When Night Comes escrita por Bia


Capítulo 14
Capitulo 14


Notas iniciais do capítulo

Hey!
Desculpem os erros e-e devem ter alguns
Boa leitura ♥



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Pov Nevena

Pouco tempo depois que deixei Brenda na residência dos pais me retirei para a Vila, onde tudo estava como deveria estar, movimentado após as dez horas da noite. Por mais que evoluímos com o tempo e nossa espécie não seja similar aos morcego e animais noturnos, adquirimos hábitos desses animais, como a vida após a meia noite.

Passei por muito de meu povo cumprimentando poucos de maneira breve, ausentando-me de qualquer coisa que não estivesse ligada ao meu quarto. Entrei na casa e pude sentir presenças cotidianas, as bruxas e Eco, mas limitei-me a não fazer nada e rumar para meu chuveiro onde, ao entrar, tranquei a porta e despi-me para relaxar.

Assim que me pus abaixo da saída de água senti meu corpo relaxar levemente. Fechando os olhos retomei os momentos que tive com Brenda a tão poucas horas... Sentindo tudo novamente como se estivéssemos fazendo novamente, como se ela estivesse aqui. Abri os olhos e suspirei, Brenda estava sendo uma enorme reviravolta em minha vida, em minha mente, em tudo. Confirmo a todos que me questionarei se tampouco imaginei isto ocorrendo um dia, realmente nunca imaginei aproximar-me tanto de alguém que não fosse de minha natureza, mas claramente a vida tinha outros planos. Pensando nisso, tudo que Astrid falava para que eu me conscientizasse dos planos divinos e superiores surtiam efeito, eu realmente lhe ouvia e prestava atenção, tentando trazer aquilo tudo um pouco de sentido, mas raramente conseguia.

Por anos aproximei-me da bruxa de maneira cautelosa, tentando, ainda sim, criar uma distância saudável e não lamentável como todos iguais a mim faziam. Tentava não criar julgamentos com a mulher, muito menos feri-lhe como a maioria fazia, apenas me aproximei para lhe conhecer e tirar minhas próprias conclusões, e por fim tirei. Talvez tudo isso faça parte do plano divino superior que ela fala, mas não me falou anteriormente, quando nos conhecemos, muito menos durante todos esses anos. Entendo que, provavelmente, não teria de saber naquela hora, mas ainda sim era algo relevante a se pensar, assim como o motivo de Astrid realmente fazer isso, tudo isso, influenciar tudo assim. Será que alguém já lhe exigiu provas dessas falas convictas que diz trazer do plano superior? Provavelmente sim, já que tantos anciões antes de mim lhe diziam não aos planos.

Suspirei novamente e terminei de me banhar, saindo para me secar enquanto ponderava a ideia de um confronto a mesma sobre esse plano divino. Sai do banheiro e fui para o armário ali perto, pegando peças intimas, uma regata e um short.

Eco não serviria para um bom conselho desta vez, mas também penso que deveria reduzir as vezes em que lhe peço conselhos, afinal a anciã sou eu, não minha amiga. Esta já me providenciou tudo o que lhe pedi referente a aprender mais sobre todos os povos, os costumes, a história, relatos e muito mais, ela de fato o fez e já li a maioria e inclusive fiz anotações, mas pensando bem acho melhor dar mais uma olhada novamente, reler para que eu entenda agora com a mente mais absorta no assunto.

Coloquei a toalha em cima da cama e caminhei para o meu escritório pacientemente, abrindo suas portas e as fechando de maneira a não ser incomodada por barulhos. Caminhei para onde os livros estariam e me sentei perto da mesa, abrindo e começando a leitura que se estendeu por algumas horas.

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Suspirei enquanto fechava o último livro. Olhei rapidamente para o relógio e já beirava as seis da manhã, visto isso, rapidamente peguei um pedaço de papel velho que estava em cima da mesa e comecei a rascunhas um mapa que veio a minha cabeça referente  ao que havia visto no livro, ao mesmo tempo em que anotava algumas coisas que li em outro papel, parando o desenho e o retomando nesta sequencia.

Muitos livros falavam mais de nós do que das outras raças, mas consegui obter informações valiosas sobre os humanos. Muito deles não se conheciam, muitos mesmo, a população humana é crescente a todo o momento da história, assim como acumulativa até certo ponto, mas ainda sim que não se conheçam, possuem a capacidade de comunicação a distância por aparelhos de sua criação, o que já havia ouvido falar, porém um fator a complicar é a linguagem. Diferente de nós os humanos não possuem uma fala universal, uma fala da espécie em que se possam todos conversar comumente, a linguagem é determinante em regiões que eles denominam como país, criando vínculos separatistas entre eles, o que é bem ruim dadas as circunstâncias extremas, como guerra entre nossos povos. Mesmo que sejam o povo mais numeroso, esse sentimento separatista da espécie ainda é um fator determinante ao resultado pesaroso voltado a eles.

Meu povo é espalhado por todos esses países que os humanos chamam, muitos estão em regiões mais longínquas do que estou e isso é ruim, mas ainda sim é bom saber que há mais de nós e quando falo mais é quase vinte por cento da população que os humanos acham que são eles. Nossas tradições são completamente deferentes, sendo que os humanos possuem ainda outras variações dadas por regiões, o que me leva a crer que o sentimento de individualidade é notório nesse povo, pois mesmo semelhantes, ainda falam que são diferentes, o que é no mínimo engraçado. É como negar a verdade.

Não tardei a anotar isso, parando de desenhar o mapa que agora tomava formas geográficas. Pelo que percebi nos livros e isso é um fator que me preocupou, nossa raça vem sendo “imaginada” pelos humanos, não li relatos de que realmente nos viram ou entrarem em contato, algo assim, realmente não vi nada, mas ainda sim eles escrevem e criam imagens, vídeos e muito mais, todos com imagens semelhantes a nossa, algumas totalmente incrédulas com a verdade de nosso povo, mas algumas realmente são parecidas e isso em preocupou, principalmente porque em um dos livros, fora me dada a descrição de um lugar em que fazem pesquisas sobre isso, dando a entender que conseguem informações de nós vindas deste lugar, o que é deveras preocupante, por isso estou desenhando de acordo com as informações, talvez eu posso achar o local e investigar, já que, por mais que Astrid viva me falando da integração dos povos, ainda acho muito difícil de ocorrer e levando em consideração que eu deveria puxar essa integração, eu posso muito bem retarda-la se achar necessário, como estou achando.

Voltei a desenhar na folha.

Diferente de nós e dos humanos, há o povo lupino. Completamente diferente de todos, com uma cultura fora dos padrões de meu povo e nada parecido com os dos humanos, talvez haja algum semelhante, dada a variante de diversidade no povo deles, mas mesmo assim, os lupinos possuíam um senso fortíssimo de exclusão a qualquer outro povo, o que me preocupava ainda mais referente ao assunto de integração. Aparentemente eles possuíam uma vida além do que demonstravam a nós, a parte de perseguição, rivalidade e matança a nós não era a única coisa que eles sabiam afinal. A base cultural deles era voltada a Deuses muito antigos, estes seriam do plano superior, ligados ao entendimento da terra como fonte primária e a espiritualidade como fonte secundária, havia todo um tabu entre eles sobre o corpo, eles acham que o motivo real de sua transformação para seres selvagens é o que os liga a mãe terra deles e algo assim. Tudo voltado bem para isso, para uma transcendência violenta, mas natural que os fazem ser quem são, porém os deixam muito excludentes ao externo a eles.

O oposto de nós, já que não acreditávamos completamente em algo superior, pelo menos não denominamos o plano divino como os outros povos fazem. Claro que em seu meio os povos criaram entendimentos próprios que muitas vezes diferem entre si, mas possuem a mesma base, claramente é esse a compreensão dos entendimentos diferentes dos quatro povos para o plano divino. Vendo por este lado, parei para anotar, mas logo voltei a imagem do mapa.

Lembrando ainda que li diários de alguns anciões de nosso povo, mas não obtive tanta eficácia na interpretação dos outros povos além do meu. Até onde pude perceber meu povo é pacato, mas não gosta de coisas erradas e muitos antes de mim fazia isso e quando vinha a tona meu povo agia. Agimos bastante democraticamente, ao que vejo, mas ainda há pontos a melhorar e eu acredito nisso, percebo que meu papel é trazer melhorias para meu povo, não tardar as mesmas ou nem ao menso proporciona-las a eles. Como pensei, não obtive o diário de Pax, o que é frustrante, mas quem sabe eu o acha de uma maneira ou de outra.

Terminei o mapa, mas não o analisei de fato, apenas fiquei tirando conclusões em minha cabeça enquanto o encarava.

Tudo é complicado quando envolve os povos, principalmente os humanos e os lobos, obviamente, já que eram os que eu menos tive ou tenho contato direto para saber mais. Suspirei e passei a mão na cabeça, sentindo-a cheia. Não sei por qual motivo eu teria de fazer uma integração de povos que claramente não são semelhantes, povos que nem nutrem desejo que de conhecer, sendo que um deles nem sabe a existência dos outros. Ao meu ver, era realmente algo completamente ilusório e confuso, talvez eu realmente tenha de falar com Astrid sobre isso, realmente.

Pisquei um pouco os olhos desfazendo a careta que nem percebi que fazia, voltando-me ao mapa, o analisando agora. Parecia uma região plana depois de muitas montanhas, mas não reconheci isso, não reconheci o local nem nada do gênero, então apenas o enrolei e guardei junto dos outros livros.

Olhei para o relógio e vi que já se passavam das sete e meia, provavelmente Eco me aguardava em algum lugar da Vila para me atualizar sobre algo durante a noite, mas tampouco me importei com isso. Apenas guardei tudo e sai do escritório, pensando ainda mais em como saber mais sobre os humanos... Parecia uma informação tão abstrata, tão cheia e pesada, parecia algo que eu não conseguiria, pois seria muita coisa, mas desistir sem ao menos tentar não combinava comigo.

ʘ

Fiquei no quarto por um bom tempo até que me senti cansada daquela monotonia e sai para procurar algo para comer, ou seja, fui a cozinha da mansão e por sorte não encontrei ninguém, o que me deixou feliz, pois realmente não estava no clima hoje, o que também é incomum levando em consideração o que aconteceu ontem no baile de formatura de Brenda. Realmente, era para eu estar mais animada.

Peguei minha garrafa térmica e notei que ainda tinha um pouco do liquido viscoso nela, então tomei o restante e a lavei na pia para voltar a geladeira e pegar uma bolsa de sangue e despejar dentro da garrafa. Podíamos tomar qualquer sangue, independente do tipo ou espécie, mas ainda sim tínhamos preferências, eu por exemplo, preferia sangue de cervos, sim, sangue animal, sangue humano eu não gostava muito, mas isso não quer dizer que eu não tomava, obviamente, apenas costumo beber o de cervo, quando tenho vontade de outro, o bebo.

Vi que na geladeira havia um pote com dois cachos de uva, uma banana, três laranjas, quatro peras e uma maça, o peguei para comer também rumando para a sala de televisão, sim, havia uma sala de televisão aqui na casa. Hoje eu realmente não estava afim de ver muita gente ou fazer muita coisa.

Outra curiosidade sobre eu e meu povo é que normalmente não comemos nada, apenas bebemos sangue. Não tínhamos restrições sobre isso, comer frutas, legumes e todas essas coisas, se quisermos poderíamos, porém não nos dá a mesma quantidade de energia que um litro de sangue, então temos de comer muito para realmente funcionar como alimento para o corpo. Inclusive, para ficarmos cem por centro saudáveis tínhamos de tomar mais de quatro litros de sangue por dia, obviamente não tomávamos tudo isso, bom, pelo menos eu não, acho que muitos devem tomar isso, mas o fato é que para tomarmos tudo isso por dia temos de caçar muito, então isso nos leva de volta ao alimento, para complementar a dieta diária, comíamos por volta de vinte frutas ao dia, para mais, o que auxiliava muito no quesito se manter saudável.

—Eu pensei que você não era mais o tipo de pessoa que vê televisão. - Franzi o rosto ouvindo a voz de Astrid próxima a porta. Apenas a ignorei e continuei zapeando pelos canais até achar um filme legal, começando a assisti-lo. – Vai me ignorar agora? Pensei que tínhamos passado dessa fase.

Ela se sentou ao meu lado e um cheiro familiar veio até mim, porém não era dela o cheiro. Olhei-a e apenas vi ela ao meu lado, olhei para suas roupas e nada em chamou a atenção. Estranho, pois o cheiro que vinha dela, além do da mesma, era de Eco.

—O que estava fazendo agora pouco? – Perguntei, semicerrando os olhos.

Astrid tencionou seu corpo, pude sentir, assim com também sinto seu sangue correr mais rápido e o coração saltar em batidas mais fortes.

—Nada, porque a pergunta?

Abri a boca para responder, mas me calei ao escutar passos rápidos vindo em minha direção, assim como um coração conhecido batendo desenfreado. Sorri enquanto continuava a encarar Astrid até mesmo quando Eco apareceu na porta da sala.

—Neve, eu... Ah! Astrid, eu...

Quis rir, mas limitei-me a encarar Eco ficar vermelha enquanto arrumava a barra da blusa xadrez que usava, ela encarava Astrid que devolvia o olhar, então aproveitei para analisa-la e constatei o que eu pensava! Seu cabelo estava desgrenhado, seu coração batia forte ao ver a bruxa e o nervosismo era sentido por mim, mas o que realmente confirmou tudo foi a marca arrocheada no pescoço da vampira, mas como se lesse minha mente, o que não duvido nada, ela levou a mão ao local e me encarou assustada.

—Eu tenho que treinar minha aprendiz. Até mais tarde. – Astrid se levantou e passou pela vampira sorrindo abertamente, mas sem toca-la o que achei ainda mais engraçado.

Senti a morena distanciar-se e minha amiga se aproximar de mim, jogando-se onde a outra acabara de se levantar. Mordi minha maça e a encarei tentando sorrir.

—Minha noite foi muito boa, mas acho que a sua superou. – Comentei e ela me olhou brava. Dessa vez foi inevitável não rir e pelo jeito eu estava certa! – Quero detalhes. Ela é boa de cama?

—Como você é depravada, Nevena. – Falou olhando-me com nojo e desviando para o teto.

Eu ri e Eco suspirou colocando ambas as mãos no rosto, tapando-o.

—Sou mesmo e você também é! – Ri ainda mais, terminando de comer a maça. – Somos vampiras querida. Se tem uma coisa que a gente adora e sabe, é sexo.

—Concordo. – Ela se ajeitou no sofá e me encarou, demorou, mas me encarou. – Não sei se te conto?

—Por que não? – Perguntei risonha. – Não confia em mim agora?

—Não é isso. – Ela riu levemente, voltando sua postura para minha direção. – Digamos que ao falar, revivo tudo de novo.

—Normal. – Falei rindo. – Vai logo! Me fala!

Eco revirou os olhos e começou a me contar, o que fora deveras engraçado, pois tudo que ela me falou eu tentei imaginar e imaginar aquelas coisas eram interessantemente engraçadas, se tratando da minha amiga e da bruxa. Elas tinham uma história antiga, bem antiga, e não teve um fim muito feliz.

—Então vocês voltaram? – Perguntei terminando de comer a última pera, olhando-a. Tinha esquecido o filme completamente.

—Não! Eu falei para você! Não vou voltar com ela tão cedo! – Exclamou demonstrando irritação. – Ainda não esqueci o que ela fez.

—Eco, faz muito tempo. – Falei e ela continuou a me encarar. – Vocês já conversaram sobre isso, pelo menos? – Ela nada falou, então revirei os olhos já deduzindo a resposta. – Vocês transaram sem conversar sobre o que aconteceu?! Agora é que ela acha mesmo que você a perdoou. Já leu a mente dela para saber?

—Eu evito ler a mente dela. – Falou.

Ergui uma sobrancelha desacreditando.

—Você lê a mente da sua anciã e não lê a da bruxa? Sério? – Perguntei risonha, mas com sarcasmo, claro.

Eco revirou os olhos.

—Eu tenho o que fazer, Neve. – Ela se levantou e eu fiquei incrédula. – Vamos! Você também vai!

Ela começou a rumar para a porta e eu balancei a cabeça descrente de como fui tratada. Esse povo tava ficando doido.

—Onde vamos? – Perguntei indo para a cozinha deixar minha garrafa vazia e o pote também vazio.

—Onde você deveria ter ido ontem e não foi. Ver o lobo.

A encontrei na porta e saímos, começando a caminhar até o galpão onde havíamos prendido o transmorfo.

—Andei lendo os livros que separou para mim novamente, encontrei alguns dados interessantes. – Iniciei o assunto, lembrando de mais coisas que li. – Uma delas é que todo novo governo ancião tem de apresentar integrantes ao novo Conselho. Pensei em nomear você, Âmbar, Vanir e Miriã, assim como integrar o quinto com alguém mais próximo dos assuntos da Vila. O que acha?

—Acho interessante, é um bom plano. – Comentou enquanto caminhávamos. – Até conheço alguns da Vila que gostariam muito e sabem bem os assuntos do povo. – Não falei nada esperando que continuasse, e continuou: - Nossos amigos irão adorar, ele realmente amam servir para os interesses de nosso povo.

—Percebo isso, realmente são bem interessados em tudo que fazemos aqui. – Concordei, pensativa. – Acho que seria bom eu convocar uma reunião hoje? Eu acho totalmente viável trocar o Conselho, já que os que ainda estão lá foram muito corrompidos por Pax e seus ideais ridículos. Colocar gente nova lá, gente em que confio, é um ótimo passo ao meu ver.

—Concordo plenamente. – A vi assentir. – Convoque uma assembleia hoje, tenho certeza que todos irão e você pode contar sua intenção trocando o Conselho e apresentar os novos integrantes.

Assenti e continuamos o caminho em silêncio.

A Vila é deveras grande, possuímos um sistema que desenvolvemos e cuidamos desde nossa criação. Conseguimos cultivar água e alimentos plantados, como frutas, legumes e verdura, a carne que comemos e o sangue são extraídos de animais de tempos em tempos na floresta, muito raramente ingerimos sangue humano sem ser por bolsas de sangue extraídas de hospitais em que fazemos negócios e de relações sexuais, já que sugar sangue é um prazer nosso enquanto fazemos tais atos. De qualquer maneira, o galpão é afastado da maioria da Vila, ficando próximo ao Coliseu, onde efetuamos torneios e grandes reuniões.

Abri a porta com um baque surdo e a deixei aberta para que o lugar ficasse iluminado, como de esperado o homem estava transformado, um grande lobo de pelagem marrom encontrava-se rosnando para nós duas, olhando-nos de maneira feroz.

—Ah. Acalme-se, peludo. Já falei que não vamos lhe machucar muito.

Eco sabia interagir muito bem nesses casos.

—Ele já falou algo? – Sussurei perto dela, que mexia em algumas barras da grande gaiola, já que estas estavam severamente tortas, demonstrando que o bichano havia tentando sair dali e muito.

—Ele pode te ouvir. – Falou puxando as barras com força, colocando-as no lugar.

Levantei uma sobrancelha para o que disse e suspirei. Com certeza eu devia saber mais sobre todas essas raças e suas peculiaridades.

—Está bem! – Bati palma e elevei o tom de voz. – Queridão, saía desta forma para que possamos conversar, ande! - O animal rosnou alto, resmungando coisas que para mim eram não significavam nada, já que não falava cachorrês. – Eu não te entendo, querido. Não adianta falar comigo sendo que está na forma de um lobo! Assim você nem fala. – O lembrei e o mesmo continuou a rosnar, mostrando seus dentes enormes. – Ótimo! Acho que ele prefere ficar mais um tempo aqui, certo? – Virei-me para Eco e surpreendi-me ao vê-la com uma enorme lança.

—Acho minha ideia mais interessante. – Sorriu, começando a caminhar para a jaula. – Vamos lá, bichano. Quer falar ou não? – Ela estacou uma vez com a lança, mas o bicho desviou. Mais uma vez e ele desviou de novo. – Bom que está em forma, assim entendemos que está saudável e pode aguentar mais. – Ela riu alto e começou a usar a velocidade para atacar o bicho várias e várias vezes, de vários lados e jeitos diferentes.

Fiquei observando-a com atenção e interesse. Convivo com Eco a anos e nunca soube desse lado dela, esse lado meio torturador, muito pelo contrário, eu sempre a vi com olhos muito doces e inofensivos, claro que eu tinha a noção de que ela é uma de nós, com toda a força e poder, mas ainda sim isso era novo para mim. Mas não quer dizer que seja ruim.

Ela continuou até acertar o lobo por muitas vezes, o sangue escorria de todos os lados, inclusive para as mãos em que segurava a lança, demonstrando o quanto o bicho estava machucado. Depois de certo tempo, o bicho afastou-se bruscamente das laterais onde ela o atacava, suas pernas fraquejaram visivelmente e ele caiu de maneira brusca, ofegante. Seu corpo começou a se transformar, não tardando a um homem aparecer completamente ensanguentado.

Uma coisa totalmente interessante sobre a anatomia dos transmorfos é justamente os ferimentos que contraem em uma luta ou naturalmente pela vida. Machucados que são contraídos em uma determinada forma são mais danosos aquela forma que se feriu, quando ele é ferido na forma lupina, que é o caso deste, e transformasse para a humana seus machucados são reduzidos em cinquenta por cento, e vice e versa.

—Podemos conversar agora? – Perguntei, aproximando-me das barras de ferro, tentando ficar próxima a ele. – Não pretendo deixar que ela lhe machuque mais, mas preciso que fale comigo. Consegue entender? – Ele levantou a cabeça com dificuldade, abraçando suas costelas, ele assentiu. – Ótimo! – Levantei e peguei uma manta que estava próxima de onde Eco pegou a lança, voltei a me aproximar do homem e passei a manta entre as barras, jogando nele. – Cubra-se. Consegue ficar de pé? – Ele se esticou e pegou a manta, cobriu-se da melhor maneira que pode e se levantou cambaleante, escorando-se na grande ao lado da que estava. Tudo que ele fazia, era com os olhos fixos em mim. – Eco, não se aproxime dele. – Ouvi ela bufar, mas sei que me obedeceria.

—Você é anciã. – Sua voz estava vacilante, o que demonstrava o quanto abalado ele estava. Sua fala não fora interpretada como um questionamento, mas sim como afirmação.

—Sim. – Lhe respondi mesmo assim. – Quem é você?

—Alguém que não deveria estar aqui. – Falou antes de tossir, cuspindo sangue no chão.

—Por que acha que está aqui? – Tornei a questionar.

—Por que sou o único que conseguiram pegar. – Falou em um tom irônico, tossindo novamente. – Por que fui burro o bastante de não saber lidar com vocês em batalha, nem em saber fugir.

—Não pretendemos lhe machucar muito mais. – Falei olhando-o. – Só precisamos de informações.

—Eu já dei informações a vocês! – Ralhou, rosnando.

—Precisamos de mais. – Falei. – Onde eles estão?

—Eu não sei! Eu fui capturado por vocês ao invés de estar lá com eles para saber disso! – Falou com ironia e eu levantei uma sobrancelha. Petulante.

—Aeolus não fez um plano B se falhassem como ocorreu?

—Óbvio que não. – Ele resmungou com dor e sentou-se no chão. Seu sangue se espalhava pelo chão. Olhei para Eco pensando em algo quando ela me olhou, graças ela leu minha mente e entendeu, partindo sorrateiramente atrás de medicamentos para o lobo para de sangrar e não morrer. – Aeolus não era o tipo de líder que fazia planos reservas e comunicava a todos isso.

—Ele não gostaria de parecer fraco, pensando em um plano B se o primeiro não desse certo. – Complementei, pensando. – Se ele não fez isso... Que os está liderando para essa retirada? – Lhe questionei, mas ele deu de ombros.

—Eu só seu que o filho dele ainda não nasceu. – Falou com dificuldade. – A mulher que carrega seu filho ainda esta nova na gravidez, ele não nasceu e também não está perto de nascer.

Calei-me.

Então quer dizer que um filho de Aeolus surgiria em poucos meses? Isso definitivamente não era bom. A foi um dos melhores líderes dos lobos que já existiu, todos sabiam disso, seu filho tampouco seria diferente, talvez até melhor se aprendesse com os erros do pai. Pela lei deles, o menino nasceria como novo líder e assumiria quando tivesse idade, precisávamos impedir isso! Eu precisava acha-los agora, tínhamos pouco tempo para acabar com todos.

Eco voltou e acenei brevemente para que cuidasse do homem da melhor forma, ela sabia se cuidar e não se arriscaria. Provavelmente ela percebeu que eu não estava muito bem, com certeza essa noticia tinha me abalado da pior maneira possível. Eu realmente precisava resolver tudo aquilo, estava até considerando ir eu a procura deles já que não recebi nenhuma noticia dos grupos que enviamos para acha-los.

Uma mão tocou meu ombro e me virei bruscamente vendo Eco.

—Tudo bem? – Questionou preocupada.

Maneei a cabeça negativamente e olhei para  o homem, ele estava caído, aparentava dormir.

—Venha comigo. – Ordenei ainda o olhando. – Precisamos resolver um novo assunto.

Caminhei para fora com pressa e a essa altura já sabia que Eco leu minha mente e já sabia do que se tratava, pois nada mais fez além de me seguir depressa. Fomos para a casa do ancião e adentrei de maneira abrupta, agora avançando em alta velocidade para o escritório, onde os livros estariam.

—O que você pensa em fazer? – Eco falou, vendo-me procurar pelos livros um especifico. – Como vamos acha-los?!

—Achei. – Quase suspirei em alivio, mas apenas o peguei com presa e fiz um aceno para Eco. – Chame Astrid! Ela pode trazer Jessie se quiser, quanto mais melhor.

Ela saiu sem falar nada e eu comecei a folhear as páginas com pressa depois de ler o sumário a procura do feitiço que havia visto algum tempo atrás! Um feitiço de localização que pelo que li era muito eficaz. Meu plano era usar Astrid para localizar a matilha dos lobos!

—É genial! Como não pensei nisso antes? – Falei comigo mesma. Se pudesse, eu me beijaria.

As três não tardaram a chegar e logo expliquei tudo da melhor maneira que pude, contando tudo que eu pensei sobre esse novo herdeiro que viria e sobre como eu gostaria de acha-los para evitar que isso acontecesse. As meninas pareceram gostar e concordaram em fazer sem problemas, mas disseram que precisariam de alguns ingredientes para acha-los e isso incluía pelo do lobo, autorizei para que acompanhassem Eco para a extração.

—É... Nevena? – Virei-me para a voz, percebendo que era Jessie.

—Oi, Jessie. O que foi? – Perguntei, dando-lhe atenção.

—Sobre ontem... – Falou dando risada levemente, mas senti seu nervosismo e isso me fez rir. – Desculpe alguma coisa, mas espero que vocês duas tenham aproveitado a festa. Sabe se Brenda foi para casa?

—Não se preocupe, nós gostamos e aproveitamos. Eu a deixei em casa antes de vir para cá. Por quê? – Meu tom era ameno, assim como o seu.

—Ah, nada! Só preciso falar com ela.

Assenti e ela logo saiu, deixando-me sozinha e pensativa, mas agora em algo muito melhor do que o problema dos lobos. Respirei fundo e pude relembrar do aroma de Brenda, seu cheiro doce fazendo meu corpo se arrepiar por completo. Sorri, seria bom revê-la, hoje com certeza não daria, mas gostaria que fosse em breve.


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Notas finais do capítulo

Triste pq ninguém comenta 3



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