da entrada principal do instituto. Escorei-me ali e deixei minha mente criar a imagem por si só do lobo e de Lumía.. Se fosse uma coincidência, seria totalmente extrema e louca, mas se for verdade... Eu corro perigo.

Balancei a cabeça e abaixei-me, bebendo um pouco de água até me sentir um pouco melhor, respirando com calma e firmeza, fechando os olhos minimamente. Voltei para sala e resolvi me manter calma, se ela realmente fosse isso, fosse aquilo, aquele lobo, ela com certeza teria esses sentidos de predador que sente medo, então eu teria de me acalmar um pouco, afim de não piorar tudo.

Vi que todos pintavam, inclusive ela e a mesma não me olhou nem mudou sua expressão concentrada enquanto pintava. Lembrei de suas palavras: quem sabe um dia você descubra não é? Anda mexendo onde ninguém como você ousou ficar fuçando, não a pouco tempo, pelo menos.

Engoli em seco. Alguém como eu? Será que era isso que Astrid falava? De todos sermos iguais, mas ao mesmo tempo diferentes? Alguém como eu... Alguém como eu, que era diferente deles, do mundo das três mulheres, alguém como eu que sou diferente, mas que estou “mexendo” e aproximando-me do mundo delas.

Balancei a cabeça, passando a mão em minha testa enquanto suspirava. Arrependo-me do momento que comecei a pensar sobre tudo isso que aconteceu, era justamente isso que eu evitava! Todos esses pensamentos lógicos que eu faria assim que começasse a pensar mesmo sobre isso, tentando ligar os pontos, analisando os fatos, criando conclusões mesmo sem obter respostas concretas. Era realmente isso que eu tentava evitar.

Resolvi me distrair pintando, então peguei uma tela relativamente grande e antes de pegar tintas, vi que todos estavam em silencio pintando. Perguntei se eles se incomodariam em ouvir música enquanto pintavam e todos gostaram da ideia, então peguei a caixa de tinta (sim, todas), pois não sabia o que de fato pintaria. Coloquei tudo na perto de minha mesa e a tela no cavalete, depois coloquei uma música ao fundo, começando a pintar, puramente na tela, sem desenhar antes.

When you're low
(Quando você está baixo)

And your knees can't rise
(E os joelhos não podem subir)

You feel helpless
(Você se sente impotente)

And you're looking to the Sky
(E você está olhando para o céu)

Some people would say
(Algumas pessoas diriam)

To accept their fate
(Para aceitar o seu destino)

Well, if this is fate then we'll find a way to cheat
(Bem, se este é o destino, em seguida, vamos encontrar uma maneira de enganar)

O pincel era rápido e pintava de forma espalhada a tinta preta pelas bordas da tela, as vezes sendo mais detalhado por pinceladas em um tom de azul escuro, marinho.

Cause, oh, oh, oh, oh, oh we'll say a little prayer
(Porque, oh, oh, oh, oh, oh vamos dizer uma pequena oração)

But, oh, oh, oh, oh, oh if the answer isn't fair
(Mas, oh, oh, oh, oh, oh, se a resposta não é justo)

Pelo canto dos olhos notava alguns alunos mexendo o corpo de acordo com a música, ouros os braços, as pernas, a cabeça. Sorri, pintando ainda mais.

You know you can call on me
(Você sabe que pode chamar-me)

When you need somebody
(Quando você precisa de alguém)

You know you can call on me
(Você sabe que pode chamar-me)

When you can't stop the tears from falling down, down
(Quando você não pode parar as lágrimas de cair, cair)

You know you can call on me
(Você sabe que pode chamar-me)

Call on me, Darling
(Chame-me, querida)

You know you can call on me
(Você sabe que pode chamar-me)

Call on me, darling (Call on me)
(Chame-me, querida (me chame)

Retoquei as bordas e comecei a pintar o meio, notando que o que eu fazia era uma paisagem, mas ao mesmo tempo que estava fazendo, não me dava ao trabalho de pensar sobre ela, apenas fazia. Comecei a trabalhar em um corpo em meio aquela escuridão, metade dele pelo menos.

When you're weary
(Quando você está cansado)

And the road is dark
(E a estrada é escura)

And I'll guide you
(E eu vou guiá-lo)

With the beating of my heart
(Com a batida do meu coração)

And if the cavalry
(E se a cavalaria)

And the help don't come
(E a ajuda não vem)

Well, then we'll find a way
(Bem, então vamos encontrar uma maneira)

To dodge a smoking gun
(Para esquivar-se uma arma fumegante)

Peguei a tinta vermelha e comecei a pintar a blusa xadrez depois de ter desenhado com um fino pincel molhado com tinta preto o contorno do tronco, braços, pescoço, rosto e cabelo.

Cause, oh, oh, oh, oh, oh we'll say a little prayer
(Porque, oh, oh, oh, oh, oh vamos dizer uma pequena oração)

But, oh, oh, oh, oh, oh if the answer isn't fair
(Mas, oh, oh, oh, oh, oh, se a resposta não é justo)

You know you can call on me
(Você sabe que pode chamar-me)

When you need somebody
(Quando você precisa de alguém)

You know you can call on me
(Você sabe que pode chamar-me)

When you can't stop the tears from falling down, down
(Quando você não pode parar as lágrimas de cair, cair)

You know you can call on me
(Você sabe que pode chamar-me)

Call on me, Darling
(Chame-me, querida)

You know you can call on me
(Você sabe que pode chamar-me)

Call on me, darling (Call on me)
(Chame-me, querida (me chame)

Misturei algumas tintas até chegar ao tom de pele que desejava em minha mente, começando a pintar a pouca pele exposta, ouvindo agora a batida remixada da música, sentindo meus pés mexerem minimamente no ritmo, assim como meu corpo de forma singela.

When you're, you need someone (Just call on me)
(Quando você estiver, você precisa de alguém (Apenas me chame)

You need somebody to cling to (Call on me)
(Você precisa de alguém para se agarrar (Call on me)

When you're, you need someone (Just call on me)
(Quando você estiver, você precisa de alguém (Apenas me chame)

You need somebody to dry your tears
(Você precisa de alguém para secar suas lágrimas)

When you're, you need someone (You can call me)
(Quando você estiver, você precisa de alguém (Você pode me chamar)

You need somebody to cling to (Just call on me)
(Você precisa de alguém para se agarrar (Apenas me chame)

Voltei-me para o cabelo, depois os detalhamentos de luz e sombra, voltando-me depois para o acabamento, por fim, pintando os olhos... Verde esmeralda.

Just call on me, love (Just call on me)
(Apenas me chame, amor (Apenas me chame)

Just call on me, love (Call on me)
Apenas me chame, amor (me chame)

Just call on me, love (Just call on me)
((Apenas me chame, amor (Apenas me chame)

Just call on me, love (Call on me)
(Apenas me chame, amor (me chame)

Just call on me, love, on me
(Apenas me chame, amor, em mim)

A letra chegou ao fim, mas a batida remixada continuou e eu parei para olhar o que fiz enquanto a música se repetia. Estava ofegante, até mesmo com falta de ar, mas fiquei impressionada comigo mesma por vê-la ali, tão real em minha pintura. Seus cabelos ondulados, jogados para trás acima de sua orelha estavam realmente ondulados para trás, brilhosos pela lua grande que pintei no fundo da floresta densa e escura atrás dela. Sua blusa era a mesma de quando nos conhecemos, a xadrez flanelada vermelha, a pele relativamente branca demais contrastando com o fundo e as bochechas levemente avermelhadas e os olhos, as obres verdes pareciam brilhar enquanto olhava para frente, parecendo olhar para mim...

—Brenda? Coloca outra música!

Despertei-me do torpor, piscando algumas vezes, voltando a inalar ar com força. Olhei para um menino de pé e constatei que ele quem pedira pela música. Assenti e coloquei outra qualquer para tocar, não me importando qual era.

Eu não a via desde o ocorrido com o lobo no ponto de ônibus, mesmo falando que deveríamos nos conhecer mais... Não trocamos contato e eu não sabia onde acha-la, ela também não apareceu mais, então realmente não nos falamos mais até então. O estranho é que isso me incomodava, como se nós deveríamos nos falar, deveríamos nos encontrar... Mas não tínhamos nada, nem nos conhecíamos direito!

Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos de mim. Deixei o quadro virado para a lousa, assim ninguém veria. Dei uma olhada nas obras dos alunos e vi que eles realmente estavam seguindo o estilo barroco, o que era ótimo. Tínhamos, até agora, paisagens, quadros abstratos, pessoas, retratos e animais, claro, de tudo um pouco. Dei uma olhada no relógio e me assustei com o avançar das horas, nos restava apenas duas horas de aula, ou seja, já eram nove da manhã.

Fiquei conversando com alguns alunos mais simpáticos, olhando o quadro de alguns e tentando não me focar muito em Lumía, sabia seu nome graças a Jessie, a fofoqueira, mas ainda sim percebi que ela fez mais um lobo, dessa vez o rosto grande de um lobo negro com olhos castanhos, atrás dele, parecia haver mais lobos. Engoli em seco, pensando que aquilo poderia ser facilmente o retrato de uma matilha, ou alcateia.

O tempo terminou de passar rápido e dispensei todos, deixando os quadros nomeados nos cavaletes, realmente tentaria ver a possibilidade com a Senhora Boyle de expor pelo menos um deles no instituto. A menina de olhos claros fora a última a sair, sorrindo enquanto olhava-me intensamente antes de despedir-se e sumir de minha vista, fazendo-me suspirar aliviada.

Comecei a arrumar as coisas e a porta fora aberta por uma Jessie afobada, parada entre a parede e a porta.

—Não vou poder almoçar com você hoje, eu... Recebi uma ligação importante e preciso resolver! Tudo bem?! – Sua voz denunciava sua correria e até nervosismo.

—Tudo bem, claro. – Falei, estranhando a situação, mas se era algo importante, tudo bem! - Vai me avisando, boa sorte. Toma cuidado andando desse jeito por aí!

Jessie apenas assentiu e bateu a porta, achei estranho, mas depois falaria com ela, quando estivesse mais calma. Terminei de arrumar as coisas com calma, fiquei satisfeita apenas quando as telas chamavam mais atenção na sala e só ai peguei minha bolsa e sai, começando a ir direto para o carro com minha tela em mãos.

—Senhorita MacDonald? – Virei para trás e vi a Senhora Boyle caminhando em minha direção. – Como vai? Tudo ocorreu bem em sua aula hoje?

—Como sempre, tudo bem. – Sorri, cumprimentando-a com um abraço. – Estou bem e a senhora? Ainda aqui?

—Não me canso de trabalhar. – Riu e a acompanhei. – Do que foi a aula hoje? Pintura? – Apontou para o meu quadro.

—Oh, sim! Falando nisso, gostaria que pensassem a respeito de expor as obras dos alunos no instituto. – Comentei e ela pareceu interessada. – Pensei em expor a melhor, ou todas, não sei. De acordo com a disponibilidade e interesse de vocês, claro!

Senhora Boyle nada respondeu, mas sorriu depois de um tempo e deu um mini passo em minha direção, tocando meu ombro de leve enquanto olhava no fundo de meus olhos, estaquei.

—Você está se transformando em uma ótima professora, continue assim! Espero que logo a senhorita ingresse em nosso corpo docente. – Sorri, impossível não sorrir com suas palavras! – Sobre a exposição: com certeza! Mas primeiro vamos resolver as coisas por partes, como vai sua ingressão na Universidade?

—Estou aguardando ansiosamente os resultados. – Falei meio vacilante, mas sorrindo de leve. – Espero obtê-los em breve! Passarei para você assim que souber.

—Ótimo! Até lá terei a resposta sobre sua exposição de alunos. – Ela começou a se distanciar, virando no corredor cruzado com este. – Até breve, Senhorita MacDonald!

—Até breve, Senhora Boyle!

Despedi-me sorrindo. Eu realmente queria muito isso!

Voltei a caminhar para a porta principal e quando sai quis chorar, uma chuva torrencial caia e meu carro estava um pouco distante, eu estava com o quadro e se ele pegasse uma gotinha de chuva estragaria tudo, óbvio.

Olhei para os lados e vi que não havia muitos carros, apenas o meu, um pouco distante, e mais dois, mais distantes ainda. Entortei a boca e deixei o quadro ali, olhando novamente para os lados, temendo que alguém o pegasse... Respirei fundo e peguei as chaves na mochila, depois corri na chuva até o carro, destravando-o e entrando, dando partida logo em seguida, rumando para perto do quadro para que não ficasse tão longe e pegasse chuva.

Parei o carro de modo que sua traseira ficasse coberta pela construção do colégio, então sai dele, sem me importar de me molhar e vi que o mesmo estava intacto, sorri. Me virei para abrir o porta-malas e agradeci mentalmente por não ter nada ali que pressionasse o quadro, ou algo assim, quando tornei a me virar, sobressaltei-me por ver uma pessoa segurando o quadro, olhando para ele, meu coração disparou e abri a boca para falar, mas uma lufada de vento trouxe o perfume da pessoa até mim e instintivamente me calei: Nevena.

—Não sabia que eu era tão... Bela.

Engoli em seco, sentindo-me nervosa ao extremo por vê-la segurando o quadro em que eu a pintei! Subi para o patamar que ela estava e fiquei ao seu lado, olhando para o seu perfil e pela primeira vez desde quando a conhece, ela sorria abertamente. Seus lábios finos e vermelhos repuxados em um sorriso grande, mas além da beleza disso, o que me chamou a atenção fora seus dentes, ela tinha dois caninos, ou quase isso, um mais alongado que o normal e outro do tamanho normal, mas ambos com as pontas finas. Aparentavam ser extremamente afiados, como se ela os usasse para perfurar algo, ou serrar, mas... Perfurar... Ela...

—Está me ouvindo? – Pisquei algumas vezes, vendo sua palma indo e vindo em minha frente. Levei minha mão até a sua, abaixando-a. – Está tudo bem? Você ficou me encarando.

—Não! Tudo bem sim, é que... Me distrai. – Ri, raspando a garganta. Olhei para o quadro e só então, quando fiz menção se pegá-lo, que percebi que ainda segurada sua mão na minha. Soltei sua mão, tentando não me concentrar nisso para não corar. – Me desculpe pelo quadro, foi um... Devaneio. – Ri, pegando-o e já o colocando no porta-malas, fechando-o logo em seguida.

Quando voltei a olha-la, ela sorria novamente desse jeito aberto, deixando os dentes novamente expostos e dessa vez tive certeza do que via: dois dentes muito bem afiados que serviriam, com certeza, para perfurar coisas, senão carne!

Mas mesmo este pensamento ecoando em minha cabeça como um sinal enorme de alerta, eu apenas consegui ficar encarando-a, admirando seu sorriso e como a pele de seu rosto repuxava com isso, como seus olhos diminuíam de tamanho, ficando quase fechados e como seus olhos pareciam brilhar, mesmo quase semicerrados.

—Foi um devaneio muito talentoso. – Ela riu e seu sorriso diminuiu, escondendo seus dentes afiados dentro daquele sorriso que eu já vi algumas vezes. – Não sabia que era bonita assim. – Seu riso foi como para tirar graça da situação, mas soou também com um pingo de vergonha.

Ri, balançando a cabeça.

—Você tem um charme natural. – Falei, rindo de leve. – Veio fazer o que aqui?

Olhei para ela e a mesma sorria grande de novo. Tive que morder o lábio para não sorrir para ela também, só então reparando em suas roupas: Nevena usava uma bota de trilha preta, uma calça jeans também preta e com rasgos, uma blusa vermelha escura e por cima um sobretudo também preta, além de um cachecol branco estar enrolado em seu pescoço.

Perto dela eu parecia um mendigo.

—Vim te ver, como sempre. – Seu sorriso diminuiu, mas não sumiu. A vi se aproximar de mim, parando em minha frente. – Pensei em... Não sei, sairmos para tomar um sorvete. – Abri a boca para responder, mas ela voltou a falar mais animada. – Está me devendo um “nos conhecermos mais”.

Ri de sua fala.

—O que é um “nos conhecermos mais”? – Ela riu junto comigo e balançou os ombros, fazendo-me rir um pouco mais. Balancei a cabeça, olhando para o lado, pensando. – Quer tomar sorvete nesse frio? Chovendo?

—O que tem? – Perguntou ainda sorrindo. Ela parecia feliz, nunca a vi assim. – Se estivesse sol não deixaria o sorvete menos gelado.

—Pois é. – Tomei aquilo como uma afirmação cujo não poderia retrucar, então apenas assenti. – Vamos tomar um sorvete. Pode entrar no carro, já destranquei. – Virei-me e entrei para o banco do motorista, ouvindo a porta ao meu lado se abrir e uma Nevena incrivelmente linda, perfumada e sorridente se sentar ao meu lado.

ʘ

Dirigi até o centro da cidade onde praticamente só havia uma única sorveteria que eu achava realmente boa, claro que havia outras, mas só ela tinha mais variedade de sabores e servia outras coisas além de sorvete, o que é ótimo, pois eu estava morrendo de fome.

—Você vem muito aqui?

Me virei, olhando para a morena enquanto nos afastávamos do carro estacionado. O tranquei e balancei os ombros.

—Mais ou menos. – Respondi olhando para os lados enquanto atravessávamos, já chegando a calçada da sorveteria. – Vinha mais quando menor com meus pais, hoje nem tanto. Venho com Jessie e Mota, meus amigos, mas também paramos de vir.

—Entendi. – Disse e notei em seu tom um ar risonho que me fez olha-la e ver o sorriso torto em seus lábios.

—O que? Não posso vir a uma sorveteria? – Perguntei rindo de leve e ela acompanhou.

—Poder pode, mas não é como se você fosse muito mais velha para falar que vinha quando mais nova. Seu mais nova era quanto? Dois anos atrás? – Seu tom era o que realmente escondia uma risada e semicerrei os olhos, tentando fazer cara de brava.

Ela estava tirando comigo?

—Muito engraçada você, Nevena. E sim! Eu quis dizer de dois a três anos que não venho aqui. – Falei rindo de pois e ela me acompanhou. – Mas para o seu conhecimento, eu adoro isso aqui e amo sorvete! E eles tem vários sabores!

Ela balançou a cabeça e nos aproximamos da entrada da loja, depois fomos para perto do freezer que expunha os sorvetes e uma moça veio para perto de nós.

—Vamos querer dois sundaes completos, por favor. – Pedi e ela assentiu, pegando o pote que comportava 300g de sorvetes a sua escolha. A moça se afastou para colocar a camada de cobertura e farofa cookies antes de colocar os sorvetes.

—Você, amante e conhecedora de sorvete queria ainda recusar meu convite? – Falou e a olhei. – Assim fico com medo, penso que acha minha companhia ruim!

Nevena sorria. Seu sorriso era lindo, assim como ela e ainda mais com aquela sol mínimo que passava entre as nuvens de chuva vindo por trás de sua imagem, deixando-a ainda mais visível e a imagem mais bonita e viva em minha cabeça.

Balancei a cabeça e a empurrei de leve pelo ombro, ouvindo um grunhido dela. Olhei-a e neguei rindo vendo que ela fazia uma expressão de que meu empurrão havia a machucado.

—Já vi você aguentando coisas piores que o meu empurrão. Vai sobreviver. – Falei começando a apontar para os sabores de sorvetes que eu queria, vendo a moça começar a pegar as bolas generosas de massa.

—Com você ao meu lado, com certeza irei.

Se eu estivesse bebendo algo, com toda a certeza eu teria engasgado. Meus olhos se arregalaram levemente e corei, de maneira forte pelo calor que sentia em meu rosto, mesmo estando frio. Olhei para ela e a vi com um sorriso mínimo nos lábios, engoli em seco e desviei o olhar, suspirando.

Não falamos mais nada até a moça me entregar meu pote e eu pegar as caldas que deixavam ali em cima para engordarmos.

—Melhor pegar meu sorvete, senão eu acabo esse e já pego mais um. – Falei apertando a calda de uva e morango ao mesmo tempo e com força, fazendo espirrar em meu sorvete.

—Pode me ver o mesmo que o dela, por favor. – A ouvi pedir e virei para ela. Sem criatividade para sorvetes? Acho que ela percebeu minha cara e seu sorriso morreu, ao mesmo tempo que soltava uma risada curta. – O que? Eu não conheço tanto de sorvetes assim! Você pediu sete sabores! Devem ser ótimos, por isso peguei igual.

—Tá, vou aceitar essa desculpa, porém... Moça, substitui três por esses outros três sabores aqui! São muito bons também! – Apontei e a moça riu, pegando-os e terminando o sundae completo de Nevena. – Prova! Você vai amar! – Me virei para a mulher novamente. – Me vê uma torta de carne bem assada com batata frita em dobro! Obrigada!

—Tudo bem, podem se sentar. – Respondeu risonha e assenti já começando a comer meu sundae, indo para a mesa perto da janela.

Eu e Nevena nos sentamos e notei que ela sorria, percebendo novamente que eu não vi muito isso até agora e hoje, especialmente, ela andava bem sorridente, o que me fazia pensar o motivo disso.

—Como foi seu dia? Parece bem feliz hoje.

Minha pergunta a pegou desprevenida e ela parou, ficou me olhando e seu sorriso morreu. Ela se ajeitou na cadeira e começou a tomar o sorvete sem calda.

—Desculpe. Meu dia foi comum, nada de mais e o seu? – Seu tom agora era o normal que eu estava lembrada, mudando completamente o seu jeito anterior, o que estranhei.

—Ei? Não tem nenhum problema você sorrir, está bem? – Ela me olhou quando toquei seu braço com minha mão direita, parando de tomar o sorvete. – Só comentei porque antes você parecia um pouco... Triste, não sei, agora você parece feliz e isso é bom! Não falei por mal, está bem? – Ela assentiu e abaixou os olhos, voltando a comer.

Retirei minha mão de seu braço coberto pelo sobretudo. Quis socar minha própria cabeça por falar isso e ela parar de sorrir e agir como antes! Sei lá eu só... Estava curiosa!

—Eu acordo muito cedo, mas não fiz muitas coisas. – Começou atraindo minha atenção. – Sai para... Caminhar. Faço isso logo quando acordo. Encontrei uma amiga, conversamos sobre... Política, acho que você chamam assim.

Ri de leve, voltando a comer meu sorvete.

—Como assim política?

—Bom é que... No final do ano temos uma eleição de nosso novo representante e comandante, uma figura maior, alguém que nos fala o que fazer. Mais ou menos isso.

Seu tom ainda não era como antes, mas pelo menos conversávamos.

—E vocês conversaram sobre o que? Quem são os candidatos?

—Acho que sim. – Ela demorou para responder dessa vez. Seu olhar era totalmente voltado para o sorvete, hora outra levando-a a boca. – Aparentemente eu sou um deles.

Arqueei as sobrancelhas totalmente surpresa.

—Isso é legal, não? Por que parece aborrecida? – Perguntei, vendo-me interessada pelo assunto.

—Eu não... – Ela parou, arfando e respirando fundo depois, largando a colher do sorvete. – Quando pensei em vir te ver eu não pensei em falar realmente sobre isso... – Franzi o cenho e ela me olhou, erguendo a palma para mim com uma expressão preocupada. – Quer dizer! Não é isso, é que... Esse assunto é muito complicado para mim e... Demora muito explica-lo.

—Temos todo o tempo do mundo. – Falei, sustentando seu olhar, vendo-a suspirar e abaixar a cabeça.

—Por que você é difícil? – Perguntou e eu ri baixo.

—Por que eu sou difícil? – Rebati e ela me olhou, piscando algumas vezes, como se pensasse e por fim riu.

—Sua curiosidade te levou a muitos lugares? – Devolveu com outra pergunta, pegando a colher novamente, voltando a tomar o sorvete aos poucos.

—Para alguns que você poderia me falar, eu acho. – Resolvi jogar, para ver se obtia algumas respostas para meus pensamentos...

—Depende. O que sua curiosidade lhe revelou ultimamente? – Seu tom era risonho, acho que ela ainda não entendeu o que eu falava.

—Você. – Seus olhos verdes prenderam-se nos meus castanhos, seu sorriso vacilou. – Astrid. Lobos e vampiros. Bruxas.

Seu sorriso morreu e sua expressão se tornou séria. Nevena sustentou meu olhar por um tempo que eu não soube, mas percebi que se estendeu até o ponto de se tornar estranho, pois só quebrei o contato quando a moça que pegou nossos sorvetes anunciou meu pedido e deixou uma comanda na mesa, saindo logo em seguida.

Comecei a comer minha torta de carne com a trilha sonora do nosso silencio. Eu tentava não parecer nervosa, mas não sei se adiantava muito, pois realmente me sentia nervosa com a possibilidade de uma reação não muito boa dela, ou até mesmo ela apenas se levantar e sair, depois vindo me falar algo de forma rude ou coisa assim.

Mais um longo tempo se passou e terminei minha torta, meu sorvete já havia derretido um pouco e o de Nevena também, que desde então não tocou mais nele.

—Não vai mais falar comigo? – Ousei perguntar, atraindo a atenção de seus olhos para os meus. Pela primeira vez os vi escuros.

—O que quer que eu fale?

—Alguma coisa sobre o que eu acabei de te falar! – Respondi no mesmo tom seco e ríspido.

—Não é fácil assim, Brenda. – Ralhou, rindo brevemente com ironia. – Tem coisas que não podemos contar a vocês! Tem coisas que vocês não podem saber!

—Você não pode me falar, mas Astrid pode? – Nevena parou. – Perguntarei a ela então!

—O que ela te falou? – Agora seu tom era mais calmo.

—O que te importa isso? Não vai me falar nada mesmo. – Sim, eu estava brava.

Nevena bufou, encarando-me antes de balançar a cabeça. E assim ela ficou, balançando a cabeça, olhando para tudo, até para mim, mesmo que poucas vezes, mas sem falar nada. Até esqueci meu sorvete e ela o seu.

—Eu sei que... – Um suspiro e um olhar para baixo, depois voltou a encarar-me. – O que você pensou? Sobre... Isso.

Ergui uma sobrancelha, cruzando o braço.

—Várias coisas. Agora está interessada em ouvir? – Perguntei com ironia e ela balançou a cabeça novamente, rindo de leve.

—Viu como você é difícil? – Acho que era uma pergunta retórica, mas mesmo assim quis responder.

—E você acha que é fácil? – Seus olhos ergueram-se para mim. – Nevena, eu não te conheço, nunca nem te vi e te encontro carregando-me em uma floresta. Depois você faz coisas que ninguém no mundo consegue e ainda luta com um lobo duas vezes para salvar a minha vida! Como você acha que me sinto? O que acha que eu penso? – Meu tom não era alto, muito pelo contrário, era forte e nítido, mas não alto. – Astrid foi em minha casa e não falou nada sobre isso: lobos, vampiros e bruxas! Isso eu pensei sozinha, vendo você, vendo lobos muito maiores que os normais, vendo uma aluna minha doida pintando e retratando tudo com lobos e pessoas os enfrentando igualzinho você fez! – Essa parte a vi franzir o cenho, porém não me interrompeu. – Eu pensei em tudo isso, tudo sozinha e tirei minhas conclusões! Astrid só me falou que éramos todos iguais, que eu, você e ela éramos iguais, mas diferentes, com mundos diferentes. Disse coisas sobre um patamar superior, algo assim, eu entendi que era espíritos e tudo mais, já que ela falou que era algo que nós chamávamos de Deus. – Pausei para comer algumas batatas. – Ela disse que é uma bruxa, que você e ela são desse mundo sobrenatural, meio humanas. Disse que ela sabe de informações e pretende usa-las, mas que você sabe tampouco quanto eu sobre nós, sobre o que irá acontecer e o que está acontecendo, disse algo sobre ser assim para você por causa do que ocorreu com seu pai... – Essa última parte eu a olhei, não havia percebido, mas meu tom de voz foi diminuindo, até parar de falar.

Nevena me encarava com interesse e atenção, mas assim que falei a última parte, vi seus olhos tornarem-se escuros novamente. Por nervosismo, voltei a comer, deixando-a pensar nas informações que jorrei para ela.

—Astrid falou essas coisas para você com um propósito. – Depois de muito tempo, ela falou. – Verei isso com ela mais tarde, mas Brenda, preciso que entenda uma coisa: Astrid foi exilada de nosso mundo, ela viva afastada de todos nós e não tem nenhuma perspectiva de perdão, por isso ela falou essas coisas para você, porque punição pior do que ela já tem é apenas a morte, porém não podemos mata-la. – Seus olhos estavam fixados em mim, sua expressão de dor tão conhecida por mim estava presente, sua voz grave e forte, intensa. Minhas mãos foram tomadas pelas dela, fazendo-me meu coração pular dentro do peito. – Essa mesma ação não será tolerada para mim, eu... – Nevena pareceu pensar, suas mãos balançaram levemente. Ela parecia nervosa. – Temo que se falar demais para você e alguém descobrir, possa ser exilada ou morta, entende? Eu realmente não tenho muito a perder, mas... Eu não sei, preciso falar com Astrid primeiro.

Apenas assenti, a mulher soltou minhas mãos e afastou-se da mesa onde estava parcialmente debruçada. Soltei a respiração, não notando que havia a prendido. Pisquei algumas vezes, abaixando o olhar para minha comida, havia perdido totalmente a fome.

Ficamos ali, em silencio por um tempo até que ela disse que iria ao banheiro, deixando-me sozinha com meus pensamentos.

O mais curioso é que ela não negou nada, então tudo era verdade, tudo, tudo mesmo, inclusive as coisas loucas e paranoicas, como lobisomens, vampiros e bruxas! Então Nevena realmente é uma vampira... Os dentes, a força, a velocidade, tudo fazia total sentido e Astrid havia plantado essa semente de pensamento, esta que Nevena confirmou tudo não negando.

Balancei a cabeça e a apoiei em minhas mãos, deixando meus cotovelos sustentarem o peso apoiados na mesa. Respirei fundo e peguei meu celular quando ouvi uma notificação, era de Jessie avisando que havia chego em casa e pedindo desculpas pelo ocorrido, mas o que me chamou mais a atenção foi uma notificação de e-mail, entrei no aplicativo e senti meu coração disparar no peito ao mesmo tempo que a visão embaçava: era o e-mail da Universidade Robert Gordon.

Li rapidamente o que estava escrito: Aprovada. Senti meu estomago revirar e levantei-me apressada, indo até o banheiro com várias cabines, pouco  me importando se Nevena estava ou não lá dentro, apenas entrei na primeira cabine e debrucei-me no vaso, vomitando tudo que havia comido desde de manhã.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e-e este cao foi um dos meus preferidos e que adorei escrever!
Muitas não devem gostar disso de ter letra de música, porém eu acho interessante e coloco U-U Dá um tchan a mais, sla

Esse cap mostra mais um intereção delas gente, mas confesso que estou in love com o cap 9 que escrevi, slc e-e